quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Maluf e os frangos


Mencionei em artigo recente que Paulo Maluf foi inocentado pela Justiça brasileira. Darei maiores detalhes do caso.


Paulo Maluf, com contas milionárias no exterior, figurão importante da nossa República, pessoa incomum, que já ocupou altos postos, merecedor de um tratamento diferente, segundo a filosofia política elaborada de Nosso Líder, Nosso Guia, respondia por escândalos na compra de frangos super-faturados, para a merenda escolar das nossas criancinhas, à época em que era prefeito de São Paulo, em 1993/1994. Já lá se vão 16 anos... como o brasileiro é muito criativo e bem humorado, o escândalo ganhou até um nome engraçado, era o frangogate. Passaram-se os tais 16 anos, Maluf, uma figura pitoresca no nosso noticiário político/criminal, um sujeito que apareceu com muitas contas milionárias no exterior, como dito, que ganhou uma voz de prisão da Interpol, acabou sendo condenado pelo frangogate. Nada para se preocupar muito, continuava livre como um passarinho, esperando o tal do trânsito em julgado. Após uns 16 anos.


Mas daí veio uma reviravolta inesperada: pela lei do ficha-suja, com grande pressão popular, decidiu-se que Maluf não poderia seguir como deputado federal na próxima legislatura, embora houvesse vencido a eleição, por conta daquela condenação judicial, por órgão colegiado. E o que é que o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo fez agora? Decidiu pela absolvição de Maluf, caçando a decisão judicial anterior que o impedia de exercer o mandato de deputado federal na próxima legislatura, nos termos da lei da ficha limpa.


Não foi rápida, nossa Justiça, ao dar o desfecho do escândalo do frangogate, depois de tantos anos fazendo esforços hercúleos para bem decidir a situação? Razão teve Maluf, quando dizia que “sempre confiou na nossa Justiça”. Ele agora pode até se dar ao luxo de comentar sua situação atual com muita segurança, conforme entrevista que deu durante uma cerimônia da revista Isto é, que o premiou como um dos brasileiros que se destacaram em 2010 (grande Isto é!). Ouçamos as palavras de Maluf:


"Decisão não se comenta, se cumpre. Eu fui inocentado definitivamente pela Justiça. O objeto do que o tribunal tinha contra mim acabou. Se vivemos num Estado de direito, na sexta-feira serei diplomado".


Tá certo, Maluf. Estado de direito, decisão judicial, tudo muito no conforme. Ah, criança, pode se ufanar deste país, que tem a mais bela cachoeira, e o céu mais estrelado, e o estado de direito! Saiba, criança, que aqui vivemos honestamente, e o malfeito é punido, e as crianças recebem os remédios de que precisam, e eles não estão super-faturados, e não deixam de comer frango na escola, e os frangos não estão super-faturados, e se alguém se atrevesse a super-faturar qualquer coisa, ah, criança, o peso da lei cairia nele, conforme a decisão de homens íntegros e honestos! Ah, criança, não verás país como este!


Link para a reportagem completa sobre Maluf no prêmio da Isto é: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4846472-EI7896,00-Nao+posso+deixar+de+ser+diplomado+diz+Maluf+em+premiacao.html

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