quarta-feira, 23 de março de 2011

Adendo ao artigo Maria Bethânia e a Cultura





Passeando pela internet, descobri que a cantora Maria Bethânia e o diretor Andrucha Waddington, sócio da Conspiração Filmes (que sugestivo...) tiveram uma parceria anterior ao blog de poesias, que foi o documentário “Maria Bethânia – Pedrinha de Aruanda”, de 2007:


No site adorocinema.com, na seção de “Curiosidades” sobre o documentário, lemos que:


“ Foi a própria Maria Bethânia quem convidou o diretor Andrucha Waddington a registrar os festejos de seu aniversário de 60 anos. O convite ocorreu apenas um dia antes do show, o que fez com que fosse necessário fechar uma equipe de filmagem às pressas. - As filmagens de Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda duraram apenas 4 dias. - Estreou nos cinemas em 14 de setembro de 2007, no mesmo fim de semana em que Dona Canô completou 100 anos. - O orçamento de Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda foi de R$ 400 mil.” - http://www.adorocinema.com/filmes/pedrinha-de-aruanda/noticias-e-curiosidades/


R$ 400 mil por quatro dias de filmagem... E você já tinha ouvido falar desse filme? Eu, não, até há pouco, quando pesquisava na internet notícias sobre o blog milionário de Bethânia.


E por falar no blog da discórdia, descobri que uns gaiatos publicaram um falso blog da cantora, satirizando o patrocínio público à empreitada. Confira neste endereço: http://bethaniamaria.blogspot.com/


Está bem engraçado: tem um anúncio: “O Ministério da Cultura apóia este blog. E você também, claro!”. Embaixo, uma série de vídeos “que não custaram nada”. Também tem uma prestação de contas: 12 minutos de acesso a internet – R$ 0,17; Custos de hospedagem: R$ 0,00; 12 minutos na frente do computador: R$ 227,00”


A “Bethânia”, que se assina “Bet”, agradece o apoio do MinC e conclui:


“Meus querido fãs e companheiros de Tropicalha, o povo agradece a oportunidade que os darei com minha cultura.

Quem quiser colaborar pode enviar comentário que lhe envio uma conta pata depósito.

É muito importante que você saiba que não será o "Governo" que me dará este dinheiro, esse dinheiro é "Privado", apenas não será necessário que os doadores repassem ao governo, ele vem direto pra mim. Com isso nem você nem o governo perde dinheiro, "você" ganha em "Cultura".”


Bem bolado.

Poço sem fundo




Outro dia publiquei uma postagem falando da nossa Justiça Trabalhista http://sinatti.blogspot.com/2011/03/justica-trabalhisat.html


Logo depois, no jornal O Globo de 18.03.2011, saiu uma reportagem relacionada: “Aprovados mais cargos para Justiça do Trabalho”. Segue um trecho:


“Em votação simbólica, com acordo entre os partidos, foram aprovados ontem na Câmara quatro projetos que criam 1.847 vagas na Justiça do Trabalho em quatro estados brasileiros, que darão suporte à implantação de 76 novas varas.

Ao todo foram criados 164 cargos de juiz, 1.130 de efetivos por meio de concurso, 107 comissionados e 446 Funções Comissionadas (FCs). Os quatro projetos terão que ser aprovados pelo Senado. O impacto orçamentário anual será de R$ 182 milhões.

(...)

Também prevê a criação de 80 cargos comissionados e 368 FCs. O impacto anual chegará a R$ 164 milhões.”



E é assim, de grão em grão, que a galinha enche o papo, e é de milhão em milhão que compramos a corda que servirá para estrangular toda a Nação...

Maria Bethânia e a Cultura

Maria Bethânia recebeu autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,350 milhão para criar um blog, "O mundo precisa de poesia", a ser mantido por um ano, no qual declamará poesias. Bethânia embolsará R$ 50 mil mensais para declamar um poema por dia, num total de 365 vídeos, com direção do ilustre cineasta Andrucha Waddington, sócio da "Conspiração Filmes"...


A notícia gerou polêmica, com defensores e críticos da declamadora de versos com dinheiro público. O músico Lobão foi um dos que criticaram: “Sugeriria fazermos uma campanha tipo: Devolve essa porra, Bethânia! Daí essa MPB formada por cadáveres insepultos querendo permanecer no presente contínuo através da chapa branca.”


Já o cineasta Jorge Furtado considera “a gritaria (...) uma mistura de ignorância, preconceito e mau caratismo (...) O governo brasileiro deveria tirar do seu caixa o dinheiro (...) e entregar para a Maria Bethânia, junto com um buquê de rosas e um cartão, pedindo desculpas pela confusão”. Que pessoa linda, o Jorge Roubado, ops, Furtado... que alma de artista, que generosidade... com o dinheiro alheio...


O também cineasta Cacá Diegues concorda: “Ela não está pedindo dinheiro ao MinC, mas o direito de captar na iniciativa privada. Não é dinheiro público, é privado.”


Sobre a questão de ser ou não dinheiro público, leia-se o ótimo artigo de Ricardo Noblat, “Ó paí, ó!”. http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/03/21/o-pai-370017.asp


Destaco trechos:


“Existe uma lei de nome Rouanet aprovada pelo Congresso no final de 1991. Ela permite às empresas aplicarem em projetos culturais até 4% do que pagariam de Imposto de Renda, e às pessoas físicas até 6%.

A maior parte da clientela da lei difunde a idéia de que é privado o dinheiro destinado a financiar projetos.

Mentira! Na verdade, o governo abdica de receber uma parcela de impostos para que a cultura floresça entre nós.

(...)

Com frequência o processo é nebuloso. O governo limita-se a receber depois a prestação de contas.

Está para existir no mundo civilizado um modelo sequer parecido com esse.

Transparência? Esqueça!

Não pense que é pouco o dinheiro envolvido em transações por vezes tenebrosas. Em 2003 foram R$ 300 milhões. Seis anos depois, R$ 1 bilhão.

(...)



A Polícia Federal produziu no ano passado um relatório sigiloso sobre projetos tocados adiante com base na Lei Rouanet. Pelo menos 30% do dinheiro que empresas dizem ter investido em projetos foram devolvidos para elas por debaixo do pano.

Devolvidos por quem? Pelos arrecadadores com a cumplicidade de artistas. Isso é corrupção.

(...)



Apenas 3% dos que apresentam projetos ao Ministério da Cultura ficam com mais da metade do dinheiro atraído pela lei. Repito: apenas 3%.

Mais da metade do dinheiro banca projetos nascidos no eixo Rio-São Paulo, e somente ali. Fora do eixo, deu a entender certa vez o produtor paulista Paulo Pélico, “o resto é bumba-meu-boi”.”



Deu pra entender? Pra resumir, vamos registrar o que o músico Marcelo D2 comentou sobre o “projeto cultural”, muitíssimo bem remunerado, de Bethânia: “Quando uma empresa “abate” do IR essa grana é nossa”.



Será que é bom para nossa cultura que o Estado financie regiamente os projetos de alguns artistas “figurões”? Será que é bom termos artistas comendo na mão do Estado? Não seria melhor, com esse R$ 1 bilhão de incentivos, registrado em 2009, para financiar meia dúzia de filmes, meia dúzia de peças, pra meia dúzia de público, o Estado aplicar o dinheiro em Casas de Cultura, para dar acesso a filmes, livros, debates, junto a populações carentes? Já escrevi um artigo a respeito. Não seria melhor pagar R$ 2 mil para vinte e cinco pessoas, por mês, para tomarem conta de, digamos, vinte e cinco destes espaços, do que pagar R$ 50 mil para uma Bethânia declamar uma poesia por dia?



Escolhas... escolhas... façam suas escolhas, façam suas apostas.


terça-feira, 22 de março de 2011

Da configuração do Estado - Capítulo Cinco - Sobre o Sistema Tributário

Sobre carga tributária, no Brasil, sei que pagamos elevados tributos, na proporção de países ricos, e nem de longe chegamos a receber os serviços prestados nestes países.


Sei que na comparação com outros países de grau de desenvolvimento semelhante, que competem conosco economicamente, temos uma carga tributária muito maior. E este é outro fator que nos faz perder os investimentos, os empregos, os lucros, reduzindo nossa capacidade de competir.


Outra coisa que, como brasileiro, sei muito bem: nossa legislação tributária é um caos, há literalmente milhares de regulamentos, milhões de processos minuciosos, bilhões de dúvidas, erros, e riscos: multas pesadíssimas, ameaças a granel, tudo para manter o ilustre “contribuinte” na linha.


Ao mesmo tempo, abundam os “jeitinhos”, e os “conhecimentos”, os “atalhos”, e a “cervejinha”, o uísquinho, doze anos...


Empresas, pessoas, gastam muito com advogados, com contadores, com processos, com caixas-2, 3, 4... Todo ano, todos os “contribuintes” são chamados para prestar mais este dever cívico, e declara r seus ganhos, seus rendimentos... tudo com a mais alta tecnologia, com telefones e atendentes, mas é claro que os aborrecimentos são inevitáveis... sentimos muito, é o preço de morar num país tropical e abençoado por Deus... um gasto imenso para dar seguimento aos processos de recolhimento e de fiscalização. Faz lembrar uma frase de Peter Drucker, um filósofo e economista: “Não há nada mais inútil do que fazer eficientemente aquilo que não se deveria fazer”. Mas podemos contrapor a esta frase aquela outra, malandra: “havendo serviço, existe emprego”, ou “criamos dificuldade pra vender facilidade”.


Todo este gasto para sustentar aquilo que se costuma chamar de “manicômio tributário”.


Por isso considero que para melhorar o sistema tributário deve-se perseguir três critério: a simplificação e barateamento da arrecadação, a luta contra a sonegação e o desequilíbrio dos pagamentos ao Tesouro Público, pois é absolutamente injusto e insustentável que alguns façam economia ao custo do trabalho de outro, e preservação do incentivo ao esforço produtivo.


Por me parecer que um imposto único (ou quase único – volto ao ponto), sobre a movimentação financeira, possui grandes vantagens na consecução de alguns, senão todos, daqueles critérios, sou favorável à idéia.


Lembro até hoje de argumentos que li em artigos do economista, diplomata e político Roberto Campos, há quinze ou mais anos, sobre o tema. Continuam me parecendo relevantes e justos. Dou um exemplo colhido da internet, existem outros artigos: http://home.comcast.net/~pensadoresbrasileiros/RobertoCampos/o_inferno_sao_os_outros.htm


Ainda que o imposto quase-único não seja panacéia, isento de problemas, penso que é justo considerar que NADA é panacéia ou isento de problemas. Deve-se considerar o menos ruim, ou o melhor, como se queira, entre as opções disponíveis.


Do jeito que tá, é que não dá pra ficar. E o imposto sobre a movimentação financeira ataca diretamente a sonegação. Já tivemos a experiência, logo após a aprovação da CPMF, quando se descobriu que muitíssima gente que nem pagava imposto de renda, ou pagava muito pouco, tinha movimentações financeiras de milionário... a CPMF logo desnudou essa galera, mas não tivemos grandes notícias de grandes punições... gente coisa é outra fina, vocês sabem...


O que eu ouvi, o que eu vi, foi muita e muita grita contra a CPMF. Não que eu seja contra os argumentos, longe disso. Considero que o livre argumento é a única maneira de apontar falhas, trazer melhorias. E, como já disse, não acredito em soluções mágicas e perfeitas, no mais das vezes biombos para radicalizar e buscar a supressão do que ousa criticar.


Mas critico também a crítica que se esquece, convenientemente ou não, de que não há sistemas perfeitos. E se esquece de comparar entre os possíveis sistemas, para escolher o melhor, ou o menos ruim.


Como eu disse, o imposto a movimentação financeira comprovadamente apanha sonegadores. Ponto pra ele. O imposto quase-único pode excluir outros impostos, e suas burocracias, e seus custos arrecadatórios/ de fiscalização. Ponto para ele.


Digo quase-único pois existem tributos cuja finalidade não é simplesmente arrecadatória. Por exemplo, os impostos de importação e exportação. Pode ser útil para um país, por exemplo, aumentar o imposto de importação de bens supérfluos, perfumes, artigos de luxo, etc., e zerar o imposto de importação de remédios, livros, etc. Pode ser útil para o país aumentar a alíquota de exportação de matérias-primas, abaixar a dos produtos beneficiados.


Outro imposto, de finalidade não meramente arrecadatória: o imposto sobre artigos nocivos, cigarros, bebidas, etc., para desestimular seu uso.


Tirando este tipo de exemplo, porém, é laudatório o imposto que exclui a necessidade de outros impostos. Menos regras, menos regulamentos, menos burocracias, menos corrupção, menos dor de cabeça, mais economia, de tempo, de dinheiro, de trabalho inútil...


Falsas questões são colocadas: que os Estados e Municípios precisam dos seus impostos específicos, das suas próprias leis e burocracias, para terem autonomia em relação à União. Como Roberto Campos colocou em um artigo, a autonomia ocorre se são assegurados os recursos para os entes federativos. Ou seja, ocorre na distribuição dos recursos. Quanto à arrecadação, se a União tem a melhor condição de fazer uma arrecadação fácil, simples, eficiente, qual o sentido de ficar impondo altos custos a Estados e Municípios, em detrimento de todo o país? Na verdade, a maioria dos municípios vive só do repasse, e ninguém levantou a hipótese de que tais municípios teriam menos autonomia que os municípios que têm seus próprios fiscais, Secretarias de Tributos, Departamentos de Cálculo, etc. etc.


Outra questão: o imposto sobre movimentação financeira permite que grandes bancos façam repasses diretos de conta a conta, fugindo à incidência. Pois que esteja correto: é mais fácil localizar e sanar os problemas de um único sistema, digamos, proibindo determinado expediente, fazendo um outro tipo de fiscalização, do que tratar de milhares de problemas de vários sistemas, um para cada tributo. Só um destes tributos, o IPVA, estadual, tem dezenas de legislações diferentes, uma pra cada Estado, ou quase, tornando um verdadeiro martírio para quem comercializa mercadorias entre Estados o cumprimento de todas as normas. Claro que abundam as brechas, os macetes, e também as multas, os processos administrativos, judiciais...


Um imposto único (quase – único), alíquota única. O mais simples, o mais justo. Os mais ricos movimentam mais, maiores volumes, pagarão mais. Os mais pobres pagam menos, aqueles tão pobres que sequer têm conta em banco não pagam. Claro que pagam indiretamente, no repasse dos custos pelos produtores, etc. Mas já pagam indiretamente no nosso manicômio tributário, além de todos os problemas decorrentes do manicômio.


O imposto sobre movimentação financeira incide em cascata, certo. Mas, de novo: mais ricos, que consomem bens com maior volume financeiro agregado, um carro, um navio, pagarão mais. É um imposto que incide sobre o consumo, certo. Mas no Brasil a sociedade tem uma característica mais consumista do que poupadora. E seria bom estimular a poupança.


Enfim, repita-se: problemas sempre vão existir. A questão é pesar prós e contras, manter livre o debate, e fazer as escolhas. Se as vantagens superam as desvantagens, às vezes amplamente, vale a mudança.


P.S. Outro dia vi um programa de um Partido Político que tinha por plataforma esta mudança pro imposto quase - único sobre a movimentação financeira. Apresentavam cálculos da alíquota que deveria ser utilizada para substituir diversos impostos federais, sem perda de arrecadação. Não me lembro quanto era, mas não me pareceu exagerada: acho que menos de 3%. Quer me parecer que a economia logo se adequaria ao imposto sobre a movimentação financeira, e levantaria as mãos para os céus por se livrar das burocracias e dos achaques, e da multidão de processos, e da concorrência desleal, de empresas que sabem os “caminhos das pedras” pra pagar menos impostos, ou não pagar nada.


É claro também que o ideal não é manter o nível de arrecadação, mas reduzi-lo, até que se atinja o patamar de outros países com o mesmo perfil do Brasil. Ao contrário do que pensa certo "estadista", que se orgulha de termos impostos de nível de primeiro mundo.


Mas é bom saber que a idéia do imposto quase-único permanece viva, que é um tema popular a ponto de ser encampado por um partido político. Claro que não basta a idéia, não basta o projeto de lei, afinal, falar é fácil, fazer é difícil. Afinal, não sabemos como é corriqueiro no Brasil os estelionatos eleitorais? Prometem muito, prometem bonito, na hora H, vêem que é mais fácil, cômodo, cruzar os braços. Não digo que seja o caso do partido em questão, mas os eleitores, os cidadãos, devem cobrar, sempre, a coerência.


Não se trata de uma mera esgrima verbal, de um jogo de palavras bonitas, mas enfrentar interesses firmemente estabelecidos. Mudar um paradigma. Não apenas as empresas que podem fazer uma concorrência desleal, corruptos, sonegadores, mas também muitos fiscais, contadores, advogados, juízes, promotores, atendentes, tiradores de dúvidas, despachantes, etc. etc. “Há serviço, há emprego”.


De qualquer forma, creio que é possível formar um convencimento suficientemente grande na sociedade para que rejeite o que é ruim, para que melhore os seus sistemas.


Devo acreditar, ou não estaria aqui gastando neurônios para construir esta argumentação.


Ah, sim, não estou sendo pago por ninguém para fazer isso, também não estou pedindo o seu voto. É apenas minha opinião, que compartilho, depois de ter lido a respeito, depois de ter refletido. Não que eu seja especialista no assunto, ou o dono da verdade. Mas em resumo, minha opinião é: mais simples, mais transparente, mais justo, melhor.

Brasil


O Governo gasta bilhões e bilhões, todo ano, do dinheiro que tira dos brasileiros, e por que a vida por aqui não melhora, em proporção?


Por que não vemos estes bilhões e bilhões gastos com nós mesmos, como deveria ser? Por que sempre a meia dúzia de gatos pingados, a meia dúzia de cartas marcadas? Por que não ver este dinheiro distribuído, na minha vizinhança, na sua, pro seu vizinho, pra você?


Por que não estimular a economia, estimular o trabalho? Por que não uma linha de crédito, simples, facilitada, de pequenos empréstimos, para pequenos investidores?


Vamos pegar um bilhão para dar empréstimos de 10.000. Quantos podem se beneficiar, diretamente? Um milhão de brasileiros. Por que não vemos nada disso acontecer?


Gastam-se nove, ou dez bilhões, com um frigorífico, 30 bilhões com um trem-bala... eu fui consultado sobre a melhor maneira de gastar este dinheiro, você foi? Mas não seria dinheiro público? Nós temos de ter fé cega para acreditar que os poucos políticos/burocratas que escolheram a destinação destes dinheiros fizeram as melhores escolhas, para o bem da economia, para o bem do povo.


Será que vamos viver esta ignomínia, ter os dinheiros, e conviver com a miséria e a carência? A imoralidade de um dinheiro que deveria ter uma destinação pública passe a ser apropriado pela meia dúzia de gatos gordos, de cartas marcadas.


Depois vão me empurrar histórias de que temos uma grande democracia, uma próspera nação? Olê olá, então é carnaval, e o brasileiro é um povo tão feliz! Fora daqui, cantorias ufanistas.


Vamos ter democracia, vamos ter uma nação próspera quando ela não estiver sendo roubada e vilipendiada. Quando não estivermos pagando o preço de milhões de brasileiros na miséria e na carência, para continuar tão indiferentes a tudo.


Um milhão de pequenos empréstimos de dez mil. Para ter um milhão de brasileiros incrementando seus negócios, comprando uma televisão pro botequim, um estoque para a loja. E isto não movimentaria a economia, não haveria um acréscimo na fabricação de televisores, mercadorias?


Algum burro vai acusar uma idéia de ser comunista. Algum burro vai acusar uma idéia de ser neo-liberal. E todos os burros vão morrer pastando, enquanto a meia dúzia de gatos gordos enriquecem grotescamente. Cheios de luxos, reservados para os mortais muito especiais... 0,000000001% da população, mas o gato gordo não pode passar sem isso...


Grilhões, grilhões... quando a consciência do mundo vai se unir, para rejeitar os grilhões?

segunda-feira, 21 de março de 2011

Opacidade

Estão travando uma guerra para destruir o que temos de democracia. Conheça o último ataque, partido do nosso Senado:





domingo, 20 de março de 2011

Dominados pelo terror






Aonde vamos parar se não reagimos àqueles dispostos a tudo para defender seus interesses? Sim, os ladrões, sim, os assassinos. Os que chefiam os grandes esquemas de levantar alguns milhões. Se eles não temem a punição, eles tudo ousam, e ficamos sob seu domínio.


Eles podem matar um, podem matar outro, que atrapalhe os seus negócios, ou que lhes desagrade. Com dinheiro, a perspectiva de ir para trás das grades é ínfima. Podem buscar também as relações de poderosos, que vão lhes proporcionar negócios, e também lhes vão oferecer proteção. Os poderosos, os incomuns, os intocáveis, que podem ser filmados, gravados, com a boca na botija, e no máximo saem de cena por um tempo. Mas nada lhes acontece, que lhes ameace o estilo de vida. Nada têm a temer por sua liberdade, sequer por seu patrimônio, ou por sua imagem social. Seguem frequentando os mesmos restaurantes, fazendo suas viagens, andando em seus carrões com seguranças, usufruindo de suas mansões com piscinas...


Podemos dormir em paz quando existem ladrões e assassinos à solta? Podemos fingir que não é problema nosso, e sair pra uma festinha e esquecer dos problemas? E as famílias das pessoas assassinadas? E se fosse você?


É muito desagradável pensar nisso? Vamos fazer como o avestruz, esconder a cabeça na areia? Vamos fechar nossos olhos com força? Mas o monstro não vai embora...


Vamos aceitar em nossa sociedade a impunidade? Tomara não seja você, amanhã, a tomar um tiro, a ser executado. Tomara não seja o seu filho. Mas é sempre o filho de alguém.


Uma pequena sugestão: testemunhas de crimes, que tal colher o seu depoimento pra uma câmera, incontinênti? Sim, com os advogados e o juiz presentes, garantido o contraditório e a ampla defesa. Daí, no julgamento, caso aconteça algo com a testemunha, seja utilizado o depoimento gravado. Claro, nossas Cortes teriam de aceitar em sua jurisprudência este expediente que me parece muito razoável. Nada de teses esdrúxulas e especiosas, de que não se pode utilizar a prova gravada em vídeo como elemento de convicção. Assim, pelo menos, as testemunhas teriam uma maior chance, os criminosos, uma chance menor.


E seremos um país sério, se não conseguimos ao menos ter um programa eficiente de proteção às testemunhas? Será que vamos aceitar perder nossas testemunhas, perder nossos processos, que colocariam grandes criminosos atrás das grades, que tornariam a sociedade mais próspera, e mais segura? Será que vamos aceitar que os grandes criminosos continuem senhores absolutos de nossas vidas, sem resistir a eles?


João Marques dos Santos, um ex-empregado de Nenê Constantino, o rico fundador da empresa aérea Gol, admitiu que fazia serviços de pistolagem por vários anos. Admitiu ter participado de oito assassinatos. Esta testemunha chave foi baleada três vezes na porta de casa. Sobreviveu, e foi noticiado que será incluído no programa de proteção a testemunhas. Já não era pra ter sido incluído, há muito tempo?


Constantino também teve seu nome nos jornais por conta de um cheque de R$ 2,3 milhões que passou ao então senador Joaquim Roriz. Na época, Roriz disse que se tratava de um empréstimo para comprar uma bezerra. Seria uma bezerra de ouro?


Leiam mais:


http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL57685-5601,00.html


http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/imbroglio-roriz-constantino-se-baixar-policia-federal-aqui-leva-todo-mundo/


http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/testemunha-contra-nene-constantino-e-baleada

sexta-feira, 18 de março de 2011

Rolling Stones - Little Red Rooster


Rolling Stones - Little red rooster por Salut-les-copains

E mais esta.

Rolling Stones - Gimme Shelter, Love in Vain e Honky Tonk Woman

Sem palavras.


Rolling Stones-Gimme Shelter/ Love In Vain/... por luvold


Rolling Stones-Gimme Shelter/ Love In Vain/... por luvold

A nação próspera



De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.


  • Rui Barbosa










"Jaqueline Roriz é uma pessoa de boa índole e fácil trato, filha zelosa, mãe dedicada, esposa amantíssima" (Nota do PMN)


"O PT tem um lado forte cristão e sabe perdoar. Por isso, mais de 70% são pela volta do Delúbio", afirmou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP). http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,delubio-ja-tem-os-votos-para-retornar-ao-pt,693460,0.htm


Delúbio Soares, o ex-tesoureiro petista envolvido no escândalo do mensalão, que disse que em três ou quatro anos as denúncias iriam virar piada de salão. QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ... http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u321215.shtml


Tudo pelo socialismo, companheiro!


A pergunta é: somos uma nação próspera se vemos prosperar a desonra, crescer a injustiça, agigantar-se o poder nas mãos dos maus?

O encontro do homem que precisava de tudo com o homem que precisava de quase nada


XXII. Tendo os gregos realizado uma assembleia geral dos estados da Grécia dentro do estreito do Peloponeso, onde resolveram que fariam a guerra aos persas com Alexandre, ali foi eleito capitão-general da Grécia. E, como lá fossem visitá-lo tantos filósofos como homens de negócios, para felicitá-lo por sua eleição, achou que Diógenes de Sinopla (24), que residia ordinariamente em Corinto, devia ir vê-lo também; mas, quando viu que ele não lhe dava importância, permanecendo indiferente no subúrbio de Crânio, foi procurá-lo e encontrou-o deitado de comprido ao sol. Todavia, quando ele viu tanta gente em volta, levantou-se um pouquinho em seu lugar de repouso e olhou para o rosto de Alexandre. Alexandre saudou-o e acariciou-o com palavras, e depois lhe perguntou se ele precisava de alguma coisa. "Sim, respondeu Diógenes, é que te retires um pouquinho da frente do meu sol". Alexandre gostou muito dessa resposta e teve tal admiração pela altivez e grandeza de coragem desse homem, ao ver o pouco caso que fazia dêíe, que ao partir de lá, como seus familiares se rissem juntos e zombassem dele, disse-lhes: "Digam o que quiserem, mas certamente, se eu não fôsse Alexandre, desejaria ser Diógenes".

(24) É o Cínico.


Trecho da Vida de Alexandre, por Plutarco. O livro todo pode ser lido na rede, aqui vai um link

http://www.consciencia.org/plutarco_alexandre_grande.shtml/2


P.S. E eu imagino o que Diógenes terá dito a respeito de Alexandre: "Digam o que quiserem, mas certamente, se eu não fosse Diógenes, o último que eu gostaria de ser seria Alexandre."

Os grandes ditadores

Mubarak, tirano, ditador, acumulou uma fortuna de 116 bilhões de reais, em trinta anos de abuso de poder.


Que bizarro, como pode um homem acumular tanto assim? Um Mubarak tão rico quase quanto todo o Egito. Seu patrimônio pessoal não está longe de todo o PIB anual daquele país, 71 milhões de pessoas.


Engraçados estes retratos de ditadores, não são? Por que todos estes ditadores acumulam fortunas pessoais? Será que algum deles conseguiria explicar a origem de suas fortunas? Todos juntam fortunas, mas têm todos uma desculpa sublime para exercerem uma tirania: é para defender de ameaças; é porque amam o povo; é porque querem um mundo melhor; um mundo mais livre. Que grande piada que seria, se não fosse trágico!


116 bilhões de reais para um homem... será isto o bastante para satisfazer sua ganância? Por isto advertiam os filósofos, odres furados que nunca se enchem. Deixada sem freio, a ganância do homem engoliria o universo, e não estaria satisfeita. Engoliria o universo, e perderia sua alma.


Mubarak não estava satisfeito com os 116 bilhões de reais, e não queria apear do poder. Foi forçado, pela revolta. Qual é a minha opinião sobre uma revolta que expulsa do poder um tirano? Tem o meu apoio. Não sou especialista em assuntos árabes, mas espero que esta justa revolta não desemboque numa outra ditadura, como aconteceu com a revolta iraniana de 1979. Torço para que o Santo Espírito da Moderação conduza os egípcios, torço pelos egípcios. Considero que as nações do mundo, aquelas que se dizem democráticas e livres, dêem o seu apoio aos egípcios que desejam paz, prosperidade, liberdade, como qualquer um de nós. Muitas nações do mundo têm dívidas para pagar ao povo egípcio, compartilhando o roubo daquele povo com Mubarak. Mubarak possuía mansões e investimentos em muitos lugares, com o beneplácito de governantes hipócritas.


Alguns governantes convidaram pra mesa, trocaram afagos e visitas com tiranos de mãos manchadas de sangue. Aceitaram presentes, contribuições, favores... ditadores como Muamar Kadafi, que mandava enforcar opositores em rede nacional, derrubar aviões de passageiros, genocida capaz de mandar aviões bombardearem seu próprio povo.


Sim, o buraco é embaixo. Nós, os indiferentes, nossos governantes, fazendo tudo que querem... é a ditadura lá nos confins, que não nos interessam, dizem os idiotas, sem perceber que a ditadura pode muito bem ser aqui mesmo, agora. Muito embora a propaganda oficial insista em nos dizer que tudo está ótimo no melhor dos mundos.


O melhor dos mundos, onde idolatramos as tiranias, os grandes ditadores, os grandes assassinos, onde todo o escracho de abuso, o mais absurdo, o mais grotesco, passa impune, por nossa indiferença, por nosso medo, por nossa cumplicidade... este é mesmo o melhor dos mundos. Mas só perde quem não lutar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Carnossauro do Maranhão





Descoberto o maior dinossauro carnívoro do Brasil, o Oxalaia Quilombensis, na Ilha de Cajual, no Maranhão. Será coincidência? Olhem as imagens abaixo e tirem suas conclusões:



The Doors - When the music is over



Quando a música termina

Quando a música termina

Quando a música termina


Apague as luzes

apague as luzes

apague as luzes


Pois a música é a sua amiga especial

Dance sobre o fogo

Como ela deseja

Música é sua única amiga

Até que chegue o fim


Cancele minha reserva para a Ressurreição

Envie minhas credenciais para a Casa de Detenção

Eu tenho alguns amigos lá dentro


O rosto no espelho não vai mudar

A garota na janela não vai cair

Uma festa de amigos

“Estou viva” - ela gritava

Esperando por mim

do lado de fora


Antes que eu afunde

no sono eterno

Eu quero ouvir

eu quero ouvir

o grito

da borboleta


(Volte, querida,

volte pros meus braços...)


Estamos ficando cansados

de andar por aí

esperando à toa

com nossas cabeças abaixadas no chão


(Eu ouço um bem suave som...)


Muito próximo, e ainda assim,

Muito longe


Muito suave, e ainda assim,

Muito nítido


Começou hoje

começou hoje...


O que eles fizeram com a Terra?

O que eles fizeram com nossa

bela irmã?


Devastaram e pilharam e

a estriparam e morderam


E a pregaram com facas

pro lado da aurora

e a amarraram com cercas de arame farpado e

a arrastaram pro fundo


(eu ouço um bem suave som.

Com meu ouvido abaixado no chão.)


Nós queremos o mundo e o queremos...

nós queremos o mundo e o queremos...


agora

Agora


AGORA!


Noite persa, querida!

Veja a luz, querida!

Salve-nos!

Jesus!

Salve-nos!


Quando a música termina

Quando a música termina

Quando a música termina


Apague as luzes

apague as luzes

apague as luzes


Pois a música é a sua amiga especial

Dance sobre o fogo

Como ela deseja

Música é sua única amiga

Até que chegue o fim


Até que chegue o
Fim


O que esta música tem de especial? A introdução fantástica, órgão e bateria dialogando, pra depois vir o grito de Jim Morrison junto da guitarra... os versos, o sentido de cada estrofe meio separado do de outra, o solo de guitarra, meio que sendo gerado da voz/grito de Morrison dizendo “até que chegue o fiiiiiiiimmmmmmaaaahhhhhh...”, e continuando sozinho, um uivo num clima de psicodelismo, voando em espiral pro espaço, para depois retomar a base dos outros instrumentos, a base firme de blues, a história de desespero irônico narrada por Morrison, numa interpretação emocionante, e a integração perfeita de cada elemento da banda, aquilo que se costuma chamar de química...


Muitas coisas, de fato, muitas coisas... que tal o brado de poeta romântico de Morrison, “Nós queremos o mundo e o queremos AGORA!”? E a descrição do que a ganância e a indiferença fazem com nossa bela irmã, a Terra? E a angústia de ter a música por única amiga, e de dançar sobre o fogo, e de cancelar a reserva pra Ressurreição, e de gritar “Jesus! Salve-nos!”? E a Casa de Detenção, o Inferno? E o rosto no espelho, que não vai mudar? E quando a música termina? Apague as luzes.


Mas nem tudo é desesperança, o sono eterno convive com a expectativa de ouvir o grito da borboleta, psique. A cabeça abaixada na terra faz ouvir o grito de socorro de nossa bela irmã, e o brado de revolta, “queremos o mundo, queremos agora”. E a garota da janela não cai, espera numa festa de amigos, do lado de fora da prisão, gritando “estou viva”.


Sim, muitas emoções, muitas idéias numa música, de uma época em que se permitia haver muitas emoções e idéias numa música... Dançar sobre fogo, especial amiga, a música, apague as luzes quando a música terminar, até que chegue o fim, até um novo músico, até um novo começo...


sexta-feira, 11 de março de 2011

Bob Dylan - Highway 61


Bob Dylan: Highway 61 Revisted Cartoon video por ajsmith1234

Como no You Tube está difícil ouvir as músicas originais do Bob Dylan, aqui vai um outro link pra um vídeo de Highway 61. Tem uma tradução minha, em algum lugar nesse blog.

Justiça Trabalhista


“As leis abundam nos Estados corruptos”.

- Tácito, historiador romano (55 – 120 d. C.)



A última edição da revista inglesa “The Economist” publicou uma reportagem destacando o custo das leis trabalhistas brasileiras para nossa economia.


Os ingleses se mostram surpresos pela situação desfavorável a que são submetidos empregadores e empregados brasileiros. O custo, claro, é para o país como um todo, toda a economia brasileira paga o desatino de leis paternalistas que diminuem a competitividade do Brasil. Mais uma demonstração clara de que os interesses de uns poucos em manter seus privilégios consegue se impor a toda a nossa nação, não importa o quanto seja irracional e custoso. Que o digam os milionários donos de Cartórios!


Os ingleses publicam uma reportagem para ilustrar os problemas trazidos pela Justiça Trabalhista no Brasil. Para eles é algo a ser olhado de longe, entre goles de chá e risos de mofa, a suscitar comentários do tipo: “está vendo aonde a burocracia pode levar um país atrasado? Até onde pode ir o domínio de uns poucos sobre a coisa pública, se o país não é sério, e se o povo não conhece seus direitos?” - como se fosse uma historinha de terror. E não só os ingleses, em nenhum outro país do mundo existe esta Justiça especializada em conflitos trabalhistas, sendo estas causas objeto da Justiça comum. Aqui, parece que convidamos os conflitos trabalhistas, e lhes damos toda condição para vicejar: pela Economist, somos informados de que, só em 2009, foram 2,1 milhões de causas para serem decididas pela Justiça Trabalhista.


O custo anual para manter esta belezinha de estrutura? R$ 10 bilhõezinhos. Daria para pegar cada um dos 2 milhões de clientes, num ano, e dar para cada um R$ 5 mil reais. Sem precisar de processo, nem nada. R$ 5 mil, na mão, pra cada um dos 2 milhões de clientes anuais. Deve ser mais do que a média do que ganham os que buscam a Justiça Trabalhista. Mas claro que, para alguns, com advogados que saibam os caminhos das pedras, caminhos nem sempre todos retos, uma causa pode render grandes mordidas em empresas / empregadores. E ainda vão posar de Robin Hood, dizer que enfim foi feita a Justiça “Social”... ah, estes qualificativos para a palavra “Justiça”, eu prefiro pensar em Justiça como uma coisa só.


Não parece ser à toa que o Brasil é o único país do mundo arcando com uma Justiça Trabalhista. Como diz um ditado, se tem só no Brasil, e não é jabuticaba, é besteira... É besteira, é esperteza, é safadeza...


A quem interessa manter esta estrutura custosa? Não aos trabalhadores, que vêem escassear as vagas de emprego. Não aos empregadores, com essa constante espada de Dâmocles, sempre pendendo sobre a cabeça. Não ao país, que vê aumentar a informalidade, que vê as oportunidades de investimento sendo levada para outros países onde não exista todo este custo-Brasil.


Mas interessa às imensas burocracias, aos interessados em manter seus vistosos cargos públicos, mesmo que não haja uma real necessidade pública. Não a muitos advogados, que podem tirar vários milhões de empresários incautos, no cipoal e na teia da legislação trabalhista. Como diz o artigo da Economist, mais de 900 artigos trabalhistas. Na verdade são muitos mais, se considerarmos as leis esparsas, além da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Aliás, como lembra o artigo, a CLT foi inspirada na Carta del Lavoro, isso mesmo, em uma legislação da Itália de Mussolini, fascista.


Uma legislação da década de 40, formulada pela nossa ditadura do Estado Novo, mas que é mantida intocada. E se alguém a questiona, vem o coro-padrão: “Está querendo tirar os direitos dos trabalhadores!”. Que chantagem intelectual... que vergonha de “argumento”, sequer pode ser chamado de argumento... Porém eficaz, e os políticos brasileiros todos se paralisam quando uma campanha dessas é movida por esses muy amigos dos trabalhadores...


Eu estudei um pouco desse cipoal de legislação... realmente, pode fazer a festa de um advogado esperto, são tantas leis, e tão minuciosas, para regular as contratações... é muito fácil tropeçar numa delas, e aí, as consequências são tremendas...


Como no caso narrado pela Economist, um empresário que comprou com dois amigos uma rede de farmácias em Pernambuco em 1994. Pouco depois, foram processados por quatro ex-funcionários que haviam trabalhado para o dono anterior e exigiam R$ 500 mil de horas extras e feriados. Os empresários, que não tinham os registros da folha de pagamento, perderam a disputa. A Justiça congelou as contas bancárias da empresa, o que levou ao fechamento das lojas e a 35 demissões.


Edificante, não é mesmo? Mas o discurso-padrão é que é preciso proteger os coitadinhos... coitadinhos dos trabalhadores, eles são a parte mais fraca, eles não sabem cuidar de si mesmos, a História é a luta de classes, e nós precisamos fazer a Justiça Social, pra ficar bem com a galera antenada, pra aliviar a consciência culpada, pra posar de Moderno...


Muito lucrativa essa profissão de babá dos coitadinhos... os defensores dos explorados... os paladinos dos fracos e oprimidos... sem mover um dedo, e pelo contrário, lucrando muito com esse palavreado bonito. Somos um povo assim, tão cordial, tão gente boa... não damos oportunidade, não damos saúde, não damos escola. Não damos trabalho. Ah, mas quando não nos custa nada, ou melhor, quando nos rende aplausos, nos rende votos, aí distribuímos esmola. E os tratamos como se fossem incapazes e débeis mentais, e assim os tratando, assim os mantemos. E lucramos de variadas formas variadas com a exploração desses miseráveis, jurando que é para evitar a exploração dos miseráveis. É como diz o título de um livro, não li o livro, mas este título me ficou marcado: “Brasil, o país dos coitadinhos”.


Mudar esta mentalidade, abandonar o paternalismo, entender que deve haver liberdade para negociar o contrato de trabalho, não é tarefa simples. Envolve fazer uma crítica de nossa tradição, de nossa cultura, que muitos não terão condição de fazer, e muitos não terão interesse de fazer, pois estão lucrando com este sistema que aí está. Os piores cegos...


Se conseguíssemos alcançar esta consciência da necessidade de reforma, ao ponto de fazer a mudança política, o caminho seria facilmente reconhecido: poucas leis, básicas, simples, e muita liberdade. É a melhor solução para o trabalho e para o país. Se o Governo muito quiser ajudar, que reforce os salários dos trabalhadores, sem simplesmente transferir todos os custos para os empregadores, com uma lei irreal e injusta.


E não venha o Governo com discurso de que vai ajudar, quando tudo que faz é criar problemas e custos. A velha fórmula: criar dificuldades para depois vender facilidades.


No Governo FHC, um grande absurdo custoso da Justiça Trabalhista chegou ao fim: a figura do juiz classista, dois para auxiliar cada juiz formado em direito nas questões trabalhistas. Foi um passo, um grande passo, mas ficou nisso. Com o Governo Lula, depois, não se deu prosseguimento a qualquer reforma da caótica legislação trabalhista. Como de hábito, aliás. No Governo Lula não houve apenas a interrupção de todas as reformas necessárias ao país. Houve ainda grandes e terríveis retrocessos, com absurdos se desenrolando nas manchetes de jornais, em vídeos grotescos de corrupção, engolidas pela opinião pública calada, ou no máximo gemendo dolorosamente, como se estivesse amarrada e sob a mira de um revólver.


Claro que Lulinha não ia desagradar os seus amigos sindicalistas, e tudo ficou em banho-maria, empurrado com a barriga, com a atenção de todos desviada para as propagandas oficiais, e o clima de euforia, pelo clima de festa, pelo clima de intimidação dos que ousavam se recusar ao oba-oba. Não, nunca antes na História desse país, a maior popularidade, e um monte de chineses comprando nossos produtos, e ninguém quer ser o estraga-prazeres, ninguém quer ser visto como um velho resmungão. Pra que reformas? Pra que denunciar o roubo? Beba cachaça, muita cachaça! Beba vinho importado, se você puder! Não desfaça a ilusão de que um país que não enfrenta seus problemas pode ser chamado de grande! Eu ainda te agracio com um dos meus discursos de dois tostões: “Eu esftou confencido...” E mesmo aquilo de bom que Lula defendia antes de se tornar presidente, como o fim do Imposto compulsório do trabalhador para os Sindicatos, não só deixou de ocorrer em seu Governo, como ainda foi piorado com a extensão do privilégio às Centrais Sindicais – leia mais sobre o tema em http://judsonline.blogtok.com/blog/18474/ e http://vamosaluta.org/?p=10


Agora temos o Governo Dilma, e ele parece seguir pelas veredas abertas pelo Mestre, aquele que mostrou o caminho: panos quentes, e deixa que o problema morre por si mesmo... opinião pública, tá tudo dominado. Ministro do Turismo, pagando festinha em motel com dinheiro público? É bafafá da imprensa, mas isso logo morre. E pra mostrar como está tudo dominado, Réus notórios para Comissões da Câmara! Tiririca para Comissão de Educação!


Enfim, acaba que a Justiça Trabalhista é apenas mais uma gotinha num oceano... gotinha de R$ 10 bilhões por ano, fora os custos da perda de competitividade da economia.



quarta-feira, 9 de março de 2011

Da configuração do Estado - Capítulo Quatro - Sobre o Contrato Social


O único Contrato Social digno deste nome entre os homens seria aquele que proporcionasse milhões e milhões de empregos para as diversas vocações. Que cada vocação tivesse à disposição um emprego digno, e o indispensável treinamento para exercer este emprego. Útil à sociedade, haver milhares de enfermeiras, professores, médicos, engenheiros, espaço para todos. Com salários dignos, com horários que não seriam uma vergonhosa exploração.


Somente isto socorreria a dignidade do homem: um trabalho que lhe dê o sustento, de que possa se orgulhar. Por que devemos aceitar que isto não seja assim, quando hoje possuímos os recursos para que seja assim?


Temos nossa organização num Estado. Temos os bilhões e bilhões que este Estado nos retira de tributos. Por que estes bilhões e bilhões não servem a melhor propósito do que o de sustentar gritantes privilégios e desperdícios com uns poucos, ao invés de retornarem para toda a sociedade na forma destes empregos dignos, bem remunerados?


Justificar o aluguel de um palacete para deixar uma embaixada em Roma? Justificar os jatinhos, as milhares de milhas de passagens aéreas, as hospedagens pra parentada em hotéis internacionais de cinco estrelas, os milhares de litros de gasolina, para os deslocamentos “oficiais”... ai, a lista é interminável daquilo que nos rouba, muito mais que os bilhões, nos rouba da possibilidade daquela sociedade justa que distribui seus empregos!


Em termos econômicos: não é o excedente de mão de obra de braços parados que faz com que os salários se achatem, que gera a competição feroz, a aceitação de condições indignas, o medo e a incerteza? O que aconteceria se uma sociedade não tivesse esse excedente de mão de obra parada, se uma pessoa, com vocação para ser enfermeira, recebesse um treinamento de enfermagem, e fosse empregada, em algum lugar onde houvesse necessidade dela. E assim por diante, para cada vocação, cada carreira, desde aquele que lava os pratos e que lava as roupas, até o grande gerente, e o cientista. Com menos horas trabalhadas, e com mais reconhecimento pelo seu trabalho.


Uma vida que pode não dar os luxos, mas que terá assegurado para seu trabalho o gozo de bens indispensáveis: haverá um médico, um hospital, um enfermeiro, um juiz, um policial, um professor pros seus filhos, ou mesmo para si próprio. Tempo, este bem tão fundamental, tempo para viver.


Mais do que tudo isto: o gozo de tudo isto se dará pela dignidade de seu trabalho honesto. Poderá ser o lavador de pratos, poderá ser o gerente: alguns bens indispensáveis foram feitos para todos.


Nada disso significa, por certo, uma idolatria ao Estado-babá, que eu entendo como o Estado que dá dinheiro de graça. De graça, em termos, porque não existe almoço grátis.


O Estado-babá, com seus luxos, com sua injustiça, com sua imoralidade, é justamente o problema a erradicar. O Estado-babá, capturado pelos malandros.


Mas isto não quer dizer que, para assegurar este pleno emprego, este pleno bem-estar social, a presença do Estado seja inútil ou dispensável. Ou então, respondam a esta pergunta: o que deve acontecer com um sujeito, com a cabeça rachada, sem um tostão no bolso? Letra a: deve ser atendido de graça, por um hospital, por um médico, capacitados; Letra b: deve entregar sua vida aos dogmas do liberalismo econômico, na certeza de que, não ele, mas a sociedade que ele deixa, estará um pouco mais perto do Paraíso do Livre Mercado.


Não digo que o Mercado não deveria atuar neste novo Contrato Social. Seria um erro tão grave quanto o dos que dizem que o Estado seria inútil ou dispensável. Dois tipos de radicalismos fazendo seu diálogo de surdos, contribuindo para que tudo fique parado no mesmo lugar ruim.


Nem estatólatra, nem mercadólatra, extremos que se odeiam, mas que tantas vezes se tocam, se fundem.


Falo de outra coisa, de um outro Contrato Social. O Mercado é um grande gerador de empregos, gerador de riquezas. Por que combatê-lo? Por que contentar-se com um slogan mental, muito fácil, muito conveniente, muito falso? “Toda propriedade é um roubo!”; “Pela Igualdade: todos devem ser magnatas!”; “Pela ditadura do proletariado!”. Na melhor das hipóteses, estas doces ilusões permanecem como nuvens, alheias à dura realidade; na pior, servem para justificar o assassínio e o roubo, e são rapidamente apropriadas por qualquer demagogo tirano.


Falo de um outro Contrato Social: que ótimo que o Mercado gere seus médicos, seus engenheiros, seus gerentes, seus lavadores de louça e de roupa! Seus industriais e operários. São empregos dignos, e devem ser tornados mais dignos pela prevenção da exploração. Basta que cada um destes empregados receba dignamente pela sua hora de trabalho, e que os bens indispensáveis não lhes sejam sonegados.


Se o lavador de pratos tem acesso a um médico quando fica doente; se os seus filhos podem ir à escola. Se ele mesmo pode fazer os seus cursos e complementos de educação. Se o Estado gasta alguns poucos dinheiros, de tantos bilhões que arrecada, para complementar a renda deste trabalhador. Então, teremos o Contrato Social justo. E não precisa querer perseguir e derrubar o sujeito porque ele quis trabalhar e juntar e comprar um carro.


Aceitar que o Mercado Livre atue não implica abdicar de usar o Estado para suprir aquilo que o Mercado, por si só, não proporciona. Voltamos ao sujeito de cabeça rachada. Embora eu reconheça, claro, que nada é tão simples. A atuação do Estado gera seus problemas e seus perigos, temos visto ao longo da História, burocracias, corrupção, empreguismo, desperdícios, e a longa fila de etcs. O equilíbrio entre Estado e Mercado é frágil, difícil de alcançar. Eu reconheço tudo isso, mas não entendo como justificativa para cruzar os braços e encerrar o debate. Uma forma ou outra sempre vai nos governar, e qual é o problema de buscar a melhor forma, mesmo que nenhuma perfeição seja possível? Perfeição não é possível, mas são possíveis as pequenas vitórias nesta luta. De qualquer forma, maior a empresa, maior a glória. Não chore, meu filho / não chore, que a vida / é luta renhida / viver é lutar / A vida é o combate / que aos fracos abate / que aos fortes, aos bravos / só faz exaltar / O homem que é forte / não teme a morte / só teme o fugir.


Então, como nova forma de Contrato Social, minha proposta é essa: Mercado trabalha, tributos são uma proporção fixa da movimentação financeira, Estado estabelece as matérias de cada carreira, os conteúdos bem definidos, elaborados por especialistas de cada área, Estado e Mercado formam os profissionais, Estado divide os tributos para pagar aos profissionais, ou complementar a sua renda. Cada indivíduo tem garantida sua participação nos bens indispensáveis da sociedade: Educação; Saúde; Segurança. Cada indivíduo deve ganhar sua vida de forma honesta, e receber o apoio de que precisa para exercer sua vocação.


terça-feira, 8 de março de 2011

A Arte da Guerra - Nossa Polícia - UPPs


Notícia de jornal:

“Mais de 600 mil pessoas serão beneficiadas com a instalação de postos policiais nos morros e favelas da cidade. O novo serviço visa a prevenir crimes e contravenções e promover completa recuperação social dos favelados. O plano do Chefe de Polícia, Coronel Barros Nunes, é de proporcionar aos trabalhadores condições de vida compatíveis com os nossos foros de civilização. “


Será que estão falando das UPPs? Tirando a referência ao então Chefe de Polícia, e o estilo meio rebuscado, podia bem passar por notícia da “nova” política de segurança pública do Rio de Janeiro. “Eu vejo o futuro repetir o passado / Eu vejo um museu de grandes novidades...”


Mas é uma notícia do jornal O Globo de 19 de janeiro de 1961, sobre o Rio de Janeiro, extraída de uma coluna Há 50 anos, no Segundo Caderno de O Globo. Não que a idéia de trazer o Estado, na mais básica de suas funções, que é a de fornecer segurança, para vastos territórios e populações até então dominadas pelo Poder Paralelo, seja uma má idéia. Apesar de todos os pesares, apesar do absurdo de vermos tenentes e soldados roubando moradores e abusando de sua autoridade. São problemas a serem corrigidos, mas não invalidam a idéia em si.


Mas é para nos mantermos alertas; como se vê por estes 50 anos, todo o território conquistado pode ser perdido, basta que nossa demagogia entregue de novo nossos irmãos desfavorecidos à própria sorte.

Pior que tá não fica


O historiador Marco Antonio Villa publicou um interessante artigo no jornal O Globo de hoje, “O Congresso virou um balcão” - http://www.eagora.org.br/arquivo/o-congresso-virou-um-balcao. Falou sobre as votações na Câmara e no Senado que aprovaram o novo valor do salário mínimo. Destaco alguns trechos:


“E não foram simplesmente sessões ordinárias. Não. Foram, provavelmente, as mais importantes deste semestre. O desenrolar dos trabalhos causa estranheza, inclusive visual. A maioria fica de pé durante a maior parte das sessões. É a minoria que permanece sentada, como ocorre em qualquer parlamento digno deste nome (sic). Quando um orador vai à tribuna, poucos prestam atenção pois sequer conseguem ouvi-lo. O barulho, a dispersão, as conversas em paralelo impedem que os congressistas possam acompanhar o andamento da sessão.


(...)


O desinteresse pelo desenrolar da sessão era compreensível. O resultado da votação era conhecido. Não estavam lá para debater a proposta do governo. Foram simplesmente obedecer às determinações do Palácio do Planalto.


(...)


Não há vida parlamentar. E não é por falta de número: no total são 594 representantes do povo. É um dos maiores congressos do mundo democrático. Também não é por falta de recursos: o orçamento anual é de mais de 5 bilhões de reais.


(...)


O Poder Legislativo não consegue desempenhar suas funções constitucionais. O Executivo decide e o Congresso chancela, sem discussão. É tão inexpressivo como um cartório. Mas rendoso. A representação popular foi transformada em um balcão. E para a maioria dos políticos é um ótimo negócio.”


Some-se a este retrato o fato de que pouco mais de 7% dos deputados federais foi de fato escolhido pelos cidadãos, sendo os cerca de 93% restantes eleitos por votos dados a outros políticos ou às legendas (http://sinatti.blogspot.com/2011/02/democracia.html). E se tem uma medida do descalabro da nossa democracia.




Alice no país das maravilhas - o filme de Tim Burton


Alice no país das Maravilhas, o filme de Tim Burton, não reconta a história famosa de mesmo título criada por Lewis Carroll (1832-1898). O filme se baseia em personagens dos livros Alice no país das Maravilhas e Alice no Através do Espelho, ambos de Carroll, para criar sua própria história, mais parecida com os épicos de aventuras tipo Senhor dos Anéis, com um Alice adolescente e, ao final, guerreira, evocando Joana Darc.


Talvez por isso o filme tenha gerado alguns muchochos de insatisfação. Não recebeu grande atenção dos críticos, e ganhou apenas os Oscars secundários de Figurinos e Direção de Arte (muito merecidos), mas sequer concorreu a melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro. Também poderia ter sido indicado para melhor atriz, a cativante Mia Wasikowska, num papel cheio de nuances, e melhor ator coadjuvante, Johnny Depp como Chapeleiro Maluco, um papel de força.


Apesar dos resmungos críticos, o filme foi sucesso de público, inclusive pela ótima utilização da grande velha novidade, o 3-D, nos mundos de imaginação gráfica, criados/coordenados pelo talvez mais credenciado diretor da atualidade no quesito criatividade visual.


Tim Burton recupera, com a tecnologia moderna, mas sem desprezar os antigos recursos, esta formidável capacidade que o cinema possui de gerar seus mundos de sonhos, algo parecidos com a realidade. Vide a entrevista de fã que Tim Burton faz com Ray Harryhausen, o criativo desenhista/escultor de monstros e outros bichos, nos extras do dvd “O Monstro do Mar Revolto”. Burton também homenagearia Harryhausen em seu “Marte Ataca!”, na estética dos discos voadores.


Talvez também por proficiência visual de Burton alguns críticos façam pouco de suas idéias. Associam Burton a um cinema de puro deleite para os olhos, mas com jeito de filme “b”, filme trash. Fast food, cinema-pipoca, diversão sem cérebro.


Puro preconceito. Burton vem usando a gramática e a influência do filme “b”, do filme-diversão, mas sempre veiculando alguma(s) idéia(s) interessante(s), desde seu primeiros filmes, vide Eduardo Mãos de Tesoura. Às vezes mais bem sucedido, às vezes menos.


No “Alice”, ele teve campo fértil para este veículo de idéias, nutrindo-se no universo simbólico riquíssimo de Lewis Carroll. O roteiro de Linda Woolverton é original e criativo, valendo-se bem das personagens e situações criadas por Carroll para compor sua aventura. Não faltam as críticas à vaidade e aos poderosos, os elogios à loucura e aos bons sentimentos, os vários níveis de leitura, psicológica, mitológica, existencial, da obra. É realmente um trabalho extremamente bem feito, e que se peca, às vezes, é por excesso (é melhor pecar por excesso).


Mas é verdade que uma boa tesoura de uns 15 ou 20 minutos fariam bem ao filme. Por vezes pareceu que o afã de dizer coisas retardou desnecessariamente o andamento. Uma ou outra solução poderia ter sido mudada, mas, enfim, este não é o meu filme. Também, são detalhes, que é até chato invocar quando o filme é composto de tão altas qualidades quanto este Alice. Grandes cenas, grandes momentos, de roteiro/cenários/figurinos/atuação/etc. em que Burton consegue infundir a mágica da emoção. Mas não chega a ser A grande obra-prima de Burton, na minha opinião, em função destes excessos. A obra-prima de Burton, para mim, permanece Ed Wood.


Mas, enfim, não deixa de ser um dos melhores, de um dos melhores. E que merecia melhor fortuna crítica do que teve.




Cotação: 4 ½


Pequena seleção de Tim Burton:


Os fantasmas se divertem (1988)


Eduardo mãos de Tesoura (1990)


Ed Wood (1994)


Peixe Grande (2003)


A Noiva Cadáver (2005)


P.S. Não deixem de assistir ao clássico desenho da Disney, Alice no país das Maravilhas, e de ler os livros de Carroll, todos 5 estrelas. Olhando na wikipedia, vejo que Alice tem longuíssima carreira cinematográfica, a começar por um filme de 1903 (!). Quanto aos livros, saiu uma edição primorosa pela Jorge Zahar, repleta de comentários, reunindo o País das Maravilhas e Através do Espelho: “Alice, edição comentada”.

domingo, 6 de março de 2011

Educação


"Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos." (Pitágoras)


Uma nação não terá jamais efetivo desenvolvimento, se não puder educar seus filhos para que exerçam uma atividade socialmente útil.


Um jovem que cresce sem a perspectiva de ter um meio de vida que lhe garanta uma existência digna. Quais são os futuros que lhe aparecem? A miséria, o crime, a exploração de seu trabalho? Qual é o tipo de emprego que têm os que não têm uma formação adequada?


Isto para o indivíduo. Agora, para a sociedade, qual é a perspectiva de ter milhões e milhões de pessoas mal aproveitadas para seu próprio progresso?


No Brasil, de 130 milhões de eleitores, 60% são formados por analfabetos, analfabetos funcionais ou pessoas que não completaram o ensino fundamental. São 78 milhões de brasileiros. E isso só contando entre os eleitores. É o que diz este artigo de Merval Pereira: http://arquivoetc.blogspot.com/2010/09/lula-rebaixa-cidadania-merval-pereira.html


78 milhões de brasileiros com produtividade mínima. Qual é o tipo de trabalho que um analfabeto tem condição de fazer? Certamente, ele não pode ser médico, não pode ser engenheiro, não pode ser advogado. Também não pode operar muitas máquinas. Não pode ler um manual, não pode receber treinamento avançado.


Que brutal limitação de um país! Se projetarmos os 60% de baixa escolaridade para nossa população de 200 milhões, são 120 milhões de brasileiros.


Imagine, para o país, o acréscimo de produtividade, de riqueza, de bem estar, com 120 milhões de brasileiros fazendo um bom trabalho. Que grande feito seria para um Governo, transformar esse problema de 120 milhões de estômagos numa solução de 120 milhões de cabeças...


Mas um país que tem uma taxa de escolaridade tão baixa, de apenas 40% de escolaridade média e alta, não pode ser grande nunca. Se tiver grandes riquezas, como o Brasil, será simplesmente roubado.


Sua população, que se fosse educada constituiria uma guarda para as riquezas do país, tendo uma péssima escolaridade será roubada debaixo de seus próprios olhos. Que participação política, que entendimento econômico, terá a massa dos excluídos? Que capacidade para protestar, para resistir, para reagir? Que capacidade para processar matérias-primas, para transformar riquezas, para pegar um minério, e transformá-lo num eletrodoméstico, transformá-lo num item de alta tecnologia, e alto valor agregado?


Lembro de uma reportagem na TV, dizendo que a Alemanha, cuja produção de café é ínfima, se não inexistente, lucrava mais com o café do que o Brasil... é, o Brasil, que tem no café um item de importância histórica de produção e venda.


Simplesmente porque a Alemanha lucrava com a comercialização, seleção de grãos, distribuição, embalagens, logística... atividades que requerem pessoas instruídas. Com muito menos gente envolvida no setor “cafeeiro” da economia alemã, os alemães faziam mais dinheiro que o Brasil

com este negócio do café.


Então, como é que eu vou dar crédito pro Brasil e seus governos, como é que eu vou participar do ufanismo oficial, se ninguém resolve este problema gravíssimo deste país, o nosso país?


Outro exemplo de onde está nos levando nossas péssimas taxas de educação. Sirvo-me de dois artigos exemplares de Regina Alvarez, “Décadas perdidas”, e “Escolhas”, publicados no jornal O Globo dos dias 19 e 20 de fevereiro de 2010.

http://republicasim.blogspot.com/2010/02/deu-em-o-globo-decadas-perdidas-de.html


http://avaranda.blogspot.com/2010/02/regina-alvarez_20.html



Destaco alguns trechos dos dois artigos:


Nos últimos três anos, recebemos da China, por tonelada exportada, o valor médio de US$ 115. E no mesmo período pagamos àquele país, por tonelada importada, US$ 2.857. A disparidade é resultado do alto valor agregado aos produtos chineses.

Exportamos minério de ferro e soja. Importamos eletroeletrônicos, partes e peças para a telefonia e uma infinidade de outros produtos valiosos.

(...)


Os números dão uma clara dimensão da importância de agregar valor ao que produzimos e exportamos.

Refletem os ganhos de quem optou pela industrialização, investiu em tecnologia e inovação.

O empresário Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, escreve para dizer que o setor agropecuário vive os mesmos problemas da indústria: carga tributária anacrônica, infraestrutura em frangalhos, política de juros altos e suas consequências no câmbio.”


O economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, observa que os países emergentes, especialmente os asiáticos, usaram, ao longo dos últimos 25 anos, o processo de industrialização como instrumento para o seu desenvolvimento, enquanto o Brasil, na contramão desse processo, apostou todas as fichas na chamada vocação agrícola, deixando a indústria em segundo plano.

Almeida considera que, no Brasil, há uma concepção errada de que a indústria e o setor primário estão em lados opostos, quando, na verdade, o grande diferencial que poderíamos ter em relação aos asiáticos, por exemplo, é a conjunção desses dois segmentos em prol de um mesmo objetivo: o desenvolvimento forte do país.

Apostamos só na potência agrícola. Isso é perda de oportunidade — afirma.

O economista destaca que o país perde por não industrializar os produtos básicos. O sistema tributário pune cada etapa da cadeia de produção, o que desestimula a agregação de valor aos produtos. Nas condições atuais, é mais lucrativo exportar soja do que óleo de soja, exemplifica.

  • O Brasil abdicou de ter a indústria como motor do desenvolvimento. Erradamente, pois teria um trunfo que só os EUA têm, articular o setor básico com o industrial — conclui.”


Outros exemplos podem ser colhidos no noticiário, leio que a Vale do Rio Doce, após a privatização, aumenta vertiginosamente sua capacidade de exploração de minérios. Leio que milhões de toneladas de minério de ferro estão sendo exportadas para a Alemanha. Acionistas da empresa, muito satisfeitos, enfiam milhões nos bolsos; bancos investidores, sócios majoritários, diretores, enfiam milhões de dividendos nos bolsos. Jornalistas de visão curta, ou até pagos para serem porta-vozes, tecem loas à privatização, esquecendo dos bilhões e trilhões que o país poderia fazer, se ao invés de exportar o produto primário, e importar o produto manufaturado, fizesse ele próprio o beneficiamento das matérias primas.


O Brasil volta a um clima pré crash da bolsa, de 1929, pré Getúlio Vargas. A uma época em que se dependia quase exclusivamente da exportação de café para se financiar a importação de produtos industrializados. Havia até os teóricos da “vocação natural” do país, no concerto das nações...


Queriam escravizar o país a um destino eterno de nação agrícola, parada no tempo. Atrelavam seu pensamento a umas teorias de livros, à defesa de um suposto liberalismo “puro”, onde se colocava de lado a realidade. Pois não se pensava nisso: se um trabalhador tira um pedaço de ferro do chão, e o vende por dez dinheiros a um país; e se esse país usa dez operários para transformar este pedaço de ferro numa carroceria de automóvel que vai ser vendida por mil dinheiros, chegamos à conclusão de que o país que vendeu o ferro deixou de criar 10 empregos e de ganhar mil dinheiros porque não fez a carroceria ele mesmo.


Tudo isto que digo é para ser temperado com o grão de sal. Não defendo reservas de mercado que conduzem a ineficiências generalizadas e encarecimento da produção para os consumidores internos. A integração ao comércio externo é fonte de oportunidades e riquezas.


Não existem respostas prontas, fechadas, que dispensem a inteligência. Não se trata de defender ou o nacionalismo xenófobo ou o liberalismo irrestrito. Ou uma coisa, ou outra. Radicalismos dos dois lados, parece que temos muito disso aqui, no nosso debate “intelectual”. Fórmulas prontas, para quem tem preguiça de pensar, para quem se contenta com pouco. Diálogo de surdos, feito de acusações e rancores, e vaidades e burrices, entre “panelinhas”. Enquanto isso, se esquece do país real, e dos problemas reais.


Nada substitui a educação, nada substitui a inteligência. Nada substitui o planejamento de longo prazo, o interesse pelo país e seu povo.


Como se destacou nos artigos de Regina Alvarez, o Governo não pode deixar de fazer a sua parte, superar os absurdos da legislação tributária, a política de juros altos e suas consequências no câmbio, a infraestrutura em frangalhos... e a burocracia, e a corrupção, e a Justiça lenta e imprevisível, e etc, e etc, e etc. E educação, de verdade.


Independente de discussões bizantinas sobre liberalismos ou socialismos, há muito trabalho a ser feito, no sentido de criar um ambiente favorável para o empresário, para o investidor, para o trabalhador.


Para um Governo que trabalhe de verdade, e que pense no longo prazo, há muito para fazer, para que o país tenha a condição de ter suas indústrias, e poder faturar mil. Mas quem pensa no curto prazo, fica satisfeito de vender por dez, contanto que embolse quatro, e ainda que o país deixe de ganhar mil.


Além de todo este trabalho que o Governo deveria fazer, mas não faz, no sentido de criar um ambiente favorável ao investimento e ao trabalho, gostaria de destacar outro ponto importante na questão da industrialização:


O Governo faz as leis, cria os impostos, dentre ele o Imposto de Exportação. E por que não utilizar esta Soberania para estimular a industrialização? Utilizar o imposto de exportação de maneira seletiva, para onerar mais a saída de produtos primários, e menos a de produtos sobre os quais se agregou valor?


Se quiserem levar o pedaço de ferro, vão ter de pagar mais 50% de imposto. Se fizerem a carroceria no país, vão exportá-la com mais 10% de imposto. Algo no gênero.


Estimularia as empresas a instalarem fábricas no país. A dar treinamento e capacitação para a mão-de-obra brasileira. Com toda a geração de empregos, diretos e indiretos, e a utilização de energia, e o aluguel de imóveis, e toda a complexa rede de relações econômicas que se desenvolve, a partir do momento em que uma indústria se instala. Desde o restaurante que vende refeições para os operários, até o pescador que vende o peixe para as refeições. Como diz o economista citado no artigo da Regina Alvarez, o Brasil pode articular o setor básico com o setor industrial, um trunfo que só os EUA também possuem.


Os tigres asiáticos, o Japão, a China, antes deles a Inglaterra, a Alemanha, os EUA, mostraram na prática que a industrialização é o caminho para o enriquecimento. E a industrialização só vem com a educação. O Brasil, porém, vai se desindustrializando, e se deseducando.


Conseguiremos corrigir nossos rumos?