E agora temos a notícia de que está sendo tramada uma reforma política. Cinco partidos apresentaram o projeto para ser votado. Quais são eles? Nada menos que PMDB (como sempre), PT (é, o PT...), DEM (nossos liberais de m...), e PPS e PCdoB (isso aí, os velhos comunistas, mas depois eles podem inventar que não estupraram a democracia, mas a aperfeiçoaram, fizeram dela a “verdadeira” democracia, a “democracia popular”, digamos).
Mas qual é esse projeto mágico, capaz de reunir inimigos tão figadais quanto os velhos comunas do PCdoB e do PPS (ex-Partido Comunista Brasileiro), os nossos “liberais” (põe aspa nisso) do DEM, e o PT, auto-proclamado guardião da ética? O PMDB não surpreende em nada, está em todas mesmo.
Mas deve ser um projeto e tanto mesmo, pra reunir tantas cabeças coroadas, de cinco grandes (no sentido de tamanho, é claro) partidos do nosso Brasi-zil-zil (ah, me dêem um lenço, eu vou chorar...)
Pois o ilustre projeto propõe o financiamento público de campanhas (já ouvi falar em coisa de um bilhãozinho anual, mas isso ainda não é o pior. Ai ai ai.). O projeto propõe ainda (e isto é o pior) o voto em lista fechada.
O que isto significa? Que o povo vai perder o direito de votar numa pessoa de sua escolha, ou deixar de votar em uma pessoa de sua escolha. Ele vai ter de votar numa lista, com uma ordem de nomes de candidatos estabelecida pelos partidos, e esta ordem terá de ser seguida para preencher os cargos na Assembléia.
Não é lindo? Está explicado o que reuniu caciques tão diversos. Nada como um estuprozinho da democracia para gerar um consenso. Nada como combinar um arranjo pra dar todo o poder pros caciques dos nossos partidos, pra deixá-los satisfeitos. Eles é que mandam nos partidos, eles organizam as listas, e só eles vão entrar na festa, eles e os amiguinhos, ninguém pra protestar, encher o saco, dar dor de cabeça... Nada como uma pequena reserva de poder. Nada como escolher os nomes de quem vai partilhar com eles o poder. Tutti buona genti, tutti cosa nostra...
Mas o brasileiro é um forte, e não desiste nunca! Não é assim que fala na propaganda? Um paisinho em que as pesquisas mostram que a maioria do povo nem considera a democracia tão importante assim, um paisinho desses logo supera o trauma. O novo Congresso prometeu aumentar o carnaval para quinze dias. Depois, é só dar um mandato eterno pro Lulinha, podíamos coroá-lo também.
Já pensou? Lulinha I, o Paz e Amor. Lulinha vai ficar tão chique, de coroa dourada e manto púrpura... e nós vamos ficar bem contentinhos, enquanto nos roubam a democracia. Mas nós nem entendemos direito essa coisa de democracia. Isso deve ser uma invenção de gringo, isso não deve nem fazer muito bem nos trópicos... perdeu, playboy, tá dominado... tá tudo dominado...
Vamos nos consolar pensando na História. As invasões bárbaras não duram para sempre. Uns duzentinhos anos, trezentinhos, e quem sabe não temos outra campanha de diretas já? Nesse meio tempo, podemos até escrever uma história própria, interessante como as dos passados de outros povos: intrigas na Corte, lutas dinásticas, assassinatos de pais e irmãos, de mães e de filhos, na briga pelo poder... cada povo tem a história, e a civilização, que pode ter...
Eu é que preferia ler essas histórias de lutas de dinastias apenas em Plutarco ou em Shakespeare, e não nas páginas do jornal. Como será a vida na Nova Zelândia? Será que eles aceitam pedidos de cidadania?
Em tempo: o nosso sistema eleitoral já é repleto de distorções e equívocos. Nenhum sistema será perfeito, mas algumas falhas que se evidenciem podem ser discutidas e corrigidas. Não sou radicalmente avesso a qualquer mudança. Porém, se houver mudança, ela precisa servir para aproximar o eleitor de seu representante, aprimorar os mecanismos de fiscalização e controle. Jamais as mudanças podem servir para afastar o eleitor de seu candidato. Jamais os problemas do sistema devem ser vistos como pretexto para mutilar, ou até matar, a democracia. A discussão sobre um modelo melhor de representação política fica para outro artigo. Este é só para servir de alerta.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
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