
Eu estava em Friburgo no dia em que a cidade sofreu a perda de mais de trezentos filhos. A Região Serrana do Estado toda sofreu por estar aprisionada ao velho descaso de nossos governantes, aprisionada à nossa velha ambição por ganhar uma grana fácil e rápida, de qualquer jeito.
Depois da tragédia, vão ao velho corredor mal iluminado, pegar uma máscara pendurada na parede: a máscara da cara compungida, do coração apertado. Vão esbravejar, e falar pelos cotovelos. Vão prometer mais isso e mais aquilo. Um novo plano de ação, um novo radar. Mas como é que se consegue um novo caráter e uma nova cultura?
Não podem ressuscitar os mortos. Não podem dar a uma mãe o seu filho. E logo andarão embalados com a festinha do Carnaval, e com o Reveillon com mais fogos do mundo. O brilho dos flashes para as capas de revista, o brilho de inveja nos olhos de todos. Ah, isto faz esquecer rápido, aquilo que de qualquer forma não tocou na gente. Apenas uma vozinha no ouvido. Vai ser facilmente esquecido, junto com o problema do superfaturamento nos contratos pro Reveillon. E as duas coisas estão muito ligadas.
Na Serra, não aconteceu nada que não estava previsto. Uma grande cheia há dez anos, um grande deslizamento há quatro ou três. Mas eram sempre as costumeiras 20 ou 30 mortes, dava pra segurar com o velho jargão. E não se fez nada, entrou ano, saiu ano.
Mas não temos uma Defesa Civil? Não temos pessoas empregadas nisso, com salário, com prédio, com instalação? E por que não foi organizada?
Por que é que os nosso governantes, que justamente foram eleitos para organizá-la, assim como a Saúde, assim como a Educação, assim como a Segurança, permitiram que ela fosse uma total inoperante, uma total inútil, uma total desorganizada?
Não se gastou o dinheiro, para se fazer as obras, para se fazer as casas, para se fazer os planos de segurança? Ah, mas se gastou o dinheiro... Se gastou o dinheiro, milhões e milhões, bilhões, de um povo miserável e sofrido, mas não se entregou NADA. Só desculpas, só acusações, só promessas.
Um pequeno exemplo: no governo Lula, o ministro da Integração Social, Geddel Vieira Lima, político baiano, do PMDB, partido aliado do governo, destinou o grande percentual de gastos da pasta da Prevenção de Catástrofes, sob seu comando, a seus redutos eleitorais na Bahia. Na época, noticiou-se que os locais escolhidos NUNCA tiveram na História um registro de catástrofe.
Quanto à Região Serrana do Rio, ouvi na televisão a notícia: em todo o ano passado, destinou-se ZERO de recursos para a prevenção de catástrofes. Apesar do seu histórico de catástrofes recorrentes.
Estes são os fatos simples, e contra fatos não há argumentos. Contra os mortos não há explicação, não há desculpas. E este é apenas um exemplo, dentre muitos. Mas somos um XXXXXUUUUUUXXXXEXXXO, não é mesmo? Temos aprovação nas alturas, e bebemos vinho, e bebemos champanhe, e o povo nos adora, e todo mundo nos adora, só não fazemos é ressuscitar as pessoas.
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