sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mubarak Sarney


Muito boa a primeira capa de um jornal que vi, estampando na primeira página as caras de Mubarak e Sarney. No texto que seguia a foto, fazia-se uma comparação entre os dois, vantajosa para o brasileiro (Brazil-zil-zil-zil!): Mubarak, 30 anos no poder, quase morto... Sarney, 55 anos no poder, muito vivo...


E de fato, a manchete do jornal estava coberta de razão: entra ano, sai ano, seguimos o enredo da Maldição da Múmia. 55 anos, exercendo o poder, atravessando democracia, ditadura militar, redemocratização, governo de tucanos, governo Lula, governo Dilma... no governo Lula, aliás, ganhando uma proeminência absoluta na República, depois que o presidente mais popular da História deste país acertou a partilha do comando do Brasil com sua Eminência Parda. Lulinha virou amigão do peito de Sarney, o cara que lhe dava toda a sustentação para que ninguém o ameaçasse politicamente.


Em meio a mensalão, histrionismos de Roberto Jefferson, evidências sobre evidências sendo anunciadas com alto-falantes em cada noticiário, Lulinha sentiu aquele frio na barriga, e voltou-se para o lado que lhe anunciava segurança... besteira negociar apoio no varejão da Câmara dos Deputados, fazer pagamentos mensais, saques na boca do caixa... ouça o voz da experiência, ouça a voz deste que viveu tudo isso, sempre no Poder. Chegou a ser presidente da República, numa destas improbabilidades que o destino produz...


Está certo que o seu mandato como presidente da República foi um dos maiores desastres que nossa História já viu... um plano trombeteado como a Grande Vitória sobre a Hiper-inflação que assolava os brasileiros, acabar num tremendo fiasco, com a economia desorganizada, nova Hiper-inflação, frustração da esperança de milhões e milhões de brasileiros que embarcaram no Grande Plano, alguém se lembra das “fiscais do Sarney”, conferindo preços nos super-mercados, com tabelinhas?


Claro, antes do tal Plano naufragar Titanicamente, serviu para eleger uma tremenda cambada do PMDB, partido do presidente que “dominava” o dragão da Inflação, Sir Ney, como lhe apelidou Millor Fernandes.


O PMDB desde então e até hoje domina a fauna política brasileira... quem sabe a maior ocupação de poder proporcionada por um tremendo engodo na História deste país?


A situação ficou tão ridícula, que ao fim do mandato de Sarney não havia candidato do Governo para disputar a eleição. Todos os candidatos eram oposição, competindo para ver quem xingava mais o presidente para ganhar votos. Collor e Lula, no segundo turno, perderam as papas na língua para desancar Sarney... logo Collor e Lula, que presidentes jamais se furtaram a abraçar apertado aquele de quem falavam horrores.


Lula chegou a jogar todo o seu peso político para ajudar Sarney, quando diversas falcatruas no Senado vieram à tona: desperdícios grotescos, cabide de empregos, folhas de pagamento engordadas por expedientes, atos secretos de nomeação de parentes, e uma longa fila de etcs. Sarney balançou, e a Nação ficou em suspenso, para ver se não ia cair... mas Lula jogou pesado, como de hábito, e fez até um Senador revogar o irrevogável. Troféu King Kong do século para Aloisio Mercadante. E Sarney ficou, impávido colosso.


Esta grande vitória de Sarney, patrocinada pelo nosso Estadista, foi outro grande símbolo da sua Era de Governo. A vitória do velho, do poder que fica 55 anos mandando, sendo que o Estado onde se instalou está em ÚLTIMO lugar no índice de desenvolvimento humano do país. O Maranhão apresenta IDH de países africanos assolados por pestes, por fome, por guerras...


E a família Sarney? Vai muito bem, obrigado. Seu patriarca, com o único trabalho de ser político, de exercer o poder, acumula uma fortuna de milhões, e que só faz crescer, a cada ano. Nunca vendeu uma lingüiça no armazém, nunca fabricou um parafuso, nunca atendeu um paciente... mas ganhou, milhões e milhões, com seu salário de político. Ah, sim, e com todos os bons negócios em que ganhou dinheiro, em suas fazendas, em suas emissoras de rádio e televisão, que não páram de lhe render um dinheirinho...


Saído em desgraça da presidência da República, incapaz de se eleger síndico de prédio, até no seu Estado de origem, Sarney mostrou o quanto vale conhecer bem este país: elegeu-se Senador pelo Amapá. Basta uma declaração de mudança de domicílio eleitoral... e o Amapá pode ser um Estado pequenininho, mas também elege seus três Senadores, como qualquer outro Estado...


Ah, quanta esperteza... esse é o Cara do Cara, o que nunca deixa o poder, mas fica ali, discreto, nas sombras... é mais fácil desse jeito. Depois de tanto estrondo, depois do que fez na presidência da República, depois de ter sido um dos políticos escolhidos para permanecer, pela ditadura, depois de atos secretos no Senado, Sarney se reelegeu recentemente, pela quarta vez, neste princípio de governo Dilma, presidente do Senado. Manteve o controle de seu grupo sobre o Ministério de Minas e Energia, jóia da Coroa. Ainda ganhou o Ministério do Turismo, às vésperas de fechar grandes negócios com Copa do Mundo e Olimpíadas. O titular do Ministério, aliás, já protagonizou outra cena grotesca da nossa História republicana, pagando com dinheiro público despesa que teve para fazer uma festinha para amigos num motel: mais de R$ 2 mil... e o ministro tem mais de 80 anos! Danadinho esse ministro, hein? Pois ficou tudo por isso mesmo, neste início de governo, e agora sequer se vê alguma contestação mais forte ao predomínio de Sarney. Que vitória completa, hein, velha raposa? Será que mesmo você imaginaria que teria uma vitória tão completa, que dominaria tão tranquilamente sobre toda a Nação? 55 anos sem apear do poder, 55 anos


Complementando, neste link tem um artigo muito bom sobre uma última defesa apaixonada de Sarney por Lula, já no final de seu mandato: http://www.jornalpequeno.com.br/blog/johncutrim/?p=12473



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