Quando a música termina
Quando a música termina
Quando a música termina
Apague as luzes
apague as luzes
apague as luzes
Pois a música é a sua amiga especial
Dance sobre o fogo
Como ela deseja
Música é sua única amiga
Até que chegue o fim
Cancele minha reserva para a Ressurreição
Envie minhas credenciais para a Casa de Detenção
Eu tenho alguns amigos lá dentro
O rosto no espelho não vai mudar
A garota na janela não vai cair
Uma festa de amigos
“Estou viva” - ela gritava
Esperando por mim
do lado de fora
Antes que eu afunde
no sono eterno
Eu quero ouvir
eu quero ouvir
o grito
da borboleta
(Volte, querida,
volte pros meus braços...)
Estamos ficando cansados
de andar por aí
esperando à toa
com nossas cabeças abaixadas no chão
(Eu ouço um bem suave som...)
Muito próximo, e ainda assim,
Muito longe
Muito suave, e ainda assim,
Muito nítido
Começou hoje
começou hoje...
O que eles fizeram com a Terra?
O que eles fizeram com nossa
bela irmã?
Devastaram e pilharam e
a estriparam e morderam
E a pregaram com facas
pro lado da aurora
e a amarraram com cercas de arame farpado e
a arrastaram pro fundo
(eu ouço um bem suave som.
Com meu ouvido abaixado no chão.)
Nós queremos o mundo e o queremos...
nós queremos o mundo e o queremos...
agora
Agora
AGORA!
Noite persa, querida!
Veja a luz, querida!
Salve-nos!
Jesus!
Salve-nos!
Quando a música termina
Quando a música termina
Quando a música termina
Apague as luzes
apague as luzes
apague as luzes
Pois a música é a sua amiga especial
Dance sobre o fogo
Como ela deseja
Música é sua única amiga
Até que chegue o fim
Fim
O que esta música tem de especial? A introdução fantástica, órgão e bateria dialogando, pra depois vir o grito de Jim Morrison junto da guitarra... os versos, o sentido de cada estrofe meio separado do de outra, o solo de guitarra, meio que sendo gerado da voz/grito de Morrison dizendo “até que chegue o fiiiiiiiimmmmmmaaaahhhhhh...”, e continuando sozinho, um uivo num clima de psicodelismo, voando em espiral pro espaço, para depois retomar a base dos outros instrumentos, a base firme de blues, a história de desespero irônico narrada por Morrison, numa interpretação emocionante, e a integração perfeita de cada elemento da banda, aquilo que se costuma chamar de química...
Muitas coisas, de fato, muitas coisas... que tal o brado de poeta romântico de Morrison, “Nós queremos o mundo e o queremos AGORA!”? E a descrição do que a ganância e a indiferença fazem com nossa bela irmã, a Terra? E a angústia de ter a música por única amiga, e de dançar sobre o fogo, e de cancelar a reserva pra Ressurreição, e de gritar “Jesus! Salve-nos!”? E a Casa de Detenção, o Inferno? E o rosto no espelho, que não vai mudar? E quando a música termina? Apague as luzes.
Mas nem tudo é desesperança, o sono eterno convive com a expectativa de ouvir o grito da borboleta, psique. A cabeça abaixada na terra faz ouvir o grito de socorro de nossa bela irmã, e o brado de revolta, “queremos o mundo, queremos agora”. E a garota da janela não cai, espera numa festa de amigos, do lado de fora da prisão, gritando “estou viva”.
Sim, muitas emoções, muitas idéias numa música, de uma época em que se permitia haver muitas emoções e idéias numa música... Dançar sobre fogo, especial amiga, a música, apague as luzes quando a música terminar, até que chegue o fim, até um novo músico, até um novo começo...
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