domingo, 18 de julho de 2010

Brasil



É isto, então. Funciona assim e temos de conformarmo-nos. Deixar pro futuro que nos traga tempos talvez melhores. Enquanto isso amargaremos as enchentes e os desabamentos.

A corrupção é a praga dos nossos tempos. Com seu cavalo de fogo, com sua foice, com seu esqueleto. O Apocalipse chegou, é agora e aqui. Mantém-nos hipnotizados, pensamos até que estamos ganhando, agimos com indiferença. E na realidade ganhamos o veredito de que não sabemos lidar com nossas deficiências.

Na capa da revista Época desta semana, o milagre da multiplicação do patrimônio dos políticos. 744% ao ano, 322% ao ano, 292% ao ano, 280% ao ano... são os 25 políticos que tiveram maior evolução patrimonial durante os seus mandatos. São deputados federais, estaduais, senadores, governadores. De filiação partidária diversificada (aliás, como se inventa partido! Tem Partido saindo pelo ladrão! Opa!): são cinco do PMDB; 6 do PT; 2 do PDT; 2 do PP; 2 do PR; dois do PSB; 1 do PMN; três do PRB; um do PSDB e um do PTB. Ufa! O menos eficiente e bem sucedido destes 25 políticos evoluiu seu patrimônio a uma média de 76% anual. A mais eficiente, Angela Amin, governadora de Santa Catarina, evoluiu seu patrimônio a 774% ao ano. De um patrimônio de R$ 2.500,00, em 2006, hoje ela pode gozar de bens no valor de R$ 1,6 milhão. Não sei quanto ganha o governador de Santa Catarina, mas digamos que sejam 10 mil por mês. São 130 mil por ano, incluindo o 13 salário. Sei que para alguns políticos são concedidos 14s e 15s salários, mas estamos simplificando, vamos considerar só o usual 13. Em quanto tempo como governador você acumularia 1,6 milhão? Resposta: 12 anos e uns quebrados. Isto, é claro, considerando que você economizou tostão por tostão o que ganhou. Não pagou nadinha de nada por comida, aluguel, gasolina, telefone, motorista, mordomo, segurança, etc. etc. Tá certo que pra políticos muitos destes itens saem mesmo de graça. Mas pra nossa conta de 12 anos e pouco ficar certa, o político não pagou nada mesmo! Nem um cafezinho na rua nem um presente pro padrinho. Economizou tudinho do salário de 10 mil. Em 12 e poucos anos ele chegou a juntar o 1,6 milhão.

Mas a eficiente governadora fez melhor: nem precisou esperar 12 anos! Quatro anos foram o bastante!

É claro que que a governadora, bem como todos os políticos, não justificam sua evolução patrimonial só com o que recebem de salário pelo seu trabalho de políticos. Sempre têm algumas empresas, ou algumas fazendas, ou alguma sociedade, ou receberam alguma herança milionária... Também é comum que tenham generosas pensões, aposentadorias acumuláveis, 2s e 3s matrículas... tudo na forma da lei!

Mas surpreende como os negócios desenvolvidos por essas empresas de políticos rendem bem! Este é o verdadeiro milagre econômico! Todo político parece ter o toque de Midas! Aquele rei mitológico, que pediu e recebeu a bênção de tornar ouro tudo que tocasse. Só que a bênção era maldição, e Midas morreu de fome, porque transformava em ouro todo alimento que tocava.

Os empreendimentos dos políticos não enfrentam tempo ruim! Nada de falências, concordatas, brigar pra agradar o cliente, fazer investimento, assumir riscos, decidir, trabalhar... Nao! Basta um olho no seu trabalho como deputado, governador, senador, e um olho nos outros negócios, pra eles renderem 100%, 200% por mês. É o toque de Midas, estou falando! Eles devem ser capazes de vender gelo pra esquimó, ou pedra pra nordestino morrendo na seca! Fazem negócios da ordem de um Bill Gates, mas ninguém sabe qual foi o Windows que inventaram!

Mas nada disso é estranho, nada disso surpreende, nada disso gera repúdio, investigação, punição, cadeia... é natural como as enchentes e desabamentos que volta em meia ceifam vidas às dezenas; nossos políticos podem apresentar notas fiscais falsas à Justiça, comprovadamente falsas, e não ir pra cadeia. Não é hipótese, é fato que já ocorreu. Aliás, não só não vão pra cadeia. Continuam em seus cargos, usufruindo de toda vantagem. É fato. Também vemos policiais que ganham 2 mil por mês andando em carros importados de 200 mil. Tudo fato, e mais que fato, comum, usual, "normal", no país que, como disseram, “não é sério”.

Então, aprenda a mensagem: não me venha sonhar com um país dentro da honestidade e da Justiça! É pão e circo, futebol e cachaça, e olhe lá! Tá arriscado até a faltar o pão! Futebol e cachaça, e cala essa boca! Honestidade e Justiça não são pro teu bico, zé povinho! Sabe com quem tá falando? Cala essa boca, senão te meto uma bala, ou te meto um processo! Na verdade, eu não, porque eu tenho gente pra fazer isso pra mim! Agora, se você jogar o jogo, e entrar na dança, aí eu posso te arrumar um empreguinho, uma diretoriazinha, algo assim... amanhã eu venho cobrar o favor, uma mão lava a outra...

E assim vivemos nossa realidade de pesadelo. “Não houvera sido melhor permaneceres no teu leito macio e arrastar a vida de um verme, visto ser a única de que te achas digno?” - Epicteto.

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