domingo, 14 de novembro de 2010

Crônica de uma morte anunciada

Valho-me do título de um livro de Gabriel Garcia Marquez para nomear o artigo. No caso, venho falar da morte anunciada da democracia venezuelana.

Foi divulgado ontem, o anúncio fúnebre: o presidente Hugo Chavez elevou ao mais alto posto militar da Venezuela um general que havia declarado recentemente que o Exército venezuelano não toleraria uma vitória da oposição nas próximas eleições presidenciais da Venezuela.

Será que agora o presidente Lula, do alto de seu tirocínio político, da sua sensibilidade de estadista, vai continuar dizendo que na Venezuela tem democracia “até demais”?

Interessante a coerência de pensamento destes ditos democratas: pode-se fazer eleições para ver quem vai exercer o Poder, mas só se o resultado mantiver no Poder quem já estava... o filósofo político, ex-ministro da Justiça do Governo Lula, atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, aprovaria: foi ele quem, logo quando as primeiras pesquisas do segundo turno indicaram que o candidato da oposição, José Serra, tinha chances de ser eleito, ficou nervosinho, e já saiu bradando que uma vitória da oposição não seria “legítima”. Entenderam? Democracia é bom quando eu estou ganhando... ah, Poder, é tão difícil ficar longe de você...

Tarso Genro, aliás, é useiro e vezeiro em dar estes exemplos. Foi ele também que exigia impeachment de FHC, logo no início do seu segundo mandato presidencial. Como é típico, também, sempre que a oposição banana faz qualquer crítica, mesmo a mais tímida e delicada, Tarso Genro é o primeiro a sair berrando: “Golpismo! Golpismo!”. Ah, esses admiradores impenitentes de ditadores! Por que existem tantos tão dispostos a festejar junto a homens que, COMPROVADAMENTE, REITERADAS VEZES, PRATICARAM TANTAS ATROCIDADES, MANDARAM PRA MORTE, TANTOS E TANTOS, PORQUE NÃO ACEITARAM UM REGIME DE PARTILHA DE PODER.

Claro, sempre têm as melhores intenções, os melhores propósitos. É para acabar com a exploração dos coitadinhos, é para salvar as criancinhas, ou é para preservar a bela raça, palavras têm muitas... e sempre tem um inimigo de fora, e sempre tem um inimigo aqui dentro, e sempre tem um paraíso na próxima esquina... enquanto isso, vão usufruindo as benesses do poder, que ninguém é de ferro. Jatinhos, jantares, e as melhores mansões, e castelos... jóias no pescoço da madame, e passeios em Paris pras filhinhas... em cárceres nos subterrâneos homens torturam homens, homens morrem de fome e de sede, pisoteados e afogados no próprio sangue... alguma fizeram, e a vida é tão curta, pra que estragar estes belos momentos lembrando essas coisas?

Somos democráticos, é claro que somos...

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