sábado, 31 de julho de 2010

O homem de três bilhões de reais



Newton Cardoso, na política desde 1972, quando se tornou prefeito de Contagem, Minas Gerais, já amealhou um patrimônio, na estimativa conservadora, de 3 bilhões de reais. O dado, publicado numa reportagem de Veja, foi contestado por Newtão, que disse que tinha muito mais. Newtão se vangloriou de ter dois apartamentos nos EUA, um em Nova York, um em São Francisco. Na Europa, Newtão tem um apartamento e um hotel em Paris. Um “refúgio” em Roma. No Brasil, uma praia na Bahia. Um ilha em Angra dos Reis. Tem mais e muito mais: vejam nos links

http://veja.abril.com.br/210109/p_068.shtml

http://www.cabecadecuia.com/noticias/38870/-newton-cardoso-afirma-que-sua-fortuna-supera-a-avaliacao-de-25-bilhoes-de-reais-feita-por-sua-mulher.html

Newtão é apenas um dos nossos homens públicos. Tá certo, um bem destacado, mas é só um. Imagina a multidão de Newtinhos e outros Newtões, salivando de satisfação com mais uma gorda presa, mais um contratinho gordo, mais um anel viário, uma ONG, uma obra de metrô... quantos advogados, doleiros, atravessadores, contatos, funcionários, diretores, “mulas”, “laranjas”... quantas boquinhas e boconas famintas, o verdadeiro saco sem fundo...

Não sonham em ser incomodados. São figuras intocáveis, circulam em carrões, helicópteros, residem em mansões, com seguranças, a família toda tem seus seguranças...

Polícia, Ministério Público, Juízes, nada disso passa perto deles. São os homens incomuns. Às vezes pode surgir algum caso emblemático, em que os grandes focos da mídia recaiam por algum tempo. Um Maluf pode virar um símbolo contra o qual recaia alguma pressão, algumas decisões desfavoráveis. Mas mesmo estes símbolos nunca deixam de circular no Congresso, vestindo ternos caros, com um sorriso amplo nos rostos.

São sempre muito simpáticos. Vivem tão bem, por que não seriam? Tudo lhes confirma o quanto são espertos, o quanto todo o resto é otário.

Polícia, Ministério Público, Juízes, são pagos, muitas vezes muito bem pagos, pra morder o proverbial “ladrão de galinha”. Pegam um sujeito plantando num morro. Raios e trovões contra ele; É UM DESMATADOR MISERÁVEL, UM DESALMADO QUE ATENTA CONTRA A NATUREZA!!!!!! Crime inafiançável, ESTE SIM VAI VER O SOL NASCER QUADRADO, VAMOS MOVER UM GRANDE PROCESSO CONTRA ELE!!!! SEU DESTRUIDOR DO MEIO AMBIENTE!!!! SEU... SEU... PORCO CAPITALISTA!!!!!! ISCA!!!!! ISCA!!!! PEGA!!!!! CÁPA!!!!! MÁÁÁÁÁTAAAAA!!!!! SEU GRANDE FASCISTA!!!!

E depois de um trabalho tão árduo vai-se gozar dois meses de férias por ano, porque ninguém é de ferro.

Digamos que se pegasse, não digo o Newtão, mas um ladrão hipotético de 3 bilhões de reais. Fizessem com que este dinheiro fosse devolvido pros cofres públicos. Penhorassem um apartamento de 10 milhões em Roma, um hotel de 100 milhões em Paris, uma ilha de Angra, e tal tal tal (não se esqueça, estamos falando de um sonho).

Quantos jardineiros, plantadores de árvores, poderíamos pagar por um mês de trabalho? Vamos simplificar, vamos dizer que cada um vai ganhar um salário mínimo, arredondado pra R$ 500,00. Quantos trabalhadores poderíamos contratar por um mês plantando mudas de árvores com esses 3 bilhões recuperados? Resposta: seis milhões de trabalhadores. Cada um plantando 2 árvores por dia, digamos, em trinta dias são quantas árvores? Resposta: 360 milhões.

É um bocado de árvore. Dava pra segurar muita encosta, embelezar muita passagem, fazer muita fotossíntese pra purificar o ar...

Existe muito trabalho pra ser feito. Existem muitas mãos pra fazê-lo. Existe muito dinheiro pra pagar salários, e melhorar a condição de vida, não só de quem recebe o salário, mas de toda a sociedade.

Claro, o que falta é a organização. O que falta é a consciência, é a discussão livre, é a luta pelos direitos.

O que falta é derrotar a corrupção, o que falta é a honestidade, o que falta é a vergonha na cara.

Ah, 3 bilhões parecem muito dinheiro? Pra você, miserável, que ganha R$ 500,00 por mês. Sabe quantos meses você precisaria pra juntar isso? Essa eu já falei: seis milhões de meses. Em anos? 461 mil, quinhentos e trinta e oito. Arrendondando. Ah, e já incluí o décimo terceiro salário de lambuja pra você, peste.

(Sinto que posso estar me repetindo, mas certos assuntos têm um poder obsedante sobre mim...)

Mas se formos pensar em termos relativos, 3 bilhões, amealhados em muitos anos de labuta, toda uma vida pública, não são mesmo tanto assim. Se pensarmos, por exemplo, que em um único ano, nosso Estado abocanha 40% do PIB, o que representa (sempre de modo aproximado) um trilhão e duzentos bilhões de impostos. Num ano, dá pra cobrir 400 Newtões.

Dá mais de um Newtão por dia, dentro de um único ano! Mais de seis milhões de salários mínimos por dia, num ano. E ainda assim o Estado não pode dar conta de nenhuma tarefa, não pode fazer nada, e a saúde é um horror, e segurança é piada, e educação é tragédia, e o Estado ainda se endivida (nos endivida), e arma indústrias da multa, máfias de cartórios, e por aí segue a esfola.

São as tantas boquinhas, e os tantos bocões, insaciáveis, muito jatinho e mansão, e até castelo, muita parentada pedindo cargo de confiança, muita amante querendo pensão, muito salário de marajá, muito contrato sem fiscalização... quem sabe se dobrássemos nossa carga tributária, entregássemos pro Governo 80% de tudo que produzimos? Poderíamos bancar uma propaganda na televisão, pra dizer que o Brasil é o MAIOR DO MUNDO, EM CARGA TRIBUTÁRIA! BRASIL-ZIL-ZIL! A MAIOR NAÇÃO DE ESCRAVOS DO MUNDO! PRA FRENTE, BRASIL!

Quanto dá 400 Newtões de salário mínimo? Chega! Eu não quero mais fazer conta! Estou ficando triste com tanta conta! E deve ter alguma coisa errada, deve ser a calculadora, ou a matemática que ficou louca! Estou simplificando demais, tenho de estudar a teoria da mais valia ou algo assim! Ou deve ser uma fatalidade do destino, ou deve ser a vontade de Deus, que não vai nos deixar sair nunca da nossa miséria, mesmo com tanto bilhão, com tanto trilhão rolando!

Pensar que ficamos discutindo capitalismo e comunismo, cheios de raivas uns dos outros! Quanta energia desperdiçada, quanta inutilidade! Como se discute pra nada!

Enquanto isso, milhares e centenas de milhares de jovens perdem-se por falta de uma ocupação, por falta de uma perspectiva. Cooptados pro crime, presas fáceis pro vício, e pra todo tipo de violência. Devemos ser tontos mesmos, pedindo pra sermos esfolados!

Olá, Newtão! Grande homem! Aceita um votinho, aí? Precisa de um assessorzinho? Um laranja? Um cafezinho? Posso engraxar suas botas, com minha língua? Coçar suas costas? Cafunezinho? Meu sinhô!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Lulinha e o Bolsa Família

Confira uma citação de 2003 em que Lula revelava sua opinião sobre os programas sociais compensatórios do governo anterior (de FHC): “Um dia desses, Ciro (Gomes) estava em Cabedelo e tinha um encontro com trabalhadores rurais e um deles falava para mim assim. ‘Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo estava acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar. E agora tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o vale-isso o vale-aquilo, as coisas que o governo criou para dar para as pessoas.’ Acho que isso não contribuiu com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para as pessoas viverem condignamente às custas de seu trabalho”.

Agora, confira o vídeo:



Eu sei que lógica não é disciplina muito presente na política, mas vamos a uma lição básica: vamos dar um exemplo de silogismo, deixando a conclusão a cargo do leitor.

Quem diz que o bolsa família faz com que as pessoas deixem de procurar trabalho é imbecil e ignorante; (premissa maior)

Lulinha diz que o bolsa família faz com que as pessoas deixem de procurar trabalho; (premissa menor)

Logo, ... (conclusão)

Quebra de sigilo



"Caifás foi quem tinha aconselhado os judeus: "É melhor que um só homem morra pelo povo." - João 18, 14

Ótima essa declaração do secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, em depoimento à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, sobre a quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge: o secretário disse que os acessos aos dados tinham sido feitos por vários funcionários, e que ele sabia os nomes dos funcionários. Só que não iria revelá-los, pois essas informações estão protegidas por sigilo

“Protegidas por sigilo”, cara pálida? Quem é que é protegido por esse sigilo? Os funcionários que cometeram a irregularidade, ou aqueles que se beneficiariam dos dados fiscais para montar dossiês contra adversários? Curiosa inversão. Protegidas por sigilo deveriam estar as informações dos pagadores de impostos. O Estado te obriga a pagar, te obriga a fornecer dados. O mínimo que o Estado tem de fazer é impedir que estes dados sejam acessados por pessoas desautorizadas, sabe-se lá com que fins.

Note-se que o secretário da Receita afirmou também que não recebeu qualquer pedido do Ministério Público ou da Justiça para vasculhar as declarações de Eduardo Jorge: “Não tramitou no gabinete do secretário nenhum pedido de quebra de sigilo.”

Ou seja, os acessos não foram motivados por razão de serviço. Ah, mas quanto a isso a Receita divulgou nota oficial para informar que "o responsável pelo acesso imotivado estará sujeito à penalidade de advertência ou suspensão de até noventa dias."

O colunista político Merval Pereira, em artigo publicado no Globo de 09.07.2010 fez um comentário certeiro a respeito desta nota: “Esse tratamento burocrático de uma transgressão legal com fins políticos seria risível se não significasse mais uma ameaça ao estado de direito no país”.

Este lance todo me lembra o caso Watergate, quando, em 1972, foi descoberto um esquema de espionagem promovido pelo Partido Republicano, na presidência dos EUA com Richard Nixon, contra seus adversários do Partido Democrata. Lá, o caso assumiu proporções de grande escândalo político, obrigando Nixon a renunciar, em agosto de 1974. Havia naquele ato um flagrante abuso de poder, uma ameaça ao próprio regime democrático.

Aqui, o caso da Receita anda circulando pela décima página dos jornais, e o secretário da Receita, em depoimento ao Senado, pode se dar ao luxo de dizer que os nomes dos funcionários envolvidos está protegido por sigilo. “Não existe pecado / do lado de baixo / do Equado-or”.

Estado que desrespeita direitos individuais; Estado que usa seus serviços de informação, seus aparatos técnicos, fiscais, policiais, para espionar e esmagar os desafetos políticos do governante de ocasião, ou para favorecer os seus aliados, empresários, sindicatos, ONGs, movimentos sociais, militantes; um tal Estado com certeza não é um Estado democrático, republicano, seguidor do princípio da igualdade de direitos e da impessoalidade.

Um tal Estado flerta perigosamente com o totalitarismo. Experiências históricas mostram bem isso: o comunismo na Rússia, o fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, pra lembrar casos recentes. Todos mantinham suas polícias secretas, a cheka na Rússia, a Ovra na Itália, a Gestapo na Alemanha; a Alemanha Oriental teve a Stasi. Nós tivemos o SNI, nos nossos anos de chumbo. E Cuba tem a sua; e a Venezuela de Chavez também; e todos os Estados totalitários repetem este padrão de utilizar seus aparatos para espionar e esmagar opositores. Estes órgão estão liberados para cometer muitos crimes, fazer escutas ilegais, invadir residências, sequestrar, prender, torturar, fazer “desaparecer”... na propaganda oficial, em que os Estados totalitários também investem muito, justifica-se todo crime contra os adversários, ainda que de forma implícita, sub-reptícia.

A idéia que é veiculada por essa propaganda oficial é a de que o governante, o Partido, o líder, é o único Iluminado, o único bem intencionado, o único que sabe o que fazer para conduzir o povo, o único com a “chave” da História. Logicamente, só a estes Iluminados deve ser permitido o exercício do poder.

O outro lado desta moeda é a demonização da oposição. Se eles não viram a Luz, se eles são reacionários, burgueses, ou, por outro lado, se eles são comunistas comedores de criancinhas, neca de lhes permitir dar palpite por aqui. Contra estes vale todo o peso da lei, e, se não for o bastante, todo o peso do crime extra-oficial. É o mal menor, melhor que permitir a estes impuros, infiéis, alcançar o poder e prejudicar toda a sociedade, botar a perder todas as “conquistas” da revolução, do governo dos Iluminados...

Em oposição a este tipo de pensamento e de prática está o espírito republicano, democrático. Para este, os cidadãos são iguais, então possuem igual direito de votar e ser votado. A maioria define quem exerce o poder, sempre de modo limitado, sendo prevista a alternância.

É um espírito de moderação, que provoca asco e deboche de tantos Senhores da Verdade, fanáticos, radicais, que têm sozinhos a solução para todos os problemas. O espírito democrático não propõe uma “solução final”, ou algum “fim da História”. Defende o processo, um perene processo, em que os direitos dos indivíduos são preservados, o exercício do poder é contido, os problemas da sociedade, em cada época, encontram seu canal de solução e debate. Nunca pressupondo, como solução, o extermínio do “outro”, o diferente, o opositor.

Tampouco se propugna a necessidade de reinventar a roda, ou de botar fogo em tudo pra recomeçar do zero. Não se pretende uma reengenharia do homem, um super-homem, uma superação definitiva de conflitos, a perfeição neste Vale de Lágrimas, uma fórmula mágica que resolva tudo, que esclareça tudo, “A propriedade é um roubo!”, “Pelo fim da luta de classes!”, qualquer desses chavões simplistas...

Considera que certas idéias básicas devem gerar um consenso, e que o eventual ocupante do Poder Público deve preservar tal consenso. São elas: igualdade de direitos, direitos fundamentais preservados, limitação do Poder, alternância, liberdade de expressão, de voto, de associação, de trabalho... um ambiente de paz e de ordem, que permita o progresso através do trabalho honesto. A cada um de acordo com seu mérito, o que não significa absolutamente deixar para trás os que não forem tão bem sucedidos.

O complemento para o reconhecimento e a proteção das liberdades individuais é a extensão de certos bens e serviços para aqueles que, mesmo se dispondo a trabalhar honestamente, não foram favorecidos pela sorte, e têm a necessidade de um amparo, a ser dividido pela sociedade. Uma “rede de proteção social”, que impeça os resultados mais sombrios da miséria, da falta de esperança.

Educação de qualidade para estes cidadãos e seus filhos, rede hospitalar, oportunidade de emprego, complementação de renda... tudo isto pode e deve ser organizado pela sociedade. Não é em benefício exclusivo dos que são atingidos por tais medidas de amparo, mas uma sociedade que consegue se organizar para prover tal amparo, espera-se, atinge o seu próprio benefício, em termos de segurança, de desenvolvimento sustentado, de qualidade de vida de seus membros.

Bem diferente do clima de guerra, ódio e inveja, e fanatismo, estimulado por alguns aspirantes ao Poder absoluto, sem escrúpulos. Estes demagogos que estimulam qualquer baixo instinto da sociedade, em busca do aplauso fácil. Brincam com fogo, e às vezes são devorados pelo monstro que criam. A História anda em círculos, tristemente. Enfim... “A História é um pesadelo, do qual tentamos acordar.” – James Joyce

Além do bem e do mal




William Blake: Nabucodonosor


“Todas estas coisas vieram sobre o rei Nabucodonosor.
Ao fim de doze meses, quando passeava no palácio real de babilônia,
Falou o rei, dizendo: Não é esta a grande babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha magnificência?
Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino.
E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo domina sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer.
Na mesma hora se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor, e foi tirado dentre os homens, e comia erva como os bois, e o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pelo, como as penas da águia, e as suas unhas como as das aves.
Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração.
E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?
No mesmo tempo tornou a mim o meu entendimento, e para a dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; e buscaram-me os meus conselheiros e os meus senhores; e fui restabelecido no meu reino, e a minha glória foi aumentada.
Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu; porque todas as suas obras são verdade, e os seus caminhos juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba.” - Daniel, 4, 28-37

“Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” - Marcos, 8, 36

“Sempre Nietzche. Pessoas que não elaboraram em si uma clara visão do mundo, que separe o bem e o mal. Antes se intimidavam, ficavam à procura, mas agora, acreditando encontrar-se além do bem e do mal, permanecem aquém, isto é, quase uns animais “ - Leão Tolstoi



Leio na Veja de 21.07.2010 que foi lançado um filme, Vincere! (Vencer!), do cineasta italiano Marco Bellocchio, sobre um episódio obscuro da biografia do ditador Benito Mussolini: a história de sua primeira esposa, Ida Dalser, e do filho que tiveram, Benito Albino Mussolini.

Ida conheceu Mussolini em 1909; era dona de um salão de beleza em Trento, no norte da Itália, e vendeu tudo que possuía para financiar o jornal Il Popolo d´Italia, instrumento de Mussolini em sua busca pelo poder. Mas Mussolini casou-se uma segunda vez, o bígamo, com Rachele Guidi. E, para evitar o constrangimento de ser confrontado com seu passado, e os prejuízos à sua carreira política daí decorrentes, procedeu à sua particular reescritura da História: sua polícia secreta sequestrou os documentos referentes a Ida e seu filho, e os internou à força em manicômios distintos, onde viriam a morrer. O filho, aos 26 anos, sendo obrigado a tomar injeções de drogas potentes. Um pequeno sacrifício para que o grande homem ficasse livre para realizar seus desígnios superiores: levar o povo italiano a uma tirania opressiva e a uma guerra ruinosa.

O caso permaneceu obscuro até poucos anos atrás, quando o jornalista Marco Zeni conseguiu desencavá-lo em todos os detalhes sórdidos. Mas não devemos nos levar por preconceitos pequeno burgueses, reacionários. Maquiavel já nos ensinava que o Príncipe deve ter uma moral pública distinta da moral privada. Na luta pela conquista e manutenção do poder, ele não se deveria deixar embaraçar pela moral convencional de seus súditos, esses otários. Falar uma coisa, fazer outra. Salvar as aparências. Se o documento é destruído, se a oposição é suprimida, se o filho está trancado no manicômio, quem vai falar diferente?

Ousadia, violência, eram os lemas fascistas. Vontade, no lugar do intelecto. Vontade de potência, como dizia Nietzsche. Pensar atrapalha muito, dá trabalho. Nada de discussões e de Parlamento, nada de democracia. Melhor o líder enérgico, decidido. Lenin já mostrara o caminho das pedras, ao tomar o poder na Rússia, em 1917: ousadia, decisão firme, deixar de lado os escrúpulos. O grupo iluminado, o líder iluminado. Os detentores do pensamento “certo”, da fé “certa”. Podiam não ser a maioria, mas tinham os rifles, e ocuparam o comando da polícia e do exército. Podiam não ser a maioria, mas sabiam o que era bom para o povo: detinham a “chave da História”. Podiam fechar o Parlamento, para quê Parlamento? Podiam esmagar a oposição, para quê oposição? Se os “bons” já estavam no Poder, para quê mudar? Quem desejasse uma coisa dessas só podia ser louco, estúpido, ou mau mesmo. Um reacionário, conservador, argh!, um tipo desses que atrasa a marcha da História, que impede o Paraíso na Terra.

Manicômios, Campos de Reeducação, Gulags ou Paredões para estes! Justificam toda a santa ira dos justos!

Aliás, Mussolini tinha sido um socialista na juventude. Mais tarde é que ele percebeu que as “condições objetivas” para a tomada do poder favoreciam mais aos que exploravam o medo da sociedade italiana de cair numa ditadura socialista. Mussolini mudou de ideologia como quem muda de camisa, mas o corpo debaixo da roupa permaneceu o mesmo: a mesma vontade de poder absoluto, a mesma determinação para instaurar uma ditadura. Ele o líder, “il duce”, o Führer. Absolutamente, eternamente. Ou até a morte, porque da morte ninguém escapa. Oposição pro buraco. Depois se reescreve a História, aqui e ali, e sempre tem uns bobos pra engolir.

Pronto. Estava definido o padrão para justificar e implantar as ditaduras. Em 1923 a Espanha seguiria o roteiro, com Miguel Primo de Rivera. Em 1928 foi Portugal, com Antonio de Oliveira Salazar. Em 1933, Hitler, na Alemanha. Também em 1933, a Áustria seguiu a onda com Engelbert Dollfus e, após seu assassinato, com seu colaborador Kurt von Schuschnigg. Em 1934 foi a vez da Letônia. Seguiu-se a Bulgária em 1935, a Grécia em 1936, a Romênia em 1938. As democracias européias agonizavam.

Pelos lados do Trópico de Capricórnio também sofríamos as guerras cruentas pelo poder, e os golpes “salvadores”. A velha gangorra entre anarquia e ditadura. A Argentina teve seu golpe em 1930 com o general José Félix Uriburu. O Paraguai, em 1940, com o general Moriñigo. No Brasil tivemos o Estado Novo, com Getúlio Vargas, em 1937.

Esta relação, claro, não se pretende exaustiva; possui fins meramente ilustrativos.

Os ataques à democracia desembocariam na Segunda Guerra Mundial, e se prolongariam na Guerra Fria. Mas mesmo depois da queda do muro de Berlim e do esfacelamento da União Soviética, não se atingiu qualquer “fim da História”. A tentação totalitária está sempre rondando, torcendo por crises e guerras pra botar suas manguinhas de fora.

Humano, demasiado humano.

domingo, 25 de julho de 2010

O PT e as FARC



Não vos enganeis: as más companhias corrompem os bons costumes – 1Cor 15.33

O ser humano entregue à sua natureza, porém, não percebe as coisas do espírito de Deus; são para ele loucura, e não pode entendê-las, porque é preciso julgá-las espiritualmente – 1Cor 2.14


O candidato a vice presidente na chapa de José Serra, Índio da Costa, levou pancada de todo lado, até, o que é engraçado, de seus aliados, quando relacionou o PT (Partido dos Trabalhadores) e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Está certo que ele foi agressivo, ao usar sua borduna. Os nobres cavalheiros que dividem o Poder não estão acostumados a ataques tão agressivos entre si. Toda organização tem seus códigos de ética próprios, até a Máfia tem sua ormetá. Pode-se matar, roubar, estuprar. Mas não mexa com a ormetá, ou você está morto. Vendetta.

Acabou que o experiente José Serra teve uma conversa com o Índio, e acalmou seu furor guerreiro. Saiu-se bem, disse que Índio acertou ao criticar a companhia do PT com as FARC, mas eximiu-se de fazer associações diretas do PT com o narcotráfico e a guerrilha criminosa.

Até porque a associação do PT com as FARC é pública e notória. Não dá pra negar, por exemplo, que Dilma Rousseff contratou a esposa do Padre (?) Olivério Medina, membro das FARC, desde 2006 morando no Brasil, na condição de “refugiado político”, para trabalhar no Ministério da Pesca (neste link tem uma informação extensa sobre este e outros episódios relacionados: http://hobbytrem.blogspot.com/2010/05/quem-sao-dilma-rousseff-lula-e-oliverio.html); como também não dá pra negar que o Governo Lula deixou de atender a um pedido do Governo colombiano, que enfrenta uma guerra há tantos anos com as FARC, para que passasse a considerar as FARC oficialmente como organização terrorista.

Houve relatos nos jornais sobre dinheiro das FARC financiando campanhas eleitorais petistas. As FARC e o PT, entre outras organizações, assinaram juntos um documento de fundação do Foro de São Paulo, organização que se propunha, em termos gerais, fazer o mundo se curvar às glórias do comunismo. Na posse do governador petista Olivio Dutra no Rio Grande do Sul, em 1999, líderes das FARC foram recebidos oficialmente no Palácio Piratini. Neste Estado, neste Governo, se organizou um desses eventos Forum Social Mundial (do tipo “Por um mundo melhor”, se é que me entendem...), sendo que um integrante das FARC foi convidado a fazer discursos, e mereceu inclusive um esquema de segurança especial da polícia gaúcha durante sua estada por estas plagas.

Com tudo isso, fazer a mínima associação de PT e FARC é anátema. É coisa de direitista raivoso, é indelicado, é fantasioso. A Justiça Eleitoral já proibiu o Serra em 2002. Veja: http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/07/21/acusacao-de-elo-pt-farc-ja-rendeu-punicao-do-tse-a-serra-veja-historico.jhtm.

E agora, com o caso do Índio, não ficou por menos: o presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que o Índio era um “medíocre”; o ex-ministro do Planejamento de Lulinha, Paulo Bernardo, disse que o Índio era um “idiota”. Já vociferaram com vários processos. Deve ser a tal liberdade de expressão à cubana.

Quanto às FARC, também me lembro, casualmente, de alguns fatos que foram noticiados pelos jornais. Eu lembro desde criança, por exemplo, de algumas notícias em destaque nas manchetes, de diversos políticos, juízes, policiais, que eram assassinados, na Colômbia, por este grupo guerrilheiro e por outros, Exército de Libertação Nacional (ELN) e Movimento Revolucionário 19 de abril (M-19). Mas as FARC são o grupo guerrilheiro mais famoso, o que dá mais trabalho.

Olhando rápido a internet, temos também a informação de que as FARC sequestraram seis mil pessoas (6.000!!!!??!!!!), nos últimos dez anos. Uma notícia famosa e recente (de 2008) foi a da libertação da ex-senadora Ingrid Betancourt, mantida refém das FARC por mais de seis anos. Nesta ocasião, saíram reportagens com detalhes sombrios do tempo em que Ingrid foi mantida prisioneira, na selva, acorrentada num tronco de árvore...

Também famosa foi a associação do traficante de drogas Fernandinho Beira Mar com as FARC. Numa sua declaração, as FARC não têm nada de político, querem só ganhar muito dinheiro com o tráfico de armas e de drogas. Mas também me lembro de uma notícia, essa a mais triste, de as FARC assumindo a autoria de um atentado a bomba em um shopping center colombiano. Muitas vítimas, crianças inclusive, mas os radicais acharam que era uma boa lição pra esses burgueses alienados que fazem compra em shopping center, este símbolo do imperialismo capitalista ianque, que ainda tem a ousadia de ser muito conhecido pelo seu nome em inglês... shopping center... cusp! tudo bem, mas vai botar bomba e achar que tem razão? Então vá para a cadeia, responda por seus atos! Senhores “mundos melhores”. Vejam o link http://veja.abril.com.br/120303/p_066.html

A nova treta das FARC agora é com o governo venezuelano de Hugo Chavez, que lhes vem prestando auxílio, inclusive abrigando acampamentos de guerrilheiros em seu território. Periga até de acabar numa guerrinha dos nossos vizinhos...

Para quem quiser informação mais extensa sobre as FARC: http://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7as_Armadas_Revolucion%C3%A1rias_da_Col%C3%B4mbia

Eu, na minha modesta opinião, não sou alto dirigente político, não sou esperto como Maquiavel, mas preferia que o PT, e qualquer partido, ficasse bem longe das FARC. Preferia que não se justificasse ou se glorificasse a violência como solução política, principalmente nos casos em que ela é exercida contra governos em que ocorrem eleições, e se reconhecem direitos fundamentais. Preferia, ainda mais, que nenhum partido político ou governo fizesse negócios com assassinos, terroristas, sequestradores. Mas, como disse, sou um ingênuo, ou tonto, político, como preferir.

Para falar o óbvio, tipo “O REI ESTÁ PELADO!”, requer uma criança de cinco anos, ou quem sabe, um silvícola sem noção.

Nota: O quadro é O Triunfo da Morte, de Bruegel, o Velho

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Day at the Races [The swing]



O genial Harpo Marx, feliz como o diabo gosta, espalhando a anarquia de seu humor, no filme Um Dia nas Corridas.

Hollywoodiano, sim, mas considere que na época os filmes tinham de excluir as cenas com negros para serem exibidos para as platéias do sul dos Estados Unidos!

Só fera



Mick Jagger e Jeff Beck fazendo versão pra Foxy Lady, do Jimi Hendrix

Mas o original é incomparável:

Tina Turner & Mick Jagger , Brown Sugar




clássico

Açúcar mascavo

Navio negreiro da Costa do Ouro
Em direção dos campos de algodão

Vendidos num mercado
Em Nova Orleans

O velho feitor com cicatriz sabe que está mandando bem
Ouça-o chicotear as mulheres por volta da meia noite

Ah, açúcar mascavo,
Como você é tão gostoso!

Ah, açúcar mascavo,
Doce igual uma menina nova...

Tambores batendo frio
Sangue inglês correndo quente

Senhora dona de casa
Imaginando onde isso vai parar

O garoto de casa sabe que está mandando bem
Você devia tê-lo ouvido por volta da meia noite

Ah, açúcar mascavo,
Como você é tão gostoso!

Ah, açúcar mascavo,
Doce igual uma menina negra...

Eu aposto que sua mamãe
Era estrela num show de bordel

E todos os seus namorados
Eram doces adolescentes!

Eu não sou garoto de escola
Mas eu sei o que eu quero

Você devia ter me ouvido
Lá por volta de meia noite

Ah, açúcar mascavo,
Como você é tão gostoso!

Ah, açúcar mascavo,
Doce igual uma menina negra...


Nota: açúcar mascavo é gíria para heroína, ou para garota negra, de que fala a letra? Você decide a versão que preferir

Castles Made of Sand- jimi hendrix



uma das minhas favoritas do grande mago da guitarra

LIVE AID Mick Jagger & Tina Turner



Sr. e Sra. Energia

Grande show

Eu sei, é só rock n´roll, mas eu gosto...

david bowie - like a rolling stone



rock!

Mundo



Que pena, mundo, nenhuma contestação séria surgindo? Nenhum movimento consequente de contestação?

Acabaram os beatniks, acabou a poesia. Não temos Iluministas, filósofos, pensadores políticos.

Acabou Hobbes, acabou Locke, acabou Rousseau, acabou Montesquieu, acabou Sócrates, acabou Platão, acabou Aristóteles, acabou Agostinho. Acabou até Marx, e olha que só se fala nele!

Tudo está congelado. O Governo de um lado; a rebeldia previsível, consentida, do outro. Malucos se entopem de droga, massas são manobradas, conduzidas, pela propaganda, a não esperar nada mais de suas vidas que uma eterna juventude, carrão, mulheres dadivosas, super-herói, agente secreto... imbecilizados por qualquer filme de ação porcaria, que vende milhões.

Nada mais a esperar, num mundo sempre mais urgente. Viver com o que lhe sobra do sistema, agradecer por um pedacinho que lhe caiba nele. Mas não se mover para influir nele, para melhorá-lo. Não ser dono do próprio destino, porque se considera impossível fazer parte da comunidade, para melhorá-la.

Tristes existências solitárias do ser humano neste século de introversão ao próprio umbigo!

Nada a esperar, nada pra fazer! No máximo, um lamento num bar, um deboche qualquer, um tiro na cabeça, ou alguma loucura.

Torcer para a sorte, para não ser mais uma vítima de bala perdida! De achaques violentos, de abusos de autoridade, de falências por roubalheiras, de corrupção e inépcia!

Torcer para não experimentar o fracasso de ver um filho se tornar um criminoso impudente. Ou, bem pior ainda, ver um filho ser apanhado pelos crimes que cometeu...

Eles são do Poder, nós somos nada. Está tudo congelado. Só existe um sonho permitido, só existe um caminho: Perder a Alma! Velho sonho de Fausto... só existe o sonho de ser um rock star, ou um pop star, ou um anarquista, ou um guerrilheiro, ou um criminoso, ou um yuppie... é o sucesso!

A engrenagem te chama. Você não vai mudar a engrenagem, a engrenagem vai devorar você.

Guerras contra as drogas! Guerras contra tribos! Guerras contra raças, contra classes! A Humanidade precisa de guerras! Está sempre justificando as guerras!

É o medo, o maldito medo! Aquele miserável ali me ameaça, me amedronta, eu preciso acabar com ele!

E giram os grandes negócios, os grandes discursos dos grandes líderes, giram as peças na engrenagem, mas nunca se produz solução alguma! Que solução, quando se vai gastar TRILHÕES DE DÓLARES pra fabricar tantas armas, pra negociar tantas compras, tantos contratos! Quantas boquinhas ávidas por tanto SUCESSO!

As Universidades não pensam. Os pensadores não pensam. Todos ganham dinheiro, gastam dinheiro. Mas está tudo congelado.


Bem vindo, meu filho
Bem vindo
À engrenagem

Onde você esteve?
Não precisa dizer
Nós sabemos onde você esteve

Você esteve nos canos de construção
Matando o tempo

Provido de brinquedos
E o manual do escoteiro mirim

Você trouxe uma guitarra
Pra punir sua mãe

Você não gostava da escola
Você sabe que não é o tolo de ninguém

Bem vindo, meu filho
Bem vindo
À engrenagem

O que você sonhou?
Não precisa dizer
Nós te dizemos o que sonhar

Você sonhou ser uma grande estrela
Que tocava uma guitarra selvagem
Sempre comia no churrasco da moda
Adorava dirigir no seu Jaguar novo

Então bem vindo
À engrenagem

http://www.youtube.com/watch?v=Am-IJ1k_NwE&feature=related

Brasil

Vivemos tempos perigosos, vivendo num Estado em que vale tudo. Um Estado sem Lei, ou melhor dizendo, um Estado em que a Lei é letra morta.

Isto acontece em razão da impunidade generalizada. Principalmente quando ela ocorre nas esferas mais altas, e à vista de todos.

O grande mau exemplo de corrupção e podridão por todos os cantos, e nada dar em nada. Processos que se arrastam por décadas, provas contundentes afastadas com um palavrório qualquer, com uma canetada, com um dar de ombros indiferente à opinião pública.

Casos grotescos. Estupros. Assassinatos, os mais brutais. Gravações. Fotos. Pilhas de dinheiro. E nada dar em nada. O que é isso? Como levar a sério uma coisa dessas? O que é isto de exemplo pra nossos filhos? A grande vergonha que acomete o país, poder a psicopatas, a inúteis que não pensam em nada, que não ligam pra nada, deslumbrados pelo dinheiro.

Num país de ignorância. Últimos lugares em provas internacionais de educação. Num país de desigualdade social extrema. Últimos lugares do mundo. Não se poderia esperar coisa muito diferente mesmo.

Enquanto não resolvermos nosso problema de impunidade gritante, não poderemos sentir qualquer orgulho de termos construído um país decente.



http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/pms-que-abordaram-atropelador-de-rafael-mascarenhas-teriam-pedido-r-10-mil/1306110/

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Bob Marley - redemption song acustic



E por falar em Bob Marley, segue a tradução pra Redemption song:

Velhos piratas, sim, eles roubam eu
Vendem eu pros navios mercantes

Minutos depois que levaram eu
Pro poço que nã tinha fundo

Mas minha mão foi feita forte
Pela mão do Todo Poderoso

Nós avançamos nessa geração
Triunfalmente

Você não vai me ajudar a cantar
Essas canções da liberdade?

Porque são tudo que eu jamais tive:
Canção da redenção

Emancipem a si mesmos da escravidão mental
Ninguém além de nós mesmos pode libertar nossas mentes

Não tenho medo da energia atômica
Porque nada disso pode fazer o tempo parar

Por quanto tempo mais eles matarão nossos profetas
Enquanto ficamos de lado assistindo?

Alguns dizem que é só uma parte do todo
Você precisa ler o livro até o final

Você não vai me ajudar a cantar
Essas canções da liberdade?

Porque são tudo que eu jamais tive:
Canção da redenção...

Bob Marley - Like a Rolling Stone



Versão de Bob Marley e os Wailers para Like a rolling stone, do Bob Dylan. Pelos comentários, parece que o vocalista principal nesta música é Bunny Wailer, e Bob Marley participa dos vocais de apoio.

A letra foi bem mudada, embora o espírito seja o mesmo, e o refrão também.

No mais, vou reproduzir o comentário escrito por quem postou o vídeo, e fez um interessante clipe, um brasileiro, dudumotion: “Rare recording from Bob Marley and the wailers singing in 1966 their version of Like a Rolling Stone, originally recorded by the other genius Bob Dylan - Gravação rara de Bob Marley and The Wailers cantando em 1966 sua versão de Like a Rolling Stone, originalmente gravada pelo outro gênio Bob Dylan.”

Brasil

O que poderia, afinal, ser feito?

Um trabalho sério, profissional, objetivo, isento, da Receita Federal, partiria de um levantamento de dados. Por exemplo, os postos de gasolina de uma determinada região. Digamos que seu lucro anual médio seja de 20%. Uns lucram 15, outros 25, a média é de 20%. Esclareço logo que nada sei de médias de lucro anual de postos de gasolina, estou dando um exemplo hipotético.

Pois bem. Nessa região aparece um posto com lucro de 200%. Ora, ora, que interessante, vamos ver isso... a quem pertence o posto? Que coincidência, pertence a um político, um deputado federal! Não importa, ele se afastou muito da média, vamos instaurar um procedimento de averiguação (é hipotético, já disse).

Cadê o gerente? E o livro-caixa? Cadê as notas fiscais? E o contador? E os registros?

Ah, está tudo em ordem? Que maravilha, meus parabéns! Você conseguiu superar a feroz concorrência, e ainda os entraves burocráticos, o manicômio tributário, a engessante legislação trabalhista, e mais os outros custos Brasil, e ainda ter este lucro extraordinário? Você merece cada centavo obtido! Meus parabéns pelo seu tino para os negócios, você é um exemplo!

Ah, mas não tem nada em ordem? As notas fiscais são falsas, o gerente é um laranja, não tem nem bomba de gasolina? Não tem nem posto, o endereço dado é um terreno baldio? Ah, então vêm multas, processos, prisão...

Claro que eu sei que tudo isso é um pensamento primitivo, ingênuo, idealista, como preferir cinicamente chamá-lo. Talvez na Suécia, talvez na Suíça, qualquer lugar longe daqui!

Também é verdade que eu não sou técnico da Receita, nem sou qualquer especialista. Sou um reles sujeito da esquina, ou melhor, aquela criança de cinco anos. Mas a nossa Constituição diz que "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato"; e “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (art. 5, incisos IV e IX). Continuarei, então, fazendo perguntas de criança de cinco anos.

Mas não vá você ou eu, sujeitos da esquina, sujeitinhos comuns, esquecermos uma vírgula na nossa declaração de renda!

domingo, 18 de julho de 2010

Brasil



É isto, então. Funciona assim e temos de conformarmo-nos. Deixar pro futuro que nos traga tempos talvez melhores. Enquanto isso amargaremos as enchentes e os desabamentos.

A corrupção é a praga dos nossos tempos. Com seu cavalo de fogo, com sua foice, com seu esqueleto. O Apocalipse chegou, é agora e aqui. Mantém-nos hipnotizados, pensamos até que estamos ganhando, agimos com indiferença. E na realidade ganhamos o veredito de que não sabemos lidar com nossas deficiências.

Na capa da revista Época desta semana, o milagre da multiplicação do patrimônio dos políticos. 744% ao ano, 322% ao ano, 292% ao ano, 280% ao ano... são os 25 políticos que tiveram maior evolução patrimonial durante os seus mandatos. São deputados federais, estaduais, senadores, governadores. De filiação partidária diversificada (aliás, como se inventa partido! Tem Partido saindo pelo ladrão! Opa!): são cinco do PMDB; 6 do PT; 2 do PDT; 2 do PP; 2 do PR; dois do PSB; 1 do PMN; três do PRB; um do PSDB e um do PTB. Ufa! O menos eficiente e bem sucedido destes 25 políticos evoluiu seu patrimônio a uma média de 76% anual. A mais eficiente, Angela Amin, governadora de Santa Catarina, evoluiu seu patrimônio a 774% ao ano. De um patrimônio de R$ 2.500,00, em 2006, hoje ela pode gozar de bens no valor de R$ 1,6 milhão. Não sei quanto ganha o governador de Santa Catarina, mas digamos que sejam 10 mil por mês. São 130 mil por ano, incluindo o 13 salário. Sei que para alguns políticos são concedidos 14s e 15s salários, mas estamos simplificando, vamos considerar só o usual 13. Em quanto tempo como governador você acumularia 1,6 milhão? Resposta: 12 anos e uns quebrados. Isto, é claro, considerando que você economizou tostão por tostão o que ganhou. Não pagou nadinha de nada por comida, aluguel, gasolina, telefone, motorista, mordomo, segurança, etc. etc. Tá certo que pra políticos muitos destes itens saem mesmo de graça. Mas pra nossa conta de 12 anos e pouco ficar certa, o político não pagou nada mesmo! Nem um cafezinho na rua nem um presente pro padrinho. Economizou tudinho do salário de 10 mil. Em 12 e poucos anos ele chegou a juntar o 1,6 milhão.

Mas a eficiente governadora fez melhor: nem precisou esperar 12 anos! Quatro anos foram o bastante!

É claro que que a governadora, bem como todos os políticos, não justificam sua evolução patrimonial só com o que recebem de salário pelo seu trabalho de políticos. Sempre têm algumas empresas, ou algumas fazendas, ou alguma sociedade, ou receberam alguma herança milionária... Também é comum que tenham generosas pensões, aposentadorias acumuláveis, 2s e 3s matrículas... tudo na forma da lei!

Mas surpreende como os negócios desenvolvidos por essas empresas de políticos rendem bem! Este é o verdadeiro milagre econômico! Todo político parece ter o toque de Midas! Aquele rei mitológico, que pediu e recebeu a bênção de tornar ouro tudo que tocasse. Só que a bênção era maldição, e Midas morreu de fome, porque transformava em ouro todo alimento que tocava.

Os empreendimentos dos políticos não enfrentam tempo ruim! Nada de falências, concordatas, brigar pra agradar o cliente, fazer investimento, assumir riscos, decidir, trabalhar... Nao! Basta um olho no seu trabalho como deputado, governador, senador, e um olho nos outros negócios, pra eles renderem 100%, 200% por mês. É o toque de Midas, estou falando! Eles devem ser capazes de vender gelo pra esquimó, ou pedra pra nordestino morrendo na seca! Fazem negócios da ordem de um Bill Gates, mas ninguém sabe qual foi o Windows que inventaram!

Mas nada disso é estranho, nada disso surpreende, nada disso gera repúdio, investigação, punição, cadeia... é natural como as enchentes e desabamentos que volta em meia ceifam vidas às dezenas; nossos políticos podem apresentar notas fiscais falsas à Justiça, comprovadamente falsas, e não ir pra cadeia. Não é hipótese, é fato que já ocorreu. Aliás, não só não vão pra cadeia. Continuam em seus cargos, usufruindo de toda vantagem. É fato. Também vemos policiais que ganham 2 mil por mês andando em carros importados de 200 mil. Tudo fato, e mais que fato, comum, usual, "normal", no país que, como disseram, “não é sério”.

Então, aprenda a mensagem: não me venha sonhar com um país dentro da honestidade e da Justiça! É pão e circo, futebol e cachaça, e olhe lá! Tá arriscado até a faltar o pão! Futebol e cachaça, e cala essa boca! Honestidade e Justiça não são pro teu bico, zé povinho! Sabe com quem tá falando? Cala essa boca, senão te meto uma bala, ou te meto um processo! Na verdade, eu não, porque eu tenho gente pra fazer isso pra mim! Agora, se você jogar o jogo, e entrar na dança, aí eu posso te arrumar um empreguinho, uma diretoriazinha, algo assim... amanhã eu venho cobrar o favor, uma mão lava a outra...

E assim vivemos nossa realidade de pesadelo. “Não houvera sido melhor permaneceres no teu leito macio e arrastar a vida de um verme, visto ser a única de que te achas digno?” - Epicteto.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Brasil



Ah, Brasil, esta figura de Grande Papai corrupto! Velho que não larga o Poder, Velho Louco Saturno devorando os seus filhos!

Governantes eternamente incrustados no Poder! Não largam do osso, não largam por nada. Estão há 30 anos, estão há 40 anos, estão há 50 anos, no Poder? Não importa, serão cadáveres ambulantes, agarrando suas almas para não partir, mas vão continuar no Poder!

Estes anos todos em que tiveram este todo Poder não lhes bastou para fazer a população sob sua guarda progredir nem um pouco. Eles amargam vidas e mortes as mais miseráveis. Índices de Gana, índices de Butão, índices dos países menos desenvolvidos no mundo. Mortalidade infantil, podridão e ignorância. Mas não pro Grande Papai e pra não pra corja do grupinho em volta dele! Não, pra eles toda a corrupção, todo o golpe, toda a negociata, todo milhão que não dá pra explicar de onde veio, tudo isso é válido! Tá valendo! Só querem andar de helicóptero, pra não ver o fruto belo de seu povo!

Nessa época de lembrar 20 anos da morte de Cazuza, e a recente morte de Ezequiel Neves:

http://www.youtube.com/watch?v=7AkEQM9AdEY

rock n´roll can never die!

EXTRA! EXTRA! MATERIAL FORTE!



A tradução para The Lonesome Death of Hattie Carol, de Bob Dylan. Música do terceiro disco de Dylan, de 1964, The times they are a´changin´. O disco mais totalmente engajado, mais "canção de protesto" da sua carreira, embora eu saiba a resposta de Dylan pro fã que lhe cobrou mais canções de protesto: "Elas são todas de protesto, cara".

A Solitária Morte de Hattie Carol foi composta em cima de um fato real. Em 1963, um fazendeiro rico, William Zantzinger, bêbado, acertou um cano na cabeça de uma empregada de hotel negra, mãe de 10 filhos, com 51 anos. Tendo Hattie Carol morrido, Zantzinger foi julgado pelo crime e condenado a seis meses de prisão.

A história é todinha contada na letra da música, mas a letra não é só isso. Ela faz uma crítica acerba à impunidade, que pode afetar qualquer país, a qualquer tempo. Afeta muito o nosso.

Não foi a única vez que Bob Dylan usou um caso real para falar sobre o tema. Na famosa Hurricane ele conta a história do boxeador negro Ruby Carter, condenado, e depois inocentado, pelo assassinato de quatro pessoas. Já publiquei no blog um vídeo dessa música, com legendas, do You Tube.

Mais detalhes sobre a história de Hattie Carol, em inglês, neste link: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Lonesome_Death_of_Hattie_Carroll

Dylan, com sua arte, com sua liberdade de expressão, imortalizou um caso que envergonha a História de sua nação. Não tivesse dado motivos pra sentir vergonha, a nação. Quem critica espera que o objeto da crítica se confronte com seus atos, para mudá-los. Quem ama critica, com honestidade. Tantos hipócritas, Tartufos, que acusam e perseguem, chegam até a crucificar, quem quer que ouse criticar, enquanto se enterram na corrupção! Ladrões safados!

Fantástica música, fantástica letra. Aproveitem a versão do You Tube, com o próprio Dylan ao vivo. Raridade, pois a gravadora restringiu brutalmente o acesso a vídeos do Bob Dylan no You Tube. Que pena para os que querem usufruir da arte! Imagina, por exemplo, se proibissem reproduções, por exemplo, da Mona Lisa?



A solitária morte de Hattie Carol

William Zantzinger
assassinou a pobre Hattie Carol

Com um cano que ele rodopiava
à volta do dedo com anel de diamante

Em um hotel de Baltimore
que reunia a nata da sociedade

E os policiais foram chamados
E sua arma tirada dele

e o levaram sob custódia
Até a delegacia

E ficharam William Zantzinger
Por assassinato em primeiro grau

Mas você, que filosofa sobre a desgraça
E critica todos os medos

Tire o sorriso superior de seu rosto
Agora não é a hora pras suas lágrimas

William Zantzinger, que à idade de 24 anos,
é proprietário de uma fazenda de tabaco de 600 acres

Com pais ricos e abastados
Que o provêem e protegem

E com relações com o alto escalão
Na política de Maryland

Reagiu ao seus ato
Com um dar de ombros

E palavrões e escárnio
E suas língua grunhia

Em questão de minutos
Estava livre em fiança

Mas você, que filosofa sobre a desgraça
E critica todos os medos

Tire o sorriso superior de seu rosto
Agora não é a hora pras suas lágrimas

Hattie Carol era uma empregada
na cozinha

Ela tinha 51 anos
E deu à luz dez filhos

e tirava a louça
E jogava fora o lixo

E nunca sentava
à cabeceira da mesa

e sequer dirigia a palavra
Pra qualquer um da mesa

Que apenas limpava
toda a comida na mesa

E esvaziava os cinzeiros
num nível totalmente distinto

foi morta por um golpe
destroçada por um cano

que voou pelo ar
e desceu naquele quarto

Condenado e determinado
A destruir toda a gentileza

E ela nunca fez nada
Pra William Zantzinger

Mas você, que filosofa sobre a desgraça
E critica todos os medos

Tire o sorriso superior de seu rosto
Agora não é a hora pras suas lágrimas

Na Corte de Honra
o juiz bateu com seu martelo

para mostrar que todos são iguais
e que a Corte se mantém neutra

e que a vontade da Lei
não é manobrada ou persuadida

e que mesmo os nobres
recebem tratamento adequado

uma vez que a polícia
os caçou e prendeu

e que a escada da Lei
não tem fundo nem topo

Encarou a pessoa
que assassinou sem motivo

que por acaso e sem aviso
apenas se sentiu desse jeito

E ele falou por detrás de sua capa
Tão profunda e distintamente

E proferiu palavras fortes
sobre penalidade e arrependimento

pra condenar William Zantzinger
com uma sentença de seis meses

Ah, mas você, que filosofa sobre a desgraça
E critica todos os medos

Tire o sorriso superior de seu rosto
Agora é a hora pras suas lágrimas



The Lonesome Death Of Hattie Carroll
Bob Dylan
William Zantzinger killed
Poor Hattie Carroll with a cane
That he twirled around his diamond ring finger
At a Baltimore hotel society gath'rin'
And the cops were called in
And his weapon took from him
As they rode him in custody down to the station
And booked William Zantzinger
For first-degree murder
But you who philosophize disgrace
And criticize all fears
Take the rag away from your face
Now ain't the time for your tears

William Zantzinger, who at twenty-four years
Owns a tobacco farm of six hundred acres
With rich wealthy parents
Who provide and protect him
And high office relations
In the politics of Maryland
Reacted to his deed
With a shrug of his shoulders
And swear words and sneering
And his tongue it was snarling
In a matter of minutes on bail was out walking
But you who philosophize disgrace
And criticize all fears
Take the rag away from your face
Now ain't the time for your tears

Hattie Carroll was a maid of the kitchen
She was fifty-one years old
And gave birth to ten children
Who carried the dishes and took out the garbage
And never sat once at the head of the table
And didn't even talk to the people at the table
Who just cleaned up all the food from the table
And emptied the ashtrays on a whole other level
Got killed by a blow
Lay slain by a cane that sailed through the air
Came down through the room
Doomed and determined to destroy all the gentle
And she never done nothing to William Zantzinger
But you who philosophize disgrace
And criticize all fears
Take the rag away from your face
Now ain't the time for your tears

In the courtroom of honor
The judge pounded his gavel
To show that all's equal
And that the courts are on the level
And that the strings in the books
Ain't pulled ‘n persuaded
And that even the nobles get properly handled
Once that the cops have chased after
And caught 'em
And that the ladder of law has no top and no bottom
Stared at the person who killed for no reason
Who just happened to be feelin' that way
Without warnin'
And he spoke through his cloak
Most deep distinguished
And handed out strongly
For penalty and repentance
William Zantzinger with a six-month sentence
Oh, but you who philosophize disgrace
And criticize all fears
Bury the rag deep in your face
For now's the time for your tears

Bob Dylan - From a buick 6 - Tradução

Esta homenagem de Dylan pra sua mulher, em forma de blues em compasso de 12 acelerado. Veio no ótimo álbum Highway 61 Revisited, de 1965. Feministas que implicaram com a letra perderam o espírito da coisa. Porrada:

http://www.youtube.com/watch?v=RnD5xw-hHpg


Eu tenho essa mulher que vira a noite
Cê sabe: ela cuida das minhas crianças

E essa mamãe cheia de espírito
Cê sabe: ela me mantém seguro

Ela é um anjo do ferro-velho e ela
Sempre me dá pão

Cê sabe: se eu estiver caindo morto
Ela é capaz de me colocar um cobertor na cama

Bom, quando o cano de óleo arrebenta e eu
Estou perdido na ponte sobre o rio

Eu estou todo arrebentado na auto-estrada e
quase me afogando

Esta garota chega pelo caminho
Pronta pra me costurar os pedaços com linha

Bem, se eu estiver caindo morto
Cê sabe: ela é capaz de me colocar um cobertor na cama

Bem, ela não me deixa nervoso ela
Não fala em demasia

Ela caminha que nem o Bo Didley e
ela não precisa de nenhuma muleta

Ela mantém essa minha espingarda
Toda carregada com chumbo

Se eu estiver caindo morto
Cê sabe: ela é capaz de me colocar um cobertor na cama

Bom, cê sabe:
Eu preciso de uma matrona tipo escavadora a vapor

Pra manter longe os mortos
Eu preciso de uma garota tipo caminhão de entulho

Pra descarregar o que eu tenho na cabeça
Ela me dá tudo e mais

Não é bem como eu disse?
Se eu estiver caindo morto

Ela é capaz de colocar um cobertor na minha cama






From A Buick 6
I got this graveyard woman
You know she keeps my kid
But my soulful mama
You know she keeps me hid
She's a junkyard angel
And she always gives me bread
Well, if I go down dyin'
You know
She bound to put a blanket on my bed

Well, when the pipeline gets broken
And I'm lost on the river bridge
I'm cracked up on the highway
And on the water's edge
She comes down the thruway
Ready to sew me up with thread
Well, if I go down dyin'
You know
She bound to put a blanket on my bed

Well, she don't make me nervous
She don't talk too much
She walks like Bo Diddley
And she don't need no crutch
She keeps this four-ten all loaded with lead
Well, if I go down dyin'
You know
She bound to put a blanket on my bed

Well, you know
I need a steam shovel mama
To keep away the dead
I need a dump truck mama
To unload my head
She brings me everything and more
And just like I said
Well, if I go down dyin'
You know
She bound to put a blanket on my bed

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Copa da zebra e o polvo Paul

“Copa na África tem de ter muita zebra”, já estavam dizendo os gaiatos. Estavam certos. Quem adivinharia que o Japão passaria de fase? Quem apostaria na derrota da Alemanha para a Sérvia, depois de os alemães terem dado a única goleada da primeira fase, em cima da Austrália? Quem apostaria no papelão de França e Itália, respectivamente vice e campeã de 2006, eliminadas na primeira fase?

E quem diria que o Japão iria tão longe, e o Paraguai, e o Uruguai? E o papelão dos craques? Cristiano Ronaldo, Kaká, Rooney, Messi? Um reles golzinho pra dividir por esses quatro, feito pelo português contra a fraquinha Coréia do Norte, na maior goleada dessa Copa: 7 a 0 pra Portugal.

Na Copa da zebra, tinham de chegar à final dois times que nunca tinham sido campeões. Aí, não teve jeito: um dos dois teria de restaurar a normalidade, cumprindo seu papel de perdedor. Pior pra Holanda, vice pela terceira vez. E olha que a disputa pra ver quem era o maior pato das Copas foi acirradíssima, com ambos os times se esmerando em perder gols na cara do goleiro! A decisão saiu aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação! Espanha, a furiosa! Mas um dia de fúria viveu a Holanda, com seu meio campo De Jong e sua entrada pra matar, com o pé no meio do peito do espanhol!

E não me venham dizer que a Espanha não podia ser considerada uma zebra, campeã que era da Euro Copa de 2008, com um time de bons jogadores, apontada como favorita antes mesmo do Mundial começar. Pois essa é a tradição da Fúria, entra Copa, sai Copa. É: desta vez a Espanha vai, presta atenção na Fúria, este é o Mundial da Fúria, olha a Fúria aí, lá vem a Fúria... e a cada Copa a Fúria se esborrachava!

E nesse ano a Fúria começou perdendo furiosamente pra Suíça, 1x0. Não podia ser mais tradicional... mas foi passando sempre apertadinha de fase, “goleando” seus adversários sempre por um golzinho sofrido de diferença, até chegar à final, e se sagrar vencedora pelo placar de... quanto mesmo? 1X0. Zebraça!

E pra quem ainda duvida que o Mundial da Jabulani, o primeiro no continente africano, entortou a normalidade, as leis científicas, o racionalismo, René Descartes, olhem o polvo Paul! Sensação da Copa, o polvo Paul acertou 8 de 8 resultados! Um fenômeno completo, acertou barbadas e zebras, ali na mosca! Humilhou comentaristas esportivos e videntes, todo sistema, todo método, cálculo diferencial ou mandinga!

Senão vejamos: qual a probabilidade de num evento tipo cara ou coroa, sair cara 8 vezes seguidas? Minhas aulas de matemática vão longe, mas se fiz as contas certas, é de uma em 256. Vamos jogar a moedinha oito vezes seguidas. A cada 256 vezes que fizermos isso, em uma, provavelmente, vamos ter um resultado de 8 caras. Cara sendo, no caso, o resultado: resposta certa.

Pois o polvo Paul cravou 8 respostas certas na sequência! Testemunhamos um evento raro. Se cada Copa for o momento de jogarmos nossa moedinha 8 vezes, precisaríamos de outras 255 Copas para ver o evento dos 8 acertos seguidos se repetir. Provavelmente. 1024 aninhos esperando... Isto pra ficarmos no terreno das probabilidades. A alternativa é patrocinar pesquisas sobre as possíveis capacidades paranormais dos moluscos. JABULÂÂÂÂNI...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

SORDIDEZ

Zapeando pelos noticiários ontem a noite. O caso Bruno, onipresente. E num jornal (da Record?), uma reportagem sobre um posto de gasolina em São Paulo, que este ano já tinha sido assaltado 30 vezes. Nos últimos dois meses, 15. Desta última vez, os criminosos, filmados pela câmera de segurança do posto, tinham sido apanhados. Um dimenor de 17 anos, um dimaior de 21; filmados, atrás das grades, não pareciam muito preocupados. Riam e debochavam para a câmera. O dono do posto explicava que em muitos dos assaltos anteriores sequer fez o boletim de ocorrência. Depois da violência do assalto, era outra violência perder um dia, às vezes uma noite, para fazer um B.O. “Teve uma vez que eu cheguei na delegacia às 2 h. da tarde e fui sair às 5 h. da manhã do dia seguinte; fazer B.O. pra quê?” - perguntava, angustiado. Com os assaltos do ano, contabilizava R$ 15 mil de prejuízo. Mais o medo de ir pro trabalho, quem sabe como pode acabar um desses roubos?

E em meu cérebro fiquei relacionando uma coisa com outra. Os roubos no posto, o sórdido caso Bruno. Afinal, o que leva tantos, neste país, a apostarem no crime? O jogador de futebol, a corja dos que lhe “prestaram serviços”, os bandidos do posto... e tantos assassinos, mensaleiros, estupradores... é a certeza da impunidade? Mas não temos policiais, não temos juízes, não temos promotores?

Temos, sim, tudo isso. Juízes com dois meses de férias por ano (mais recesso), fazendo muitas vezes semanas TQQ (terça-feira, quarta-feira e quinta-feira); promotores com dois meses de férias por ano (mais recesso), fazendo muitas vezes semanas TQQ (terça-feira, quarta-feira e quinta-feira); policiais trabalhando (ou quase isso) em regime de um dia por três de folga; ou três dias por onze de folga. Todos com salários religiosamente pagos em dia, e generosos aumentos acima da inflação. Mas então, como é que esse clima de impunidade e favorecimento se generaliza?

Em outras reportagens do jornal de ontem (da Band?) se relembravam outros casos emblemáticos de violência contra a mulher impunes. Pimenta das Neves, assassino confesso, em liberdade 10 anos após o crime, aguardando julgamento de seus recursos... a cabeleireira que filmou a própria morte, em seu local de trabalho, depois de diversos registros de ocorrência na delegacia das ameaças que seu ex-companheiro lhe fazia. Todos apostando na impunidade, tantos os que ganham a aposta.

O clima de vale tudo é reforçado pelos nossos privilégios na forma da lei, pelos nossos abusos adquiridos. Uma lei do mais forte, do mais esperto, do melhor relacionado. Uma prática de “sabe com quem está falando?”, de favoritismos, de pessoas “incomuns” (não é, Sarney? Não é, presidente Lula?) que não vão em cana. Um país que não é sério.

Lamentam os pais que perdem filhos, os filhos que ficam órfãos, apanhados no redemoinho desta falta de seriedade, deste escárnio cínico, desta corrupção, desta violência que nos assola. Os grandes, “incomuns”, nossos senhores, protegem a si e aos seus, bem direitinho (e no mais das vezes, com o dinheiro dos diletos “contribuintes”). Vivem num outro mundo, um país à parte, uma ilha da fantasia. Para quê leis mais duras, para quê aplicação rigorosa, se o mal só atinge os que estão “lá fora”? E se esse estado das coisas é tão favorável para minhas próprias negociatas? Temos aí o grande conflito de interesses entre a massa dos servos e aqueles que possuem o poder nas mãos.

Como ilustra o caso de dois de nossos ilustres ministros do Supremo Tribunal Federal, que em visita ao Rio de Janeiro passaram pelo dissabor de, atravessando a Linha Vermelha, vindos do aeroporto, ficarem presos num “arrastão” dentro do carro. Nada lhes aconteceu, com vidros blindados e seguranças, mas o susto motivou comentário do Secretário de Segurança (estadual? Municipal? Não estou lembrando os detalhes do caso, nem quero pesquisar na internet. Para os dispostos, tem o Google): “Houve uma falha da segurança. Suas Excelências deveriam ter se valido de um helicóptero para atravessar aquele perigoso trecho”. Pois é. Para os que não têm helicóptero, comam brioche. Com recheio de chumbo grosso.

Assim se constrói uma nação, para nós e para nossos filhos. Assim se constrói o clima de impunidade que multiplica crimes, cada vez mais bárbaros, por motivos cada vez mais fúteis. Mas é melhor não insistir nisso pra não correr o risco de ser visto como um chato, mal-humorado, desmancha-prazeres. Vamos repetir o mantra de marqueteiros oficiais (com contas milionárias em paraísos fiscais, não é, Duda Mendonça?): o brasileiro não desiste nunca! Brasil, um país de todos! O melhor do Brasil é o brasileiro! E haja cachaça! Haja axé music! Segura o tchan-tchan-tchan-tchan-tchan! Sem medo de ser feliz!

Artigo de Demétrio Magnoli

Demétrio Magnoli tem se destacado por artigos corajosos e bem fundamentados. Na edição de ontem de O Globo temos um bom exemplo, com críticas certeiras ao neo-capitalismo de estado lulista. Vai o link para o artigo: http://arquivoetc.blogspot.com/2010/07/demetrio-magnoli-escolha-de-serra.html