Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema: a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar - Sun Tzu, século V a.C.
Na manchete de sábado do jornal O Globo, “Intenso tiroteio entre Exército e tráfico abre a Batalha do Alemão”. São as forças de segurança do Rio, além do Exército e da Polícia Federal, que iniciaram a ocupação das favelas do Complexo do Alemão.
Na reportagem, lemos que já haviam sido feridos na troca de tiros três militares e seis civis, entre estes uma criança de dois anos, atingida por um tiro de fuzil no braço. Triste saldo do primeiro dia de confrontos no Complexo do Alemão, principalmente quando lembramos que na véspera, no Jornal Nacional, vimos mais de duzentos traficantes armados fugindo da Vila Cruzeiro, que tinha sido invadida pelas Forças de Segurança, para irem se abrigar justamente no Morro do Alemão.
Eles atravessavam uma estrada no alto da Serra da Misericórdia, um local desabitado, e seguiam por uma estrada deserta. Um único blindado, que havia alcançado aquele ponto, abriu fogo contra os traficantes em fuga, atingindo um deles. Os outros escaparam.
E apesar das desconversas e das explicações dos comandantes e dos especialistas em segurança, a imagem não deixa mentir: houve uma falha gritante de planejamento, quando não se aproveitou aquele local deserto, óbvia rota de fuga, para se armar uma emboscada e obrigar à rendição aquele grande número de traficantes, com risco nulo para a população.
Deveria ter sido feito o mapeamento do local que seria invadido, no caso, a Vila Cruzeiro. Identificadas as possíveis rotas de fuga. No caso, o alto da Serra da Misericórdia, por ligar a Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão, por ser um ponto alto, devia ter sido ocupado pelos soldados, como preliminar à invasão. Momentos antes desta se iniciar, usar helicópteros de transporte para desembarcar, de surpresa, alguns soldados no meio daquela estrada, escondidos na mata. Depois da invasão, e com apoio aéreo, os traficantes que viessem armados pela estrada se veriam cercados, e obrigados a depor as armas.
Seriam duzentos traficantes colocados fora de circulação, numa tacada, sem riscos à população.
Escondidos dentro do Complexo do Alemão, podendo fazer reféns entre os moradores, a captura destes bandidos seria forçosamente mais difícil.
Será que nossos militares, nossos estrategistas, não lêem os livros de Julio Cesar? A Guerra Civil, As Guerras Gálicas? Se lessem, saberiam da importância de se ocupar os pontos estratégicos. Mas para a nossa cultura talvez estudar estratégia seja uma estupidez, algo inútil, algo para se ironizar, uma decoreba do substantivo “estratégia” em diversas línguas:
Friedrich List (1789 – 1846), foi um economista alemão que propunha para a riqueza de uma nação o fortalecimento da força produtiva de seus cidadãos. Declarava que é dever dos governos promover as artes e as ciências.
Que diagnóstico preciso! Vimos nações desprovidas de recursos naturais alcançarem altos índices de bem estar econômico, pela operosidade alta de seus cidadãos. O Japão é um exemplo perfeito. Não só isso: numa reportagem que me impressionou aprendi que a Alemanha faz mais dinheiro com o café do que o Brasil. Sem plantá-lo, apenas pelas operações de prepará-lo industrialmente e comercializá-lo.
É óbvio que a Alemanha e o Japão cuidaram atentamente de sua educação. E Coréia do Sul, e China, e Rússia, e cada uma das nações que se desenvolveram ao longo dos últimos trezentos anos. E hoje em dia não há país que não invista pesadamente na educação de suas crianças, e não procure por melhores resultados na educação. Mais do que nunca, na História humana, este capital tem se mostrado valorizado. Época de competição global, grandes possibilidades de lucro, grandes riscos. É indispensável ter uma educação média de qualidade, hoje em dia não bastam algumas poucas elites educadas.
Uma comunidade bem educada possui as melhores condições de produtividade. Enriquece. As outras ficam pra trás. É simples assim.
Mais miséria, mais crime, mais corrupção, mais problemas.
É isto que se precisa exigir dos governos, isso mais que tudo: educação. Não basta o muro da escola pintado, o giz e o quadro-negro. É preciso que sejam transmitidos os conhecimentos. É preciso que haja uma boa relação de custo e benefício, relação esta que não se limita à economia, se aplica para tudo na vida. É preciso que a hora na escola traga as melhores oportunidades de ensino para os alunos. Que não se gaste tempo com coisas inúteis. Que não se desperdice os recursos escassos.
Que o professor não finja que ensina, enquanto o aluno finge que aprende, numa fraude em que ninguém ganha.
É obrigação do Estado fornecer uma boa educação, é dever do cidadão cobrar por isso. Que os currículos sejam focados, precisos, atentos aos interesses do aluno, à sua capacidade de trabalho. Currículos que compreendessem um bom número de vocações. De que adianta transmitir conceitos quando não se tem o interesse?
Uma escola de turno integral. Material didático básico, padrão, fornecido pelo Estado. Livros de História bons, de Geografia, de Matemática, Gramáticas, Dicionários, Atlas, Biblioteca. Tudo fornecido pelo Estado, sim, um retorno para os bilhõezinhos da “contribuição” compulsória.
Não essa vergonha de se fazer comércio para enriquecer alguns poucos autores e editoras, que ganham sua comissãozinha pra fazer uns materiais de péssima qualidade. Livros com erros crassos, livros com erros grosseiros, livros manipuladores de consciências, livros quadrúpedes, bizarros, entram na dieta das nossas crianças, mas alguéns tão ganhando muito com isso.
Livro escolar tinha de ser feito por muitos autores, especialistas em sua área de conhecimento, submetido às críticas de toda a sociedade. Isto para formar os livros-textos padrão, a serem adotados em todas as escolas para impedir as diferenças extremas na educação proporcionada pela nação.
Ao invés deste e daquele ganharem pelos “proporcionais” das grandes tiragens, que se pague aos profissionais que elaboraram os artigos um preço padrão, fixo. Claro, e a honra de ter seu nome publicado junto com a sua parte do trabalho.
Os que aceitassem esta condição, apresentariam suas credenciais, não é quem indica, mas seus títulos públicos, suas especializações, suas publicações em revistas e livros especializados, inclusive internacionais. Sua contribuição se daria em parceria com especialistas em pedagogia, que procurariam adequar os textos de acordo com a faixa etária dos alunos, e também mediriam o grau de sucesso dos textos.
Tudo muito público, muito transparente, muito aberto a questionamentos e críticas. Também a definição dos conteúdos deveria se submeter a este processo, discutido por especialistas, aberto aos questionamentos e queixas públicas. Por se tratar de algo que concerne a toda a nação, a educação pública. É interesse do público ter uma educação de boa qualidade, e o poder que tem este público, numa democracia, e as leis que fazem esse público, comprovam que é direito do público ter isso. É um artigo da Lei Maior do Estado, a Constituição da República Federativa do Brasil: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Será que alguém vai dizer que é letra morta, isso? Será que vão dizer que é coisa de subversivo, ou de liberal, ou de comunista? Será que exigir o interesse do país, da comunidade, da nação, é algo que não adianta, ou não tem valor, ou é besteira?
De fato, para quem pensa assim, de nada adianta cobrar. Mas é indispensável que os que não aceitam este lixo corrupto se unam em torno de algumas propostas boas para a educação, e cobrem sua aplicação e os bons resultados de seus governantes. Ou nunca teremos essa educação de qualidade, que faz uma sociedade de qualidade.
Com professores bem treinados para transmitir os conteúdos, e apoio de novas tecnologias, vídeo-aulas, internet, integração e capacitação de professores, bons salários, com melhorias adicionais para os mais inovadores, os mais participantes, os mais contributivos.
Com isto, e mais uma escola de horário integral, com boas instalações, formaria uma educação de alto nível. E este é o primeiro dos dois passos essenciais para se fazer uma revolução na educação que a capacite a formar cidadãos conscientes e bem sucedidos na sociedade.
O segundo passo essencial é respeitar os interesses de cada uma daquelas crianças, daqueles indivíduos que vão à escola.
Existem os atletas, existem os que gostam de música, existem os que gostam de números, existem os que gostam de livros. Isto é tão óbvio, basta olhar em volta, que insistir em martelar todo mundo numa forma é uma violência estúpida. Como querer que fulano ou beltrano, seja ele seu filho ou não, seja a ao invés de b.
Numa sociedade bem organizada e próspera talvez esse medo seja mais contido. Pode-se escolher mais, porque o músico ou o jogador de futebol, por exemplo, não estão condenados a morrer de fome e de frio.
Nas sociedades modernas, muito mais ricas, pode-se perceber essa maior diversificação. Ora, o nerd pode ser o Bill Gates, quem vai saber? Ou o Ronaldinho Gaúcho? Ou o Mick Jagger?
E a educação pode seguir também neste sentido. As aulas básicas são as mais importantes, saber a ler, a escrever, a fazer a conta, e biologia, história, e os seus direitos e deveres de cidadão, e os direitos e os deveres de seus governos, por exemplo.
Mas para além desse básico, tem um mundo de qualificações e escolhas. Um aluno que goste de medicina, por exemplo, poderia prosseguir em aulas eletivas, de sua escolha, um aprofundamento na biologia, na química, por exemplo, distinto daqueles que preferem fazer seu aprofundamento em outras matérias, outras disciplinas.
Por exemplo, um sistema de Biologia, 1 a 4. Este seria o ciclo básico, que todos fariam. Mas que fique como opção, dos alunos que quiserem, aprofundarem seus conhecimentos de Biologia cursando as matérias eletivas de Biologia, 5 a 8. Que tenham quatro horários por dia das matérias básicas, e escolham três horários por dia para suas disciplinas eletivas.
Que seja música, que seja educação física, que seja português, matemática... é um sistema, claro, grande, que deve ser bem pensado, aprimorado, constantemente.
Mas a idéia básica é muito boa: alunos mais interessados na escola, professores mais motivados, interesses sendo atingidos, resultados sendo alcançados. Uma revolução verdadeira, talvez a única revolução verdadeira, a revolução do espírito. Ensine a ler e a escrever, ensine a fazer conta, e veja os frutos!
Na imagem, o chefe da Secretaria para Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, e o indefectível presidente do Senado, José Sarney, rindo e se divertindo com o entertainer Luís Ignácio Lula da Silva. Ah, riso tão fácil, ah, vida feliz...
A reportagem fala dos 68 consulados e embaixadas abertos durante o Governo Lula, em países onde absolutamente não há interesses econômicos ou políticos do Brasil que justificassem os elevados gastos de manutenção das embaixadas.
O caso apresentado no início da reportagem ilustra bem: São Cristóvão e Névis, no Caribe, tem uma população que não ultrapassa 55 mil habitantes. Meu Deus, Nova Friburgo tem quase quatro vezes mais habitantes! Pois o Brasil mantém um embaixador neste país, com um escritório montado em uma suíte num Resort de luxo, cuja foto pode-se ver na matéria.
Quanto se gasta com isso? Qual o retorno? E em cada outro dos países com que se faz poucos negócios, com poucos habitantes, com poucos imigrantes nacionais, com pouco trabalho pra ser feito?
Vergonha internacional, um país de milhões de habitantes pisando em esgoto, tendo casas soterradas na lama, vivendo com muito pouco, trabalhando pra ganhar R$ 20, R$ 30, tendo de se virar com isso por um dia, por uma semana, por um mês!
E é este mesmo país que torra os milhões e os bilhões, com Embaixadas de alto luxo, com Embaixadas irrelevantes, com Embaixadas para servir de sinecuras, para servir de prêmio, para dar uma vida mansa, um dolce far niente, pra alguns figurões da nossa política, para alguns dos nossos homens importantes!
No dia em que as manchetes de jornais se encheram da guerra civil no Rio de Janeiro, uma notícia passa quase despercebida na página 35 do jornal O Globo: Dívida Pública sobe em outubro, para R$ 1,64 tri.
O famoso jornalista Isidor Feinstein Stone uma vez disse que ele se esforçava para notar as notícias da página 35 que deveriam estar na primeira página. Acho que esta é uma dessas notícias.
A dívida aumentou em R$ 18,8 bilhões em um mês, de setembro para outubro. R$ 3,4 bilhões por emissão de papéis pelo Governo, mais R$ 15,4 bilhões em juros que corrigiram o estoque da dívida.
E devemos estar muito contentes e satisfeitos de nos espetarem mais essa conta pra pagarmos, só deste mês. Afinal, cadê a oposição, cadê a crítica, cadê o povo que reclama? Por que ninguém berra que estamos sendo esfolados, uns R$ 19 bilhões por mês?
Adeus, 19 bilhõezinhos, saiu voando pela janela... foi torrado numa grande fogueira, você viu, alguém viu?
!9 bilhõezinhos, dava R$ 100 pra cada um dos 190 milhões de brasileiros. Pra cada um, homem, mulher e criança. Será que nesse mês caiu R$ 100 na sua conta, vindos do Governo, por esses R$ 19 bilhõezinhos que ele vai pagar? Nem na minha conta. Mas o dinheiro não some, em ALGUMAS CONTAS ELE DEVE APARECER!
Ah, já descobri porque tem uma gente tão sorridente neste mundo!
Aliás, não é Governo que vai pagar essa conta, Governo nenhum paga conta, Governo só faz a dívida, e só faz a festa. Quem vai pagar é dona Sociedade, cada um dos 190 milhões de brasileiros tem de pagar R$ 100, só pelo aumento da dívida neste mês! 19 bilhões! Cada brasileiro, homem, mulher e criança, esfolado em R$ 100, só do crescimento da dívida, de setembro para outubro...
Fora isto, estamos todos ótimos aqui na Brasilônia!
Este aqui é um link do You Tube em que tinham publicado a canção, só que o áudio foi tirado pela Sony Music. Estou deixando o link só pra vocês verem algumas mensagens carinhosas dos fãs para a Gravadora e sua política.
Quando escuridão era uma virtude e a estrada estava cheia de lama
Eu vinha do deserto, uma criatura desprovida de forma
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
E se eu passar por este caminho de novo, você pode estar seguro
Eu sempre farei meu melhor para Ela, para isto dou minha palavra
Em um mundo de morte com olho de aço, e homens lutando pra ser afáveis
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
não houve palavra trocada entre nós
envolvia um pouco de risco
Tudo, até aquele ponto,
tinha se deixado por resolver
Tente imaginar um lugar onde é sempre seguro e agradável
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Eu tinha sido esgotado, enterrado no granizo,
envenenado pelos arbustos, e soprado pra fora da trilha
Perseguido como um crocodilo, destroçado no milharal,
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Repentino, eu me virei, e Ela estava parada lá
com braceletes de prata nos seus pulsos, e flores no seu cabelo
Ela caminhou para mim Cheia de Graça, e tirou minha Coroa de Espinhos
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Agora existe um muro entre nós,
algo por lá se perdeu
eu estava seguro de coisas demais
tive meus sinais trocados
Imagine pensar que tudo começou em uma longa manhã esquecida
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Então, o Delegado caminha sobre pregos
e o Pregador cavalga uma montaria
mas nada importa, realmente, muito
é o Destino apenas que conta
E o coveiro caolho sopra uma corneta inútil
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Eu ouvi bebês recém-nascidos chorando como a pomba que chora seu luto
E homens velhos com dentes quebrados, abandonados sem amor
Será que entendo sua pergunta, homem, é tudo sem esperança e amparo?
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Em um pequeno vilarejo no topo da colina, eles jogaram por minhas roupas,
Eu barganhei por Salvação, e eles me deram uma dose letal
Eu ofereci minha inocência, fui pago com escárnio
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Bem, estou morando num país estrangeiro, mas estou prestes a cruzar a fronteira,
Beleza caminha sobre o fio de uma navalha, algum dia eu a farei minha
Se eu apenas pudesse fazer girar o relógio até quando Deus e ela nasceram
“Entre” – Ela disse, “Eu te darei, abrigo da tempestade”
Shelter from the storm
I was in another lifetime; One of toil and blood When blackness was a virtue And the road was full of mud. I come in from the wilderness, A creature void of form. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
And if I pass this way again You can rest assured I'll always do my best for her, On that I give my word. In a world of steel-eyed death And men who are fighting to be warm, "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
Not a word was spoke between us. There was little risk involved. Everything up to that point Had been left unresolved. Try imagining a place where It's always safe and warm. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
I was burned out from exhaustion. Buried in the hail. Poisoned in the bushes And blown out on the trail. Hunted like a crocodile Ravaged in the corn. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
Suddenly I turned around And she was standing there With silver bracelets on her wrists And flowers in her hair. She walked up to me so gracefully And took my crown of thorns. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
Now there's a wall between us. Something there's been lost. I took too much for granted; Got my signals crossed. Just to think that it all began On a non-eventfull morn. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
Well, the deputy walks on hard nails And the preacher rides a mount, But nothing really matters much. It's doom alone that counts And the one-eyed undertaker; He blows a futile horn. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
I've heard newborn babies Wailing like a mourning dove And old men with broken teeth Stranded without love. Do I understand your question, man? Is it hopeless and forlorn? "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
In a little hilltop village They gambled for my clothes. I bargained for salvation And she gave me a lethal dose. I offered up my innocence And got repaid with scorn. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
Well, I'm living in a foreign country, But I'm bound to cross the line. Beauty walks a razor's edge. Someday I'll make it mine. If I could only turn back the clock To when God and her were born. "Come in" she said, "I'll give you Shelter from the storm".
Me pergunta se sou um católico, me pergunta se sou um judeu, me pergunta se sou um protestante? Ou você é um chinês, ou um negro, ou um alemão, ou um brasileiro...
Nada disso me importa. Pergunto: és um bom samaritano?
Me mostra o que é o homem. Você é um homem que não me vai roubar, não me vai espancar, não me vai deixar caído à beira de uma estrada, não se importando se vivo ou se morro?
Você é mais, um homem, que me vendo caído, vai me amparar, vai me conduzir ao abrigo, me oferecer sua mão? Você é o homem que me oferecerá este sacrifício, este pequeno sacrifício de tua vida, este sacrifício para este homem que viu caído, sem sequer se importar de onde veio?
Se for um homem assim, então saudarei os católicos, se católico você for. Ou saudarei os judeus, se você honrar este nome. Ou saudarei o protestante, por mostrar entre suas fileiras este homem bom.
Mas se você for o ladrão, se você for o assassino, ou se você for o indiferente, que bem lhe vai fazer esse nome com que se esconde, e que só vai desonrar por usá-lo? Hipócrita é seu nome!
Mateus, capítulo 23:
Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos,
Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus.
Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem;
Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los;
E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes,
E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas,
E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi.
Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos.
E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.
Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.
O maior dentre vós será vosso servo.
E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.
Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.
Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor.
Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro?
E aquele que jurar pelo altar isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor.
Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta?
Portanto, o que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele está;
E, o que jurar pelo templo, jura por ele e por aquele que nele habita;
E, o que jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que está assentado nele.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas.
Condutores cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade.
Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.
Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos,
E dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas.
Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas.
Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?
Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade;
Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar.
Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração.
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!
Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta;
Porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.
Enquanto um mundo se esfacela numa segunda-feira à noite, ou outro qualquer dia, a qualquer hora, tudo que fizeram foi ficar sentados?
Ou foi fazer algum outro negócio, envolvendo milhões, milhões tirados de uma pobre gente...
Ninguém precisa se importar, porque tá todo mundo no esquema. Eu tenho amigos juízes, eu tenho amigos senadores, eu tenho até amigos presidentes da República. Eu sou o Intocável deste Reino da Amargura... eu enriqueci bilhões, mas foram apenas meus bons negócios... ninguém pode me tocar, eu sou amigo de tanta gente, na verdade são meus cúmplices... cúmplices em pegar essa vaca bem gorda que é o Estado, e espremer tudinho na minha boca... claro, eu vou engordar bem essa vaquinha... depois eu levo pro pasto, fazer churrasco com ela. Quem vai pagar? Oh, é essa otária da sociedade.
Meus cúmplices! Já fizemos ótimos negócios juntos. A assinatura dele ficou bem onde eu queria. A rodada rendeu milhões pra nós dois, eu contei o dinheiro. Somos unidos assim, ó.
Nenhum sistema de saúde foi feito. Nenhum sistema de trabalho livre, pelo melhor preço. É a corrupção que impede.
Malditos governantes, ficam atrás de seus gabinetes, operando guerrinhas... nenhum sistema de paz foi feito. Seria desmontar o esquema. Seria ter prejuízo na banca.
Gomorra! Comando Vermelho da Capital! Comando Roxo, Amarelo e qualquer merda assim. Tropas de elite, ossos duros de roer... quem é que quer um mundo assim? O mundo não deveria ser dos humildes, dos honestos, dos trabalhadores? Não deveria haver com abundância, saúde, prosperidade, paz? É muito para nossa pobre raça humana, é muito para nossa pobre condição? Não é isso que merecemos?
Malditos governantes, que prometem tudo isso, que nada entregam, metidos em seus esquemas de ter mais poder, de aceitar corrupção.
Vejam só como o Governo investe pesadamente, conscientemente, sordidamente, na tentativa de garantir um predomínio sobre a opinião pública. Não, não é paranóia, não é fantasia, é a realidade.
Isto é um dado concreto, extraído da revista Veja de 01.09.2010, na reportagem do jornalista Otávio Cabral: “A busca da hegemonia”. O link da reportagem segue aqui, vale a pena lê-la na íntegra: http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=661582
Na reportagem, ficamos sabendo que o Governo nomeou Ministro da Comunicação Social o ex-guerrilheiro, envolvido no sequestro do embaixador norte-americano durante a ditadura militar no Brasil, também ex-jornalista, Franklin Martins. E que “Desde 2007, Martins passou a despejar dezenas de milhões de reais em cerca de 3000 pequenas emissoras de rádio no interior do Brasil. Cada uma delas recebe de 5000 a 10 000 reais por mês. o preço que cobram para divulgar apenas notícias de interesse do partido e do governo. "Nós. por convicção ou necessidade. já tendemos a ser governistas. Ainda mais agora. recebendo verbas para financiar nosso funcionamento, a adesão ao governo Lula é total. Não há rádio ou TV no interior do país que fale mal do governo", diz um deputado da base aliada, dono de uma emissora de rádio em um pequeno estado do Norte. Citando a própria experiência, ele acrescenta: "Hoje, mais de 50% do orçamento da minha emissora vem de verbas federais. Antes do Lula, a rádio dependia do prefeito. Com o dinheiro do governo, já modernizamos o equipamentos e reformamos a sede da emissora. Os locutores e apresentadores estão orientados a dizer que tudo o que o governo faz é sempre bom". “
Um fato concreto. Dezenas de milhões de reais despejados pelo Governo, do nosso bolso, para atacar a nossa liberdade. E ninguém fala nisso, ninguém se espanta, ninguém questiona. É normal como acordar um dia, de uma noite cheia de sonhos estranhos, e se descobrir um monstruoso inseto.
A democracia serve para que a autoridade preste contas a todos os cidadãos que desejem exercer aquele poder que lhes é garantido na Constituição.
Por que um cidadão, ou dois cidadãos, não poderiam formar um comitê, para apresentar certo problema em sua comunidade, ou para solicitar alguma informação, algum esclarecimento, que por lei ele pode exigir, e por lei a autoridade tem a responsabilidade de fornecer.
Um exemplo: o que impede uma comissão, ou um comitê de médicos, dois ou três médicos que sejam, e que se responsabilizem pela prestação de serviços de saúde na localidade onde ele mora, de dirigir-se àquela autoridade, àquele representante político da comunidade, e levar a ele o conhecimento de alguma situação intolerável na área de saúde. Por exemplo, o provimento sanitário daquela comunidade, com as doenças e mortes que acarreta. E, levantado o problema, seja responsabilidade da autoridade buscar a solução. Que seja contatar as autoridades que podem prestar contas de dinheiro que deveria ser investido naquele setor, que seja pedir os esclarecimentos e as soluções a estas autoridades.
Se há mil pessoas sem um sanitário, se há dez mil, ou se há cem mil, alguma solução precisa ter. Que seja construir banheiros químicos, e organizar o recolhimento dos detritos. Que seja estender a tubulação. Alguma solução precisa ser dada, obedecendo a critérios técnicos, mas se precisa garantir que alguma resposta será dada.
Ou se houver um bueiro aberto, ou um buraco na estrada, e o comitê de moradores levar ao conhecimento das autoridades, qual é a responsabilidade que se deve atribuir a esta autoridade, se não proceder ao encaminhamento / resposta a esta situação, e algum acidente advier da omissão?
Porque seria preciso manter a autoridade sobre cada rua, sobre cada bueiro, sobre cada reclamação que lhe chegasse.
Sim, senhor. O senhor é um cidadão. Eu sou o representante eleito do seu Distrito. O senhor está me apresentando uma queixa quanto ao bueiro que está aberto na rua. Eu vou pedir pro meu assessor que encaminhe esta reclamação ao setor competente, dentro de dois dias eu espero a resposta. Ou se for urgente, eu ligo agora, e cobro a resposta pra agora. Sim, é o setor de parques e jardins / ou é o setor de pavimentação / ou é o setor de estradas. Mas algum destes órgãos TEM de ter a responsabilidade para fornecer / trocar as tampas dos bueiros, ele vai ser convocado para fazê-lo AGORA. É um serviço público que é prestado, PAGO PELO SEU DINHEIRO, CARO CIDADÃO.
E isto seria democracia atuando, caro cidadão. Parece com algo que você conheça?
Trabalho sendo gerado, trabalho sendo feito, bem estar para a comunidade aumentando.
Para isso, é preciso aproximar o representante do eleitor. Voto distrital, este cidadão, eleito para desempenhar um mandato público, é o representante desta população delimitada. Destes 50 mil, ou 30 mil, eleitores. Claro, todo número que apresento é dado como exemplo do argumento. Uma lei para organizar a representação política deveria apresentar números baseados em estudos técnicos. Se um representante para cada 30 mil bastaria, ou se seria melhor um representante para cada 50 mil.
O ponto é que, estabelecido um número de eleitores, estes tivessem a oportunidade de escolher um SEU representante.
E também, é claro, que o representante fosse instruído, uma vez eleito, sobre seus deveres e poderes, para prestar boas contas de sua atuação.
Se fosse o SEU representante, aquele pra quem você vai apresentar os problemas do seu Distrito, aquele de quem você poderia cobrar uma resposta, você elegeria o Tiririca? Você elegeria o Romário, a Xuxa, a Gretchen, a mulher melão, o Osama Bin Laden, o Obama brasileiro, o Neco do Berro Forte?
Poderia elegê-lo, e o problema seria seu. Também poderia tirar-lhes os mandatos, passados quatro anos. Mas se você elegesse bons representantes, estes poderiam brigar por você, poderiam cobrar com muito denodo e eficiência resultados para suas demandas. Suas justas demandas, por direitos, por saúde, por segurança, por tranquilidade para seus filhos. Injusto é este Poder que se financia como Marajá, que se permite todo luxo e excesso, e que não assume responsabilidade pela segurança, pela saúde, pelas estradas, pela iluminação, pelo trabalho, pela educação, e tantas coisas mais, que este Estado finge que estaria cuidando?
Ah, cidadãos, como é que eu posso chamá-los assim, como é que eu posso sentir-me assim, se o desrespeito e a farsa estão por todo lado?
Voto distrital, responsabilização, educação para a cidadania, prestação de contas, delimitação precisa de competências. Ah, a tal estrada x, ou o tal bueiro nesta estrada? É da responsabilidade do setor de estradas do Distrito x. Cada estrada, em cada Distrito, com a sua competência delimitada, o departamento tal do Ministério das Estradas, o funcionário fulano, responsável por este departamento. E se não houver quem se responsabilize, que se leve o problema ao Ministro das Estradas. E que se ele não indicar, ou não criar o departamento que atenda àquela demanda dentro do seu Ministério, que se leve a julgamento um processo contra o Ministro.
A autoridade NÃO PODE se omitir, alguma solução ou resposta ela precisa dar para cada queixa.
Esta é a cidadania, esta é a democracia. Vincular os agentes, vincular os representantes, a um dado território, a uma dada população. O Juiz, o médico público, o professor público, o policial, o assistente social, o vereador, o prefeito... e mais cada técnico em estradas, cada engenheiro, cada diretor de empresa de recolhimento de lixo... todos os que ganham dinheiro do Poder Público, para fazer um trabalho, ou para prestar um serviço. Eles assumem a responsabilidade de prestar contas por isso.
Ou então não é o povo que controla eles, que tem o Poder, que tem o Governo. Se eles não prestam contas, eles é que controlam e governam esse povo, ilegitimamente, fazendo do povo seu escravo.
Por fim, nessa minha reforma política da imaginação, que se exigissem dos candidatos aos mais altos cargos públicos, esta experiência e esta aprovação de representantes das pequenas comunidades, dos Distritos.
Nada de “cair de pára-quedas”. Ou ser tirado do bolso para, digamos, disputar a Presidência da República. Se o candidato aspira fazer as leis gerais, ser deputado federal ou senador, ou Prefeito, ou Governador, ou Presidente, que se submeta à avaliação da sociedade primeiro. Que construa um passado, sobre o qual os eleitores poderão tirar conclusões.
Um outro trecho do artigo de Merval Pereira, Restos de Campanha (link: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/12/restos-da-campanha) me chamou atenção. Ei-lo:
“E tem ainda a medida provisória dando, através do BNDES, R$25 bilhões para financiar o trem-bala entre Rio e São Paulo, dando como garantia as ações de uma companhia privada que ainda não foi constituída e mais um provisionamento de R$5 bilhões para o caso de necessidade.”
Merval falava, no artigo, das surpresinhas guardadas pro Governo depois que passassem as eleições: ressuscitação da CPMF, prova do ENEM, Banco Panamericano, trem-bala... como se vê, só coisa boa.
Com relação ao trem-bala, o Governo soltou essa MP 511/2010, liberando a bagatela dos R$ 30 bilhões mencionados por Merval: 25 através do BNDES, mais cinquinho, só para o caso de necessidade...
Claro, os sábios vão me lembrar que os 25 do BNDES são apenas um empréstimo, não é dinheiro que vai se perder... arrumaram até fiadores, Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa... e, como diz Merval, deu-se por garantia ações de uma companhia privada que sequer foi constituída...
Mas, ah, gente de pouca fé! Quem está assinando a MP é o Cara, o Estadista, o Nosso Guia, o Grande Mestre que nos ensinou o caminho... ele tem 80% de popularidade, o que mais vocês querem? Querem pregá-lo numa cruz, como fizeram com aquele outro Cara? Ah, isso é coisa dessas elites, sempre elas... o povo que ama o Cara, e que o Cara tanto ama, está feliz com os R$ 50 a mais que o Cara deu pra eles... não ficam perguntando sobre os R$ 30 bilhõezinhos que o Cara quer torrar pra fazer o seu trenzinho...
E quanto poder tem o Cara... basta assinar uma MP, e lá se vão R$ 30 bilhões... como se dizia nos tempos de antanho, bastou uma penada d´el Rey... é isso, pro nosso verniz de democracia sobre a sociedade de raízes escravocratas: colocamos na Constituição o Princípio da Separação de Poderes, mas daí damos o jeitinho de fazer o Chefe do Executivo legislar: são as tais Medidas Provisórias, mas claro, só em assuntos emergenciais e de urgência E de relevante interesse público! Note bem isso. Mas esqueça quem é que vai definir se o assunto é emergencial e de urgência, e esqueça quem é que vai definir o que é interesse público... pode ser urgente urgentíssimo, por exemplo, enfiar R$ 30 bilhões pra sair um trem-bala do Rio pra São Paulo... urgente urgentíssimo, e de relevante interesse público! Palavras custam pouco, ou como diriam os americanos, talk is cheap.
Na ditadura militar, na ditadura de Getúlio (Estado Novo), também havia um instrumento para o Executivo legislar por conta própria, sem as aporrinhações de discutir com os representantes da sociedade: era o Decreto-Lei. E, por incrível que pareça, as Constituições destas duas ditaduras, a de 1967 e a de 1937, restringiam as matérias sobre as quais poderiam ser expedidos os Decretos-Leis, a de 1937 por exclusão: poderia ser editado Decretos-Lei pelo Executivo, exceto sobre matérias de legislação eleitoral, moeda, impostos, orçamento, e outras, especificadas no artigo 13 da Constituição de 1937.
Já a Constituição de 1967, em seu artigo 58, estabelecia que os Decretos-Leis só poderiam ser editados para tratar de assuntos de segurança nacional e finanças públicas.
Ou seja, nas Constituições ditatoriais o poder de legislar concedido ao Executivo sofria uma restrição de caráter mais objetivo, que era a necessidade de se ater a determinadas matérias. Uma restrição maior que aquela estabelecida pela Constituição Democrática de 1988 para as Medidas Provisórias, as quais só devem obedecer aos critérios vagos de “urgência” e “relevante interesse público”.
Não quero dizer, por óbvio, que as restrições aos Decretos-Leis não pudessem também ser torcidas, e muito menos que as ditaduras poderiam ser melhores que a democracia, por imperfeita que a democracia, e a nossa democracia em particular, seja. É aquela história do Churchill: a democracia é o pior dos sistemas de governo, à exceção de todos os outros que foram inventados...
Estou apenas fazendo considerações sobre um instituto específico, que excepciona o Princípio da Separação de Poderes ao permitir que o Executivo legisle, e estou ponderando o quanto é difícil para uma cultura acostumada a permitir que o Chefe de Governo, o Presidente, ou o Rei, ou o General, extrapole os limites de seu Poder, passar a uma prática de fato democrática, para além das qualificações que inscreve em sua Constituição.
O uso e abuso das Medidas Provisórias pelos diversos Governos que se sucederam após a Constituição de 1988 atestam isso. Já foi objeto de debate esta distorção aos Princípios democráticos e republicanos, provocada pelas Medidas Provisórias, e já houve até emenda à Constituição para reformular o instituto (EC 32/2001). Esta emenda inclusive trouxe de volta a restrição da incidência da Medida Provisória sobre certas matérias, além de modificar certas regras da sua tramitação.
Mas esta recente penada do Nosso Guia, referente à liberação de R$ 30 bilhões pro trem-bala, aliada à quase ausência de manifestações críticas e debates, é exemplo eloquente do quanto seguimos firmes em nossas tradições de reverência submissa à figura do Líder Carismático. Parece que o novo regime das Medidas Provisórias continua insuficiente para fazer frente a esta nossa tradição, esta nossa cultura, de não questionar, de não criticar, de aceitar passivamente, de abrir mão do Poder que deveria nos pertencer. Está lá na Constituição, artigo 1o, parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
O Poder é nosso, mas não questionamos quando aquele que o exerce, em nosso nome, resolve torrar R$ 30 bi num trenzinho... não haveria destinação melhor pra esse dinheiro, no país em que se mata cachorro a grito, no país que não presta serviços essenciais de saúde para uma parcela tão grande da população, no país das diferenças gritantes na distribuição de renda, no país da falta de educação, no país dos grandes roubos constantes, impunes, no país dos milhares de assassinatos arquivados, vai completando a lista...
Vamos, então, à nossa aula de matemática:
Digamos que o Governo, ao invés de destinar R$ 30 bi pras empreiteiras (slurp, slurp, slurp – são as empreiteiras salivando de satisfação) fazerem o trem-bala do Rio pra São Paulo, fizesse empréstimos de R$ 1.000,00, para cada cidadão interessado, de modo simples, sem burocracias exaustivas, sem criar dificuldades pra vender facilidades, quantos cidadãos poderiam se habilitar para o empréstimo?
Resposta: 30 milhões de cidadãos. 30 milhões que poderiam receber R$ 1.000,00, para comprar uma máquina de costura, ou para bancar uma reforma da mercearia, ou uma mesa de sinuca pro botequim.
E nem estou falando de dinheiro perdido para o Governo, seria um empréstimo. Mas um empréstimo simples, sem burocracia, e até sem cobrança. Se o sujeito não pagar, apenas proíba-se-lhe novo empréstimo. Se pagar, deixe-o pegar emprestado de novo, agora até um limite de dois mil. Algo do gênero.
Claro, mil reais vai parecer pouco dinheiro pra muita gente, mas para muitos outros pode fazer toda a diferença. Por exemplo, é mais ou menos mil reais, POR ANO, que se paga de Bolsa Família, o programa assistencial que tanto alarde merece do Governo. No total, também por ano, gasta-se com o Bolsa Família inteiro, cerca de 11 milhões de famílias, ou 44 milhões de brasileiros, uns R$ 10 bilhões.
Pois a penada do trenzinho vai torrar o valor de uns três anos de Bolsa Família, assim, num piscar de olhos. E este é o Governo tão preocupado com os pobres...
E olha que R$ 30 bi é só a previsão inicial pro trem-bala. Especialistas já calcularam que no final a brincadeira pode render uns R$ 100 bilhõezinhos.
Aliás, já escrevi um outro artigo sobre este assunto (http://sinatti.blogspot.com/2010/08/sobre-trens-e-piramides.html), perdoem-me até pela repetição. É que essa história continuava me deixando engasgado. Mas fico por aqui.
A triste manchete do jornal O Globo de 16.11.2010: “Falta de CTI mata 8 pessoas por dia em hospitais do Rio”. Na verdade, foram 258 por mês, nos últimos três meses, ou 8,6 por dia, no Estado do Rio. Projetando os números, são 3.139 por ano.
Vidas perdidas, sua avó, seu irmão, seu pai, sua mãe, seu amor, você. 3.139 por ano. Só no Estado do Rio de Janeiro. E olha que o Estado do Rio é o segundo maior PIB do país.
Qual seria nossa reação a um serial killer, um psicopata matador em série, que assassinasse 200 seres humanos em um mês? Pois os nossos Governantes, na sua desorganização, na sua falta de prioridades na alocação de recursos, na sua irresponsabilidade, deixam que morram 258 seres humanos em um mês.
A média das mortes é 32,3% maior que a dos últimos dois anos, ou seja, estamos piorando, estamos caminhando pra trás, em termos de Saúde Pública.
Governantes, muito satisfeitos consigo mesmos, com os melhores cuidados médicos à sua disposição, e à disposição de suas famílias, esqueçam Copa do Mundo, esqueçam Olimpíadas, esqueçam Cidades da Música, esqueçam tanta festa, festejar o quê, com esta multidão de mortos, senhor Governador do Estado, serão mais de doze mil, quando se completar seu mandato, contando apenas os mortos por falta de leito de CTI no Estado!
Manchete do jornal O Globo de hoje: "Governo quer parcelar as perdas do Rio com pré-sal em 10 anos - Proposta em estudo pela União reduz receita em R$ 93,5 bi até 2020"
Mal acabaram as eleições, já voltaram à carga... mas, também, era previsível: a idéia de morder os royalties dos Estados produtores de petróleo foi gestada no Governo Lula, pelo Senador José Sarney, pelo seu indicado ao Ministério das Minas e Energia, Edison Lobão (é, Lobão...), e pela Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ela mesmo, a Dilma Rousseff que se elegeu presidenTA do Brasil, prometendo dar continuidade aos projetos deste Governo e seus aliados.
Será que o Governador do Rio, Sergio Cabral, tão solícito ao prestar seu apoio à candidata Dilma, vai voltar à televisão pra esbravejar e chorar a perda dos royalties?
Eu não sei porque, lendo esta manchete, lembrei daquela velha música do grupo Rádio Táxi, aquela dos versinhos:
Por isso põe devagar Põe devagarinho Que é pra não machucar Põe bem de mansinho Põe devagar, põe devagarinho Lá-lá-lá Lá-lá-lão...
O banco Panamericano, do empresário Senor Abravanel, mais conhecido por seu nome artístico de Silvio Santos, há quatro anos utilizava truques contábeis, identificados pelo Banco Central como indicativos de “crimes do colarinho branco”, para camuflar seus resultados econômicos.
No ano passado, sabe-se lá porque, a Caixa Econômica Federal adquiriu 49% das ações do banco Panamericano. Péssimo negócio, eis que em agosto deste ano o Banco Central, numa auditoria de rotina, expôs o rombo e os subterfúgios usados para encobri-lo.
Em 11 de outubro começaram as negociações para ver o que se ia fazer com o rombo exposto do Panamericano. Em menos de um mês, de 13 de outubro a 9 de novembro, as ações do Panamericano perderam um quarto do seu valor de mercado, enquanto o índice Ibovespa se mantinha estável. A CEF é que ficou com o mico. Mas tudo isso correu à boca pequeníssima. Agora, passadas as eleições, é que finalmente se divulgou a notícia: o Panamericano teve de receber um aporte de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), para cobrir o rombo. A bagatela de R$ 2,5 bilhões.
Em setembro, logo após a auditoria do Banco Central que revelou a situação do Panamericano, o empresário/apresentador Silvio Santos foi se encontrar com o presidente da República, sr. Luis Inacio “Lula” da Silva.
Perguntado se nesta visita Silvio Santos teria falado dos problemas de seu banco, o presidente Lula disse que não, “porque não é um assunto de presidente da República”. Ah, bom. Foi uma coincidência que a visita tenha se dado logo após as descobertas da auditoria do Banco Central. Mas, afinal, qual teria sido o assunto de presidente da República, que teria sido tratado na visita? Silvio Santos disse que falaram do Teleton, programa que arrecada doações, e que teria ido pedir ao presidente Lula uma doação de R$ 12 mil. Ah, bom. Foi uma doação de R$ 12 mil que motivou uma audiência com o presidente da República. Ainda bem que nos deram uma explicação. E, causa nobre, tratavam de uma doação aos necessitados. Também o Arruda, ex-governador do Distrito Federal, explicou que o dinheiro que embolsava era para comprar panetones pro Natal dos necessitados. Esse pessoal é tão abnegado, sempre está pensando nos mais necessitados!
Como bem lembrou o jornalista Merval Pereira, no Globo de 12.11.2010 (link: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/12/restos-da-campanha – do Ministério do Planejamento!), o jornal do SBT, canal de propriedade do sr. Abravanel, fez uma edição das filmagens do episódio da agressão sofrida pelo candidato oposicionista à presidência da República, José Serra, durante sua campanha em Campo Grande, RJ, para construir uma versão de que o candidato havia simulado um ferimento após ter sido atingido por uma bolinha de papel, para provocar um “fato político” capaz de influenciar o resultado da eleição.
Nosso presidente da República encampou rapidinho a versão do jornal do SBT: em entrevista coletiva no dia seguinte, qualificou o episódio de “mentira descarada”, acusou José Serra de criar um factóide, falou que o ocorrido “deixou o dia de ontem marcado como o dia da farsa, o dia da mentira”. Quanto ao fato de que Tropas de Choque orquestradas por líderes petistas impediram o direito de ir e vir de cidadãos, impediram uma manifestação pacífica, uma campanha eleitoral de um candidato à presidência da República, em segundo turno (só isso), nem uma palavra de nosso presidente... criança, não verás país como este!
Continuando. Esta versão do SBT foi desmontada no mesmo dia do discurso irado do Lulinha, pela exibição da sequência normal das filmagens, que mostrou que José Serra, depois de levar as bolinhas de papel na careca, foi atingido por um objeto mais pesado, identificado como um rolo de fita, capaz de provocar lesão, e só então desistiu de prosseguir na caminhada que fazia, tendo ido procurar um médico para fazer exames.
Alguém pensa que Lulinha ficou constrangido pelas acusações falsas que havia feito? Que nada! Nem pestanejou. Simplesmente fez uma consideração vaga sobre como é bom que se possa escolher entre a versão da reportagem x, e a versão da reportagem y... entenderam como funciona a mente do nosso estadista? Tem a versão x e a versão y sobre o mesmo fato. Não importa saber se a versão x ou a versão y refletem o fato ocorrido, podemos simplesmente escolher a que nos agrada! Que feliz isso! Podemos falar: “o país está sendo roubado por todos os lados, enquanto tem gente morrendo por falta de leito em hospital, está uma merda!”, ou podemos falar: “o país é governado pelo Cara, a Saúde Pública aproxima-se da perfeição, está tudo uma maravilha!”. E aí, é só escolher o que mais nos agrada! Sem medo de ser feliz!
E o estadista ainda festeja pensando que o fato de a imprensa construir versões que agradam ao governante é sinal de liberdade de imprensa!
Desenvolvendo o assunto da criação de personagens "imperfeitas, porém vivas", em oposição aos que consideram que o escritor deve fazer de suas personagens "tipos" para espelhar certas idéias preconcebidas acerca da realidade, abordado no artigo "Monteiro Lobato e o racismo", trago um texto do grande escritor russo Anton Tchecov (1860 - 1904), em que ele discute o tema:
Que o mundo «está infestado com a escória do género humano» é perfeitamente verdade. A natureza humana é imperfeita. Mas pensar que a tarefa da literatura é separar o trigo do joio é rejeitar a própria literatura. A literatura artística é assim chamada porque descreve a vida como realmente é. O seu objectivo é a verdade - incondicional e honestamente. O escritor não é um confeiteiro, um negociante de cosméticos, alguém que entretém; é um homem constrangido pela realização do seu dever e a sua consciência. Para um químico, nada na terra é puro. Um escritor tem de ser tão objectivo como um químico.
Parece-me que o escritor não deveria tentar resolver questões como a existência de Deus, pessimismo, etc. A sua função é descrever aqueles que falam, ou pensam, acerca de Deus e do pessimismo, como e em que circunstâncias. O artista não deveria ser juiz dos seus personagens e das suas conversas, mas apenas um observador imparcial.
Têm razão em exigir que um artista deva ter uma atitude inteligente em relação ao seu trabalho, mas confundem duas coisas: resolver um problema e enunciar correctamente um problema. Para o artista, só a segunda cláusula é obrigatória. Acusam-me de ser objectivo, chamando-lhe indiferença em relação ao bem e ao mal, falta de ideias e ideais, etc. Querem que, ao descrever ladrões de cavalos, diga: «Roubar cavalos é mau». Mas isso é sabido há séculos sem que eu tenha de o dizer. Deixem que um júri os julgue; a minha tarefa é simplesmente mostrar que género de pessoas são. Escrevo: estão a lidar com ladrões de cavalos e, assim, deixem-me dizer-lhes que não são mendigos, mas gente bem alimentada que segue um culto especial e que roubar cavalos não é simplesmente roubo, mas uma paixão. Claro que seria agradável combinar arte com sermões, mas, quanto a mim, é impossível por questões técnicas. Para descrever ladrões de cavalos em setecentas linhas, tenho de falar, pensar e sentir à maneira deles. De outro modo, a história não será tão compacta como os contos deveriam ser. Quando escrevo, conto inteiramente com o leitor para que este acrescente os elementos subjectivos que faltam na história.
"Ele me humilhou, impediu-me de ganhar meio milhão, riu de meus prejuízos, zombou de meus lucros, escarneceu de minha nação, atravessou-se-me nos negócios, fez que meus amigos se arrefecessem, encorajou meus inimigos. E tudo, por quê? Por eu ser judeu. Os judeus não têm olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões? Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não estão sujeitos às mesmas doenças, não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam os cristãos? Se nos espetardes, não sangramos? Se nos fizerdes cócegas, não rimos? Se nos derdes veneno, não morremos? E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos? Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito. Se um judeu ofende a um cristão, qual é a humildade deste? Vingança. Se um cristão ofender a um judeu, qual deve ser a paciência deste, de acordo com o exemplo do cristão? Ora, vingança. Hei de por em prática a maldade que me ensinastes, sendo de censurar se eu não fizer melhor do que a encomenda". - Shylock, in O Mercador de Veneza, ato III, cena I
Prosseguindo na resistência contra o politicamente correto, vamos escutar a voz do judeu Shylock, personagem de William Shakespeare na peça O Mercador de Veneza.
Embora Shakespeare construa Shylock como um vilão cruel, vingativo, mesquinho, covarde e repugnante, e reproduza nas falas de suas personagens preconceitos correntes em seu tempo e espaço contra os judeus, ele ainda assim consegue, por obra e graça de sua Arte sublime, revelar aquilo que Shylock possui de humano, demasiado humano, por dentro de toda a sua vilania.
Shylock acabou se tornando um personagem destacado na imensa e genial galeria do Bardo, e é justamente celebrado seu monólogo no ato III, cena I, o chamado Discurso da Vingança, reproduzido no início deste artigo.
Note que mesmo judeus, pelo menos os mais esclarecidos, ou os mais capazes de levar a vida com leveza, puderam admirar o gênio de Shakespeare, e aceitar Shylock, e reconhecer a grande verdade em suas palavras. Escritas no século XVI, mas que poderiam ser usadas para amaldiçoar Hitler e os nazistas em 1942, por exemplo.
O ator/diretor/humorista judeu Mel Brooks refilmou em 1983 a clássica comédia de Ernst Lubitsch, "To be or not to be" (1942), fazendo uma sátira implacável ao ditadorzinho da Alemanha:
Pois bem. O judeu Mel Brooks quis refilmar este clássico, mantendo ainda o clímax do original, em que um personagem judeu declama o monólogo de Shylock para os nazistas. Um belo exemplo de como os judeus inteligentes puderam reverter em seu favor uma peça e uma personagem que lhes eram francamente desfavoráveis, colocando-se acima dos feios preconceitos que vitimaram até o pensamento de um grande gênio como Shakespeare, em seu tempo.
Pode-se conferir a cena de Shylock no filme de Mel Brooks aqui:
Também do You Tube, temos as interpretações de dois monstros sagrados dos palcos, Al Pacino e Orson Welles, para o monólogo de Shylock:
Por fim, um link para a peça traduzida, na íntegra: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/mercador.pdf
Deu nos jornais, há poucos dias: o Conselho Nacional de Educação (CNE) recomendou a exclusão de um livro infantil de Monteiro Lobato das escolas, sob a acusação de racismo.
A personagem Tia Nastácia teria sido ridicularizada pelo autor, em razão da cor de sua pele. Num dos trechos do livro Caçadas de Pedrinho, diz-se que Tia Nastácia subiu numas varas de bambu, ágil como macaco de carvão. Em outro trecho, a boneca de pano Emília fala que até a carne preta de Tia Nastácia seria comida pelas onças que invadiam o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Foi por trechos deste teor que os burocratas do Conselho decidiram pela exclusão do livro das escolas, ou por sua edição com notas explicativas, que supostamente reabilitaria a obra em face dos valores de hoje.
E vistos pelos olhos de hoje, os trechos polêmicos parecem mesmo impróprios. Creio que um autor contemporâneo não escreveria estas coisas, pois a sensibilidade do tempo nos fornece um alerta muito maior para evitar ofensas a grupos de pessoas. Hoje aprendemos que não tem graça maltratar ou ridicularizar os negros, ou os judeus, ou os italianos, ou os portugueses, ou os angolanos, ou os alemães, ou os ingleses, ou os nordestinos, ou os cariocas, ou os paulistas, ou os gregos, ou os troianos, ou os cristãos, ou os muçulmanos, se queremos uma vida de paz para todos nós.
Não é fácil, eu sei, lidar com comportamentos atávicos, instintos tribais, disputas de grupos por recursos escassos... Mas é o caminho que tem sido buscado, universalizando direitos, colocando agressores na cadeia, e procurando, em suma, manter a paz social pelo respeito às diferenças. Aliás, guerras foram e são travadas, genocídios e perseguições foram e são praticados, por conta de tais diferenças, ou melhor, por conta da nossa intolerância às diferenças, porque um é judeu, e porque outro é protestante, porque um é tutsi, e porque outro é cigano... muito sangue se derramou, sem vencedores definitivos, sem uma estabilidade final entre dominadores e dominados, a "raça" ou o grupo dos "bons" dominando sobre os "inferiores", ou os "hereges", pela Eternidade... O Tempo continuou sendo uma Roda que não parou de girar...
E a tentativa que costumou dar os melhores frutos, e que vem progressivamente se espalhando, foi a da convivência pacífica entre os desiguais. Apenas respeito, entre si, ou tratar o outro como gostaria de ser tratado, e evitando os extremos de miséria e desesperança que empurra grupos pros radicalismos de todo tipo.
Isto é nossa visão de hoje, uma boa visão. Mas autores antigos viviam outros conceitos, e sem tantas guardas do pensamento às vezes refletiam um conceito pejorativo que a sociedade guardava para alguns grupos. O judeu Shylock em Shakespeare, por exemplo.
E atire a primeira pedra quem não riu da última do português? É saudável também não tratar certos assuntos com extremismos e exageros. Desenvolver sensibilidades histéricas ou neuróticas. Quem vai levar a ferro e fogo, ou crucificar, ou queimar numa cruz, alguém que teve uma expressão feia para um grupo, quando ele próprio tem dezenas de expressões piores para outro grupo?
É preciso cuidado, e muito cuidado, com estes que gritam no meio da multidão, e são sempre os primeiros a posar de santos, e por dentro são cheios de podridão, sepulcros caiados, hipócritas de coração duro, Robespierres incorruptíveis que gozam quando desce a guilhotina no pescoço dos outros...
Como leitor assíduo de Monteiro Lobato, em minha infância, tendo inclusive tendo lido este Caçadas de Pedrinho, no centro da polêmica, devo dar meu testemunho a favor do autor, dizendo que nunca tive uma impressão desfavorável da personagem Tia Nastácia, muito pelo contrário. Os trechos em que se apegaram os burocratas do CNE, aliás, passaram desapercebidos no conjunto da história.
A imagem de Tia Nastácia que ficava era sempre de uma pessoa boa, por quem se tinha carinho, divertida, e, inclusive, inteligente. Não, certamente, instruída, mas com uma inteligência direta das coisas, um “bom senso” obstinado, desconfiado dos novos conceitos da ciência e da tecnologia... Monteiro Lobato fazia questão de mostrar essa inteligência da Tia Nastácia em ação, mesmo que em certas horas os seus argumentos e razões provocassem risos na turminha do sítio, que tinha lido os livros, e escutado os serões de Dona Benta, e captavam as novas idéias, mas que em nenhum momento perdiam o carinho e o respeito pela boa velha, uma outra mãe para eles, ao lado de Dona Benta.
Inclusive Monteiro Lobato escreveu um livro inteirinho, Histórias de Tia Nastácia, para dar maior destaque à sua personagem e à sua psicologia particular: ela é o repositório das histórias mais fantasiosas, da pura imaginação, das camadas profundas do povo, da psiquê. Histórias de Príncipes, e Reis, e Princesas, e Bruxas, e Dragões, e Mágicos, histórias que se repetem, que se misturam, que contam morais, que perdem um pouco o pé e a cabeça... histórias antigas, como as das 1001 Noites, sem autoria determinada, ingênuas e sábias, fantasiosas mas com olho exato para os detalhes, enfocando com muita clareza o Homem e suas espertezas, suas malvadezas, suas valentias, seus galanteios, suas bondades...
Ao fazer este retrato de sua tia Nastácia, Monteiro Lobato construiu uma personagem viva, real. Como aliás eram todas as suas personagens, mesmo aquele feito de um sabugo de milho, ou de uma boneca de pano, grande escritor que era. Era uma empregada sem instrução, negra descendente de escravos, como as milhares que habitavam as fazendas do interior de São Paulo, e Monteiro Lobato nos mostrou como era, sem maquiagens paternalistas e hipócritas, mas também sem lhe negar afeto.
Alguns ideólogos gostariam que não houvesse empregadas sem instrução, descendentes de escravos, e aí ficam brabos com os autores que mostram como são as empregadas sem instrução, descendentes de escravos. Querem calar o mensageiro, pra não ter de escutar a mensagem.
Para alguns, os personagens pobres, por exemplo, têm de aparecer nas histórias sempre como uns explorados, e com espírito revolucionário. Nada de falar errado, também, porque não pode parecer inferiorizado.
Pensam que gostam muito dos pobres, ou dos negros, ou de qualquer outro grupo, mas na verdade os estão inferiorizando, recusando-se a enxergá-los na sua inteireza de Homens, seres humanos, com tudo da grandeza e da abjeção de que o ser humano é capaz. Só gostam do negro e do pobre que aparece nas novelas, sempre com o discurso certinho, sempre uns campeões da Moral, e sempre uns chatos, falsos, unidimensionais...
Não querem personagens tirados da realidade, em suma, querem tipos que façam a propaganda daquelas idéias preconcebidas que carregam na cabeça, e que os deixa muito confortáveis consigo mesmos. Ah, que pessoa linda que eu sou, minha cabecinha abriga todos os lindos pensamentos, aqueles carimbados e aprovados pelo Pensamento Oficial, correto, único...
O escritor que deixa de olhar a realidade para atender a estas expectativas está perdido, vai trocar sua arte pela propaganda.
Valho-me do título de um livro de Gabriel Garcia Marquez para nomear o artigo. No caso, venho falar da morte anunciada da democracia venezuelana.
Foi divulgado ontem, o anúncio fúnebre: o presidente Hugo Chavez elevou ao mais alto posto militar da Venezuela um general que havia declarado recentemente que o Exército venezuelano não toleraria uma vitória da oposição nas próximas eleições presidenciais da Venezuela.
Será que agora o presidente Lula, do alto de seu tirocínio político, da sua sensibilidade de estadista, vai continuar dizendo que na Venezuela tem democracia “até demais”?
Interessante a coerência de pensamento destes ditos democratas: pode-se fazer eleições para ver quem vai exercer o Poder, mas só se o resultado mantiver no Poder quem já estava... o filósofo político, ex-ministro da Justiça do Governo Lula, atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, aprovaria: foi ele quem, logo quando as primeiras pesquisas do segundo turno indicaram que o candidato da oposição, José Serra, tinha chances de ser eleito, ficou nervosinho, e já saiu bradando que uma vitória da oposição não seria “legítima”. Entenderam? Democracia é bom quando eu estou ganhando... ah, Poder, é tão difícil ficar longe de você...
Tarso Genro, aliás, é useiro e vezeiro em dar estes exemplos. Foi ele também que exigia impeachment de FHC, logo no início do seu segundo mandato presidencial. Como é típico, também, sempre que a oposição banana faz qualquer crítica, mesmo a mais tímida e delicada, Tarso Genro é o primeiro a sair berrando: “Golpismo! Golpismo!”. Ah, esses admiradores impenitentes de ditadores! Por que existem tantos tão dispostos a festejar junto a homens que, COMPROVADAMENTE, REITERADAS VEZES, PRATICARAM TANTAS ATROCIDADES, MANDARAM PRA MORTE, TANTOS E TANTOS, PORQUE NÃO ACEITARAM UM REGIME DE PARTILHA DE PODER.
Claro, sempre têm as melhores intenções, os melhores propósitos. É para acabar com a exploração dos coitadinhos, é para salvar as criancinhas, ou é para preservar a bela raça, palavras têm muitas... e sempre tem um inimigo de fora, e sempre tem um inimigo aqui dentro, e sempre tem um paraíso na próxima esquina... enquanto isso, vão usufruindo as benesses do poder, que ninguém é de ferro. Jatinhos, jantares, e as melhores mansões, e castelos... jóias no pescoço da madame, e passeios em Paris pras filhinhas... em cárceres nos subterrâneos homens torturam homens, homens morrem de fome e de sede, pisoteados e afogados no próprio sangue... alguma fizeram, e a vida é tão curta, pra que estragar estes belos momentos lembrando essas coisas?
As Unidades de Polícia Pacificadora foram a grande propaganda do governo de Sérgio Cabral Filho. Ele identificou corretamente que a população estava farta da impunidade de impérios do tráfico, dominando as favelas. Anos e anos de omissão e ineficiência em combater esses feudos, esses Estados dentro do Estado, com outras leis, com outro Juiz, com outro Executor...
Verdadeiras tiranias, praticavam a tortura, a extorsão, impunemente. A Lei era a de suas armas, e da certeza da impunidade, da certeza de que estava pagando sua segurança para as pessoas certas, e da certeza de que o que faria com aquelas pessoas de sua comunidade importaria muito pouco para aqueles de fora. Uma sociedade dividida, uma cidade partida, como no título de um ótimo livro de Zuenir Ventura. Realmente, nós não possuímos um sentimento de verdadeira igualdade entre nós. Ou o favelado é tudo bandido, e não vamos ficar tristes se um deles é morto, ou são uns coitadinhos, que nem precisam respeitar nossas leis, nenhuma lei, porque já sofrem tanto...
Uma e outra atitude revelando esta recusa de nos vermos iguais, uns aos outros. Aqui é: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”; é “sabe com quem tá falando?”. Aqui é a “carteirada”. Aqui o sujeito precisa ultrapassar o outro, mesmo que o local seja proibido, mesmo que seja pela faixa proibida, mesmo que vá provocar um acidente. Porque se você não é o primeiro, você é o segundo. E aqui, o primeiro é o esperto, o segundo é o otário. O primeiro é o senhor, o segundo é o escravo.
Não, não é exatamente um lugar paradisíaco. Mas falava das UPPs.
Dizia que Sergio Cabral Filho as trouxe como uma novidade, uma nova forma de combater o crime, aumentar a segurança. A idéia era ocupar as favelas, antes dominadas pelos bandos de traficantes, e instalar nelas uma divisão das forças de segurança. Um batalhão da polícia militar.
Pode-se dizer que foi uma estratégia de sucesso, até certo ponto. Primeiro, a ocupação foi muito mais simples do que se previa, no início. Houve até uma conversa de “acertos prévios”, entre a polícia e os traficantes, para se evitarem os confrontos. Mas o certo é que quase não houve mesmo confrontos.
Foi bom, porque mostrou que o Diabo não era tão feio quanto se pintava. Aquele papo entreguista, de que o problema era insolucionável, ou de que devíamos aguardar a tal Justiça Social, talvez uma mudança pro regime comunista, para que não houvesse mais crimes, mostrou-se totalmente furado. Mas mesmo furado, custou por muitos anos o bem estar e a vida de milhões de pessoas que viviam nas comunidades sofrendo o jugo de tiranos.
Mas o outro lado dessa ausência de confronto foi que não se ouviu falar em prisões, com muita frequência. Uma vitória incompleta, portanto.
É verdade que representou uma virada na vida das comunidades, que ficaram muito mais livres, agora. Os índices de homicídios caíram, e os bandidos não se recuperaram fácil do golpe. O foco das UPPs foi acabar com aquela violência mais explícita. Os desfiles de traficantes com metralhadoras e fuzis, as guerras pelos pontos de tráfico.
Esse descalabro mais extremo foi mirado e combatido pela nova política de segurança, e os resultados são louváveis. Aquela violência mais extrema deixou de ser tão fácil, e o crime recuou, felizmente.
Ninguém pensa que acabou com o tráfico, acabou com o consumo de drogas. O que diminuiu muito, como dito, foi a extrapolação do dinheiro do tráfico associada ao desgoverno e impunidades absolutos, que permitia as tiranias e as guerras nos morros, como “fatos da vida”.
Mas os bandidos, ainda soltos, se reorganizam de outras maneiras para prosseguir seus “negócios”. Arrastões foram promovidos em sequência, na última semana. Alguns se mudaram para outras regiões do Estado, menos preparadas para lidar com este nível de bandidagem. Aqui onde escrevo, em Nova Friburgo, acontece isto. Na Região dos Lagos, e outros lugares, também.
Mas por enquanto não se discute isso. Sergio Cabral Filho se reelegeu no primeiro turno, as UPPs passaram então no teste supremo: fazer as urnas darem seus votos. A candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, aliada de Cabral, também pegou sua carona na popularidade das UPPs. Prometeu que as espalharia por todo o país. Claro que as UPPs foram bem sucedidas porque foram pensadas para atender às peculiaridades do Rio de Janeiro, e não tem cabimento falar em “exportar” seu modelo pro resto do Brasil... mas isso é só uma promessa de campanha, palavras ao vento... importante é parecer bem na foto.
Já o Sergio Cabral, já reeleito, está acelerando a implantação de UPPs, e deve-se temer pelo exagero na dosagem do remédio. Ele agora só enxerga os dividendos políticos, e está empolgado. Mas é preciso perguntar se esta política, custosa, vai aprofundar realmente a segurança no Estado. Tem de se pensar também no amanhã.
A UPP tem seus méritos. Mas é preciso pensar no meio de fazer a única coisa capaz de coibir o crime: colocar na cadeia os que cometem os crimes. Só assim eles vão deixar de constituir uma ameaça, ou um gravame, para a sociedade.
O objetivo era que cada criança tivesse o pão, e a escola, que cada jovem tivesse a oportunidade, que cada velho tivesse tranquilidade e paz. Que cada um tivesse segurança e saúde.
Falham vergonhosamente os Governos se não conseguem organizar isso para a sociedade. Porque este é seu trabalho, sempre foi zelar por isto.
Falhamos vergonhosamente, como sociedade, se o Governo que nos representa não atinge qualquer destes objetivos. Sofremos miseravelmente, porque não conseguimos nossos objetivos.
Para nos enganar, acreditamos que aquele fulano ter vários bilhões, ou vários privilégios, ou várias regalias, é um belo sinal de sucesso, para toda a sociedade. Fazer não sei quantos bilhões, com as riquezas de um país, e neste mesmo país ter a miséria mais indecente. Milhões de pessoas que não têm um médico, não têm um remédio. Que vão para as filas, às 3h da manhã, e ficam por lá. Porque têm uma pessoa doente em casa, ou porque têm um neném doente.
Para alguns neste barco, está tudo bem... e então vai estar bem para o barco? Por que não se dá um fim para isto, para estes tantos negocinhos, boladas no bolso, venda de consciências, vendas de almas, num grande balcão à frente dos olhos.
Por que não se tem vergonha do dinheiro que não veio de algum trabalho honesto? Por que se explora o trabalho? Por que achacam e assaltam e esfaqueiam o cliente, o consumidor, o pagador de impostos, o sujeito da esquina, o que nos presta serviços, o cidadão?
Vendemos outra tonelada de minério de ferro, pra Alemanha? E o que tem de bom nisso? O que tem de bom em saber que a Alemanha, com sua infância melhor educada, vai transformar este produto que vendemos por mil, e vai lucrar muitos bilhões?
O que se pode pensar de o país inteiro perder alguns bilhões porque aceitamos este tipo de situação, alguns bilhões que poderiam ir para a educação, e quando eu penso que temos tantas crianças, precisando de uma boa escola, precisando de uma boa oportunidade para vencer a pobreza em que ela e sua família vêm experimentando por gerações...
O objetivo não é fazer qualquer Plano Quinquenal, qualquer plano grandiloquente, arrotar números, arrotar grandezas, e manter a mesma estatística, ou piorar, de miséria, de forçados, de conscritos, de explorados, de presos, de assassinados, de perseguidos, de sacrifício, de dor...
Mas pagar o salário do médico, e formar o médico, e levá-lo até onde ele é preciso.
E deixar as pessoas trabalharem, e progredirem, e contribuírem apenas para este médico, para este professor, para isto que é necessário, que deve chegar a qualquer um da sociedade que precise.
E que se dane a grande corrida pela grana, para ser o primeiro disso ou daquilo, para ter o maior estádio do mundo, ou o maior poço de petróleo. Oitava economia do mundo, e o que isso me resolve? O que isso paga minhas contas, o que isso me faz ter um bom hospital, me faz ter uma rua segura, ou me faz seguro dentro da minha casa?
Amiguinhos, podemos ser a oitava economia do mundo, podemos ser a primeira, podemos ter um Cara na Presidência, ou um Mito, ou um Líder, ou um Duce, ou um Führer, ou um Paizinho dos Povos, ou um Grande Timoneiro, isto tudo é a mentira, é a propaganda, é a ilusão.
É o que eu não preciso. O que eu preciso é de um povo solidário, trabalhador, esforçado, justo, e de uma Lei que nos respeite as liberdades, as garantias, os nossos direitos: DIREITO À VIDA; DIREITO À LIBERDADE; DIREITO À PROPRIEDADE.
Liberdade política, para eu votar em quem quiser, com mandatos temporários, com alternância do Poder. Liberdade econômica, para eu não ser presa da fome, da miséria, da falta de cuidados. Liberdade para que não possam me roubar, me enganar, me prejudicar. Liberdade para pensar, liberdade para falar, liberdade para escrever, liberdade para mostrar a verdade, liberdade para contestar, liberdade para cobrar, liberdade para criticar.
Uma sociedade que viva do seu trabalho. Que progrida em tranquilidade e em liberdade. Que prenda seus assassinos, que prenda seus ladrões. Que ajude quem precise.
É este o nosso direito, é esta a nossa realização, e é para agora. Se não tivermos alcançado isso não teremos alcançado nada.
Lembrei deste romance do norte americano Herman Melville (1819 – 1891), por ocasião das notícias referentes à recente crise econômica dos EUA.
É certo que este romance firmou-se como um clássico das letras estadunidenses. Para que um livro atinja este status, ele deve refletir um pouco o caráter do povo que o adota como clássico.
Trata-se, por certo, de um romance de aventuras, envolvendo a dura e romântica profissão dos baleeiros. Mas é também algo mais, o romance de uma obsessão, envolvendo o Capitão do navio Pequod, Ahab, e a baleia branca que ele jurou destruir, depois que ela lhe arrancou uma perna.
Sei que Moby Dick já recebeu diversas interpretações, o que é natural para uma obra de arte. Este paralelo que pretendo traçar com a economia dos EUA não exclui, por certo, outras abordagens do romance. É apenas uma das formas de utilizá-lo como um guia para a alma dos EUA, aqui sob a perspectiva econômica.
Ahab, como dito, é o Capitão de um baleeiro, o Pequod. É o seu meio de vida, o seu ganha-pão, negociar o precioso âmbar que as baleias trazem dentro de seus corpos. Mas numa de suas expedições, defrontando-se com Moby Dick, imensa e selvagem baleia branca, perdeu uma das pernas, que substituiu por uma perna de pau.
Inconformado, Ahab monta uma nova expedição baleeira, com o propósito de vingar-se da fera dos mares. Com seu caráter inflexível, impõe à tripulação seu objetivo, arrostando tempestades, motins, presságios, e o que mais se interpusesse entre ele e seu objetivo. Não havia força humana, ou dos elementos, ou divina, que pudesse demover Ahab de sua caçada implacável, que termina com a morte de Moby Dick, mas também com a morte do próprio Ahab, preso ao corpo da baleia pela corda do arpão, homem e baleia entrelaçados num abraço mortal, afundando juntos, numa cena inesquecível.
Também o Pequod havia sido colocado a pique pelo gigante ferido, enfurecido, e o único sobrevivente do naufrágio, resgatado por outro navio, é o narrador do livro, Ismael.
E como podemos relacionar este enredo à crise econômica enfrentada pelos EUA?
Podemos começar por lembrar que os EUA se fundaram sob o signo da ética protestante, calvinista, relacionando o sucesso material deste mundo como um sinal visível de predestinação à Salvação. Max Weber, na famosa obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1904), relaciona o rápido progresso dos EUA, e o seu desenvolvimento capitalista, a esta ética protestante, terreno propício para que as instituições capitalistas vicejassem.
Ética pessoal, respeito a contratos, uma vida de trabalho e de parcimônia, empreendedorismo, independência. Tudo isto, numa terra rica e aberta à exploração, como a América do Norte, resultou num desenvolvimento acelerado que surpreendeu o mundo: em menos de 200 anos, considerada a proclamação da independência das treze colônias (1776), e o fim da segunda guerra mundial, os EUA apareciam como primeira nação do mundo, a mais influente e poderosa em termos econômicos, militares, culturais.
Mas não há Paraíso sem uma serpente dentro. O outro lado do sonho americano era a obsessão com o sucesso. Em breve descobririam que a falta de escrúpulos podia ser muito útil para amealhar grandes fortunas. Depois, tudo bem consolidado, podia-se fazer doações generosas para a caridade. Mas, primeiro, chegar lá. Não ser um perdedor (looser), esse mal supremo, esse sinal visível da danação eterna, merecedor de opróbrio e desprezo.
As Artes norte-americanas produziram algumas grandes obras sobre a falência deste “sonho americano”. Tome-se a peça “A morte do caxeiro-viajante”, de Arthur Miller, como exemplo.
Também a juventude americana teve sua reação de rebeldia e protesto contra aquele materialismo, desde os beatniks dos anos 50, passando pelos hippies dos 60. Mas breve a maconha e o ácido para “expandir consciências”, e para “protestar contra os valores dos pais” daria lugar à cocaína para curtir as noites frenéticas das discotecas, anos 70, e daí aos yuppies dos 80, e se manteria assim, prosperidade criada pelas novas tecnologias de informática, cada vez mais difundidas, e vitória na Guerra Fria com o desmantelamento da União Soviética (1991).
O american way of life parecia imbatível, parecia que havia sido atingido o “fim da História”, o neo-liberalismo vitorioso, Ronald Reagan, Margareth Thatcher, e podia-se descansar sobre os louros da vitória.
A juventude americana consumia-se no vazio hedonista. Nenhuma missão, nenhuma guerra a ser vencida, apenas festas, sexo, drogas, cinema, consumismo... uma alienação perigosa, em que vida e morte perdiam sentido. Veja-se, a propósito, o ótimo filme, baseado em uma história real, Alpha Dog.
O sonho (pesadelo?) de fim da História sofreu um despertar abrupto no 11.09.2001, em que os americanos descobriram, surpresos, que uma grande parte do mundo podia não estar participando da Grande Festa, e podia nem querer participar. Podia estar disposta a trocar sua vida por uma causa, e essa causa podia ser provocar dor e medo nos muito confortáveis.
Seguiu-se uma guerra contra um inimigo difuso (o Terror?), e toda aquela potência nuclear em que se apoiavam os americanos de repente não parecia fornecer segurança. Ocupou-se o Afeganistão, ocupou-se o Iraque. Mas a guerra não tinha fim. Veio a suspeita de que outros interesses podiam estar manipulando a nação, grana preta, petróleo.
E chegando ao fim da primeira década do novo milênio, a grande crise econômica de 2008-2009. Será que os EUA já não possuem mais este predomínio todo, nem militarmente, nem economicamente? Primeiro foram os terroristas islâmicos que o colocaram em xeque. Agora, é a economia chinesa, na guerra cambial. A crise dos EUA se prolonga, a mudança anunciada por Barack Obama (um presidente negro!), não se realiza...
E aqui retomamos o paralelo entre a crise econômica dos EUA e a trágica história do Capitão Ahab: pensemos os EUA da crise como o velho Capitão, após perder sua perna. Moby Dick é o monstro da economia, é onde os EUA, e todos nós, ganhamos o pão, vendendo o âmbar das baleias, mas sujeitos às reviravoltas imprevisíveis, sujeitos a termos uma perna arrancada, ou a vida perdida.
Ahab, os EUA, sofreram um revés na sua vida econômica. São os fracassados, aleijados, perdedores, loosers. Tudo ia muito bem, a pesca das baleias trazia bons lucros, os Senhores do Mundo viviam vidas de Reis: gastando muito, consumindo bastante. Não importava que se afundassem em dívidas. Não eram os Senhores do Mundo? E não podiam ser vistos como loosers, pela vizinhança. E vamos trocar de carro, e vamos trocar de casa. As dívidas migravam de um banco pro outro, com os novos truques contábeis. Todo mundo estava sempre no azul, e vamos manter a euforia consumista, como um bêbado que bebe mais.
Só que aí veio a reviravolta, e a ilusão se desfez, e a bolha explodiu, e a perna foi arrancada. Como a pesca das baleias, conduzindo à extinção da espécie, as mágicas contábeis também não se mostravam sustentáveis. A vida não podia ser consumo sem fim, e ostentação, e zero de produção, zero de trabalho.
Mas como reage o norte-americano, como reage Ahab? Reage emocionalmente, como prisioneiro de uma obsessão, reage para vingar-se, para deixar de ser looser, custe o que custar.
Para conseguir mais petróleo, pra manter os dois, três, quatro carros da família em movimento, vai à guerra. Para salvar bancos irresponsáveis, faz jorrar dinheiro na economia. E os executivos destes mesmos bancos, os agentes do mercado financeiro, que já se tinham mimoseado com bônus e mais bônus por suas mágicas contábeis fajutas, vão a Washington pedir mais dinheiro do Governo, pra cobrir os rombos deixados pela farra, e fazem a viagem em seus jatinhos particulares...
Deixa pros outros serem loosers, perderem a casa, perderem o emprego... nós continuaremos gastando, e caçando a baleia, até que o mundo inteiro naufrague, e nós mesmos sejamos arrastados para o fundo, amarrados à economia que conseguimos destruir, com nossas ações insensatas...
Querem um exemplo? A maior economia do mundo, com seu PIB de 14 trilhões de dólares, não se decidiu a dar uma assistência médica mínima a seus membros infortunados. É dura a vida do perdedor... ainda mais quando se junta o moralismo hipócrita, e atribui os males da miséria aos próprios miseráveis: “alguma ele fez pra não merecer o Paraíso... ou teve muitos filhos, ou não foi previdente, ou se entregou à cachaça... obra do demônio.”
Muito conveniente pra quem não quer se envolver, e só quer saber de proteger muito zelosamente aquelezinho SEU... só que se os ventos da mudança soprarem, e o castelo de cartas desabar, pediriam muito angustiados que se poupasse a vida de seus filhinhos... e o Obama, que tentou organizar este pequeno sonho que tinha, de uma Rede de Saúde universal, amargou uma tremenda resistência política, e um tremendo desgaste, nas picuinhas da Grande Nação para evitar de dar um pouquinho pros seus filhos... Oh, Terra da Liberdade, Star Spangled Banner...
Tantos levados a crer que é do seu melhor interesse, não haver uma cobertura de saúde no país mais rico do mundo... 14 trilhões de dólares, mas o miserável sempre vai se sentir insatisfeito, sempre vai achar que precisa de mais, e vai negar prestar ajuda aos necessitados.
Vai investir seu patrimônio em bombas. Os trilhões e trilhões gastos nas suas guerras, dando dinheiro pros seus meninos brincarem de soldados e brincarem de heróis. Uma brincadeira horrivelmente mortal. Tem de se fazer negócios com petróleo, ganhar muitos milhões pra vender gasolina pros jipes, helicópteros, aviões. Patrulha pra lá, patrulha pra cá.
É o outro lado de ser o Vencedor. Morrer de medo de que tudo lhe seja tirado. De que em cada esquina conspiram, e almejam por sua vida. A maior bomba do mundo não faz desaparecer esse medo, e só o piora.
Mas como é que se desliga uma obsessão?
Quem sabe uma bomba atômica nesses chineses, que se multiplicam como coelhos, e ameaçam nosso bem estar? Eles estão se espalhando, e vão comer nossa comida, roubar nosso lugar, ser os novos Senhores do Mundo, os novos Vencedores... e, lembre-se, ou você é o Vencedor, ou você é o Perdedor, não existe o meio-termo...
Sou advogado público. Brasileiro, natural do Rio de Janeiro. Moro em Nova Friburgo, no estado do Rio. Nasci em 1973. Publico também no blog hebdomadário de assuncion, junto com amigos, meu pseudônimo é Dr. Jonah. http://hebdoma.blogspot.com/. E não consigo pensar em nada mais de relevante. Relevante (ou não) será o texto que escrevo. Quem escreve, não importa.