Trabalho é princípio de organização nuclear de qualquer sociedade.
O trabalho gera o rendimento, o responsável pelo teto, pelo alimento, pela tranquilidade de alma. Reconhecer a importância do trabalho significa querer que todos possam ter acesso a ele, mediante suas capacidades, e que isto lhes proporcione um rendimento que lhe permita viver em paz. Construir o mundo, e permanecer no mundo, à sua maneira.
Por que o trabalho é tao desorganizado, no Brasil, que pessoas passem fome, ou se desperdicem em sub-empregos? Por que o trabalho não pode ser dividido, racionalizado, para que todos possam ter seu quinhão de contribuição comum, e ninguém fique desempregado, e o trabalho não se converta também numa escravidão?
O princípio organizador de uma sociedade livre, sadia, é a distribuição da tarefa, de maneira que não haja exploradores e explorados. No Brasil temos ouvido falar em permanência da escravidão, grandes milionários que escravizam homens miseráveis, ignorantes, na desenfreada ambição.
Vemos grandes fortunas serem transferidas, indo acabar nas maos de gente que sequer trabalha, tudo chancelado pelas “leis” do nosso Estado.
Absurdos à luz do dia, para sangrar os olhos de quem se arrisca a ver. Gente graúda “aposentada” porque ocupou um cargo de Governador, por alguns minutos que seja. Isto está na “Constituição” de muitos de nossos valorosos Estados. Tudo tão descarado, aproveitando-se de um povo adormecido pela mais negra ignorância.
E as nossas “elites”, meu Deus, tão e tão, cooptadas. Sequer pensam o sistema que se desmonta e as ameaça, à sua frente. Injustiças celebradas como piada. Falta de idéias, falta de interesse... o que pode explicar tamanha imobilidade? Falta de compreensão, falta de fé, é o mais grave. É preciso ter esperança no homem e no futuro, para se evitar as tentações da corrupção. O interesse pelo próximo faria os homens se portarem com dignidade, mas não é sempre que isto se dá.
Vemos os homens com os dólares na cueca, vemos as pilhas de dinheiro em cima das mesas, vemos o sujeito que ganha de presente um carro, uma casa, ocupando diretorias, ocupando os governos. Tudo isto vem à tona, e ninguém sai do seu entorpecimento. As pessoas envolvidas nestes esquemas, à vista diante dos olhos de todos (e Deus salve a liberdade de imprensa!), continuam protegidas pelos nossos poderosos no poder.
E como acreditar em Justiça num país assim? Como acreditar num país assim? O
que esperar de suas leis, de sua moral, de sua cultura, do seu povo, destes homens que nos governam? A esperança reside em que a juventude, sofrendo estas injustiças, experimentando o que é viver e trabalhar num país construído assim, desperte, e se revolte.
Revoltar-se, que eu digo, não é acrescer a confusão e a loucura, numa manifestação irracional, não refletida, sem propósito. É preciso cultura, entendimento e valor, para ver que a revolta é contra as práticas de corrupção. É preciso que as pessoas se acostumem a não aceitar como justificável, normal, irrelevante, o crime, o roubo, a falta de moral.
Não acredito em revolta sem idéia, ou sem ideal. Isto para mim é apenas a outra face da conformismo idiotizado. Ambos servem ao sistema.
Numa sociedade corrupta, a cooptação de consciências é uma constante. O sistema é todo construído para se auto-proteger. A própria cultura circundante age no sentido de empurrar as consciências para esta mesma aceitação uniforme, passiva, mesmo dos maiores absurdos. O roubo fica aceito, quando tanta gente passa pelo governo, ou por qualquer instituição em que se exerça algum poder, e em breve enriqueça. Isto acontece à vista de todos, gente que “não tinha nada” e logo tem mansões, e castelos, e automóvel importado, e avião. De onde vem isto? Não admira a disputa insana por poder, pois uma vez adquirido o roubo, vai-se usufruir para sempre dele, e prevalece a impunidade.
E como acreditar então nestas instituições, que deveriam nos proteger, a polícia, o Ministério Público, o Judiciário? Para que servem, se não servem para reprimir e prevenir o roubo, as organizações criminosas, a corrupção? Por que as nossas leis, os nossos regulamentos, os nossos decretos e medidas provisórias não nos protegem? Por que estamos tão expostos, acompanhando o absurdo de ver tantas pessoas assassinadas, velhos e jovens, mulheres e crianças?
Ou se adquire uma “massa crítica” de elite pensante, honesta, que se revolte contra esta “organização” corrupta da sociedade, que rejeite a “vida fácil”, e se proponha criar uma sociedade de acordo com este ideal, ou vai-se permanecer amargando os sofrimentos e retrocessos de uma (in)cultura selvagem.
Na Venezuela, em outros países, muitas vezes na história, vemos isto acontecer. É um grande erro supor que as conquistas boas estão garantidas para sempre. Os governantes (tiranos) fazem esforços constantes para suprimir a oposição, para calar a crítica, para se perpetuarem no poder. Sempre em nome de belos ideais, e de terríveis ameaças. “Dêem-nos o poder, para que o reino da justiça e da abundância caiam sobre você, e porque estamos terrivelmente ameaçados pelos judeus/gays/pobres/pretos/drogados/estrangeiros/banqueiros/burgueses/bruxas (o bode expiatório da vez).” Um filme que se repete a todo instante, mas quem não tiver valores e cultura não o vê, e está destinado a perpetuá-lo, sofrendo-lhe os efeitos, mas quase sem o perceber, como tudo o que é habitual, rotineiro, por absurdo e terrível que seja. E consequentemente sem poder lhe fazer face, sem o enfrentar, para lhe derrotar.
Esta que é a mais completa vitória de um sistema injusto: fazer crer que não adianta a luta, porque ele não pode ser derrotado. Aceitar a corrupção, porque as coisas são assim, é a mais completa derrota para um povo. Lutar para preservar a democracia, a liberdade, a justiça, é a maior prova de que um povo é consciente, e sadio.
sábado, 23 de maio de 2009
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