sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Banqueiro e o Estadista


Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles.

E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.

Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.

Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.

Mateus, 4, 8-11



A Era Lula concedeu aos nossos banqueiros um lucro recorde de R$ 199 bilhões. Pode-se dizer que os banqueiros dormiram de barriga (ainda mais) cheia neste Governo, “nunca antes na Hisftória desfte país”. Grande recorde para a galeria do nosso estadista!


Que tal isto para a nossa ditadura do proletário? Nossos comunas, o Partido dos Trabalhadores no Poder, o presidente-operário, este grande símbolo que nos arranjaram, que no discurso falam tudo pra agradar os pobres coitadinhos... e na prática, fornecem e participam dos banquetes pros ricos... mas será que são só os nossos comunas?


O que tem nosso homem de visão, nosso estadista, pra falar destes lucros dos banqueiros? “Graças a Deus os bancos estão ganhando dinheiro, porque quando eles não ganham dinheiro, eles dão mais prejuízo”.


Para comparar, veja-se que nos anos do Governo FHC, os lucros tiveram um lucro de R$ 30 bilhões. Nos oito anos seguintes do Governo Lula, eles aumentaram a miséria de 550 %. Banqueiros, já estouraram os rojões para comemorar os anos Lula? Já mandaram uma caixa de champanhe pro garoto? Olhem que ele merece! Para os seus negócios ele não foi um pai amoroso, foi uma mãe extremada... aumentar 550% sobre uma base de 30 bilhões? Olha, precisa ser muito estadista pra conseguir isso!


Para Lulinha e seus asseclas e seguidores, claro, o chefinho é a própria imagem do sucesso! Sua sucessora, a presidenTA Dilma, deu o tom, durante a campanha: “Ele nos ensinou o caminho”, foi sua frase beatífica para se referir ao Mestre... e a campanha seguiu o mote, adotando o slogan: “Com Dilma, pelo caminho que Lula nos ensinou!” http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u696630.shtml


É mole? Mais um pouco e o pessoal ia falar que Lula é o Caminho, a Verdade e a Vida... será que se perdeu até a noção do ridículo, nesse Reino alucinógeno? Algo de podre...


Lulinha ensinou mesmo o caminho: dá um por cento do PIB pra alguns milhões de miseráveis... dá outro um por cento do PIB pra meia dúzia de gatos gordos ficarem ainda mais gordos... e... abracadabra! 80% de aprovação, fazer a sucessora, ser o SUUU-CESSO!!!!! O Cara, dos votos! Ainda sobram uns 35% do PIB só de imposto que o Governo arrecada! Ainda dá pra distribuir muito dinheiro, nesta Grande Folha de Pagamentos que o Governo se tornou (80% do que se arrecada vai para o pagamento de funcionários / aposentados). Mas ainda tem os 18%, muita obra pra empreiteira, muito contrato! O negócio é fazer feliz a todos!


Claro que as obras fraudadas se sucedem, pontes ligando o nada ao lugar nenhum, embora a punição seja tão pouca. Claro que os serviços prestados são indigentes, pessoas deitadas no chão de hospitais, processos que duram décadas, índices de violência alarmantes, defesa civil inoperante, achaques de fiscais e jeitinhos, escolas que não ensinam, crianças na rua... Claro que o Brasil não consegue ultrapassar suas mazelas históricas, alterar sua estrutura de uma meia dúzia cagando dinheiro no meio de milhões de brasileiros afundando na merda. Claro que o Brasil não consegue educar milhões de brasileiros para que tenham um trabalho digno e honesto, e que fortaleça o Brasil perante as outras nações.


Mas o que isto preocupa os nossos homens de sucesso, nossos banqueiros e estadistas, que viajam de jatinho, e entornam os melhores vinhos, e andam muito perfumados e alinhados em ternos chiques, e que estão com o futuro garantido?


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cem anos de solidão – Gabriel García Márquez







Este é um livro tremendamente bem escrito, e ainda assim não é um grande livro.


Impressiona, do começo ao fim, pelo domínio da língua demonstrado pelo autor; também, pela inventividade do autor, pela sua capacidade de fundir personagens, situações, histórias, numa trama complexa, de uma família, por gerações, em uma cidade, Macondo, em algum lugar da América Latina.


Márquez parece um equilibrista das palavras, que a toda hora deslumbra o olhar com sua habilidade. Até para o leitor é difícil acompanhar as idas e vindas de tantos Aurelianos, Remedios, Josés Arcadios. Já me sugeriram desenhar uma árvore genealógica para facilitar o acompanhamento da saga. Mas não carece tanto trabalho. Basta seguir o fluxo da leitura, e o que se tem para tirar está ali, à superfície: é o próprio deslumbramento com a linguagem, com a criatividade do autor, com o rigor formal da engenharia de sua história. Mas o veio se esgota por aí, na superfície.


Depois de tanto deslumbramento para os olhos, fica-se com a impressão incômoda de que não se chegou ao coração, ou ao cérebro. As páginas se sucedem, muitos acontecimentos, muitas reviravoltas, mas uma perguntinha vai ganhando corpo na cabeça: “pra que tudo aquilo?”. Chega-se ao final da leitura com uma sensação de ociosidade, de que todas aquelas páginas, muito bem escritas, serviram apenas para matar o tempo. Um jeito muito chique, muito ilustre, reservado para uma fina elite, sem medo das letrinhas, de matar o tempo. Faz-se sentir especial ser capaz de atravessar a selva bem urdida de palavras, criada por Márquez; ainda assim, tanta engenhosidade parece um desperdício, pois apenas serviu para matar o tempo. “Não se dispara um canhão para matar um mosquito”. Faz pensar em salões perfumados de fumo de cigarro e ócio, piadas inúteis sobre impunidade e política, quartos de burguesas entediadas, deitadas languidamente na cama, com um livro entreaberto no colo...


Esta impressão de ociosidade da leitura se reforça enquanto também leio o Henrique VI, de Shakespeare. Claro que qualquer comparação com o Bardo é covardia, mas o contraste fica evidente quando vemos o apuro de linguagem a serviço de uma trama urgente, intensa. A serviço de um comentário interessante sobre a guerra, sobre a política, sobre o ódio, ou o desespero, ou o regozijo, ou a vingança... sobre o humano, afinal.


Nem é das maiores peças de Shakespeare, com a poesia algo destemperada, em alguns trechos... como este, da Rainha queixosa pro Rei: “O lindo mar tempestuoso recusou afogar-me sabendo que tua crueldade me afogaria em terra com lágrimas tão salgadas quanto o mar.” Fortíssimo, não é mesmo? Só mesmo o gênio para fazer uma enxurrada de falas derramadas assim acabarem por parecer naturais. E quem sabe, inspirar um outro grande poeta a escrever: “Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal!” Note-se que há dúvidas quanto à extensão do trabalho de Shakespeare nas três partes do Henrique VI.


Enfim, o livro de Márquez me pareceu muita forma pra pouco conteúdo.


Outro livro que me deu esta impressão de grande domínio formal da linguagem, combinado com idéias rasas, foi “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, do português José Saramago. Muita pesquisa feita (encomendada por Saramago), muitas sentenças complexas, num belo português, de fato. Mas na hora de colocar as questões teológicas, filosóficas, o que parecia ser o grande objetivo do livro, tínhamos o questionamento mais pedestre e primário. Bastante decepcionante. Na comparação com Márquez, creio que o colombiano fica um pouco à frente no quesito “idéias”. No quesito habilidade com as palavras, vislumbro um empate técnico.


Márquez e Saramago podem ser comparados também por seu apoio a ditaduras comunistas, e em particular a Fidel Castro. Saramago ainda fez um mea culpa, embora tardio (antes tarde do que nunca), depois que Fidel mandou fuzilar sumariamente alguns cubanos ingratos, que tentavam escapar do paraíso comunista, em 2003.


Mas não é por implicância ideológica que faço estas minhas críticas a dois romances de escritores que, bem sei, possuem legiões de admiradores. Foi apenas a minha impressão pessoal, ao lê-los, não que eu seja o dono da verdade, mas isso nem precisaria dizer. Não peço atestado de boa conduta ideológica a nenhum dos autores que leio, e deploro quem o faz, à esquerda e à direita. Conheço muitos desses, com seus indexes librorum prohibitorum introjetados, suas “panelinhas” e seus odiados e perseguidos, ainda que não lidos...


Quanto a mim, leio Sade, leio Nietzche, leio Marx, leio Kissinger, Roberto Campos, Santo Agostinho, e qualquer outro “maldito”. Because I´m free / To do what I want / Any o´ time... concordo com o que melhor me apraz, discordo daquilo que me parece incorreto, critico, debocho, ou admiro... e me sinto enriquecido, com cada leitura.



P.S. Outro exemplo de habilidade formal, estética, sem uma correspondente qualidade de conteúdo, desta vez no campo do cinema, é o filme A Origem (Inception) – 2010. Impossível não reconhecer a meticulosa engenharia da edição do filme, sem falar na perfeição dos efeitos visuais, mas a historinha... até começa bem, uma ficção científica original, mas logo descamba pra monotonia de qualquer filmeco de ação, tendo de preencher o tempo com muitos tiros e explosões, com o agravante de quebrar a cabeça do pobre espectador, com as idas e vindas “artísticas” no tempo, elaboradas pelo estiloso diretor... coisa pra nerd, que vai querer ver dez vezes o filme, prestando atenção em cada detalhe... mas eu me pergunto: e pra quê? É um exercício que se esgota em si mesmo, sintoma de ociosidade...


Enfim, repito, é minha opinião pessoal. Se você descobriu um micro-cosmo brilhante de toda a História da América Latina no Cem Anos de Solidão, ou se você descobriu a crítica definitiva ao cristianismo e a todas as religiões no Evangelho Segundo Jesus Cristo, ou se você descobriu o sentido da vida no A Origem, acho ótimo. Fico muito feliz por você. Seja feliz. Podemos trocar uma idéia num dia desses, quem sabe? Posso te escutar com prazer, mas não me diga que eu não posso ter a minha opinião, porque são prêmios Nobel, ou porque venderam milhões, e ganharam não sei quantos prêmios... como também já disse: I´m free / To do what I want / Any o´time...


Cotações:


Cem anos de solidão – 3 estrelas


O Evangelho Segundo Jesus Cristo – 2 ½ estrelas


Henrique VI (3 Partes) – 4 ½ estrelas


A Origem – 2 ½ estrelas

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Vai doer


Governo anuncia corte de R$ 50 bilhões no orçamento. O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisa: “vai doer”. Vai doer em quem, cara-pálida? Logo antes desse mega-corte, vimos a farra dos aumentos dos salários de ministros, presidenta, deputados federais, senadores, farra prontamente estendida a governadores, deputados estaduais, vereadores, e o escambau. É o famoso efeito cascata. Aumentos de até 150%. Tá bom, ou é pouco? Isso dói também, mas com certeza não em quem é beneficiário da generosidade com o dinheiro público. Experimenta você, trouxa, pedir 150% de aumento...


Entre as vítimas do corte, pessoas que prestaram concurso pública para alguma carreira, e que agora vão ficar esperando sine dia serem chamados. Se é que serão chamados. Para estes, vai doer. Agora, os milhares de cargo em comissão criados no Governo Lula, de livre nomeação e exoneração, será que serão extintos? Estes não, logicamente, afinal, servem de cabide para tantos afilhados políticos... moeda de troca em votação... estratégico, tremendamente estratégico.


Enquanto se anuncia o corte de R$ 50 bilhões no orçamento, correm notícias de que haverá um novo aporte do Tesouro ao BNDES, de R$ 55 bilhões. Desde 2008, até 2010, o governo já repassou ao BNDES mais de R$ 230 bilhões. R$ 28,8 bilhões em 2008, R$ 93,8 bilhões em 2009 e 107,5 bilhões em 2010. com esse anúncio de mais R$ 55 bi, vamos a uns R$ 280 bilhões. Corta o dinheiro do Orçamento do governo, que poderia ser destinado à saúde pública, à educação pública, à segurança pública, mas continua liberado o dinheiro pras empresas e empresários do agrado do governo, aos quais se destinam as fatias mais suculentas desses tantos bilhões.


O Tesouro empresta ao BNDES com prazos de 30 anos e juros pesadamente subsidiados. E, para fazer empréstimo, emite dívida, de curto prazo, e com juros altos. Prejuízo certo, mas dói no bolso de quem? Do distinto público de trouxas, que paga a conta, e não vê o retorno pra essa dinheirama. Não serve pra trocar um vidro quebrado da janela da escola, ou pra melhorar o salário de um professor que completou uma especialização. Mas no bolso dos empresários e projetos agraciados com o favor de El Rey (ou de La Reina), é um prazer orgasmático sentir os bilhõezinhos entrando...


20 bilhõezinhos pro trem-bala... 18 bilhõezinhos pro frigorífico... mais um tanto pra Venezuela, um tanto pra Cuba... Se amanhã ou depois vierem os calotes, se os projetos se mostrarem furados, pra quem é que fica a conta? Em quem é que vai doer?


Mas isso é amanhã ou depois, pra hoje a farra fica garantida, os bilhõezinhos fluindo... na contabilidade criativa do Governo estes gastos todos, de alto risco, entram como ativos a serem abatidos da dívida bruta, e o problema fica mascarado. Uma ferida cancerígena no meio da cara, mas deixa como está, e até futuca bastante, com uma unha bem suja. E aí disfarça com uma pesada maquiagem. Amanhã ou depois vai estourar o problema? Deixa o problema pros trouxas, amanhã ou depois estamos mortos, ou então já saímos do país com uma mala recheada de dólares... carpe diem!


Pra aula de matemática: se o governo, em vez de emprestar, nestes últimos três anos, R$ 230 bilhões pro BNDES, emprestasse para cada um dos, arredondando pra mais, 200 milhões de brasileiros, homens, mulheres e crianças, quanto cada um teria direito de receber? Resposta: R$ 1.150,00.


Mas emprestou para o BNDES, e esta é a dívida que cada brasileiro, homem, mulher ou criança, terá de pagar, só por estes últimos três anos, e só para os empréstimos ao BNDES.


Se o Governo emprestasse esses R$ 230 bilhões só para a força de trabalho ativa, uns 100 milhões, cada um teria direito a R$ 2.300,00.


Outra conta, a última: se o Governo, ao invés de investir R$ 18 bilhões num frigorífico, usasse esse dinheiro pra comprar picanha, quantos quilos de picanha poderiam ser comprados, tomando-se uma média de R$ 30 por quilo? Resposta: 600 milhões de quilos. Daria pra 3 quilos de picanha para cada um dos 200 milhões de brasileiros. Um baita churrasco.


Mas o brasileiro não vê um grama de carne, e não vê um real no seu bolso, ou vê muito pouco, de toda essa dinheirama gasta. Vê os vidros quebrados, das janelas das escolas, e as carteiras quebradas, e os professores mal preparados, e desmotivados. Não existe dinheiro pra melhorar nada disso, mas os bilhõezinhos pra fazer um trem-bala, Rio-São Paulo, ou pra construir um estádio de futebol, ou pra emprestar prum regime ditatorial e corrupto, estes não faltam.


Links relacionados: http://sergyovitro.blogspot.com/2011/02/ligacao-clandestina-rogerio-l-furquim.html


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100725/not_imp585696,0.php


http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2010/07/21/risco-bndes-309847.asp


http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/35460_O+FATOR+BNDES



sábado, 19 de fevereiro de 2011

Antes que anoiteça


Termino hoje o livro Antes que anoiteça, de Reinaldo Arenas. Excelente, destaco pela honestidade com que relata sua vida, sem ocultar nada.


Ele escreveu o livro muito doente, e já condenado pela AIDS. Incumbiu-se da missão de dar o testemunho de sua vida, do modo mais sincero e honesto possível. Prometeu à fotografia de Virgilio Piñera, que havia morrido em 1979: “Ouça o que vou lhe dizer: preciso de mais três anos de vida para terminar minha obra, que representa minha vingança contra quase todo o gênero humano.”


E foi o que fez. Vingou-se genialmente da hipocrisia, sendo de uma honestidade sem pudores. Revelou sua vida sem omitir nada, e sem justificativas ou julgamentos.


De quebra, revelou toda a podridão e falsidade de um regime, o da Cuba de Fidel Castro, que se empenhou com todas as forças em perseguir, torturar e destruir um homem pelo simples fato de ser um dissidente. De não aceitar fazer o jogo porco, sórdido e hipócrita dos tantos delatores, dos tantos opressores, dos tantos aproveitadores, que transformaram a ilha num presídio e num inferno.


Marcantes as histórias da escravidão do trabalho nos canaviais, patrocinada pelo Governo; das perseguições absurdas, das prisões kafkianas. Um livro que a nossa inteligentsia amiguinha dos Castro deveria ler. Depois de sua publicação, torna-se impossível reconhecer qualquer grau de legitimidade à ditadura castrista. Mas é claro que os que não querem enxergar continuarão cegos...


Um livro que se poderia dar de presente ao nosso ex-presidente Lula, para que não pagasse mico, e não nos fizesse passar vergonha, comparando os presos políticos de Cuba com criminosos comuns. Isso, é claro, se o nosso ex-presidente lesse livros. Mas ele mesmo já declarou em entrevistas que não é chegado a leitura... pior ainda, ele se orgulha de não ler livros, acha que não precisa... acha que já sabe de tudo, e é inclusive um homem sem pecados... realmente, este ser superior não precisa ler este livro.


Os seres comuns, no entanto, terão o prazer de uma grande e esclarecedora leitura.


Cotação: 4 estrelas


P.S. Tem um filme também, Antes do anoitecer, com a história do livro, premiado, com atuação de Javier Barden no papel principal. É um filme muito bom, mas, como costuma acontecer, a experiência da leitura é muito mais intensa. 3 estrelas, para o filme.

Gado


Vão, aos poucos, nos acostumando com a canga. Vão nos acostumando com o jugo.


O deputado João Paulo Cunha, do PT de São Paulo, presidirá a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Trata-se de réu no processo do mensalão.


Alguém se lembra de sua participação no escândalo? Sua esposa, Márcia Regina Cunha, foi flagrada apanhando R$ 50 mil, cash, na boca do caixa, no Banco Rural. Um dos muitos desdobramentos do esquema do mensalão, a aparecerem na mídia para vergonha da nação.


Foi noticiada ainda a desculpa de João Paulo Cunha para a esposa, dizendo que ela tinha ido ao Banco Rural para pagar a prestação da TV a cabo. O cabo é que tinha 50 mil rolando, a título de quê? Será que é moral alguém receber esta quantia de mão beijada? Será que é possível que uma autoridade o faça, sem que aconteça nada? Nada de nada. A ponto de João Paulo Cunha, depois de ser escolhido presidente da tal comissão, se dar ao desplante de dizer: “fui reeleito, nas duas últimas votações, o mais votado do PT. Estou seguro da minha inocência e confiante na Justiça. Vou ajudar a dar celeridade às leis e às medidas por um país melhor.”


Ele se sente tão seguro, na sua autoridade de pessoa “incomum”. Duas vezes reeleita, mais votada... neste sistema eleitoral caótico que temos, ele é um dos que conhecem o caminho das pedras. E não precisa dar uma palavra de explicação para os 50 mil. Para a desculpa esfarrapada que usou.Basta que ele se diga seguro da sua inocência.


Este é o país que temos, dos que se lixam para a opinião pública. Aos poucos vão nos acostumando com a canga. João Paulo prepara o terreno, mostra o predomínio. Mostra que podem fazer o que querem, pois a sociedade dorme. Outros réus do escândalo vão aparecendo, querendo retomar suas posses: Delúbio Soares, Sílvio Pereira, Genoínos, dólares na cueca, e o figurão maior, José Dirceu, todos vão tendo seus nomes de novo no jornal, nunca para lermos: condenados! Vão aparecendo seus nomes em festinhas, em cargos públicos, em bons negócios, em intermediações com empresas sequiosas por contratos públicos, em reeleições...


Vai-se cumprindo a profecia debochada de Delúbio Soares, de que o mensalão em poucos anos seria piada de salão...


Mas, afinal, o criador de gado precisa dar alguma explicação pro gado que vai sendo abatido?



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Da configuração do Estado - Capítulo Três - Sobre a organização do trabalho

Num filme de guerra percebe-se o alto grau de organização e disciplina utilizados para planejar e executar uma campanha militar. É admirável a capacidade humana de organização e disciplina, dizer isso, é claro, não significa admirar a guerra, em si.


Fica-se pensando no quanto poderia ser obtido se os homens se organizassem como fazem nos exércitos, para conseguir outros fins, como a erradicação da miséria.


É verdade que a comparação deve ser feita com cautela: a disciplina férrea do quartel pode ser enervante e insuportável para muitos. Além disso, o senso de urgência numa guerra é muito maior, o que permite que as pessoas se organizem sob um signo muito mais intenso de disciplina. Aceitam melhor receber ordens.


Mas mesmo fora das guerras, o sonho e o ideal da disciplina permanece. Alguns desejam ser soldados, e há muitas ameaças contra a vida e a liberdade que pedem a intervenção dos soldados. É legítimo à sociedade se defender. Para isso, ela precisa da bravura dos soldados.


Mas para realizar bem a sua missão, o soldado precisa de organização e estrutura. A sociedade precisa de valores bem claros, e um deles é o respeito pela vida.


Policial não pode virar assassino; soldado não pode vender a honra.


Uma polícia honesta, empenhada na prevenção e investigação de crimes, com bons recursos, principalmente de inteligência, de comando, é uma polícia que cumpre sua missão.


Um soldado bem treinado, bem equipado, cuja missão não deborde o princípio de defesa, é um soldado que cumpre sua missão.


Uma carreira, uma oportunidade, para quem se dedica a esta missão com afinco, e que cumpre suas rigorosas exigências, traz a paz para a sociedade.


Muito diferente, por certo, daquilo que acontece no nosso país, onde se desvaloriza, se desqualifica e se corrompe nossos soldados e nossa polícia.


Mal remunerados, mal treinados, mal escolhidos. Com exceções e com progressos, por certo, mas ainda em grande medida assim.


Muito melhor seria se cada um vocacionado para estas carreiras de Estado, tivessem a chance de mostrar seu trabalho, e se fosse bom, seria aproveitado, e o soldado e o policial evoluiriam na carreira. Se não fosse bom, obrigado, mas precisamos de outra pessoa. Vá trabalhar em outra coisa.


Alguém na carreira, dependendo do trabalho que faz, precisaria mostrar aptidão física constante, desempenho constante, sob avaliação constante. Vida de quartel, exercícios, disciplina. Acordar cedo, fazer flexões, corrida, treinar luta, natação, etc. Teria de fazer cursos, aprender tática, direito, história. Treinar abordagem, treinar tiro, treinar patrulhamento. Trabalho em duplas, trabalho em grupo, palestras com especialistas.


Claro, tudo isso se estruturaria dentro das carreiras, com promoções bem avaliadas, e levando em conta as especifidades: os peritos criminais, os investigadores, as tropas de choque e de invasão, etc.


Isso tudo, é verdade, num serviço público bem estruturado, e com tradições bem diversas das nossas. Nossa cultura é a do concurso público: uma provinha, como de colégio, e se garantiu numa carreira. Treina-se dando três tiros, gritando “sim senhor”, e levando uns tapas na cara. Aí, está formado para ser jogado na rua, à própria sorte, mas também sem nunca ser avaliado: pode-se fazer os negócios que quiser, pode-se exibir patrimônios absolutamente incompatíveis, pode-se arrebentar uns pobres favelados, pode-se até torturá-los e matá-los, que ainda se vira super-herói de filme que a fina sociedade aplaude com regozijo...


Nas altas cúpulas da carreira se cai de pára-quedas, também pelo famosa provinha de concurso público. Aí, claro, com salários mais altos, e para o bico das classes mais ricas, que estudou em colégios particulares, fez faculdades de direito, cursinhos especializados, etc. Ou então, outra de nossas tradições, é-se indicado politicamente, para um dos tantos cargos de confiança, de livre nomeação e exoneração, nos cumes da carreira...


Mas além das carreiras envolvidas diretamente com as questões de vida e morte, soldados e polícias, seria útil ter uma organização e disciplina eficientes para lidar com velhos problemas nacionais, como a miséria e a penúria.


Se os homens se organizam para a guerra, por que não se organizar para ganhar a vida com um trabalho honesto? Por que não, à maneira de exércitos, construir os galpões, distribuir os equipamentos, as instruções, e se empenhar em produzir tantas coisas de que a sociedade precisa: roupas, ferramentas, móveis, alimentos, etc.


Certo, já existe esta disciplina e organização nas fábricas do sistema capitalista, mas eu não estou de forma alguma propondo uma substituição em regra do sistema capitalista. Este já se provou amplamente superior à estatização excessiva. Fora que esta estatização sempre se mostrou perniciosa ao homem, devorando-lhe a liberdade e constituindo sua vida num inferno, vide os regimes fascistas, vide os regimes comunistas. Quem não sabe das infinitas prisões, dos trabalhos forçados de escravos, das execuções em massa, das perseguições constantes, é burro que não conhece História. Ou então insensível, possuído pela ideologia, que se recusa a enxergar. O pior cego é aquele que não quer ver.


Os “exércitos” mantidos pelo Estado para fazer coisas úteis para a sociedade não visariam, portanto, substituir o capitalismo. O regime de mercado, em que as pessoas têm liberdade para ser investidores, se quiserem e puderem. Como disse Adam Smith, o benefício privado se converte em benefício público. O açougueiro trabalha pelo dinheiro, mas fornece a carne de que precisa a sociedade.


Os “exércitos” organizados pelo Estado se destinariam, assim, aos que voluntariamente desejassem trabalhar neles, não tendo conseguido um emprego do mercado.


Seria útil à sociedade se organizasse estes “exércitos” de trabalho: teria mais quantidade de bens e serviços, a preço mais baixo, além de se livrar de diversos efeitos nocivos decorrentes do aumento da miséria: maior desestruturação de famílias, maior criminalidade, maiores índices de alcoolismo, de adicção às drogas, maior o número de desnutridos, de doentes epidemiológicos, etc, etc.


Também seria muito útil para os que tivessem a oportunidade de um trabalho: afastar o fantasma da fome, a insegurança quanto ao futuro da família. E a chance de servir também à sociedade, prestar sua cota para o bem comum.


Outro benefício: acabariam as histórias de vitimização e coitadismo: ele roubou, ele matou, ele destruiu, ah, mas foi porque não lhe deram uma chance... Pois bem, dê-se a chance, um trabalho decente para cada um em condição de fazê-lo.


Mas, como eu disse, não é para competir ou substituir a iniciativa privada. É difícil equilibrar tal sistema? Sem dúvida, mas gostaria de lançar uma idéia para que se começasse a pensar a respeito:


Estes “exércitos” de mão-de-obra seriam redes de segurança para amparar os que não têm outra oportunidade. Teria de ser destinado a preparar e fornecer meios para que os interessados pudessem se dedicar a uma tarefa simples, de uso intensivo de mão de obra, bem determinada, e cujo rendimento fosse suficiente apenas para manter o trabalhador e sua família.


Seriam necessários especialistas do trabalho para definir e organizar estas tarefas: seria fabricar roupas, fabricar ferramentas, fabricar tecido? Seria trabalhar uma terra, aprender técnicas agrícolas? Para cada região teria de ser definido e organizado o trabalho, mas com aquelas mesmas características mencionadas: uso intensivo de mão de obra, tarefa simples, fácil de fiscalizar, com rendimento suficiente para manter, não enriquecer, os trabalhadores associados.


O livre mercado se organizaria equilibrando-se nesta realidade: se, por exemplo, um “exército” de mão de obra de uma região fabrica calças, o mercado fabricará, digamos, camisas. Ou calças de uma outra qualidade, com outro público-alvo, daquelas fabricadas pelas fábricas estatais. Estas apenas fabricariam calças simples, a serem utilizadas, digamos, pelos próprios trabalhadores dos “exércitos” de mão de obra. Deveriam ser de boa qualidade, segundo a orientação dos especialistas que organizassem a tarefa, mas sem os modismos, sem os enfeites, das calças vendidas pelo mercado.


Um outro ponto: trazendo toda a mão de obra disponível para um trabalho digno e honesto, a sociedade poderia se gratificar concedendo-se, de maneira geral, menos horas de trabalho.


Em outras palavras: nesta sociedade, nem ao livre mercado, nem ao trabalho social, para o Estado, se permitiria a escravização do homem pelo homem.


Isto se conseguiria da seguinte forma:


Cada trabalhador da iniciativa privada teria direito a uma remuneração mínima de X por hora de trabalho. Seu empregador teria direito a, digamos, 6 horas do seu trabalho por dia, 5 dias por semana. Complementando este salário, o Estado, a partir da tributação, poderia complementar o salário com um pagamento de 10 X horas para cada trabalhador.


Neste sistema, a carga pelo pagamento de horas não trabalhadas não é suportada pelo empregador. É suportada pelo Estado, numa tarefa de redistribuição do que foi arrecadado com tributos, de toda a sociedade, que teria o retorno em bem-estar social pelo pagamento destes tributos.


Os empregadores, gastando apenas com as horas trabalhadas, iria gerar mais empregos por ter de contratar mais pessoas para fazer o trabalho, dada a redução da carga horária.


O Estado promoveria o bem-estar social na medida em que cada pessoa poderia se manter, e à família, com tempo livre para aproveitar a vida como melhor lhe aprouvesse. Por outro lado, estimular-se-ia o trabalho, e não o parasitismo. O prêmio iria para cada trabalhador, não para os preguiçosos. Um salário para quem não trabalha, só para aqueles entrevados numa cama. E olha que mesmo para muitos que estão numa cama seria possível ter um trabalho compatível, se houvesse uma suficiente organização.


Ao lado desses trabalhadores da iniciativa privada, teríamos os trabalhadores para o Estado. Nas mesmas condições, o trabalhador trabalha o mesmo número de horas de seus colegas da iniciativa privada, e recebe as horas a mais que elevam seu padrão de vida. Sendo que as horas pagas pelo Estado para os seus trabalhadores têm de ser compatíveis com as horas pagas para funções similares, de mesma exigência de escolaridade, pela iniciativa privada.


Nada de termos ascensoristas no Congresso que ganham mais do que a maioria dos médicos.


Se o Estado precisa dos seus jardineiros, dos seus garis, dos seus varredores de rua, dos seus faxineiros, que o salário seja compatível com a profissão.


Se o Estado tem seus médicos, seus professores, seus advogados, seus juízes, seus generais, seus engenheiros, que a remuneração seja digna e compatível. Que se considerem anos de carreira, que se considerem títulos, que se considerem condições penosas e de risco, que se considerem posições de chefia... critérios objetivos.


E aí o Estado poderá pagar pelo trabalho destes homens e mulheres, e dar-lhes ainda o bônus de horas extras. Horas X, se seu trabalho é de primeiro grau, com relação à sua hora de salário; 2 X, se é um trabalho para segundo grau; 3 X, se é de terceiro grau, em relação ao salário. Da mesma forma que se faria para o trabalhador da iniciativa privada.


Finalmente, para os excluídos e marginalizados, sem condições de desempenhar um papel dentro das hierarquias da iniciativa privada e do Estado, se reservariam os “exércitos”. No caso, receberiam a remuneração mínima, mas também trabalhariam o mesmo número de horas. Mas não receberiam o salário adicional, como forma de desestimular o comodismo de não buscar uma qualificação e emprego.


Poder-se-ia, no entanto, oferecer algum outro tipo de compensação, além do prêmio em dinheiro: alojamento, recebimento de alimentos, de roupas, calçados, etc.


Uma sociedade com este grau de organização do seu trabalho, alguém duvida que seria uma sociedade próspera e feliz? Seus membros livres para escolher o trabalho que melhor os realiza, e não precisando se escravizar para ganhar o seu pão. E tendo a segurança de não experimentar a miséria e a fome, decorrentes de desemprego ou falência.


Como último recurso, saber que haveria um banco e uma mesa, e uma ferramenta para realizar alguma tarefa simples. E quem sabe, a partir daí, dar a volta por cima?


Quem sabe, alguém com a segurança da renda, e com as horas livres, poderia estudar até em casa, e se tornar um médico ou um professor? A sociedade tem de prover as oportunidades.


Ou quem sabe, alguém com a segurança da renda e com as horas livres, não poderia escrever um maravilhoso romance, uma maravilhosa peça de teatro? Ou quem sabe, não poderia ter a idéia para um grande invento, algo que renderia milhões para aquela sociedade?


E ainda que não houvesse nada disso, não seria bom poder simplesmente passar mais tempo com os filhos? Ir a um estádio de futebol, ou a uma sessão de cinema (também movimentam a economia!)?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Erros crassos


No artigo de Míriam Leitão no jornal O Globo de 16.02.2011, “Erros Caros” (http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/02/16/erros-caros-363460.asp ), uma bela crítica às duas maiores obras do Governo: o trem-bala, e a hidrelétrica de Belo Monte. Vão obrar a custo de ouro: R$ 35 bilhões, só para o trem-bala, sendo que “ninguém do setor realmente acredita que ficará nisso”. O artigo questiona sensatamente por que o trem-bala sozinho vai consumir a metade do que será investido no setor de ferrovias nos próximos anos. Isto, num país cuja economia tem uma grande demanda não atendida de ferrovias: temos 28 mil quilômetros, e a Agência Nacional de Transporte Ferroviário estima que precisaríamos, hoje, de 50 mil quilômetros; nem em 2023, se todos os projetos do Governo para o setor saírem do papel, atingiremos este patamar, que representa a necessidade atual.


Uma frase do artigo resume bem a situação: “Confesso não entender por que um país com poucos recursos para investir escolhe dois projetos faraônicos num tempo em que há tanto a fazer”.


E por que o Governo se empenha tanto para fazer passar estes projetos faraônicos? No caso de Belo Monte (de merda), o Governo se empenha para contornar os problemas gerados pela inadimplência no depósito de garantias pela Bertin, empresa que é o grupo-chave do consórcio que ganhou a licitação para construir Belo Monte. Esta Bertin criava boi, e “passou de uma hora para outra ao setor de infraestrutura e assumiu proporções gigantes, empurrada pelas licitações que ganhou para construir termelétricas e rodovias”.


Com relação ao trem-bala o Governo mostra-se igualmente ansioso por empurrar o projeto pra frente, não importando os custos: o Governo torra subsídios como se fossem madeira seca, R$ 20 bilhões de empréstimos do BNDES, com juros camaradas; R$ 5 bilhões de “doação” do Governo, para o caso de o movimento de passageiros não ser o que foi projetado (ah, as glórias do capitalismo sem risco! É só dar um “jeitinho”, à brasileira, e o empresário não perde seu dinheirinho... tem o dinheirinho dos trouxas pra torrar mesmo...). Ainda tem uma estatal a ser criada, a ETAV, Empresa do Trem de Alta Velocidade... mais uma estatal, pra encher de cargos de confiança, pra dar guarida pros companheiros que perderam eleição, etc etc. Pela bagatela de R$ 3,4 bilhões... é bom ser país rico, ter tanto dinheiro pra gastar... pobre passando fome? Ah, sai aí uma bolsa-esmolinha, 100 merrecas, e ele ainda te agradece e, mais importante ainda, te entrega o voto...


E o Governo enfiar uns projetos desses pela garganta do país, torrar essas montanhas de dinheiro, com toda essa pressa, com todo esse afã para contornar os obstáculos, os argumentos, para passar por cima da mais elementar racionalidade, a mais mínima razoabilidade, é a demonstração cristalina de que não Oposição neste país, não temos voz e não temos vez contra a vontade do Rei, por estúpida, caprichosa ou perniciosa que seja. Ah, mas sempre tem uns grupinhos por trás dos projetos, uns grupinhos que ficarão muitíssimo satisfeitos de ver que cai no seu colo R$ 35 bilhõezinhos, e “doações” públicas que eliminam o risco do negócio, e juros camaradas, e outras coisinhas do gênero... para agradar a estes grupinhos, o Rei move mundos e fundos, atropela os argumentos contrários, joga todo o seu peso, joga toda a sua força, e o nosso país, sem tradições de resistir à vontade do Governante, muito envergonhado ou assustado de ser impertinente, inconveniente, indelicado, permite calado que lhe esfolem o couro todo.


Só nos resta mesmo viver na miséria, e desperdiçar as chances de ganhar dinheiro, porque não temos ferrovias suficientes para atender nossa demanda, por exemplo. Ou morrer numa inundação, ou num desabamento, porque o Governo não gastou o dinheiro com os recursos de prevenção, por exemplo. Ah, triste sina deste país!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Reforma Política



Vantagens do sistema distrital puro como instrumento da democracia:


Na escolha do representante, haverá igualdade entre os votos de todos os habitantes do país. Cada eleito precisa ter a maioria entre os tantos mil eleitores que representarão o distrito eleitoral. Não haverá mais eleitos com 93 votos, e não eleitos com 93 mil votos;


Simplicidade: o sistema mais simples é o mais fácil de se adequar ao senso de justiça mediano da sociedade. Não parece evidente, do mais evidente bom senso, simplicidade e justiça, que cada eleito deva representar uma maioria determinada, entre os tantos mil que compõem cada distrito? Cada representante nestes termos possui a legitimidade para desempenhar sua função numa democracia. Qual a legitimidade do sujeito com 93 votos, ou do sujeito até sem voto, Senador, neste país de pesadelo de Kafka?;


Maior possibilidade de controle pelo eleitorado. No nosso sistema atual, prova da sua completa falência, a maioria dos eleitores sequer se lembra do nome daquele que elegeu. Ou pode votar, por protesto, ou por desinteresse, ou pela convicção de que nada estará melhor (pior que tá não fica), em qualquer daqueles mesmos... não sentem, diretamente, os efeitos da sua escolha. A responsabilidade dos representantes se dilui e desaparece no meio da maçaroca do Congresso.


Mas se aquele Distrito eleitor tivesse o seu representante bem determinado, lidando diretamente com ele, para tratar de QUALQUER assunto envolvendo o interesse público, como seria diferente! Você gostaria de tratar com Tiririca, se ele fosse o eleito do seu Distrito? Quando quisesse uma resposta sobre algum direito do seu Distrito? Do Hospital Público do seu Distrito, da escola do seu filho, da praça pública, da estrada que deveria estar sendo construída na Região do seu Distrito? Será que você gostaria de ter o Tiririca para tratar, e escutar uma piada? Ou que lhe mandasse um abraço por trás, rá, rá, rá? Ou gostaria de tratar destas questões com a moça do funk, ficou famosa porque gosta muito do funk, posou em capa de revista e tudo, e aí gostaria de pedir o seu voto.


Que tal deveres claros para os representantes, em face dos representados? Que tal se por lei, o representante devesse prestar, em praça pública, contas dos dinheiros públicos gastos no Distrito, e inclusive organizando as reuniões públicas, onde todo eleitor poderia participar, questionar, propor, saber, falar? Para cada Distrito, direitos e deveres bem claros e definidos, para o eleitor, para o representante.


Aí veríamos se de fato não haveria qualquer interesse pela política. Para complementar este quadro de reforma política, claro, sempre ela, a Educação.


Que tal, ensinado nas escolas, matéria obrigatória, os direitos e deveres básicos do cidadão. O direito de peticionar, o que quer que deseje, e receber uma resposta do Poder Público? Um processo, conduzido pelos representantes, publicamente, com prazos, para responder às petições dos cidadãos. Saber quanto se gasta na escola, quantos professores tem, quem são, quanto ganham, e se está de acordo com o que acontece nos outros Distritos, o mesmo número de professores por alunos, as mesmas matérias, o mesmo material.


Ou saber o que se passa no Hospital, e poder questionar porque não se tem o mesmo número de leitos, o mesmo tipo de especialidade, que a lei deveria garantir em condições de igualdade para os cidadãos.


Ou saber da condição em que atua a polícia, e qual a taxa de crimes, e por que não se tem mais investimentos, mais reforços, mais mudanças, se a taxa de criminalidade aumenta, e se as forças de segurança do Distrito não conseguem resultados.


Ou saber que o tal fulano, eleitor do seu Distrito, recebeu algum dinheiro público, e em que circunstâncias se deu isso, e se não havia um super-faturamento, ou se a obra prometida não ficou pronta, ou se ficou pronta mas era uma porcaria, e poder questionar tudo isso. Poder cobrar, exigir, uma resposta, sob pena de responsabilização pelo Judiciário.


Tudo isto parece bom demais? Pois seria só o começo para uma reforma democrática no país. A partir daí é que o país poderia avançar na responsabilidade dos cidadãos com a coisa pública. Ou seja, a partir daí nos tornaríamos republicanos.

Democracia

Na Revista Veja de 09.02.2011, uma matéria muito interessante sobre a posse do novo Congresso: “A Cara do Congresso”, de Fernando Mello. Realmente vale ler, e pode ser lida neste link: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/7/a-cara-do-congresso


Por ela, sabemos que dos 513 deputados federais que compõem a Câmara, “apenas 36 se elegeram com votos próprios. Os demais 477 ganharam o mandato graças a votos dados a outros políticos ou às legendas.” Num sistema em que 91% dos votos são nominais, nota-se que apenas pouco mais de 7% dos “representantes populares” foi de fato escolhido pela população.


Precisa de mais algum fato para comprovar que NÃO estamos vivendo numa democracia, não importa que diga o contrário nossa Constituição?


Diante de uma vergonha nacional como esta, diante do imenso engodo, diante da fraude, do escárnio, de um sistema que se faz passar por democracia para nos roubar a democracia, lobo em pele de cordeiro, o que é que nossa anestesiada, alienada, burra, corrupta “elite” tem de mudança para propor? Nada, ou quase nada. Promessas vagas, tergiversações, acochambramentos e compadrios, tudo tudo dominado...


Para os verdadeiros democratas, democracia é a mãe de todas as reformas. Para os verdadeiros democratas, a liberdade é mais importante do que o pão, é mais importante do que a água. Para os verdadeiros democratas, não ter a democracia, e não lutar por democracia, é algo de impensável. Teremos verdadeiros democratas?


Nossa Oposição, bunda mole, repetidora de velhas práticas, usufruidora de velhas mordomias, deleita-se com picuinhas, enquanto toma sovas e mais sovas dos donos do poder... contenta-se em fazer o papelzinho que reservaram para ela, jogar o jogo sem incomodar muito... ninguém empunha a bandeira de uma verdadeira reforma, esta verdadeira reforma: a reforma política, aprofundar a democracia.


Tem até o momento perfeito para isto, nossa Oposição: neste sistema degenerado, absurdo, canalha, em que uns se elegem como “representantes” com 93 votos, ou até sem votos, GRITAR ALTO E CONSTANTE QUE ESTE É UM SISTEMA QUE NOS ROUBA A LIBERDADE! A LIBERDADE DE ESCOLHERMOS NOSSOS REPRESENTATES DE VERDADE, DE VIVERMOS SOB AS LEIS QUE ESCOLHEMOS, EM REGIME DE IGUALDADE.


Como nos diz a reportagem, existe a proposta de implantação do voto distrital para reformar este nosso sistema eleitoral anti-democrático. A defesa do voto distrital é feita sobretudo pela bancada do PSDB. Pois então, senhores da Oposição, cerrem fileiras na defesa desta reforma política! E não aceitem desvirtuamentos oportunistas do voto distrital! Mantenham-no da maneira mais simples, dividindo-se o número de eleitores pelas vagas de deputados, cada distrito reunindo cerca de 264 000 eleitores. Eleitores que se reportarão diretamente a seu representante, para questionar-lhe, para cobrar-lhe, para pedirem contas, DE TUDO QUE ESTÁ RELACIONADO À PRESTAÇÃO PÚBLICA. O serviço do Hospital, da Escola, os gastos feitos, as contratações, os salários recebidos, TUDO, relacionado à coisa pública.


Está aí uma grande bandeira, que pode inclusive proporcionar as vitórias eleitorais tão buscadas pela Oposição, se souberem convencer o eleitorado de que têm condição de entregar esta proposta: a proposta de uma mudança total da maneira como é praticada a democracia entre nós: de uma farsa, de um engodo, de uma palhaçada, para uma democracia verdadeira, realizadora de nossas esperanças como nação, afinal, não está inscrito na nossa Constituição, que o Brasil se constitui em

República Federativa, Estado Democrático de Direito? Cada palavra destas tem o seu significado, tem o seu valor, está inscrita no artigo 1o da nossa Lei Maior. Será que podemos aceitar que alguma destas palavras seja letra morta, seja falsa, seja enganadora?


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mubarak Sarney


Muito boa a primeira capa de um jornal que vi, estampando na primeira página as caras de Mubarak e Sarney. No texto que seguia a foto, fazia-se uma comparação entre os dois, vantajosa para o brasileiro (Brazil-zil-zil-zil!): Mubarak, 30 anos no poder, quase morto... Sarney, 55 anos no poder, muito vivo...


E de fato, a manchete do jornal estava coberta de razão: entra ano, sai ano, seguimos o enredo da Maldição da Múmia. 55 anos, exercendo o poder, atravessando democracia, ditadura militar, redemocratização, governo de tucanos, governo Lula, governo Dilma... no governo Lula, aliás, ganhando uma proeminência absoluta na República, depois que o presidente mais popular da História deste país acertou a partilha do comando do Brasil com sua Eminência Parda. Lulinha virou amigão do peito de Sarney, o cara que lhe dava toda a sustentação para que ninguém o ameaçasse politicamente.


Em meio a mensalão, histrionismos de Roberto Jefferson, evidências sobre evidências sendo anunciadas com alto-falantes em cada noticiário, Lulinha sentiu aquele frio na barriga, e voltou-se para o lado que lhe anunciava segurança... besteira negociar apoio no varejão da Câmara dos Deputados, fazer pagamentos mensais, saques na boca do caixa... ouça o voz da experiência, ouça a voz deste que viveu tudo isso, sempre no Poder. Chegou a ser presidente da República, numa destas improbabilidades que o destino produz...


Está certo que o seu mandato como presidente da República foi um dos maiores desastres que nossa História já viu... um plano trombeteado como a Grande Vitória sobre a Hiper-inflação que assolava os brasileiros, acabar num tremendo fiasco, com a economia desorganizada, nova Hiper-inflação, frustração da esperança de milhões e milhões de brasileiros que embarcaram no Grande Plano, alguém se lembra das “fiscais do Sarney”, conferindo preços nos super-mercados, com tabelinhas?


Claro, antes do tal Plano naufragar Titanicamente, serviu para eleger uma tremenda cambada do PMDB, partido do presidente que “dominava” o dragão da Inflação, Sir Ney, como lhe apelidou Millor Fernandes.


O PMDB desde então e até hoje domina a fauna política brasileira... quem sabe a maior ocupação de poder proporcionada por um tremendo engodo na História deste país?


A situação ficou tão ridícula, que ao fim do mandato de Sarney não havia candidato do Governo para disputar a eleição. Todos os candidatos eram oposição, competindo para ver quem xingava mais o presidente para ganhar votos. Collor e Lula, no segundo turno, perderam as papas na língua para desancar Sarney... logo Collor e Lula, que presidentes jamais se furtaram a abraçar apertado aquele de quem falavam horrores.


Lula chegou a jogar todo o seu peso político para ajudar Sarney, quando diversas falcatruas no Senado vieram à tona: desperdícios grotescos, cabide de empregos, folhas de pagamento engordadas por expedientes, atos secretos de nomeação de parentes, e uma longa fila de etcs. Sarney balançou, e a Nação ficou em suspenso, para ver se não ia cair... mas Lula jogou pesado, como de hábito, e fez até um Senador revogar o irrevogável. Troféu King Kong do século para Aloisio Mercadante. E Sarney ficou, impávido colosso.


Esta grande vitória de Sarney, patrocinada pelo nosso Estadista, foi outro grande símbolo da sua Era de Governo. A vitória do velho, do poder que fica 55 anos mandando, sendo que o Estado onde se instalou está em ÚLTIMO lugar no índice de desenvolvimento humano do país. O Maranhão apresenta IDH de países africanos assolados por pestes, por fome, por guerras...


E a família Sarney? Vai muito bem, obrigado. Seu patriarca, com o único trabalho de ser político, de exercer o poder, acumula uma fortuna de milhões, e que só faz crescer, a cada ano. Nunca vendeu uma lingüiça no armazém, nunca fabricou um parafuso, nunca atendeu um paciente... mas ganhou, milhões e milhões, com seu salário de político. Ah, sim, e com todos os bons negócios em que ganhou dinheiro, em suas fazendas, em suas emissoras de rádio e televisão, que não páram de lhe render um dinheirinho...


Saído em desgraça da presidência da República, incapaz de se eleger síndico de prédio, até no seu Estado de origem, Sarney mostrou o quanto vale conhecer bem este país: elegeu-se Senador pelo Amapá. Basta uma declaração de mudança de domicílio eleitoral... e o Amapá pode ser um Estado pequenininho, mas também elege seus três Senadores, como qualquer outro Estado...


Ah, quanta esperteza... esse é o Cara do Cara, o que nunca deixa o poder, mas fica ali, discreto, nas sombras... é mais fácil desse jeito. Depois de tanto estrondo, depois do que fez na presidência da República, depois de ter sido um dos políticos escolhidos para permanecer, pela ditadura, depois de atos secretos no Senado, Sarney se reelegeu recentemente, pela quarta vez, neste princípio de governo Dilma, presidente do Senado. Manteve o controle de seu grupo sobre o Ministério de Minas e Energia, jóia da Coroa. Ainda ganhou o Ministério do Turismo, às vésperas de fechar grandes negócios com Copa do Mundo e Olimpíadas. O titular do Ministério, aliás, já protagonizou outra cena grotesca da nossa História republicana, pagando com dinheiro público despesa que teve para fazer uma festinha para amigos num motel: mais de R$ 2 mil... e o ministro tem mais de 80 anos! Danadinho esse ministro, hein? Pois ficou tudo por isso mesmo, neste início de governo, e agora sequer se vê alguma contestação mais forte ao predomínio de Sarney. Que vitória completa, hein, velha raposa? Será que mesmo você imaginaria que teria uma vitória tão completa, que dominaria tão tranquilamente sobre toda a Nação? 55 anos sem apear do poder, 55 anos


Complementando, neste link tem um artigo muito bom sobre uma última defesa apaixonada de Sarney por Lula, já no final de seu mandato: http://www.jornalpequeno.com.br/blog/johncutrim/?p=12473



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

In riso veritas

O Pânico na TV voltou afiado em 2011. Olhem o festival de atos falhos dos nossos políticos, de qualquer coloração partidária, irmanados na satisfação que sentem consigo mesmos, e que se demonstra nas faces muito risonhas, muito de bem com a vida, com muito dinheiro no banco:


Jimi Hendrix - If six was nine


Esta pérola do inconformismo:





Siga cantando, Jimi...

Se 6 fosse 9

Se o sol

Recusar sua luz


Eu não me importo

eu não me importo


Se as montanhas

Caírem para dentro do mar


Deixe estar

Não me atinge


Tenho meu próprio mundo de que cuidar

E eu não vou copiar o seu


E agora se o seis

Acabar se tornando o nove


Eu não me interesso

eu não me interesso


Se todos os hippies

Cortarem todo o cabelo


Eu não me importo

eu não me importo


Tenho meu próprio mundo em que devo viver

E eu não vou copiar o seu


Conservadores de colarinho branco

surgem em lampejos enquanto desço pela rua


Apontam seus dedos de plástico pra mim

Eles esperam que meu tipo vá depressa cair e morrer mas


Eu vou agitar minha bandeira do Louco na mais alta colina

alto... alto!


(Seguem minha harmonia

Apenas não me seguem)


(Siga o caminho Sr. Homem de Negócios

Você não pode se vestir como eu)


(E ninguém faz idéia

daquilo que estou falando)


(Tenho minha própria vida pra viver)


- Eu sou aquele que terá de morrer

Quando for a minha hora de morrer


Então me deixe viver a MINHA vida

Do jeito que eu desejar


Dito...


Siga cantando, irmão...

Siga tocando, baterista...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Tragédia em Nova Friburgo




Eis aí uma pauta para a imprensa: de mês a mês, nos pronunciamentos oficiais da presidente eleita Dilma Rousseff, questionar o que foi feito de medidas de prevenção e recuperação da Região Serrana do Rio de Janeiro.


Esta Região que sofreu a pior catástrofe natural da História desta país. Quase mil pessoas mortas. E mais um número similar de desaparecidos.


Algo que chocou e marcou cada habitante destas regiões, algo que comoveu todo o país. E tanta tem sido a incúria de nossos governantes para fazer qualquer prevenção. E até estimulando o risco, com muita irresponsabilidade, e até corrupção. Licenças sendo dadas sem critério, invasões e ocupações desordenadas, às barbas da fiscalização.


Pois esta tragédia se abateu sobre a Região Serrana do Rio. Filhos que perderam pais, pais que perderam filhos. Imensa, irreparável dor e sacrifício.


Pois bem. Isto vem na entrada deste novo Governo, desta nova legislatura. Como marca de que não enfrentaremos e não dominaremos alguns de nossos maiores problemas, como primeira hipótese. Ou como marca de que conquistaremos esta brilhante vitória.


Mas deve partir do povo. O povo que deve cobrar, deve pedir à imprensa, deve se comunicar com seu deputado, mandar um email mensal para o seu senador, para a sua presidente, deve gritar em praça pública: o que é que se vai fazer, não só pela Região Serrana, mas por todo este nosso Brasil, em termos de prevenção de catástrofes, em termos de recuperação de regiões atingidas?


Promessas, foram muitas, no primeiro momento, com toda a atenção voltada para as manchetes. E existirão políticos bem dispostos e bem intencionados. Mas toda a sociedade precisa cobrar de todos os governantes. E cobrar, e cobrar de novo: o que será feito? Quando será feito? Por que ainda não foi feito?


Passado o primeiro momento, a primeira manchete, nossos governantes já vão retornando aos seus deslizes. Os hospitais de campanha foram retirados muito cedo, na opinião geral da nossa população. Pessoas que voltavam para trocar curativos se surpreendiam de não haver mais um hospital por ali. Uma justificativa qualquer, de alguma autoridade, e ficou tudo por isso mesmo. Será que haveria alguma melhor utilização das estruturas dos hospitais de campanha que foram montados por aqui, para que tivessem sido deslocados tão cedo? Novamente, engolimos qualquer decisão de nossos “senhores”, sem questionar muito. Sem querer incomodar.


Mas eles têm de se incomodarem, têm de prestar contas, têm de explicar porque qual seria a melhor razão para tirar agora estes hospitais de campanha. O que será feito deles? Serão desmontados para ficar guardados num galpão do exército, os médicos de volta à rotina de esperar algumas horas para prestar algum atendimento? Deve haver prestação de contas, responsabilização perante a sociedade. Ou não teremos nossa sociedade livre.