Na Revista Veja de 29.12.2010, uma tabela comparando a evolução das tarifas industriais de energia entre diversos países, inclusive o Brasil, me chamou a atenção. De 2002 a 2007, dentro da Era Lula, o preço da energia, em dólares por Mwh, passou no Brasil de 52 para 138, evolução de 165%. Foi o pior desempenho, disparado, entre os países comparados.
O México passou de 56 para 102; a Alemanha, de 79 para 84, os EUA, de 49 pra 64, e a França, de 37 pra 56.
Este é apenas um dentre os elementos que compõem o custo-Brasil, responsável por um acréscimo de mais de 35% nos preços finais da produção nacional. Outros destes elementos aparecem na mesma reportagem da Revista Veja, os problemas nas estradas, nas ferrovias, nos portos...
Também fazem parte do custo Brasil o excesso de burocracias, a carga tributária elevada, mal distribuída, confusa, o elevado custo dos encargos com a mão de obra, a corrupção, a Justiça demorada ou inexistente, a baixa escolaridade média, etc. etc.
No caso das tarifas industriais, contudo, verifica-se que nossa posição relativa frente a outros países piorou, em ritmo acelerado, ao longo destes cinco anos. Ou seja, estamos caminhando para trás, estamos perdendo terreno. No mundo globalizado, em que os países competem ferozmente por mercados e lucros, esta é uma situação que faz prever problemas para o futuro.
Para o futuro, e, a bem da verdade, já no presente. A participação da indústria no PIB brasileiro já passou de mais de 20% para 15%. As empresas importadoras, no Brasil, já representam o dobro das exportadoras.
Isto significa que empregos e rendas que poderiam estar sendo criados no Brasil passam a ser criados em outros países, beneficiando suas populações, e às vezes a partir de matérias primas fornecidas pelo próprio Brasil!
É fácil de perceber as perdas sofridas com este modelo: digamos que se empregam 10 pessoas para plantar e colher uma tonelada de laranja, com uma renda de $ 1000 por este trabalho. Agora digamos que o país y paga esses $ 1.000 pelas laranjas, e emprega 100 pessoas para produzir e comerciar geléia de laranja, que ao ser vendida renderá $ 10.000. Percebe-se que o país produtor da laranja ficou com um décimo dos empregos e da renda que poderia ter obtido, se ele mesmo produzisse e comercializasse a geléia. Agora pense na mesma situação com o ferro, com o cobre, com o café, com a soja, e com todos os alimentos, e com todos os minérios, e com tudo que é matéria prima, que o Brasil produz abundantemente, e que deixa de processar e beneficiar permitindo a outros países que fiquem com estes lucros.
É este o custo Brasil, é este o resultado obtido por nosso (des)governo. Mas estamos tão felizes e satisfeitos com nosso Governo, não é mesmo? Vai ver que gostamos de apanhar, ou já garantimos o nosso lado num negocinho bem bom dentro deste desgoverno, e daí, que se exploda todo o resto! Pode-se ir pra Europa, com uma mala cheia de dólares, pra se curtir a vida, com muita sombra e água fresca...
Cachaça não é remédio. Cachaça faz esquecer a doença, mas não cura. Ao contrário, enfraquece o organismo, contribui com a doença. Vicia, e o vício na cachaça é por si uma doença.
A um pobre de um bêbado, doente de uma doença grave, foi oferecido escolher entre uma cachaça e um remédio. Ele escolheu a cachaça, e morreu.
A escola é um dos principais elos entre os indivíduos e a sociedade. Um dos primeiros, e dos mais importantes. O outro destes primeiros elos é a família. Os dois precisam trabalhar integrados para garantir a melhor formação daqueles pequenos indivíduos.
Os valores que eles vão receber, provêm dos exemplos que eles vêem ao redor. Da escola as famílias devem esperar, têm de esperar, que as crianças tenham segurança, que elas se sintam estimuladas para estudar e aprender. Na escola a criança tem de aprender que o Estado tem certas obrigações com respeito a ela; e assim, aprender que tem certos direitos e deveres com o Estado. Com a sociedade em que vive.
A criança, o cuidado que se deve ter com a educação da criança, impõe um elo ligando a família e a escola. Como é que uma criança, numa família desestruturada, atirada à miséria, a um subemprego de exploração, vai aprender respeito e responsabilidade?
Uma escola boa não se compõe apenas de bons professores. Ela precisa de bons médicos, assistentes sociais, diretores, e etc. Ela precisa de diversão, e de esporte, e de merenda. Aulas de música, de futebol, de português, de matemática, de ciências, e de história. Leitura, cinema, sala de vídeo, biblioteca, e computador.
Por que não ter um modelo, integrado, de saúde pública e escola? Por que é que tantas crianças, que estão na escola, não têm acesso a um dentista? E a um clínico geral? Por que é que não se têm psicólogos, e assistentes sociais, para conversar com aquelas crianças que têm problemas, particulares ou familiares, para se tentar alguma ação?
Este problema é incontornável: é preciso haver, no Brasil, profissionais. Pessoas que tenham a dignidade de fazer um trabalho sério. Que tenham responsabilidade, que sejam honestas. Para isso, deve-se investir na formação de profissionais, na fiscalização de irregularidades.
Cada um precisa viver daquilo que pode declarar com honestidade. E como é que no Brasil (sim, em todos os povos, mas tanto no Brasil), existe tanta gente “da grande”, que têm mansões de cinco milhões de dólares, palácios de vinte e cinco, e carros de um milhão, sem que possam dizer de onde veio o dinheiro. Livres como passarinhos, tomando banho em banheira de ouro. Como é que ninguém questiona, como é que todo mundo fica quieto... à vista de todos, e ninguém investiga.
É um país que se acostumou com o impensável, com o extra-indigno. É um país em que a corrupção já se espalhou, para tantas almas, que se procurou um meio de conviver com ela. Isto quando não se é francamente cooptado, nos tantos que fazem parte da rede do negócio sujo, tantos que carregam os dinheiros em malas, maletas e cuecas...
E que exemplo de sociedade é este que mostramos para nossos netos e filhos? Pessoas tão imediatistas não pensam nisso. Para elas o seu dever para com seu filho é enriquecer a todo preço. O dinheiro vai lhe comprar de volta a alma, é a única coisa real... mas vemos os filhos que lutam pelo que ficou de herança, os filhos que torcem pela morte dos pais, os filhos que se suicidam, os filhos que dilapidam o que lhes veio tão “fácil”... e tudo que era tão “real” se esfumaça num átimo.
O que impele esta descrença no futuro, esta desesperança imediatista, que leva estes que poderiam fazer o seu tanto, a buscarem estes ganhos rápidos, estes ganhos de corrupção? Esta é uma boa questão, mas é preciso pensar outra coisa: o que é preciso fazer para mostrar nossa indignação? O que é preciso para que os corruptos vão para a cadeia, fiquem na cadeia? Que palhaçada é esta, de sair das cadeias para as câmaras de deputados, de senadores, de ministros, governadores, prefeitos? Justiça, que fica anos e anos, pra não chegar a conclusão alguma? Processos, que não se acabam, enquanto os “companheiros” continuam rindo e gastando, à grande?
Imagine there's no Heaven It's easy if you try No hell below us Above us only sky Imagine all the people Living for today
Imagine there's no countries It isn't hard to do Nothing to kill or die for And no religion too Imagine all the people Living life in peace
You may say that I'm a dreamer But I'm not the only one I hope someday you'll join us And the world will be as one
Imagine no possessions I wonder if you can No need for greed or hunger A brotherhood of man Imagine all the people Sharing all the world
You may say that I'm a dreamer But I'm not the only one I hope someday you'll join us And the world will live as one
Desenvolvendo e ilustrando um tema mencionado na introdução deste trabalho, valho-me da canção de John Lennon como exemplo do pensamento utópico. Na Utopia de Lennon não haveria a divisão religiosa ou patriótica, e com isso se alcançaria a paz. Não haveria propriedade, e assim se eliminaria a ganância e a fome. Não haveria esperanças ou temores com o pós-vida, e assim se aproveitaria melhor o momento.
Uma Utopia ao gosto dos novos tempos. Materialista, identificando no pensamento religioso uma fonte de frustração e angústia. Socialista, como de praxe. E rejeitando sacrifícios em nome de Pátria, Religião, ou qualquer dos nobres e respeitáveis Ideais conservadores.
Chama atenção, também, muito característico do pensamento utópico, a pretensão de que o mundo todo convirja, torne-se Uno, na direção daquilo que o Sonhador avalia como Bom. O mundo sem fome, sem guerra, sem ganância. O Paraíso terreno, enfim. Não mais o Paraíso religioso, fora do mundo.
Note bem: não estou questionando o direito de John Lennon ou qualquer um sonhar Utopias da maneira que desejar. Afinal, eu próprio estou aqui construindo minha Utopia particular. “Imagine” é uma grande canção, inspiradora. Sem a força do Romantismo, da Inspiração, da Poesia, o homem seguiria um primata, repetindo seus padrões instintivos.
Todavia, por indispensável que seja o Sonho, o Ideal, a Poesia, indispensável também é a Razão, o Cálculo, o Argumento. Se você não puder sonhar o Castelo, nenhum Castelo haverá. Mas se você não puder projetar o Castelo, reunir o material, a mão de obra, se você não fizer os cálculos de engenharia, o Castelo só existirá no seu sonho.
Voltemos ao preceito bíblico: “Amai o seu inimigo”. Se você é um homem prático, não despreze os seus poetas. Se você é um poeta, não queira se livrar dos seus homens práticos. Não bata com a porta na cara da cigarra, não a deixe morrer de frio e de fome. A vida sem música é uma vida de bicho. Se bem que nos tempos que mudam a cigarra fechou com uma grande gravadora, e está rindo da formiga, ainda mais afanosa. Não ria da formiga, cigarra. Não a despreze. Amanhã vão fazer cópias piratas dos seus discos, olha você na Rua da Amargura, de novo.
Mas eu falava de Utopias. Note como elas recorrentemente esmagam a Liberdade, promovem a intolerância, ao elegerem um único comportamento como “certo”, aquele sonhado pelo Sonhador, que deseja obrigar o mundo todo a se converter ao seu pensamento superior.
É a arrogância insuportável dos que se sentem divinos, destinados a recriar o mundo e o homem à sua imagem e semelhança. À imagem e semelhança de seus sonhos, de seus ideais.
Elege-se sempre o inimigo, o diferente. Pro careta, o inimigo é o doidão, pro doidão, é o careta. Se o sujeito é religioso, místico, o mal do mundo são os filhos do diabo, ateus e materialistas. Se o sujeito é ateu e materialista, então o mal do mundo é o pensamento religioso e místico, responsável por todas as guerras.
Um legítimo diálogo de surdos, tudo por conta de nossa intolerância.
Vejamos a Utopia de Thomas More, a utopia por excelência, a utopia das utopias. Aliás, “utopia” foi um termo criado por More, significando, etimologicamente, “lugar nenhum”, termo com o qual ele nomeou sua fictícia ilha onde os habitantes levavam uma vida de perfeição. Não se trata de uma obra ingênua, como pode parecer aos que não a leram. O próprio More faz uma crítica arrasadora, irônica, no próprio corpo da obra, quanto à possibilidade de um governo pela razão no mundo dos homens. O que não o impede de tecer uma organização detalhada e criativa para os habitantes de Utopia. Ao fim e ao cabo, a fórmula mágica que abria aos utópicos as Portas do Paraíso: a abolição do dinheiro. O dinheiro, essa raiz de todos os males.
Parece muito simplista, parece muito irrealizável? O próprio More já fez a crítica de sua obra, e fez bem, situando sua ilha em Lugar Nenhum. Trata-se de licença poética, a mesma de que goza John Lennon. Mas nem por isso deixavam de ser importantes a Utopia de More, ou a canção Imagine, de John Lennon. Elas faziam a crítica a aspectos da realidade do seu tempo, abriam as portas para uma mudança, ao idealizarem uma alternativa.
Em contraste às perseguições aos hereges promovidas por uma Igreja Católica tirânica, More concebia para a ilha de Utopia a liberdade de crença religiosa. Menos para os ateus, que deveriam ser eliminados. More não chegou tão longe na liberdade de crença, a ponto de admitir o ateísmo.
Mas não mudou o mundo, em alguma medida, na direção da Utopia de More? Não concebemos hoje, não vivemos hoje, a diversidade religiosa pacífica, em vários lugares? É claro que sujeito a retrocessos, é claro que reconhecendo que em muitos lugares ainda impera o fanatismo, afinal não existe perfeição, mas o importante é que já pudemos experimentar e comprovar que é possível, sim, viver pacificamente entre católicos e protestantes, entre budistas e muçulmanos, entre ateus e pagãos. O mundo não acaba por isso, a sociedade não pega fogo, a vida segue, mais fácil e melhor do que nas épocas em que se devia odiar e matar seu vizinho porque ele não ia à missa contigo.
Também John Lennon, numa época de Guerra Fria, Guerra na Indochina, Guerra pra todo lado, desfraldou uma bandeira de Paz, pediu que se desse uma chance à Paz, atraindo, inclusive, muito ódio e rancor para si, com sua postura, naqueles tempos de histeria. Mas de fato, outros sonhadores se uniram ao sonho, e a paz ganhou uma melhor chance. Hoje em dia parece, para muitos, que se deve insistir e buscar uma solução pacífica. Até mesmo depois de 11 de setembro e governo Bush, e apesar de todos os pesares, não se conseguiu abafar plenamente, nem duradouramente, as vozes críticas aos Falcões da Guerra. E o incrível Muro de Berlim não caiu, e a Cortina de Ferro não se rasgou como papel?
De novo, não podemos nos deixar levar por uma euforia exagerada, os problemas estão aí, os riscos de retrocesso continuam, outros More serão decapitados, outros Lennon baleados. Mas suas Utopias continuarão valendo como inspiração e como crítica aos acomodados.
Ainda que não se possa, claro, atribuir o fim da guerra do Vietnã a John Lennon, ou dizer que a Utopia de More preveniu as ferozes guerras religiosas que sacudiram a Europa após a Reforma Protestante. Mas suas idéias ficaram como semente, ficaram como um guia, a frutificar e inspirar as mentes, que no momento certo promoveriam a mudança.
Permanecem válidas e importantes as utopias, portanto, com suas críticas, o que não impede que também as utopias sejam criticadas. É isto que quero fazer agora, uma crítica das utopias, uma crítica das críticas.
A crítica deste traço, que já destaquei, que é a tendência dos utópicos de acabar com a diversidade,
com a liberdade, ao eleger um único lado como “bom”, ou “certo”.
Leiam na Utopia: com todas as idéias interessantes, desejáveis, que contém, o sentimento que domina, ao final da leitura, é o de uma prisão, na uniformidade imutável de comportamento. Parece uma colméia, um formigueiro, não uma Cidade humana.
O mesmo na canção de Lennon: o mundo poderá ser como um, viver como um. Por que isto seria desejável, se o ser humano é diverso? Querer que ele se conforme num padrão é mutilá-lo, ou esticá-lo, como num leito de Procusto, é cometer uma violência contra os que não se adaptaram àquele ideal. Da religião “certa”, da raça “certa”, da classe social “certa”.
Outro livro fundamental do pensamento utópico, A República, de Platão, contém este gérmen da uniformidade, e sua consequente supressão da liberdade. A Cidade ideal é rigidamente estratificada, em suas castas de governantes, guerreiros, trabalhadores. Um detalhe interessante é a prescrição de banimento dos poetas, já identificados como elementos desestabilizadores do “sistema”, mesmo naquele puro exercício de pensamento. A prática histórica mostrou que de fato, nos regimes totalitários, os poetas, músicos, escritores, jornalistas, e outras fontes de pensamento crítico à ideologia oficial deveriam ser exilados, ou cooptados, ou mortos, ou de qualquer forma silenciados, tendo em vista a preservação do sistema.
De novo, preciso fazer notar que, por mais que me repugne o totalitarismo, e qualquer espécie de justificativa para o totalitarismo, não posso deixar de reconhecer a importância e a excelência do livro A República. Faz parte do meu top ten particular, dos livros que considero mais importantes na minha vida. Acho que naquele momento se afirmava plenamente a capacidade humana de considerar a realidade, criticá-la, e conceber novas formas de vivê-la, no caso, referindo-se à organização política.
Este o elemento mágico, que distingue o homem dos outros animais. Assistam a qualquer documentário sobre elefantes ou gorilas, ou zebras, ou sapos, ou tubarões, baleias, golfinhos, chimpanzés. Assistam: África, a Vida Selvagem. Repare como os ciclos da natureza se repetem, inverno na planície, no verão se deslocar atrás das fontes da água. Ano após ano, eternamente.
Já o homem, este concebe e executa construir um canal, ou construir uma represa de armazenamento. Ou construir uma ferramenta para ir buscar a água.
O homem cria instrumentos, engrenagens, governos. Não é que Platão tivesse inaugurado a maneira de organizar os homens. O grande Sólon, antes dele, também em Atenas, fundava as leis e instituições democráticas, e novas leis, novos desenvolvimentos, se deveram a outros legisladores e administradores memoráveis, Pisístrato, Péricles, afora a multidão dos desenvolvimentos anônimos, cumulativos, que faziam a organização de Atenas.
Em outros lugares, novas organizações eram tentadas, adaptadas a cada circunstância, Licurgo e sua sociedade militarizada em Atenas, os impérios egípcios e mesopotâmicos, e as tribos israelenses...
O homem era o mesmo homem em cada uma dessas circunstâncias, criando suas leis e organizações, trocando experiências, da mesma forma que criavam suas moedas, seus comércios, suas matemáticas, suas astronomias, suas línguas, suas escritas... um processo principalmente inconsciente, anônimo, cumulativo, como o processo de criação de leis, adaptado a cada circunstância, aproveitando experiências alheias.
Mas com Platão, talvez pela primeira vez na tradição ocidental, o pensamento político se apresentava sob um enfoque sistemático, filosófico, em que pela argumentação, pela dialética, se buscava uma forma idealizada, perfeita, de organização da pólis. A unidade política, o governo da Cidade-Estado.
Esta foi a incrível contribuição para o pensamento, consubstanciada na forma de um livro, um delicioso livro, tendo Sócrates por personagem-protagonista, em que se afirma a capacidade humana de refletir sobre o Estado, e descobrir a melhor maneira de organizá-lo. Não precisamos aceitar passivamente as leis que temos, não precisamos suportar o jugo do governante da hora. Podemos nós mesmos discutir, e encontrar um melhor caminho.
Este o grande legado d´A República, além das inspiradíssimas passagens em que se discute a ponderação, o equilíbrio, a Justiça (na verdade, a discussão no livro principia como uma investigação sobre o que seria a Justiça. A discussão sobre a organização do Estado ideal ocorre por uma proposta de Sócrates, que alega que discutir sobre a Justiça na organização de um Estado tornaria mais fácil enxergar a Justiça na organização de um indivíduo, por uma questão de escala, sendo a Justiça uma coisa só, nos dois casos). Lemos na República, também, o famoso mito da Caverna, e uma história sobre um sujeito que conseguiu um anel que lhe fazia ficar invisível, podendo dar livre curso às suas ambições, sem correr o risco de enfrentar punição.
Com todo o imenso prazer que este livro formidável proporciona, com toda a sua imensa contribuição, não é o caso, claro, de tomá-lo por guia na hora de se pensar um Estado. Talvez o próprio Platão alimentasse a esperança de implantar sua República, tal qual a descreve em seu livro, entusiasmado com a própria genialidade de seu pensamento, e do pensamento de seu Mestre, Sócrates, tão formidável, tão preciso.
Acresce que ainda tinha a força da novidade. Um pensamento sistemático, comparativo, argumentativo, sobre a política, ainda não havia sido testado. Parecia não haver limites para seu alcance. Ah, nada como o Reino das Idéias, o Reino das Matemáticas, a roda dos discípulos na Academia, para dar livres asas à imaginação, e tudo parecer possível!
Mas o mundo do Real está sempre aí, e é tão difícil transformar uma Idéia em Realidade! Olho para este texto que escrevo: quando acordei pela manhã ele parecia tão pronto em minha mente, e tão mais inspirado! Agora já estou há horas batalhando, e cada vez ela se perde mais, aquela chama do pensamento puro, nas digressões, nos descaminhos, nas interrupções, na falta da palavra certa!
Tanto se perde, e olha que é só um texto, não é uma Lei para uma Cidade! Mas se não houver essa passagem para a Realidade, imperfeita como é, então não é nada, não serve pra nada. E no meio da luta, no meio do trabalho, no meio da imperfeição que é lidar com o real, é que se pode alcançar algo de interessante, e que pode até surpreender, pois não tinha sido adivinhado, quando era só pensamento.
Mas falava de Platão, e ele realmente tentou concretizar seu pensamento no governo de uma cidade, ensinando sua filosofia aos príncipes, ou sendo ele próprio o príncipe-filósofo. Como sói acontecer, nessas situações, em pouco tempo Platão se desincompatibilizou com os governantes locais, no caso, os Dionísios, pai e filho, tiranos de Siracusa, tendo de picar a mula para evitar coisa pior.
Outro grande intelectual que não deu sorte no desempenho das funções públicas, este na tradição oriental, foi Confúcio (séc. VI a. C.). Não importa. Nos dois casos, seu legado não foi a prática do que fizeram, mas seu pensamento, que sobreviveu e inspirou mudanças no modo de se organizar politicamente.
Afinal, hoje, temos em nosso patrimônio certas idéias, certas práticas, certas instituições, certas leis, que representaram efetivos avanços ao nos proporcionar maior segurança e bem-estar. Temos os Tribunais, os advogados, as leis, para resolver nossos conflitos, e nos proteger inclusive do arbítrio do Soberano, temos serviços públicos, temos o voto para escolhermos nossos representantes, temos o Poder dividido em suas funções... tudo isso, claro, fruto do pensamento humano, que comparou, criticou, concebeu, e implantou cada uma dessas mudanças, com muitos sacrifícios, e com muito trabalho.
Claro, também, tudo isso imperfeito, como imperfeito é o ser humano. Mas pense na alternativa, pense em não ter nada disso, como foi realidade, durante muito tempo de nossa História, e como continua sendo em muitos lugares. Pense em não ter a quem recorrer, quando expurgado de seu patrimônio, de sua liberdade, de sua vida, pelo arbítrio do Soberano. Pense em não poder votar, não poder manifestar seu pensamento, não poder fechar em segurança um contrato. A imperfeição é apenas um estímulo para que se busque melhorar continuamente, e não para desmerecer o que já se conquistou.
Celebremos, portanto, nossos utópicos e suas utopias. Mas não dogmaticamente, não acriticamente, não irrefletidamente. Talvez muito da ressaca que temos hoje com as utopias se deva a que elas foram implantadas a ferro e fogo recentemente, por fanáticos, sem que suas promessas de perfeição terrena tenham sido cumpridas.
Saíram do seu terreno, o terreno poético, inspirador, ideal, para tentar obrigar a realidade a se conformar com suas propostas pré-moldadas. Foi a tal pretensão cientificista, que empolgou os corações e mentes durante o século XIX e XX.
O grande progresso técnico, as grandes invenções que maravilhavam o ser humano durante todo este período, que a maioria não podia sequer explicar, fundamentavam uma fé irracional, mística, na ciência. A televisão, o automóvel, a luz elétrica, o avião, o foguete, o rádio, o cinema... e as cirurgias, e o raio laser...
Tudo podia ser conseguido, tudo podia ser explicado, apelando-se tão somente para a ciência. Novos campos poderiam ser explorados, utilizando-se dos métodos e instrumentos que tão bons resultados alcançaram, no terreno da tecnologia. A psicologia curaria os sofrimentos do indivíduo, a sociologia curaria os sofrimentos da sociedade. Uma nova era de ouro seria alcançada, com fartura e bem-estar para todos! O Paraíso reconquistado, aqui mesmo, nesse Vale de Lágrimas!
Hoje, depois que a ciência demonstrou seu poder de destruição em duas grandes guerras terríveis, depois que a Alemanha nazista se valeu de avançadas técnicas para praticar o extermínio em massa, depois que o átomo foi partido sobre Hiroshima e Nagasaki, depois que os experimentos sociais e econômicos redundaram em outros tantos milhões de vítimas na União Soviética, na China, no Camboja, e em outros cantos, depois que continuamos com as mesmas angústias, as mesmas frustrações, as mesmas carências, mesmo nos Estados que são os “maiores” do mundo, a fé absoluta na ciência parece abalada...
Não que se vá retornar à idade da pedra lascada, não é isso. Mas é bom, é saudável, que não abdiquemos mais do espírito crítico, para sair numa corrida cega em direção ao que se pode revelar um abismo.
Às utopias fez muito mal esta febre cientificista. O tal “socialismo científico” garantia que reformaria a sociedade e o homem, com as bases da mais pura ciência. E qual era a tal receita “científica”, inspirada na descoberta então recente da evolução natural, por Charles Darwin? Ah, o fim da História, com a tomada do poder pelo proletariado, que encerraria a luta das classes. E como, ou por que, se encerraria a luta de classes, se ela sempre esteve presente na História do homem, segundo a lição do Mestre Marx? Ah, sim, pela abolição da propriedade privada dos meios de produção. Que simples, que científico! Parece a abolição do dinheiro do More. Mas o que era poesia, então, o que era exercício de pensamento, subitamente adquiriu realidade, e uma realidade violenta, brutal, quando subiu ao poder na Rússia o grupo dos bolcheviques, fanáticos dispostos a usar a sociedade russa como cobaia para seus experimentos utópicos.
Era uma sociedade já acostumada a sofrer sob o jugo de tiranos absolutos. Os czares, influenciados pelo domínio mongol suportado nos anos iniciais do desenvolvimento do Estado russo, empregaram os mesmos métodos despóticos sobre sua população. Que o diga Ivan, o Terrível. O chamado despotismo oriental. Mas, ao mesmo tempo, a Rússia tinha os olhos voltados para a Europa, onde se desenvolviam as nações modernas. O papel dos czares, então, foi o de promover uma modernização acelerada da Rússia, num parto a fórceps. Pedro, o Grande, foi o monarca emblemático, impondo que aos conservadores camponeses russos que raspassem suas barbas, construindo portos e embelezando São Petersburgo, às custas do trabalho forçado, e deportação, de milhares de servos. A Rússia aumentava seu poderio, europeizava-se, mas na superfície. Não basta raspar uma barba para transformar um velho camponês russo num moderno europeu citadino. No fundo, permanecia a velha força bruta aplicada pelo governante sobre a massa de servos, ainda presos à terra, num regime feudal, que só cairia, formalmente, em 1861.
Quando chegou a hora de enfrentar o teste da realidade, a Rússia se viu inapelavelmente ultrapassada pelas outras potências industriais. Primeiro, a humilhação da derrota para o Japão, em 1905. Depois, o desastre da Primeira Guerra Mundial. A Rússia estava pronta pra trocar de senhores, sairia aquele que a lembrava da derrota, do atraso, da humilhação, para entrar os que lhe prometiam um rompimento definitivo com todo aquele passado de Igreja e de nobreza, para poder ingressar, finalmente, no que lhes parecia o supra-sumo da modernidade: a filosofia marxista, o Fim da História. Conforme o pensamento de seus intelectuais, compensatório de um sentimento de inferioridade, a Rússia seguiria liderando entre as nações: não mais devido à fé ortodoxa, destinada a preservar o “verdadeiro” cristianismo da corrupção do Ocidente; mas, agora, devido à fé marxista, Farol destinado a iluminar o caminho da Humanidade...
E tome modernização a fórceps, tome deportação, desapropriação e trabalhos forçados... nada de muito diferente, desde o czar Pedro, passando por Lenin e Stalin. Talvez um novo fôlego, com a substituição das lideranças e da ideologia oficial, para as velhas práticas despóticas. Um período de forte desorganização econômica, depois de uns experimentos desastrosos inspirados por uns marxistas ortodoxos, seguido de uma fome devastadora, e de guerra entre vermelhos e brancos, e o sistema se reorganizou sobre suas velhas bases conhecidas: domínio único e inquestionável do soberano, e a bem da verdade o partido bolchevique, sob a liderança de Lenin, foi o mais decidido a empunhar as rédeas do poder, perseguindo e executando milhares de opositores; e exploração total e completa dos “servos”, convocados para realizar os altos desígnios do Estado, confundido com a figura de seu líder supremo.
A estabilidade do regime sob esta linha de submissão total da vontade do indivíduo à vontade do soberano, mesmo a um custo incalculável em termos de vidas dos seus súditos, foi o bastante para fazer a Rússia voltar aos trilhos de seu desenvolvimento. A Rússia já era um Estado de imensos recursos, imensos potenciais humanos. Logo retornou à sua tradição de incorporar as nações à sua volta, sob a sua liderança, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Parecia que tudo precisava mudar, para que tudo permanecesse o mesmo. O período de anarquia, provocado por uma guerra desastrosa, e por uma liderança fraca do czar, fora suplantado por uma ditadura absoluta, a mais completa que o mundo moderno já vira. O apogeu chegou ao final da segunda guerra mundial, quando o Paizinho Stalin levou os russos à desforra sobre a Alemanha, estendendo seu império até o meio de Berlim.
A Santa Rússia cumpria sua missão de espalhar o Evangelho da nova fé. Mas teria sido realizado realmente este ideal utópico de fim da exploração do homem pelo homem, comunismo, Reino de Paz sobre a Terra?
Descontando a opinião de alguns fanáticos, principalmente aqueles que viam o Império Soviético bem de longe, tudo que se via eram os velhos padrões de exploração de alguns povos mais fracos por um povo mais forte, e a exploração dos próprios súditos russos pelo seu governo. Tudo que se via eram as velhas práticas despóticas, tiranas, julgamentos manipulados, expurgos em massa, deportações pra Sibéria, intelectuais perseguidos, castas de privilegiados, etc. etc.
As idéias de Marx ganharam grande projeção, por terem sido invocadas como justificação para este regime que representava, na imaginação dos utópicos do mundo, a esperança de finalmente exercerem o poder neste mundo. Professores, artistas, escritores, guarda-livros, sentiam-se exaltados, porque lhes parecia que aquelas crenças que partilhavam, como as de uma seita, finalmente conquistavam os cargos de comando, e em breve se imporiam a todo o mundo.
O filósofo político italiano, Antonio Gramsci, percebeu bem isso. A nova fé atendia a esta clientela, a inteligentsia, que almejava conquistar e manter o poder.
Ah, como o poder seduz e ilude... aqueles homens e mulheres podiam jurar que faziam tudo “por um mundo melhor”, quando no fundo batalhavam todos os dias por um mundo em que o exercício do poder estaria concentrado em suas mãos merecedoras, as mãos dos Iluminados, daqueles que sabem o que é melhor para o povo...
Os soviéticos continuavam sem direitos, sem liberdades, sem poder votar, sem poder tocar um negócio, sem poder sair do país, sem poder mudar de emprego, sem poder criticar o Governo? Ah, mas os professores de marxismo estavam com uma vida bem boa...
E foi assim que o pensamento utópico se desmoralizou totalmente. Quando passou da poesia para a ciência, e desta para a prática de governo, onde é que foram parar os tais jardins floridos para o homem? Que Éden aproveitava ao pobre diabo preso num Gulag, passando frio e fome na Sibéria? Ou numa vida sem direitos, sem esperanças, e sem poder protestar? Que raio de utopia era essa?
Ah, sim, eles deviam ter de sofrer, porque eram infiéis da nova crença. Eram apóstatas, ou hereges. Assim justificavam os padres do novo sistema. Mas, então, deu-se tantas voltas pra se voltar à Idade Média? À Igreja triunfante e perseguidora de dissidências?
Não se pode culpar Marx por tanta besteira que se fez em seu nome. Mas o fato é que suas idéias de abolição da propriedade privada dos meios de produção, e de luta de classes, forneceu o álibi para que os dirigentes políticos na Rússia concentrassem todo o poder econômico nas mãos do Estado, perseguindo e eliminando os opositores. Uma economia planificada e centralizada, muito ineficiente e corrupta.
Os imensos sacrifícios do povo russo, de fato empenhado em superar os traumas da derrota humilhante na Primeira Guerra, aliado aos imensos recursos do país (o mais extenso do mundo), permitiram que houvesse um desenvolvimento extraordinário do Estado, uma vez que as técnicas modernas eram empregadas na produção industrial. O Estado soviético se tornou uma potência militar, anexou os vizinhos mais fracos, dominou politicamente metade da Europa, explodiu sua bomba nuclear, lançou o primeiro satélite, colocou o primeiro astronauta em órbita, alcançou altos índices de industrialização, alfabetizou sua população...
Algumas conquistas importantes, outras inúteis, ou injustas, que não redundaram em melhoria na condição de vida da população, vivendo sob um regime de terror e penúria. Onde estava a tal utopia? Onde estava a liberdade da opressão do homem sobre o homem?
Em 1991, surpreendentemente, o Império soviético se esvaneceu no ar, e todo aquele sacrifício de vidas pareceu tão sem sentido. Todos aqueles livros de exaltação de repente cheiravam a mofo, todos aqueles professores ficaram sem assunto, todos aqueles políticos, todos aqueles partidos, sem justificativa. Toda aquela energia empenhada em sustentar aquela grande utopia, um desperdício.
De repente, todas as utopias passaram a ser vistas com suspeita. E a balança desequilibrou-se novamente, de uma crença ingênua para um ceticismo excessivo, de um erro para outro.
Os novos tempos pensavam que conceber e defender utopias era um exercício inútil, quando não pernicioso. Mais valia aceitar o mundo do jeitinho que é dado, e lutar pelo próprio interesse. Basicamente, ter mais do que o vizinho.
Para quem está muito confortável nesta situação, para os donos do poder, pode ser muito conveniente que não se fale mais em mudança. Mas como os problemas e as injustiças continuam por aí, e podem se agravar enquanto não são combatidos, seria melhor pra nossa atormentada espécie arregaçar as mangas e dar tratos à bola.
Na busca de um equilíbrio, sem se empolgar com soluções simplistas e que excluam boa parte da humanidade do horizonte, mas também sem renunciar à busca de um novo ideal para o tempo, que represente algum avanço no sentido de proporcionar paz e bem estar para cada um de nós.
Voltando à República, de Platão, para exemplificar, podemos admirar e nos inspirar com o pensamento elevado que propõe a crítica e a transformação. Mas não precisamos idolatrar o livro ou o autor, por elevados que sejam, e procurar impô-los como um dogma à realidade. Lembremos, a propósito, o que diz o escritor Irving Stone a respeito da idéia de Platão de fazer com que os reis-filósofos se encarreguem da educação das crianças, com menos de dez anos, “subtraindo-lhes os costumes dos pais e educando-as segundo seus próprios costumes e leis”. Stone comenta: “Só mesmo um solteirão como Platão, que nunca na vida trocou uma fralda, poderia levar a sério uma proposta dessas”.
43.Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo.
44.Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem.
45.Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
46.Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?
47.Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?
48.Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.
do Evangelho Segundo São Mateus, capítulo 5, versículos 43-48
O tema de que iremos tratar é o Estado, a maneira pela qual deve se configurar, as leis que devem reger a nação.
Trata-se de um exercício de pensamento, idealizado ou utópico, à maneira de outras obras políticas, como A República, e As Leis, de Platão, O Espírito das Leis, de Montesquieu, O Leviatã, de Hobbes, A Utopia, de Thomas Morus, Os Dois Tratados Sobre o Governo, de John Locke, Os Analectos, de Confúcio.
Como cada um destes trabalhos, espero que este também traga elementos úteis à elaboração de ordenamentos e estruturas mais capazes de atender ao cidadão, em seus legítimos anseios. Deve o Estado servir ao cidadão, e não o cidadão servir ao Estado.
Como obra de pensamento, idealizada, serve como guia para nortear as discussões, não como camisa de força, leito de Procusto para a realidade. Estará sempre aberta às críticas, aos desenvolvimentos. Estarei feliz se uma ou outra idéia se mostrar útil.
Como as obras que mencionei, dentre outras, espero que esta também sirva de inspiração, mas não espero uma concordância cega com os pensamentos de nenhuma delas. Por mais que se admire Platão, Rousseau, Marx, Santo Agostinho, Locke, Confúcio, ou qualquer outro gênio, não abro mão do direito de crítica, e de reconhecer que falavam dentro de um contexto de tempo e lugar, devendo-se refletir sobre seus pensamentos à luz de todo o desenvolvimento histórico.
Não faço mais parte de grupos ou panelinhas. Não sou pró ou anti Marx, pró ou anti Platão. Procuro meu pensamento próprio, inspirando-me, eventualmente, em Marx ou Platão. Defendo a liberdade para o pensamento e para a manifestação do pensamento, então preciso considerar válido que Platão ou Marx tenham escrito o que escreveram. Defendo a minha liberdade, também, de conhecer seus pensamentos, e de criticá-los. Ou de até desconhecê-los. São muitas as leituras, pouco o tempo. Eu não li as Obras Completas de Marx, ou as Obras Completas de Platão. Não sou enciclopédico, não sou talvez sequer erudito. Não vou aqui esmiuçar as grandes obras políticas escritas pela Humanidade. Analisá-las em profundidade, destacando seus prós e seus contras.
Já li algumas delas, já li trechos de outras. Já li algumas obras de referência, já tenho uma certa idéia do desenvolvimento do pensamento político. Mas, repito, esta aqui não é uma obra primariamente dedicada a debater o que foi dito a respeito da organização do Estado; é uma obra que, inspirada por alguns destes pensadores do Estado, pretende desenvolver sua própria idéia de organização estatal.
Parece muito pretensioso, talvez seja mesmo, querer navegar neste mesmo barco das “feras”. Caramba, Montesquieu, Hobbes, esses cabeçudos???!!!!!!?? E Platão, e Aristóteles???????????????!!!!!!!!!!!!!!!!??????????????????????? E Confúcio????????????????????????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!???????????????????
Realmente, parece rematada loucura. E no entanto, é necessária uma dose de loucura para se levar a cabo este intento de fazer uma obra de pensamento sobre a organização Estatal para os nossos tempos.
Estes nossos tempos que parecem ter abdicado desta pretensão e desta loucura. Parece que preferimos viver hoje um outro tipo de pretensão e loucura: a pretensão e loucura da decadência, do ceticismo e do cinismo.
Vivemos isto porque abdicamos de refletir e criticar os mecanismos de poder e de organização da nossa sociedade. Engolimos aquela besteira de fim da História, de tudo resolvido e feito, e que agora só precisaríamos nos preocupar em aproveitar ao máximo, com sombra e água fresca, ou melhor ainda, um sol escaldante numa praia cheia de mulheres, e muito álcool e muitas outras coisas na cabeça, num Jardim de Epicuro, que tudo estaria feito para nós...
Tratava-se apenas de conseguir o melhor neste cenário dado, e nada de questionar o cenário. A democracia é que o sistema de governo, mas ninguém se pergunta se de fato o poder está nas mãos dos cidadãos, ou se nos contentamos apenas com a propaganda, com as aparências. O liberalismo é a sistema econômico, mas ninguém se preocupa com as grandes corrupções, com as grandes injustiças.
O socialismo mantém seu prestígio no discurso dos contestadores, mas também é um sistema doutrinário, acrítico, pró-forma. Um mero desejo, distante, que serve apenas para o sujeito que o possui se sentir bem consigo mesmo. Ele vive neste mundo das competições e injustiças, ele faz todas as jogadas sujas, mas, oh, ele suspira por este amor platônico, algum dia, socialismo, algum dia... o melhor é que fazer esta profissão de fé, além de não custar qualquer sacrifício, ainda lhe abre muitas portas com a patotinha, reúne os adeptos da mesma fé, dá aplausos e prestígio em certos meios, além de verbas e cargos importantes...
Em suma, tudo muito estável, tudo muito confortável, tudo muito parado... embora talvez tudo esteja parado à beira de um abismo.
O jogo se estabeleceu fortemente, cada um com seus lugares marcados, com suas cartas marcadas. Liberais de um lado, socialistas do outro, democracia pró-forma, muita hipocrisia, muito dinheiro inexplicável rolando pelos altos bolsos, muito hedonismo, muito escapismo
E parecemos muito satisfeitos com isso. “Não teria sido melhor permanecer no teu fofo e morno leito e arrastar a vida de um verme, já que é a única de que te julgas digno?” - Epicteto. Muita injustiça, muita corrupção, muita miséria acontecendo? Ah, mas isto é do jogo... faz parte da vida... melhor com eles do que comigo...
Imprudentes que edificam sobre areia, se me é permitida uma comparação bíblica.
Pois, então, louco por louco, prefiro a minha loucura que me vai ao menos permitir realizar esta minha obra. A sua fortuna, claro, não depende de mim, depende das circunstâncias históricas. Se ela falar aos tempos, e se uma revolução americana for feita com base nela, como a obra de Locke, ou se uma revolução russa for feita com base nela, como a obra de Marx, então ganharei fama imorredoura. Embora eu mesmo, certamente, já terei há muito morrido. E embora, se ela inspirasse a violência e a intolerância que a obra de Marx inspiraram, então não me agradaria em nada esta fama.
Minha obra busca, justamente, desvincular-se do pensamento autoritário que caracterizou tantas Utopias escritas anteriormente. A República, de Platão, era totalitária. A Utopia, de Morus, era totalitária. O Capital, de Marx, era totalitário. Mas é aqui que, com base nestas obras, e nos acontecimentos históricos que lhes sucederam, que eu busco inserir uma novidade nestes pensamentos utópicos: uma Utopia não totalitária, uma Utopia que reconheça e mais, respeite e até celebre as diferenças.
Não justifico, está visto, qualquer violência ou qualquer perseguição em meu nome ou de minha obra. Embora reconheça que também não tenho domínio sobre isto. Ora, a própria Bíblia, o próprio Jesus, não foram e são usados para justificar perseguição e violência?
Mas mantenho que é válido pensar, é válido exprimir, torcendo pelo bem e pelas boas consequências. No caso do que escrevo, minha melhor esperança é que sirva para formar o núcleo de alguma resistência pacífica, democrática, em que algumas propostas de reforma sejam desenvolvidas, comunicadas, e pelo convencimento da maioria venham a ser implantadas, beneficiando o desenvolvimento de condições gerais dignas.
Embora não tenhamos atingido nenhuma perfeição sobre a qual podemos descansar, é fato que fizemos avanços e conquistas democráticas. Não é também que estejam seguras, que não se possam perder. A luta deve ser para manter o terreno, e conquistar novas posições.
Por exemplo, os EUA, país-símbolo maior das conquistas democráticas, chegou, após o 11.9 e com o governo Bush, ao retrocesso absurdo de ressuscitar a idéia de tortura como instrumento válido. Vimos isso, inacreditável. Mas a exploração dos medos de muitos, associada à ganância de alguns, mantém sob constante tensão o ideal democrático. A eleição de um negro na sociedade americana profundamente racista, com um nome muçulmano ainda por cima, foi um novo sopro de vida para a democracia nos EUA, mostrando a imensa força deste sistema de governo. Mas, como eu disse, nada nunca está resolvido, e o tempo não pára, não espera por ninguém. É preciso combater a cada dia, para não experimentar da verdade do verso de Hesíodo: “Desgraçado o que dorme no amanhã”. É aquela história, o preço da liberdade é a eterna vigilância.
Dito isto, podemos reconhecer que em algumas sociedades, hoje, é possível organizar um partido político, discutir e apresentar propostas, disputar eleições. Em tal sociedade, a resistência deve se dar pela via pacífica, ainda que demorada, do convencimento. Não significa que a maior parte de toda a sociedade precisa estar no partido, precisa conhecer e endossar cada proposta. Não é assim que acontece.
Mas um número crítico de cidadãos honrados, com uma proposta coerente, transparente, precisa se unir em torno de alguns pontos fundamentais, e conseguir o voto de confiança da maioria, nas urnas, para implantação dessas propostas.
Sob um inimigo, externo ou interno, que retire a liberdade dos cidadãos, impeça este caminho pacífico para a mudança, fica justificada a resistência pelo uso da força, apenas até que se recupere esta liberdade política roubada, nunca para que se implante uma outra ditadura, sob nova justificativa.
A resistência se impõe a cada membro consciente da sociedade. Pacífica, ou armada, quando não se tem a liberdade política. Neste último caso, ainda que não se aceite tirar vidas pela defesa da liberdade, algum tipo de apoio aos que resistem deve ser oferecido. Ou vai se conseguir informações, ou vai se conseguir remédios para os combatentes, ou vai se dar abrigo, ou vai se organizar um protesto, ou vai se dar algum apoio, de alguma forma, à causa da liberdade. Ainda que sob o risco da própria vida. Não se vai compactuar de maneira alguma com o sistema.
É esta a resistência que se impõe, a todos os que são conscientes, e que amam a liberdade.
Terminam oito anos de governo Lula, não precisa estourar o champanhe. Vem aí a mulher do Lula.
E não é que no tal do apagar das luzes, fechando simbolicamente a era Lula, época marcada pela frase “estou me lixando pra opinião pública”, nossos amados Senadores, presididos por José Sarney, nossos amados deputados federais, presididos por Michel Temer (o vice da mulher do Lula), resolveram se mimosear com um aumentinho de 61,8%. Também incluíram na festa a presidência e a vice presidência da República, ambas mimoseadas com um aumentinho de 130,3%. Para os ministros, a melhor fatia: 149,5%. E ainda tem gente que acredita que existe crise econômica... tolinhos...
Claro que o salariozinho dos nossos parlamentares, indo agora para R$ 26.703,10, ou 52 e uns quebrados salários mínimos, é só o comecinho da conversa... começa que um senador recebe 14 salário no ano, e o deputado federal, 15. Além disso, tem as verbas de gabinete, as passagens aéreas, as verbas indenizatórias, as cotas de combustível, de gráfica, de telefone, os planos de saúde sem limite de custos, e os etc.
Na conta que o jornal O Globo fez hoje, um senador pode custar até R$ 169 mil (um meia nove) POR MÊS, de dinheirinho do contribuinte. Um deputado federal, mais comedido, fica por até uns R$ 130 mil. Mensal.
Ah, vida chata, vida difícil... Tem de ter muito espírito de abnegação e sacrifício para entrar na política...
E agora vemos o tal do “efeito cascata” se espalhando pelo país: no dia seguinte ao aumento dos parlamentares federais, lemos a notícia de que os deputados estaduais do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Pernambuco, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul, do Paraná, de Santa Catarina, já estão aprovando a toque de caixa seus reajustes, e o dos governadores e outras otoridades de seus respectivos Estados, repetindo o percentual de aumento de 61,8% que se concederam os parlamentares federais, em seus próprios vencimentos. Não demora, e vêm os vereadores repetir a prática... não basta ser uma farra federal, precisa ser estadual e municipal também.
Na farra dos aumentos em cascata nas Assembléias Estaduais, ganhou o prêmio frase emblemática o presidente da Assembléia de Pernambuco, Guilherme Uchoa, do PDT: ele disse que o reajuste salarial de sessenta e poucos por cento é "o custo da democracia".
Ou seja, as chamas da corrupção, da insensibilidade, do descaramento, estão queimando firme neste final de mandato. Esta ânsia de abocanhar bastante, 61%, 130%, 149%, numa tacada, numa jogada feita às pressas, sem votação nominal, mostra bem o que pensam do povo. “Estou me lixando pra opinião pública”, esta frase parece ressoar pelo ar em Pindorama, como um fantasma desta era Lula...
Por falar em Lula, qual foi a reação do Nosso Guia, o Nosso Estadista, a este incêndio no final de seu mandato? Ele lamentou o episódio, ah, sim, vejam como ele lamentou, em discurso feito perante sua claque:
- "Estou lamentando, porque o Paulinho (deputado Paulo Pereira da Silva, PDT – SP) me disse que hoje o Congresso acabou de aprovar aumento para o presidente da República, os ministros... e o Lulinha aqui, ó... O Lulinha não recebe, porque é só para a próxima legislatura. De qualquer forma, para quem ganhava como torneiro mecânico em São Bernardo do Campo, um salário de presidente até que ajuda".
Ah, que fina verve... que brilhante “sense of humour”... vamos aplaudir, gente, vamos aplaudir o grande artista! Faz lembrar outro desses grandes homens, que tocava sua harpa enquanto Roma ardia em chamas, para inspirá-lo...
"Liminar do TSE determina diplomação de Maluf", é o titulo de uma reportagem no Globo de hoje.
E quem é o cínico que não acredita em final feliz?
Na mesma página desta reportagem, tem outra, com o título: "Mensaleiro também é beneficiado". Trata-se do deputado federal Pedro Henry (PP - MT), que havia sido enquadrado na lei da Ficha Limpa por uma condenação do TRE, mas que agora obteve a validação de sua candidatura por decisão do mesmo TSE que diplomou Maluf.
E não vamos nos esquecer de mencionar Anthony Garotinho, ex-governador do nosso Rio de Janeiro. O TSE também anulou sua condenação, e ele será diplomado.
E quem disse que não se consegue uma decisão rápida da Justiça brasileira, quando se precisa?
Trata-se do Barril de Amontilado, do norte-americano Edgar Allan Poe (1809 – 1849).
É a história de uma vingança fria. Três páginas, ou pouco mais. Narrado em primeira pessoa, é a confissão confiante, até bem humorada, de um homem que cometeu um assassinato há muitos anos, jamais descoberto.
Ele começa expondo sua determinação de vingar-se de um homem que conhecia, e de que não gostava. Mas nos explica que não se deixaria levar por um impulso irracional, mas ao contrário, planejaria com método a satisfação de seu impulso homicida, de modo a garantir sua impunidade.
Primeiro, mascarou suas intenções, fingindo uma amizade com sua vítima. A execução é de uma crueldade ímpar: convidando-o para tomar um cálice de amontilado, sabedor que sua vítima tinha este fraco por vinhos, num dia em que ela estava já embriagada, convenceu-a a ir à sua adega beber o tal vinho.
Lá, num local preparado, um canto úmido e gelado da adega, acorrentou a vítima, totalmente surpresa, à parede de pedra. Daí, friamente, metodicamente, procedeu ao seu emparedamento. Fileira por fileira, e todas as sensações durante aquele trabalho, a excitação de seu protagonista, seus poucos diálogos com a sua vítima, são descritos.
O conto acaba com a exaltação daquele crime, há tantos anos executado, como uma grata lembrança.
Mais aterrador que o sofrimento da vítima, é o seu retrato implacável da crueldade humana. O homem, único ser racional, que usa esta racionalidade, este dom, para o mais abominável fim.
O homem, único ser racional, único ser que pode planejar, que pode prever uma consequência, através de sua imaginação. O único ser que possui a liberdade de ordenar seus atos, segundo esta previsão mental, em direção a um determinado fim.
O único ser consciente, o único ser livre, o único ser responsável. No conto de Poe, sem subterfúgios, vemos o instante aterrador em que o homem utiliza da sua liberdade para praticar o ato maligno. O momento em que colhe e prova do fruto proibido.
O atormentado Edgar Allan Poe, escritor às vezes rebaixado como “escritor de história policial”, ou alguma tolice do gênero, fez em suas três páginas o mais aterrador retrato do mal.
Chave de ouro, o fecho deste Governo, a era Lulinha. O momento em que o país fez seus experimentos com um poder absolutista, dada a falta de oposição política à vontade do soberano.
Avançamos firmes e confiantes no caminho da servidão. O único partido político do Brasil, estruturado com uma estratégia de ocupação e manutenção dos mecanismos de poder, finalmente ocupou o primeiro posto, numa nação de tradições tão profundamente servis, um país escravocrata, até cento e vinte e dois anos atrás.
Ocupou o primeiro posto, com a figura do carismático. E aproveitou do primeiro posto para implantar firme seu objetivo de poder por muitos anos. O objetivo final, é claro, é o poder eterno. Um reich de mil anos... e só a democracia tem o poder de fazer um projeto assim soçobrar.
E a questão agora é: conseguiremos desenvolver esta democracia, não pró-forma, enganadora, hipócrita. Não perfeita, também, porque não existe o perfeito no nosso mundo. Mas a melhor que possamos conceber e manter.
No poder, Lula e o PT fizeram o que fazem aqueles interessados em se manter definitivamente no poder: aumentaram os cargos de confiança, aumentaram os salários e os privilégios dos poderosos. Encheram de verbas todos os projetos dos amigos. Engavetaram todos os projetos dos adversários, tantos quantos foi possível.
O Governo exerceu sem oposição suas vontades. Qual a única grande derrota política que este Governo teve, em oito anos de mandato? A perda da CPMF, derrota que Lulinha nunca esqueceu, como fazem aqueles obstinados.
No mais, tudo foram flores.
Na verdade, veio um trem de carga pelo caminho, um escândalo de proporções colossais, abomináveis. O mensalão foi uma chaga, na cara tonta da nossa República, a envilecer sua História. Compra de votos de políticos, no balcão de atacados. Grana viva pra encher os bolsinhos, e pra fazer cordeirinhos. Pra comer na minha mão. Percebem: pra não ter oposição.
E isto desmascarado, mostrado a nu, pelos jornais, pela TV, com detalhes macabros.
Mas aí houve o grande momento da inflexão. O país descobria, boquiaberto, que o único partido que havia, pra desejar ocupar o poder, já estava no poder.
O que aconteceu do mensalão: nada. Reeleitos, foram todos, ou quase todos, dos flagrados com a mão na massa. Justiça? Algum dia será julgado um processo. Movimentos de classe, movimentos estudantis, Ordem dos Advogados, Imprensa, Sindicatos, Políticos? Todos satisfeitos com o andar da carruagem, com o cocheiro no comando. Todos esperando que algo fosse cair do céu, que as nuvens se dissipassem. Todos, com as honrosas exceções. Mas as exceções não foram suficientes para modificar as relação de força.
E, algo caiu do céu, realmente, mas foi um raio na cabeça destes devaneadores, destes desocupados. Lulinha se uniu e se metamorfoseou em Sarney, em Collor, em Jader Barbalho, em Renan Calheiros, nos exemplos da turma toda. Distribuía-se dentaduras em troca de votos nos lugares mais miseráveis do Brasil? Pois vamos distribuir dentaduras por votos nos lugares mais miseráveis do Brasil. Vamos dividir este feudo, presa tão gorda, e qual é a parte que lhe cabe deste latifúndio?
Vamos sangrar a vaquinha. Me ajuda aqui, uma mão lava a outra.
E vimos a repartição dos cargos públicos. Como é que Michel Temer colocou, de forma blasfema? Ah, sim, ele disse que ia chegar a hora de repartir o pão. Estão repartindo, está visto. Ministério pra cá, ministério pra lá. É MEU, pra fazer como eu quiser.
E casos de corrupção ocorrendo na nossa cara. Mas o feudo é deles, não é nosso, e a nossa Justiça não podia fazer nada com o feudo deles. Podia só garantir e defender o feudo próprio.
E a tchurma se acomodou bem com isso. A tchurma dos antenados, para eles bastava a mística de que o partido “do bem” estava lá. Às vezes também rolava uma verbinha especial, um empreguinho bom, alguma mamata.
E sem estes canais de ressonância, sem a organização de alguma proposta política distinta, aceitamos passivamente este domínio. Democracia não é pra quem quer. É pra quem pode.
Custa, e custa caro. Já custou muito sangue. Custa responsabilidade, vigilância, solidariedade e coragem. Democracia e liberdade. É o preço justo por ambas, e elas só andam juntas. Mas cabecinhas alienadas estão dispostas a vendê-la por qualquer trocado. Uma bolinha ou um bolão, mas o custo de perdê-las é sempre o mesmo. De que vale ao homem conquistar o mundo e renunciar à alma?
Viver com medo, viver encolhido? Satisfeito com o bar mais próximo e com a televisão depois que lhe tiraram o couro? Satisfeito de ver a corrupção imperar, e de ser roubado a cada dia, e que tantos perdem a vida de maneiras indignas? Satisfeito de ser feito de palhaço o tempo inteiro? Ah, saindo talvez com uma vantagenzinha em alguma feira ou leilão, em algum negocinho bom amparado na desorganização geral de um país. Existem os vendidinhos, e existem os vendidões.
E existe um país campeão de pedofilia, campeão de exploração de miseráveis, campeão em desfaçatez e desgraça.
Para os que remam contra a maré desse clima de euforia propagandeado, imposto, a saída é se organizar, se juntar para a resistência. Para aqueles que preferem se alienar, só se pode fazer aquele desejo dos antigos chineses: “espero que você e seus filhos não vivam os tempos interessantes”.
Mas para os que irão defender uma causa, que esta causa seja aquela da liberdade. Liberdade, que se não é para todos, não é para ninguém.
Mencionei em artigo recente que Paulo Maluf foi inocentado pela Justiça brasileira. Darei maiores detalhes do caso.
Paulo Maluf, com contas milionárias no exterior, figurão importante da nossa República, pessoa incomum, que já ocupou altos postos, merecedor de um tratamento diferente, segundo a filosofia política elaborada de Nosso Líder, Nosso Guia, respondia por escândalos na compra de frangos super-faturados, para a merenda escolar das nossas criancinhas, à época em que era prefeito de São Paulo, em 1993/1994. Já lá se vão 16 anos... como o brasileiro é muito criativo e bem humorado, o escândalo ganhou até um nome engraçado, era o frangogate. Passaram-se os tais 16 anos, Maluf, uma figura pitoresca no nosso noticiário político/criminal, um sujeito que apareceu com muitas contas milionárias no exterior, como dito, que ganhou uma voz de prisão da Interpol, acabou sendo condenado pelo frangogate. Nada para se preocupar muito, continuava livre como um passarinho, esperando o tal do trânsito em julgado. Após uns 16 anos.
Mas daí veio uma reviravolta inesperada: pela lei do ficha-suja, com grande pressão popular, decidiu-se que Maluf não poderia seguir como deputado federal na próxima legislatura, embora houvesse vencido a eleição, por conta daquela condenação judicial, por órgão colegiado. E o que é que o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo fez agora? Decidiu pela absolvição de Maluf, caçando a decisão judicial anterior que o impedia de exercer o mandato de deputado federal na próxima legislatura, nos termos da lei da ficha limpa.
Não foi rápida, nossa Justiça, ao dar o desfecho do escândalo do frangogate, depois de tantos anos fazendo esforços hercúleos para bem decidir a situação? Razão teve Maluf, quando dizia que “sempre confiou na nossa Justiça”. Ele agora pode até se dar ao luxo de comentar sua situação atual com muita segurança, conforme entrevista que deu durante uma cerimônia da revista Isto é, que o premiou como um dos brasileiros que se destacaram em 2010 (grande Isto é!). Ouçamos as palavras de Maluf:
"Decisão não se comenta, se cumpre. Eu fui inocentado definitivamente pela Justiça. O objeto do que o tribunal tinha contra mim acabou. Se vivemos num Estado de direito, na sexta-feira serei diplomado".
Tá certo, Maluf. Estado de direito, decisão judicial, tudo muito no conforme. Ah, criança, pode se ufanar deste país, que tem a mais bela cachoeira, e o céu mais estrelado, e o estado de direito! Saiba, criança, que aqui vivemos honestamente, e o malfeito é punido, e as crianças recebem os remédios de que precisam, e eles não estão super-faturados, e não deixam de comer frango na escola, e os frangos não estão super-faturados, e se alguém se atrevesse a super-faturar qualquer coisa, ah, criança, o peso da lei cairia nele, conforme a decisão de homens íntegros e honestos! Ah, criança, não verás país como este!
Link para a reportagem completa sobre Maluf no prêmio da Isto é: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4846472-EI7896,00-Nao+posso+deixar+de+ser+diplomado+diz+Maluf+em+premiacao.html
Paulo Maluf, político brasileiro famoso, ex-Governador da cidade mais populosa do país, a terceira maior do mundo, São Paulo. Imenso PIB. Maluf se mantém político, com mandato de deputado federal. Empresário bem sucedido, suas empresas lhe renderam milhões. Já foi até candidato à Presidência da República, na eleição indireta que finalmente tirava os militares do Poder, vencida por Tancredo Neves, assumida por José Sarney.
Paulo Maluf acaba de ser inocentado num processo criminal pela nossa Justiça, o que lhe dá direito de ocupar o cargo público de deputado federal, para o qual se reelegeu.
Sarney do congelamento de preços, do domínio político do PMDB nas eleições feitas sob a intensa propaganda do plano “miraculoso”. Um plano que acabou em desastre, um período de hiper-inflação prolongado, este imposto sobre o pobre, a inflação. Desorganização completa das contas nacionais.
O inusitado do fracasso colossal fez com que, nas eleições para suceder Sarney não houvesse candidato da situação. TODOS os candidatos estavam ali pra falar mal da situação. Na disputa final, entre Lula e Collor. Era a primeira de tantas tentativas de eleição do Lulinha. Nessa ele perdeu pro Collor, o aventureiro caçador de marajás, com seu plano de modernizar o Brasil, foi assim que ele levou, na época.
Collor dos seus jatinhos, dos seus laços familiares na bala. Um cunhado que dava tiro, ah, a vida na Corte! Collor voluntarista, que acabaria amargando o único impeachment da História do Brasil. Collor falava que “tinha um tiro pra dar cabo do tigre da inflação”. Deu um tiro foi na cara do país, simplesmente o confisco da poupança. Milhões de poupadores, pra quem se disse, “dá cá o seu dinheirinho!”, no talvez mais brutal confisco que se tem na História moderna. Milhões de poupadores pra quem se deu compulsoriamente um título de que o Governo pagaria aquilo ali, um dia, bem devagarinho.
Esta é a nossa nação, esta é a qualidade da nossa governança. O Judiciário, é claro, embolsou isso. Prestou seu beneplácito de interpretação jurídica, autorizou tudo isso. A Lei Maior dizia que ninguém seria desapossado de seus bens sem prévio processo judicial. Mas a Lei Maior pode ser uma besteirinha, não é mesmo?
O Congresso? Que Congresso? O Congresso não estava ali para defender nenhum representado. Os discursos de sempre. Depois teria sua vingança, quando o presidente eleito pensasse que podia mandar muito sozinho. Ninguém manda sozinho, e o Congresso queria seus muitos interesses atendidos. Além disso, contava já com o desgaste popular das políticas equivocadas.
O Brasil via aquela porrada econômica inacreditável, o descontrole econômico resultante, tudo por uma “tese” a ser “testada” no laboratório da realidade. A ministra da Economia era uma inacreditável Zelia Cardoso de Mello, nas entrevistas explicando seus “planos”. “Vamos tirar o dinheiro da economia que vamos parar de ter inflação”. Daí se misturando no noticiário as “cantadas” do Ministro da Justiça, amor de folhetim. E daí o monstro da inflação aparecendo com força, de novo. O segundo fracasso retumbante seguido na tentativa de controlar o monstro.
Politicamente, Collor invocou o suicídio. Um desgosto popular muito grande, e a esquerda, festiva mas eficaz, botou todo o seu bloco na rua. Era a hora de derrubar o adversário, e finalmente emplacar o seu velho símbolo: Lulinha.
Collor sangrou, um talho fundo provocado por uma infernal disputa familiar. Entrevista retumbante do seu irmão para a revista Veja, o exemplar que sumiu das bancas. E havia uma cunhada gostosa. Escândalo. O apelo desesperado de Collor: “Não me deixem só!”. Uma grande ópera bufa, onde atores jogavam grande visando os poderes.
Mas o Brasil manteve o pé na racionalidade. Acabou o mandato desse cara, o que deve ser feito? Deve-se cumprir o que está na lei, e convocar o seu vice.
Houve até um papo golpista de certos setores, tipo: “quem é este vice? Vamos tirá-lo dali.” Mas a aspiração de um golpe não deu certo. Itamar seguia princípios mais simples. Passava na vida despreocupado, com seus fusquinhas e seus camarotes de Carnaval. Sem radicalismos, escolheu Fernando Henrique Cardoso, que lhe apresentava um plano formado por cabeças pensantes, para dominar a inflação.
Fernando Henrique articulou este plano nas Casas Legislativas. O Real foi implantado em 1994. A queda da inflação foi gritante, rápida, durável. O Brasil deixava de ter inflação de 300 % ao mês, para passar a 2% ao ano. Este número tão baixo, que existia nos países do então chamado primeiro mundo, e que para nós era um sonho distante.
Mas Fernando Henrique era um menino vaidoso. Fez suas jogadas políticas. O clássico acordo, feito por Itamar com seu ministro, era de ele usufruiria da presidência por um mandato, e devolveria a bola a Itamar. Na época, a presidência só se podia exercer por um mandato.
E o que FHC fez? Negociou com o Congresso um segundo mandato, beneficiando aos próprios ocupantes do poder, ele mesmo, claro, e todos os outros governadores. Numa reportagem muito boa da Revista Veja, nessa época, mostrava que o Governo foi atrás de cada parlamentar para fechar este grande negócio: a reeleição do chefe. Por exemplo, lembro dessa reportagem que nosso ex-deputado federal carioca, ex-presidente do clube Vasco da Gama, negociara então, dentre otras cosas, um belo campo de treinamento do Vasco. Me chamou a atenção sua justificativa para o negócio do voto: “tenho de pensar primeiro nos interesses vascaínos”. Parece piada. Não é não. É retrato, é história.
FH conseguiu seu mandatinho. Pra coroar tanta esperteza, depois de já ter investido tanto, investiu-se muito mais em segurar um problema do plano que estava fazendo água até depois da eleição. O momento era difícil, e a população achou mais seguro ficar onde estava, dando seu voto pra FH, contra Lula, de novo. FH pagaria seus pecados mais tarde, perdendo a sucessão para o candidato da oposição. Quem? Lulinha.
Depois das três derrotas seguidas, nas três eleições disputadas, Lulinha e sua banda vinham por aí. Acabou valendo a pena esperar, porque os espinhos ficaram todos pros adversários que vieram antes pelo caminho. A oposição sempre apoiava os planos econômicos doidos que seus adversários faziam, combatiam cada batalha pra sabotar as iniciativas boas.
Claro, à oposição não contenta que uma política que apóia seja adotada. Ela dá o seu apoio àquela proposta, porque sabe que o custo político de mantê-la é sempre do partido da situação. À oposição interessa fazê-lo perder apoio, para chegar aos cargos de quem comanda, e assim atender à própria patota.
Foi o que Lula e o PT fizeram bem. A estratégia de guerra de José Dirceu. Ele recusou a aliança com FH. Ele não queria ser o número dois. Ele manteve o seu bloco na oposição, esperando que o bloco da situação fizesse água nos mares da vaidade de FH. A situação não estava boa no Brasil, continuavam os problemas, para muita massa do povo.
E a oposição mantinha os seus trunfos, seus 30% de votos, sua penetração em universidades, movimentos sociais, sindicatos, redações. Os dias de glória do vaidoso FH estavam contados. Ele estava convocado enquanto se arrumava a casa. O desfrute do poder, já vão agora oito anos, mais quatro que virão, pelo menos, está com a ex-oposição.
Eles é que indicam os cargos, que destinam as verbas, que detêm os planos.
No governo Lula, muitas corrupções apareceram. Já nas eleições de 2002 um rumoroso caso de assassinato abalou a imprensa. Um prefeito do PT, Celso Daniel. Nas investigações que se seguiram, muita podridão jorrou, de esquemas de corrupção, chantagem de empresas de ônibus, coisa muito grande, envolvendo muitos nomes grandes. O irmão de Celso Daniel fez uma acusação totalmente comprometedora por trás do assassinato, e teve de sair do país, e oito pessoas envolvidas pelo caso, principalmente testemunhas, foram assassinados em sequência, sem que nada se concluísse, até hoje. Aliás, recentemente, passados uns oito anos do caso, foi condenada uma pessoa por envolvimento no assassinato. Todas as questões envolvendo as grandes corrupções dos bastidores deram em nada. Todas vítimas testemunhas não tiveram direito a qualquer reparação.
Foi sob este signo que a oposição venceu as eleições de 2002. Economicamente, o nome do jogo era: “manter tudo como está, do que se passou a vida atacando ontem”. Ora, tática tão simples, tão eficaz, Lenin já tinha ensinado tudo antes. Ou então O Grande Irmão, de George Orwell. Terra e Liberdade? Ora, significam Espoliação e Prisão.
Maquiavel tinha ensinado isso. Collor tinha ensinado isso. Mas Lenin era um mestre: “Acuse-os de fazer o que você vai fazer!” Tão genial no seu paradoxo. Lulinha teria sua versão, que contou rindo como de uma piada: “na oposição a gente faz bravata mesmo!”. Bravata, e tava explicado.
Ainda mais que Lulinha, o mago, fez chover pelo mundo. Choveram chineses comprando no mercado, um mercado inacreditavelmente ligado pela inovação tecnológica, no fenômeno da Globalização.
E o Brasil, com todos os problemas que tem, com toda a falta de educação, é um gigante com ilhas de excelência por todos os cantos. A produção de matérias primas básicas se dá num ritmo acelerado, para atender a demanda internacional. A grande fome por madeiras, minérios, energia, petróleo. Tudo o que faz o mundo girar, dinheiro. Trigo. Carne. Soja. Laranja. Maçã. Tudo que o Brasil tem tanta capacidade de produzir.
Mas como anda o nosso lado político? Continuando com as corrupções, logo no primeiro ano aparece um vídeo, nada menos que um vídeo, com um grande assessor de um dos sujeitos mais poderosos da República, o chefe da Casa Civil, José Dirceu. Pois não é que esse assessor aparecia no vídeo recebendo propina de um bicheiro, negociando situações camaradas do governo? Era uma “captação de dinheiro para a causa, companheiro”. E ficou por isso mesmo. O assessor até foi afastado, mas não precisou nem o José Dirceu cair, não. A oposição ali, bem calminha. Foi uma primeira demonstração do que estava pra vir.
O mensalão caiu como bomba. Ainda era o segundo ano de Lulinha, e agora parecia que a coisa ia. Só que a oposição fingia que não tinha dentes porque de fato não tinha. Um líder dos Democratas, Jorge Bornhausen, disse à época que “iam exterminar essa raça” da oposição. Delírio de empolgação. Ninguém foi questionar aquilo, então todos viraram cúmplices. Não tinha movimento social, de estudante, de advogados, de cidadãos, contra. Não tinha sindicato, ou pelo menos sindicalista, contra.
Tudo dominado, e a população não viu vantagens em querer mudar aquele que já estava por ali, que falava, falava, mas com quem, afinal, a economia caminhava bem. E o Lulinha aproveitava essa situação tão favorável que lhe caía no colo. Descobriu-se que não se tinha oposição.
José Dirceu realmente caiu no escândalo, junto com Roberto Jefferson, o deputado canastrão, cantor de ópera, mas velha raposa da política. Roberto Jefferson com as frases bombásticas, no depoimento falou olhando pro José Dirceu, entre sorrisos: “o senhor me provoca os mais primitivos instintos”. Depois disso Jefferson aparece nas primeiras páginas com uma porrada no rosto, fatos inexplicáveis como um pesadelo humorístico.
Caíram os dois, e no clima de surpresa envolvente não vou dizer que Lulinha não sentiu os arrepios de ser destituído do poder. Já começavam os discursos de vítima, mas aí é que se viu que a oposição não tinha dentes. Umas espanadas, umas bordoadas, e ficava tudo igual. Lula fazia mais um discurso, e aumentava o bolsa família, e o operário podia comprar mais um pouquinho. Estava bom demais pra nós brasileiros, nunca tínhamos experimentado de tanta fartura!
A aprovação de Lula atingiria níveis obscenos, 80%, 88%, o escambau! Naquele momento de dúvida, ainda, a ex-oposição, agora partido no poder, se fortalecia na crença de ser imbatível, junto com seu Mestre e Guia. Aí os discursos já eram de comparação com o Todo Poderoso. Lulinha se aproximou de modo definitivo dos velhos donos do poder, que lhe asseguraram que ele não ia cair nunca. Só era preciso garantir-lhes poder eterno em seus feudos. Sabe como é, uma mão lava a outra...
E foi assim que assistimos à Volta dos Mortos Vivos. Sarney, Jader Barbalho, Collor (é, Collor, senador de Alagoas. Sarney, senador do Amapá. Jader, senador do Pará. Todos de volta à cena, abraçados por Lulinha em palanques do Brasil.
“É a economia, estúpido”. É o bolsa família. Mas o Brasil não ia tão bem, crescendo menos que vizinhos, com os juros mais altos do mundo, com o sistema de saúde um esgoto, com a indústria da multa, a indústria do crime, os milhares de assassinatos não resolvidos, os super-salários, e os super-super salários, as farras e as mordomias, a corrupção em tudo que é canto, tantos e tantos contratos, bilhões e bilhões para sustentar a farra.
Mas o povo não via outra opção, e era mantido em espessa ignorância, e não podia fazer essa comparação com o resto do mundo. Olhava apenas pro seu presente, pro seu passado recente, e a renda cresceu um pouco, então a satisfação se instala. Em termos, porque mesmo a aprovação recorde do presidente garantiu uma eleição fácil para a situação. Contou, outra vez, com os muitos erros da oposição, o seu temor místico de enfrentar o poder, e se dobrou fácil.
Acabamos elegendo a mulher do Cara. Uma ópera bufa. Novamente José Dirceu dá as caras, agora meio escondido, mas tá por lá. Pallocci é outro que aparece. Já falei dele em outros artigos, não vou me agastar repetindo. Sarney, já atendido com dois Ministérios. O poderoso das Minas e Energia, e o atual ministério sensação atual na obtenção de recursos por emendas de parlamentares, o ministério do Turismo. Um senhor de 80 anos, muito amigo de Sarney, sem outras grandes qualificações relevantes, é o escolhido pela nossa presidente, Dilma Rousseff.
Sou advogado público. Brasileiro, natural do Rio de Janeiro. Moro em Nova Friburgo, no estado do Rio. Nasci em 1973. Publico também no blog hebdomadário de assuncion, junto com amigos, meu pseudônimo é Dr. Jonah. http://hebdoma.blogspot.com/. E não consigo pensar em nada mais de relevante. Relevante (ou não) será o texto que escrevo. Quem escreve, não importa.