
Nossa presidenTA já deu indicação de que possui uma grande vaidade de se pensar que pode mudar o Brasil. Ela já anunciou uma grande meta, enfatizando-a em seu discurso, de tirar o Brasil da miséria. Resta saber se ela estará à altura de suas vaidades, para realizar o seu sonho.
Ao ingressar na guerrilha contra o governo da ditadura militar, ela já mostrava que era capaz de agir por seu desejo de provocar uma mudança. Naquela época, a situação de ter sido posto na ilegalidade um mecanismo para a resolução democrática na escolha de projetos para o Brasil, fazia com que a escolha pela luta armada contra o governo ditatorial se apresentasse como justificável. Está certo que o projeto de muitos dos guerrilheiros não era em si justificável, pois almejava a substituição de uma ditadura por outra. Mas como estes projetos não chegaram a se tornar realidade, enquanto a ditadura militar era uma realidade, o movimento guerrilheiro, inclusive Dilma, ganharam esta legitimidade de se insurgir contra algo ruim.
Acabada a ditadura, Dilma reaparece como uma burocrata, técnica de esquerda. Estudada, com curso superior, inteligência acima da média, identificada com o ideário dos “cumpanhêro” de esquerda, que aqui e ali, iam atingido seus objetivos de chegar ao Governo. Embora nunca tenha se distinguido no negócio de fazer política, propriamente dito. Ela nunca se candidatou a nada, nunca foi eleita a coisa nenhuma. Ela apenas era escolhida pelos eleitos pra ocupar este ou aquele posto, em alguma secretaria, ou diretoria, etc.
Alçada a alto quadro técnico do PT, depois que o Partido elegeu Lula, ela teve a sorte de ver vários quadros importantes do Partido caírem em desgraça, ao longo do Governo Lula. José Dirceu, Antonio Pallocci, José Genoíno, envolvidos em escândalos diversos, tiveram de sair um pouco de cena. Ao mesmo tempo, Dilma se beneficiou do fato de o poder no Brasil se exercer de forma progressivamente personalista, com Lula virando Santo e virando Mito no imaginário coletivo.
Este “super-Lula”, desfalcado das escolhas mais óbvias, decidiu, voluntoriosamente, investir seu prestígio político naquela figura improvável. Deve ter feito bem à vaidade descomunal do Mestre e Guia, a satisfação de eleger o famoso “poste”. Se ela era eleita, devia isso a ele, inteiramente. Era “a mulher do Lula”, para os eleitores. Era o “presente” que o “Cara” tava pedindo pro seu povo... e ainda ia ficar tão bonito, na biografia, o “Cara” dando uma Mãe pra cuidar do seu povo, nunca antes na História deste país, uma mulher na presidência!...
Ajudado por uma Oposição desnorteada, acovardada, Lula se entregou de corpo e alma à tarefa de realizar Seu desejo. Afinal, ele é a opinião pública, como nos deixou saber, num discurso... ele é o Cara, a Vontade Geral, a voz desse povo... ele sozinho, o povo não pode ter outra voz, que não a dele. Ele está sempre certo, olhem o tamanho do meu sucesso! Este sucesso me garante ser o dono da Verdade. O mais amado, o mais festejado, o mais invejado... pra manter este sonho bom, esta certeza de estar sempre certo, não se admite a derrota eleitoral. Disputar é bom, sim, mas só quando temos certeza de que vamos ganhar.
Lula deu o toque para o combate, convocou todos os ministros, empenhou todo mundo na guerra. E todos se deixaram usar de modo tão dócil pelo Grande Líder. Soldados bem treinados, dispostos a morrer pelo chefinho... (pelo menos no discurso...).
Na campanha, nunca se viu uma atuação tão descarada do Governo para eleger sua candidata. Foi impressionante e assustador, com denúncias cabeludas de quebra de sigilo, agressões, discursos defendendo as barbaridades, financiamentos de campanha esquisitos, viagens, hospedagens, pagas com dinheiro público, para que figuras do Governo, inclusive o Presidente de toda a República, pudessem subir no palanque de uma candidata... nunca antes, na História deste país...
Como é que reagiu a isso nossa Justiça Eleitoral, com seus Juízes e Tribunais pagos pelo dinheiro do público, com seus Procuradores da República, com nossas muitas e minuciosas leis para garantir a lisura dos pleitos eleitorais, para garantir o próprio funcionamento da democracia? Como é que reagiu esta mesma severa Justiça, que cassa candidaturas pelo país, por causa da mais mínima violação de algum destes numerosíssimos regulamentos? Pois começou aplicando multinhas de bagatela, que foram debochadas pelo próprio multado, e depois achou melhor deixar isso pra lá... é complicado, tem de pesar muitos fatores, não é bem assim, não vamos brigar por causa disso...
Acabou que o Cara, mesmo sendo um Mestre e um Guia, teve de suar a camisa, numa eleição de segundo turno, apesar de toda a fraqueza da Oposição, apesar de seus tão propalados índices de popularidade. A campanha ficou agressiva, tendo de contar com reforços da indústria petrolífera, com ameaças de retrocesso e de caos social, caso o povo escolhesse o candidato da Oposição, e mais uma série de altas apostas.
Mas o que importa, segundo a mentalidade oficial, é o fato concreto. É a vitória final. E esta acabou se concretizando, dando à situação a possibilidade de continuar gerindo os grandes recursos, tomando as grandes decisões, escolhendo os milhares de ocupantes dos cargos em comissão...
Dilma, com a inesperada possibilidade de viver sua vaidade de ser a Líder da Nação, agarrou com unhas e dentes a oportunidade que lhe caía no colo. O nome do jogo é Faça o que o Chefe mandar? Pois vamos cumpri-lo à risca. Não ter uma palavra de crítica ao Mestre que ensina o caminho, nem que a vaca tussa. Depois, quando se tiver chegado ao poder, é outra história... aí, sem alarde, pode-se dar uma ou outra declaração que vai contra o discurso oficial do Grande Guia. Mas até lá, seguir o Chefe, e os outros Chefes que dividem o poder, e que podem nos garantir a governabilidade...
É um jogo delicado, e daqui é que vem a importância da pergunta do título deste artigo: qual é a imaginação de Dilma? Sim, sabemos que ela tem o desejo de mudar o Brasil, não duvido de que ela esteja convencida de que possui as qualidades para fazer esta mudança para melhorar o Brasil. Para, digamos sinteticamente, livrá-lo de sua miséria. Com as mãos na Presidência da República, ela deve se sentir como escolhida pelos deuses para realizar este Grande Destino.
Mas aí é que entra a questão da imaginação. Será que a sua imaginação comporta as boas mudanças para o país? Quando ela era jovem, a sua imaginação lhe dizia que bom para o país era uma dessas ditaduras de esquerda admiradas, onde a economia se estagnava, e milhões perdiam sua vida e sua liberdade por conta de divergências com o ocupante do Poder.
Isto, claro, não seria bom para o país. Mas Dilma certamente não é a mesma que era quando tinha seus vinte, trinta anos. Ela certamente não defende mais que o Brasil se torne um Cubão, por exemplo. Mas, ainda assim, seus sonhos para o Brasil não necessariamente são as melhores realidades que o Brasil pode ter.
Por exemplo: Dilma disse, quando candidata, que faria passar a reforma política do voto em lista fechada. Mesmo que ela se convença de que isto será bom, convencida pelos ótimos argumentos de muitos amigos, próximos, que com ela dividem o poder, será que isto será bom para a sociedade, se de fato acontecer?
Claro, os motivos invocados serão os mais nobres (não são sempre?): melhorar a democracia; aumentar a coerência dos partidos políticos; aprimorar o compromisso com o conteúdo programático... todas as belas palavras. Mas e se com isso eternizarmos nossas castas selecionadas no Poder? Ou ao menos facilitarmos as condições para esta eternização? Não estaremos indo contra os interesses do país?
Daí a importância, então, de definir o conteúdo da imaginação de Dilma. Além, é claro de sua habilidade para conduzir o dia a dia das disputas políticas. Não esqueçamos que Dilma é marinheira de primeiríssima viagem, nunca testada, e já colocada para pilotar o transatlântico.
Mas nada temamos, ainda que Dilma faça um buraco no casco, temos aí a possibilidade da volta triunfal de Lulinha!...
ai ai ai...


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