sábado, 23 de maio de 2009

POLÍCIA

O que dizer de uma polícia, em um país, em que se tortura? O que dizer de uma polícia, em um país, em que 1% dos assassinatos têm como resultado a conclusão de um processo com uma condenação?
Eu não estou falando por hipótese, ou de uma ilha irreal chamada Distopia. Eu estou falando do Brasil, e da sua polícia. São fatos, e só escandalizam pouco porque não pensamos muito nisso, porque nos habituamos com qualquer absurdo. Isto é o que vivemos, e é estranho pensar que vivemos isto.
Notem que falo em “polícia” e não em “policiais”. Não acho justo colocar os homens que vivem dentro deste sistema insano como responsáveis por toda a insanidade do sistema. Geralmente, são suas próprias vítimas, e muitas vezes conseguem fazer algo de útil e honesto, mesmo tendo de lutar contra todas as dificuldades e insanidades imposta pelo “monstro”.
Também não é só a polícia. Falei em polícia para destacar, em cores vivas, os imensos problemas, as imensas dificuldades, da sociedade em que vivemos. Qual exemplo atinge melhor o sentimento, a imaginação, que a própria segurança, e a de nossos familiares?
Se a polícia é podre, violenta, despreparada, também o são a saúde, a educação, a justiça, a política, a economia, a cultura. E todos sofremos com esta corrupção geral, com esta insegurança, com esta injustiça, deste sistema fraudulento, insano, corrupto. Todos, menos uns tantos “espertos”, que acham que tudo está às mil maravilhas, porque estão “se dando tão bem”. Se corrompem, e querem que tudo esteja corrompido, para “ninguém ser melhor do que o outro”, para “ser tudo a mesma geléia, a mesma merda, e chafurdemos todos”. Uns “melhores” do que outros, porque têm um carrão, e têm muito dinheiro, e têm a mansão, e são muito espertos.
Talvez seja verdade que todos precisemos lamber o chão, sentir o chicote, a humilhação, para poder abrir os olhos. Como diria Bob Dylan, everybody must get stoned. Um país que se habituou a ver homens como escravos, e homens como patrões, não é de uma hora para outra, num passe de mágica, que vai conquistar uma cultura de igualdade, respeito, dignidade. Vamos manter o sistema que não dá dignidade, sofrendo como escravo, sonhando com ser o patrão, até que conquistemos a compreensão de que enquanto não se constrói uma sociedade em que dignidade seja partilhada por todos, vai-se estar condenado a viver a indignidade.

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