
Eu pensei que tinha um motivo pra elogiar o governo Dilma, quando li a entrevista do então cotado pra ser o Secretário Nacional Anti-drogas, Pedro Abromovay, no qual ele se posicionava favoravelmente a uma distinção entre pequenos e grandes traficantes, evitando de punir os primeiros com a pena de prisão.
Ele apresentava sólidos números para defender sua tese. Um percentual imenso de presos no Brasil é composto destes pequenos tráficos. A cadeia não contribui em nada para recuperar estes presos, pelo contrário, os expõe e os induz a progredirem na sua “carreira” criminosa. A célebre “escola do crime”, a cadeia, ao custo de bilhões para o contribuinte.
Num artigo anterior à entrevista de Abromovay, eu justamente defendia uma rediscussão das penas, uma racionalização da prisão. Evitar a prisão pelos pequenos crimes, praticar as penalidades alternativas. Concentrar os esforços, policiais, judiciais, prisionais, naquilo que de fato agride a sociedade, os roubos de milhões descarados. Os assassinatos nojentos, ignóbeis, por motivos fúteis. Em número tão grande que passam a fazer parte da nossa normalidade. Não é normal, é terrível.
É vergonhoso para uma sociedade que se dê ao respeito.
Quando Abromovay ressaltou este ponto, e se comprometeu a levar adiante esta discussão, este trabalho, eu precisava aplaudi-lo. Não é porque odeio, abomino e detesto certas coisas que o governo faz, ou deixa de fazer, ou não se responsabiliza, ou desperdiça em mordomias, e etc etc etc, não quer dizer que eu vá me contradizer só pelo gosto de criticar o governo.
Mas a alegria durou pouco. Logo em seguida à entrevista, o ministro da Justiça, ex-deputado federal petista, José Eduardo Cardozo, correu a desautorizar seu subordinado. “Não, não, ninguém aqui vai discutir mudança no trabalho das prisões, no trabalho da polícia, não tem nada disso. Nossas leis já são ótimas e não precisam de nenhuma mudança! Nós temos a segurança da sociedade sob total controle. Não olhe para estes números de assassinatos, estes números de super – lotação das prisões, não me façam comparações com outros países! Não precisamos aprender nada, não precisamos mudar nada. Não precisamos de nenhuma crítica”. Não sei se essas foram as exatas palavras, mas se o ministro desautoriza aquele que propunha mudanças, e até a proposta de se discutir uma mudança, só pode significar uma coisa: ele prefere as coisas como estão.
O desenlace fatal veio no jornal Globo de hoje, reportagem de Jailton de Carvalho: “Abramovay deixa o governo depois de desagradar a Dilma e a ministro” “ (...) Depois de conversar com Dilma, Cardozo desautorizou publicamente o ex-secretário e, na quarta-feira, após longas negociações, acertou a saída de Abramovay”.
Eu imagino a conversa de Cardozo com Dilma: “Mestra, Abramovay vai causar desconforto. Vai que a direita ataca a gente falando: o governo vai liberar o tráfico! Lembra do aborto? Sabe que é tudo uma guerra, e ali tem uns votos! Melhor detonar o cara”; e Dilma: “mas, companheiro, e o estado das prisões, e as penas alternativas, e...”. “Ah, mestra, isso aí eu não sei não. Mas olha só, tamo´mexendo no vespeiro... diminuir os presos nas celas? E o sindicato dos carcereiros, eu prometi mais mil empregos... e tem os contratos pra fazer as prisões, e o contrato das quentinhas... vai dar confusão... e os holofotes vão virar todos pra cá, vão vir perguntar que história é essa de liberar a maconha, vamo´ ter de dar um monte de explicação... vai por mim, é mais fácil detonar o homem”.
Dilma ainda está indecisa: de repente, o telefone toca: chamada pra Dilma. É o Cara.
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