sábado, 11 de dezembro de 2010

Rosa de Hiroshima - Secos & Molhados





Os japoneses, possuídos de um espírito de agressividade terrível, empenharam-se numa luta suicida para prevalecer num mundo em que só se via a guerra como possibilidade de sobrevivência de certas nações.


Numa época de nazismo, fascismo, comunismo, imperialismo. Só o mais forte sobreviveria, Teoria da Evolução das Espécies.


O Japão sentia-se pressionado por todos os lados. Um pequeno arquipélago, com uma grande população. Uma população industriosa, obediente de séculos. Uma nação assustada, e ao mesmo tempo orgulhosa. O primeiro dos asiáticos que respondia ao desafio de fazer frente aos conquistadores europeus. Eles tiveram de ser obrigados pelo Almirante dos EUA a abrir seus portos, integrar seu comércio ao mundo moderno. Sob mira de canhões estrangeiros começava uma nova época. E os japoneses, em tempo recorde, desde 1856, tornaram-se a nação industrial dos tempos modernos.


Sob uma forte tirania que os empurrava para a frente. Mas que ganhou força quando, numa disputa marinha com o Urso Gigante Russo, impôs pela primeira vez a resistência oriental à dominação do Ocidente.


Acontece que seus vizinhos mais vulneráveis eram a Coréia, era a China. Dominando com seus tanques de guerra, seus aviões, seus navios, o Japão se lançou a uma rapina terrível contra estes territórios. As nações ocidentais não iam lá e pegavam? Pois o Japão não seria outra vítima, o Japão também defenderia o seu quinhão.


Note-se que nesta época dominava o monopólio entre colônias e metrópoles. As nações industrializadas conquistavam pela força de armas estes monopólios, arrancavam todas as riquezas que estas nações possuíam para alimentar as suas fábricas: ferro, aço, trigo, milho, tudo que pudesse ser oferecido. E a metrópole excluía todas as demais nações deste comércio com sua colônia.


Inglaterra, França, Alemanha, Itália, disputavam este predomínio, e sua vítima era a África. Também a Indochina foi conquistada pelos franceses, a Índia, a Birmânia, pelos britânicos, dentre outras nações. A China era a bola da vez, responsável por disputas ferozes, mas que acabaram num acordo “de cavalheiros” para destrinchar a pobre vítima.


Até os EUA se metiam na disputa, pressionando seus vizinhos, e se metendo até nas Filipinas. Num massacre perpetrado pelo exército americano, um milhão de filipinos com armamento muito inferior foram trucidados pelos mariners orgulhosos.


Neste clima de disputa as tragédias das guerras mundiais foram uma consequência inevitável. Um novo arranjo precisava ser feito, e vem sendo tentado, de livre intercâmbio do comércio, de globalização que espalha as oportunidades. Mas nunca se sabe o que a História reserva.


Mas o Japão nos anos anteriores à segunda guerra vinha praticando uma dominação feroz sobre seus povos vizinhos. Sentia-se ameaçado, com uma população que demandava até alimentos, e sem ter para onde escoar seus produtos. Era uma crise profunda. Um beco sem saída. Vender para a África? Mas a África só faz comércio com a Europa. Os povos muito fechados na sua disputa econômica. Era a questão da vida e da morte, mais próxima do Japão por estes motivos: era uma nação de território pequeno, de população grande, que não tinha de onde ganhar dinheiro. Ainda possuía uma História de militarização, de domínio por clãs de senhores feudais e suas guardas de samurais. Uma sociedade fortemente estratificada.


Uma nação onde convivia o moderno e o avançado com tradições tão antigas quanto o endeusamento do imperador. Este era visto como um guia a ser seguido cegamente pela população, para livrá-los daquele inferno. E ele os guiou no caminho das armas, do ódio profundo ao estrangeiro.


Nas escolas, as crianças eram ensinadas a obedecer até morrer. Não se admitia o questionamento, não se admitia a crítica. Investia-se todas as fichas na solução militarista.


Dominar sobre os chineses. Dominar sobre os coreanos. E se outras nações ameaçarem nosso domínio, guerrear também contra eles. Os americanos eram um empecilho constante, perto deles nas Filipinas, na China, junto com os Ingleses, na Birmânia, na Oceania. Que não fossem dar ordens ou lições de moral para eles, japoneses.


Nas suas escolas, os americanos eram descritos com chifres de demônios. Nas imagens da segunda guerra, ficaram muito marcantes as imagens dos kamikases: os aviadores que iam se sacrificar junto do avião, para derrotar seus inimigos.


O Japão foi carrasco ao mesmo tempo que foi vítima. Num mundo que apostava na guerra, ele teve de apostar com menos, e perdeu terrivelmente.


O Japão sofreu com esta enfermidade da modernidade, chegarmos a tanta ciência, com tão pouco desenvolvimento da consciência e da ética: a bomba atômica. Um símbolo talvez da nossa impossibilidade humana.


Apenas, que mesmo depois de tanto horror da guerra, tivemos alguns momentos de paz que valem toda a existência. Tivemos a possibilidade de novo da esperança. Japão que floresceu, Alemanha que floresceu, Europa, mundo que mudou.


Continuamos, é claro, com a guerra fria, e os horrores do comunismo, mas o mundo crescia mesmo com as disputas. Os impérios coloniais foram sendo sacudidos na África. A Índia se reergueu, dando este exemplo de humanidade que foi Ghandi. A China, ainda que com suas tragédias e com suas violências, também se afirmou.


A globalização vem distribuindo os eixos do poder mundial, político, econômico. E o império comunista ruiu pela própria pressão interna de seus povos. Um sinal de que a liberdade e a mudança nunca morrem no homem.


Mas agora o momento é de nova crise. O capitalismo global não corresponde a muitas das esperanças.


O que se vê é que o espírito da ambição e da ganância continua desenfreado. Um mundo rico, mas onde se passa fome. Um mundo que promete muito, mas decepciona. Muita corrupção descarada, muitos inclusive assassinatos, para que se mantenham os muitos esquemas.


Vemos a Europa em crise, os Estados Unidos em crise. Milhões de desempregados, milhões de pessoas sem um teto sobre a cabeça. Enquanto isso, os bilhões rolam, daqui para ali.


Hoje Londres se ergue contra os cortes de verbas para a educação, e a realeza leva tomates na limusine. Que vergonha, tirar-se o dinheiro para a educação das massas! Quanta razão tinham as pessoas que protestavam!


Enquanto isso, as novas guerrinhas sem fim são travadas. Ocupação do Iraque, ocupação do Afeganistão. Irã sente-se ameaçado, a corrida armamentista começa, escolham seus lados: o bem contra o mal, o belo contra o feio. Já conhecemos essa velha história, nunca pode acabar bem.


Será que o ser humano não pode se reformar, e descobrir espaço para todos?


Sugestão de leitura: Gen: http://ussclub.blogspot.com/2010/05/gen-pes-descalcos.html

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