Interessante um monólogo deste filme em que o Pastor assassino, dentro de uma Igreja, revela seu pensamento: conversando diretamente com Deus, em sua rematada loucura, o Pastor lamenta a dificuldade de sua Missão ser de inspiração divina, num claro processo de transferência.
“Senhor, são tantos os que preciso sacrificar, tão pobres as minhas forças...”
De fato, o assassino deseja a morte da Humanidade toda. Apenas, na sua impossibilidade de lutar com o mundo todo, escolhe os caminhos para realizar o seu fim. Constrói um modus operandi, no limite de suas forças.
No caso, passear pelo sul dos Estados Unidos, durante a Grande Depressão que se seguiu ao crack da Bolsa de Nova York, em 1929.
Naquele meio rural, empobrecido, o Pastor arrumou o modo de conseguir o seu pão, e o seu sustento: engabelar viúvas que tinham recebido algum dinheiro. Roubava seu dinheiro, matava-as, e seguia seu caminho. Para outra cidade, para outra viúva...
Um assassino em série com nenhum resquício de remorso. Que tinha seus poderes de mesmerizar suas audiências ampliado por uma população com pouca educação, ingênua, e ainda sob a pressão da grave dificuldade econômica. Foi um tempo, como mostra o filme, de hordas de crianças famintas vagando pelos campos e cidades.
Sempre os momentos de desestruturação econômica são pródigos em produzir suas linhagens de monstros. A hiper-inflação na Alemanha dos anos 30. As grandes fomes, as grandes perdas de safras.
A insegurança social faz clamar por guerras, ditadores, esquartejamentos, holocaustos. Para expurgar este tempo ruim, fechar este ciclo histórico, numa grande apoteose de Terror, para que um novo ciclo possa surgir, nova primavera.
As seitas ficam sombrias. A rezada pelo sombrio Pastor do filme é autêntica Missa Negra. Reflexo das crenças sombrias, de que as seitas são a mera expressão.
Talvez a mente mais frágil, como a do Pastor (sabe-se lá o que passou pela vida, e o que se passa em uma alma?), simplesmente não resista a uma pressão tão grande, e quebre-se. E, aí, é o domínio da Loucura total, da Alucinação, que impõe aquele ser em desavença perpétua, irredimível, com seu semelhante. Desejando a sua pura destruição, nada mais quer dele.
Uma sede de sangue ardente, que terminará por se auto-devorar.
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