Quem sabe se ao ver um máximo de injustiça e violência a alma humana passa a entender que o Deus do Mundo, o Rei do Mundo, Aquele que constrói o Mundo à Sua Imagem, seja também Violento e Injusto. Talvez a única recompensa seja para o mais forte.
Um tal meio favorece a eclosão de Servidores do Deus dos mais fortes. Aqueles que vão fazer sua existência lutando, agredindo, se impondo pela força.
Viram pessoas próximas sendo destruídas pelos grandes fazendeiros. Gente para quem não faltava nada, ainda teve de tirar o sustento de quem já tinha bem pouco.
A Polícia, a Justiça, servindo como mero instrumento de manutenção da Ordem imposta pelo Dono do Poder. O Grande Fazendeiro, que tudo domina, com o seu séquito de jagunços, agregados, mantidos.
Isto acontece, aconteceu e acontecerá. E também acontece que nestas condições uma outra história se repita: o bandido-herói. O que veio das profundezas do povo para assombrar o sono dos ricos e dos bonzinhos... vem para incendiar cidades, bancos, executar prefeitos, delegados, diretores de cadeia. Há muito eles vinham abusando... às vezes, passaram do ponto, deixaram algum filho depois de ter tirado a vida de um pai...
E um bando de guerreiros se junta, foras-da-lei, cangaceiros, ou como se os queira chamar, e um deles se levanta como um líder. E seu nome ganha as capas de jornais e de revistas, e são contadas histórias, e logo se forma um mito. Aconteceu assim no distante oeste dos norte-americanos. Aconteceu na aridez do sertão australiano. Aconteceu no Nordeste brasileiro.
Um mito, claro, com as tintas de cada um que reflete sobre ele. Deixando bem longe os dados históricos.
Para uns, será um verdadeiro santo, ou anjo. Para outros, será nada menos que o demônio, com rabo e chifres escondidos e tudo. Identificar a verdade, no meio do emaranhado de rumores e lendas pode se tornar uma missão impossível. Ninguém mais tem a certeza de que aquela história que traz na cabeça é real ou mítica, criação da mente.
Morte e Destruição acompanharam o Rei do Cangaço.
Morte e Destruição eram as únicas coisas que iriam fazer frente a um estado de injustiça.
“Atire a primeira pedra...”, etc e tal.
Entender a História, não é justificá-la. Não é preciso tomar lados. A morte e a destruição de Lampião são reais, a injustiça também. Quem adere a um sistema corrupto é corrupto ele mesmo. Quem aceita. Quem justifica. Quem não faz nada.
A verdadeira guerra, portanto, é defender um sistema ideal, e por isto, por esta defesa, estar disposto a entregar a própria vida. Não tomar a vida dos outros.
O verdadeiro soldado é Jesus, é Sócrates, é Ghandi. Não é Aquiles, ou César, ou Napoleão.
Obs. Pinturas de Sidney Dolan para o fora-da-lei australiano Ned Kelly
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