
"Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos." (Pitágoras)
Uma nação não terá jamais efetivo desenvolvimento, se não puder educar seus filhos para que exerçam uma atividade socialmente útil.
Um jovem que cresce sem a perspectiva de ter um meio de vida que lhe garanta uma existência digna. Quais são os futuros que lhe aparecem? A miséria, o crime, a exploração de seu trabalho? Qual é o tipo de emprego que têm os que não têm uma formação adequada?
Isto para o indivíduo. Agora, para a sociedade, qual é a perspectiva de ter milhões e milhões de pessoas mal aproveitadas para seu próprio progresso?
No Brasil, de 130 milhões de eleitores, 60% são formados por analfabetos, analfabetos funcionais ou pessoas que não completaram o ensino fundamental. São 78 milhões de brasileiros. E isso só contando entre os eleitores. É o que diz este artigo de Merval Pereira: http://arquivoetc.blogspot.com/2010/09/lula-rebaixa-cidadania-merval-pereira.html
78 milhões de brasileiros com produtividade mínima. Qual é o tipo de trabalho que um analfabeto tem condição de fazer? Certamente, ele não pode ser médico, não pode ser engenheiro, não pode ser advogado. Também não pode operar muitas máquinas. Não pode ler um manual, não pode receber treinamento avançado.
Que brutal limitação de um país! Se projetarmos os 60% de baixa escolaridade para nossa população de 200 milhões, são 120 milhões de brasileiros.
Imagine, para o país, o acréscimo de produtividade, de riqueza, de bem estar, com 120 milhões de brasileiros fazendo um bom trabalho. Que grande feito seria para um Governo, transformar esse problema de 120 milhões de estômagos numa solução de 120 milhões de cabeças...
Mas um país que tem uma taxa de escolaridade tão baixa, de apenas 40% de escolaridade média e alta, não pode ser grande nunca. Se tiver grandes riquezas, como o Brasil, será simplesmente roubado.
Sua população, que se fosse educada constituiria uma guarda para as riquezas do país, tendo uma péssima escolaridade será roubada debaixo de seus próprios olhos. Que participação política, que entendimento econômico, terá a massa dos excluídos? Que capacidade para protestar, para resistir, para reagir? Que capacidade para processar matérias-primas, para transformar riquezas, para pegar um minério, e transformá-lo num eletrodoméstico, transformá-lo num item de alta tecnologia, e alto valor agregado?
Lembro de uma reportagem na TV, dizendo que a Alemanha, cuja produção de café é ínfima, se não inexistente, lucrava mais com o café do que o Brasil... é, o Brasil, que tem no café um item de importância histórica de produção e venda.
Simplesmente porque a Alemanha lucrava com a comercialização, seleção de grãos, distribuição, embalagens, logística... atividades que requerem pessoas instruídas. Com muito menos gente envolvida no setor “cafeeiro” da economia alemã, os alemães faziam mais dinheiro que o Brasil
com este negócio do café.
Então, como é que eu vou dar crédito pro Brasil e seus governos, como é que eu vou participar do ufanismo oficial, se ninguém resolve este problema gravíssimo deste país, o nosso país?
Outro exemplo de onde está nos levando nossas péssimas taxas de educação. Sirvo-me de dois artigos exemplares de Regina Alvarez, “Décadas perdidas”, e “Escolhas”, publicados no jornal O Globo dos dias 19 e 20 de fevereiro de 2010.
http://republicasim.blogspot.com/2010/02/deu-em-o-globo-decadas-perdidas-de.html
http://avaranda.blogspot.com/2010/02/regina-alvarez_20.html
Destaco alguns trechos dos dois artigos:
“Nos últimos três anos, recebemos da China, por tonelada exportada, o valor médio de US$ 115. E no mesmo período pagamos àquele país, por tonelada importada, US$ 2.857. A disparidade é resultado do alto valor agregado aos produtos chineses.
Exportamos minério de ferro e soja. Importamos eletroeletrônicos, partes e peças para a telefonia e uma infinidade de outros produtos valiosos.
(...)
Os números dão uma clara dimensão da importância de agregar valor ao que produzimos e exportamos.
Refletem os ganhos de quem optou pela industrialização, investiu em tecnologia e inovação.
O empresário Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, escreve para dizer que o setor agropecuário vive os mesmos problemas da indústria: carga tributária anacrônica, infraestrutura em frangalhos, política de juros altos e suas consequências no câmbio.”
“O economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, observa que os países emergentes, especialmente os asiáticos, usaram, ao longo dos últimos 25 anos, o processo de industrialização como instrumento para o seu desenvolvimento, enquanto o Brasil, na contramão desse processo, apostou todas as fichas na chamada vocação agrícola, deixando a indústria em segundo plano.
Almeida considera que, no Brasil, há uma concepção errada de que a indústria e o setor primário estão em lados opostos, quando, na verdade, o grande diferencial que poderíamos ter em relação aos asiáticos, por exemplo, é a conjunção desses dois segmentos em prol de um mesmo objetivo: o desenvolvimento forte do país.
— Apostamos só na potência agrícola. Isso é perda de oportunidade — afirma.
O economista destaca que o país perde por não industrializar os produtos básicos. O sistema tributário pune cada etapa da cadeia de produção, o que desestimula a agregação de valor aos produtos. Nas condições atuais, é mais lucrativo exportar soja do que óleo de soja, exemplifica.
O Brasil abdicou de ter a indústria como motor do desenvolvimento. Erradamente, pois teria um trunfo que só os EUA têm, articular o setor básico com o industrial — conclui.”
Outros exemplos podem ser colhidos no noticiário, leio que a Vale do Rio Doce, após a privatização, aumenta vertiginosamente sua capacidade de exploração de minérios. Leio que milhões de toneladas de minério de ferro estão sendo exportadas para a Alemanha. Acionistas da empresa, muito satisfeitos, enfiam milhões nos bolsos; bancos investidores, sócios majoritários, diretores, enfiam milhões de dividendos nos bolsos. Jornalistas de visão curta, ou até pagos para serem porta-vozes, tecem loas à privatização, esquecendo dos bilhões e trilhões que o país poderia fazer, se ao invés de exportar o produto primário, e importar o produto manufaturado, fizesse ele próprio o beneficiamento das matérias primas.
O Brasil volta a um clima pré crash da bolsa, de 1929, pré Getúlio Vargas. A uma época em que se dependia quase exclusivamente da exportação de café para se financiar a importação de produtos industrializados. Havia até os teóricos da “vocação natural” do país, no concerto das nações...
Queriam escravizar o país a um destino eterno de nação agrícola, parada no tempo. Atrelavam seu pensamento a umas teorias de livros, à defesa de um suposto liberalismo “puro”, onde se colocava de lado a realidade. Pois não se pensava nisso: se um trabalhador tira um pedaço de ferro do chão, e o vende por dez dinheiros a um país; e se esse país usa dez operários para transformar este pedaço de ferro numa carroceria de automóvel que vai ser vendida por mil dinheiros, chegamos à conclusão de que o país que vendeu o ferro deixou de criar 10 empregos e de ganhar mil dinheiros porque não fez a carroceria ele mesmo.
Tudo isto que digo é para ser temperado com o grão de sal. Não defendo reservas de mercado que conduzem a ineficiências generalizadas e encarecimento da produção para os consumidores internos. A integração ao comércio externo é fonte de oportunidades e riquezas.
Não existem respostas prontas, fechadas, que dispensem a inteligência. Não se trata de defender ou o nacionalismo xenófobo ou o liberalismo irrestrito. Ou uma coisa, ou outra. Radicalismos dos dois lados, parece que temos muito disso aqui, no nosso debate “intelectual”. Fórmulas prontas, para quem tem preguiça de pensar, para quem se contenta com pouco. Diálogo de surdos, feito de acusações e rancores, e vaidades e burrices, entre “panelinhas”. Enquanto isso, se esquece do país real, e dos problemas reais.
Nada substitui a educação, nada substitui a inteligência. Nada substitui o planejamento de longo prazo, o interesse pelo país e seu povo.
Como se destacou nos artigos de Regina Alvarez, o Governo não pode deixar de fazer a sua parte, superar os absurdos da legislação tributária, a política de juros altos e suas consequências no câmbio, a infraestrutura em frangalhos... e a burocracia, e a corrupção, e a Justiça lenta e imprevisível, e etc, e etc, e etc. E educação, de verdade.
Independente de discussões bizantinas sobre liberalismos ou socialismos, há muito trabalho a ser feito, no sentido de criar um ambiente favorável para o empresário, para o investidor, para o trabalhador.
Para um Governo que trabalhe de verdade, e que pense no longo prazo, há muito para fazer, para que o país tenha a condição de ter suas indústrias, e poder faturar mil. Mas quem pensa no curto prazo, fica satisfeito de vender por dez, contanto que embolse quatro, e ainda que o país deixe de ganhar mil.
Além de todo este trabalho que o Governo deveria fazer, mas não faz, no sentido de criar um ambiente favorável ao investimento e ao trabalho, gostaria de destacar outro ponto importante na questão da industrialização:
O Governo faz as leis, cria os impostos, dentre ele o Imposto de Exportação. E por que não utilizar esta Soberania para estimular a industrialização? Utilizar o imposto de exportação de maneira seletiva, para onerar mais a saída de produtos primários, e menos a de produtos sobre os quais se agregou valor?
Se quiserem levar o pedaço de ferro, vão ter de pagar mais 50% de imposto. Se fizerem a carroceria no país, vão exportá-la com mais 10% de imposto. Algo no gênero.
Estimularia as empresas a instalarem fábricas no país. A dar treinamento e capacitação para a mão-de-obra brasileira. Com toda a geração de empregos, diretos e indiretos, e a utilização de energia, e o aluguel de imóveis, e toda a complexa rede de relações econômicas que se desenvolve, a partir do momento em que uma indústria se instala. Desde o restaurante que vende refeições para os operários, até o pescador que vende o peixe para as refeições. Como diz o economista citado no artigo da Regina Alvarez, o Brasil pode articular o setor básico com o setor industrial, um trunfo que só os EUA também possuem.
Os tigres asiáticos, o Japão, a China, antes deles a Inglaterra, a Alemanha, os EUA, mostraram na prática que a industrialização é o caminho para o enriquecimento. E a industrialização só vem com a educação. O Brasil, porém, vai se desindustrializando, e se deseducando.
Conseguiremos corrigir nossos rumos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário