segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Arte da Guerra 4


O mestre cineasta chinês John Woo retornou às locadoras em grande estilo, com sua obra-prima: A Batalha dos 3 Reinos, um épico em que encena a histórica guerra que colocou em lados opostos o Reino do Norte, de Cao Cao, que dominara sobre o Imperador Han, e desejava submeter todos os Reinos da China à sua tirania, e outros dois Reinos, do Sul, de Su Qan, e do Oeste, de Liu Bei, que compunham a única resistência às pretensões de Cao Cao.


Não importa se houve liberdades artísticas na recriação deste episódio histórico. Com certeza, o filme constrói mitos de guerreiros perfeitos, essas coisas. Basta ver as cenas em que os chineses se mostram craques num tipo de futebol pra perceber a utilização de efeitos especiais no cinema. Mas o bom cinema não é justamente essa criação de mitos com "realismo"? O realismo da visão, é claro, iludida.


Mas o filme conta uma história bem coerente e estruturada sobre uma batalha envolvendo dois adversários mais fracos, resistindo a um outro, tremendamente mais forte. Constrói personagens fortes e convincentes, de personalidades bem definidas, para representar os papéis dos Reis, dos Generais, dos Conselheiros, dos Estrategistas.


O filme é principalmente sobre a Arte da Guerra. Ele dá uma ilustração prática dos famosos conselhos de Sun Tzu, principalmente a antecipação dos movimentos do adversário. Também, a importância de se conhecer e se utilizar das vantagens de terreno, de escolher e utilizar a arma certa, a formação certa, a tática certa, que podem levar a vantagem e a vitória mesmo ao exército mais fraco.


John Woo precisou de todo o seu conhecimento acumulado de fazer filmes. Desde os seus primeiros filmes de kung-fu, até seus filmes de ação estonteantes, envolvendo gângsteres, policiais, e matadores. John Woo, na China, fez alguns dos filmes de ação mais recheados de adrenalina do cinema recente, muitas vezes estrelado pelo ótimo Chow Yun Fat: Fervura Máxima, Matador, a série Alvo Duplo, Bala na Cabeça. Foi “descoberto” e carregado pros EUA, onde diluiu seu estilo intenso, tanto nas cenas de ação quanto nos dramas intensos, literalmente de vida ou morte de seus protagonistas.


Woo realmente injetou uma dose de ânimo na forma de se fazer cinema de ação nos EUA. Quentin Tarantino, por exemplo, bebeu de sua fonte. O próprio Woo, em sua passagem por Hollywood, fez coisa boa, ao menos divertida, um filme do Van Dame, O Alvo, e ainda A Outra Face e A Última Ameaça. Mas não tinham aquele calor dos seus filmes chineses, e Woo acabou fazendo uns filmes bem mais ou menos da franquia Missão Impossível, chegando até uma bomba estrelada por Dolph Lundgren, Black Jack.


E eis que ressurge este mestre, como uma planta que precisasse do solo pátrio para florescer. Que bom que hoje em dia a oferta de filmes não se prenda à mesmice de Hollywood, e seus block busters!


A Batalha dos 3 Reinos tem muito mais ação, intriga, decisões políticas, inteligência, que qualquer filme da saga Guerra nas Estrelas. Deveria ser bem mais apreciado, pelo menos pelos maiores de quinze anos. Mas na nossa época de propaganda maciça, as filas e os acampamentos se formam pra assistir os novos filmes do Guerra nas Estrelas, e um filme bom como este da Batalha permanece um ilustre desconhecido, também por falar chinês, e, oh, pecado maior, ser tão diferente do que estamos acostumados...


Cotação: Cinco estrelas

P.S . Para quem quiser se aprofundar sobre a História por trás da Batalha dos 3 Reinos, a wikipedia é muito útil: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%AAs_Reinos


Sobre este assunto, também, existe um livro clássico do século XIV, de Luo Guanzhong, “aclamado como uma das Quatro Grandes Novelas Clássicas da literatura chinesa, com um total de 800.000 palavras, quase mil personagens[2], a maioria históricos, em 120 capítulos.” Cito da wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Romance_dos_Tr%C3%AAs_Reinos. Dá água na boca pensar em tal livro. Alguma chance de ser publicado no Brasil?


P.S.2. Quem sabe este filme podia ser adotado pelos oficiais no treinamento do BOPE? Assim, talvez eles parassem de debochar da palavra "estratégia".

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