terça-feira, 16 de novembro de 2010

O baú da felicidade





O banco Panamericano, do empresário Senor Abravanel, mais conhecido por seu nome artístico de Silvio Santos, há quatro anos utilizava truques contábeis, identificados pelo Banco Central como indicativos de “crimes do colarinho branco”, para camuflar seus resultados econômicos.

No ano passado, sabe-se lá porque, a Caixa Econômica Federal adquiriu 49% das ações do banco Panamericano. Péssimo negócio, eis que em agosto deste ano o Banco Central, numa auditoria de rotina, expôs o rombo e os subterfúgios usados para encobri-lo.

Em 11 de outubro começaram as negociações para ver o que se ia fazer com o rombo exposto do Panamericano. Em menos de um mês, de 13 de outubro a 9 de novembro, as ações do Panamericano perderam um quarto do seu valor de mercado, enquanto o índice Ibovespa se mantinha estável. A CEF é que ficou com o mico. Mas tudo isso correu à boca pequeníssima. Agora, passadas as eleições, é que finalmente se divulgou a notícia: o Panamericano teve de receber um aporte de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), para cobrir o rombo. A bagatela de R$ 2,5 bilhões.

Em setembro, logo após a auditoria do Banco Central que revelou a situação do Panamericano, o empresário/apresentador Silvio Santos foi se encontrar com o presidente da República, sr. Luis Inacio “Lula” da Silva.

Perguntado se nesta visita Silvio Santos teria falado dos problemas de seu banco, o presidente Lula disse que não, “porque não é um assunto de presidente da República”. Ah, bom. Foi uma coincidência que a visita tenha se dado logo após as descobertas da auditoria do Banco Central. Mas, afinal, qual teria sido o assunto de presidente da República, que teria sido tratado na visita? Silvio Santos disse que falaram do Teleton, programa que arrecada doações, e que teria ido pedir ao presidente Lula uma doação de R$ 12 mil. Ah, bom. Foi uma doação de R$ 12 mil que motivou uma audiência com o presidente da República. Ainda bem que nos deram uma explicação. E, causa nobre, tratavam de uma doação aos necessitados. Também o Arruda, ex-governador do Distrito Federal, explicou que o dinheiro que embolsava era para comprar panetones pro Natal dos necessitados. Esse pessoal é tão abnegado, sempre está pensando nos mais necessitados!

Como bem lembrou o jornalista Merval Pereira, no Globo de 12.11.2010 (link: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/12/restos-da-campanha – do Ministério do Planejamento!), o jornal do SBT, canal de propriedade do sr. Abravanel, fez uma edição das filmagens do episódio da agressão sofrida pelo candidato oposicionista à presidência da República, José Serra, durante sua campanha em Campo Grande, RJ, para construir uma versão de que o candidato havia simulado um ferimento após ter sido atingido por uma bolinha de papel, para provocar um “fato político” capaz de influenciar o resultado da eleição.

Nosso presidente da República encampou rapidinho a versão do jornal do SBT: em entrevista coletiva no dia seguinte, qualificou o episódio de “mentira descarada”, acusou José Serra de criar um factóide, falou que o ocorrido “deixou o dia de ontem marcado como o dia da farsa, o dia da mentira”. Quanto ao fato de que Tropas de Choque orquestradas por líderes petistas impediram o direito de ir e vir de cidadãos, impediram uma manifestação pacífica, uma campanha eleitoral de um candidato à presidência da República, em segundo turno (só isso), nem uma palavra de nosso presidente... criança, não verás país como este!

Continuando. Esta versão do SBT foi desmontada no mesmo dia do discurso irado do Lulinha, pela exibição da sequência normal das filmagens, que mostrou que José Serra, depois de levar as bolinhas de papel na careca, foi atingido por um objeto mais pesado, identificado como um rolo de fita, capaz de provocar lesão, e só então desistiu de prosseguir na caminhada que fazia, tendo ido procurar um médico para fazer exames.

Alguém pensa que Lulinha ficou constrangido pelas acusações falsas que havia feito? Que nada! Nem pestanejou. Simplesmente fez uma consideração vaga sobre como é bom que se possa escolher entre a versão da reportagem x, e a versão da reportagem y... entenderam como funciona a mente do nosso estadista? Tem a versão x e a versão y sobre o mesmo fato. Não importa saber se a versão x ou a versão y refletem o fato ocorrido, podemos simplesmente escolher a que nos agrada! Que feliz isso! Podemos falar: “o país está sendo roubado por todos os lados, enquanto tem gente morrendo por falta de leito em hospital, está uma merda!”, ou podemos falar: “o país é governado pelo Cara, a Saúde Pública aproxima-se da perfeição, está tudo uma maravilha!”. E aí, é só escolher o que mais nos agrada! Sem medo de ser feliz!

E o estadista ainda festeja pensando que o fato de a imprensa construir versões que agradam ao governante é sinal de liberdade de imprensa!

Ih-Rí, Ah-Rái, quem quer dinheiroooooo??????

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