sábado, 4 de dezembro de 2010

Concursos públicos



Nossos concursos para preencher cargos públicos não se ocupam de selecionar as pessoas mais qualificadas para exercer uma determinada profissão. Eles consistem simplesmente numa provinha, como essas que você faz na escola. Uma provinha, cheia de pegadinhas, cheia de macetes, cheia de “precisa comprar o livro de fulano”, ou “precisa fazer o cursinho do sicrano”.


Isto para passar num dos milhares de milhares empreguinhos públicos que dão salário acima da média do mercado, dão estabilidade, dão férias em dobro e em triplo (as conquistas sociais só avançam!), e se você for sortudo mesmo, dão muitas oportunidades de corrupção pra encher o seu bolso.


Passa-se na provinha, e daí você vai ficar num desses cargos burocráticos. Uma pecinha de uma engrenagem. Muito papel, muito carimbo, muito regulamento e papel-ofício pra decorar. Ambiente kafkiano. Muito cafezinho durante o expediente, muito papo furado, e pouco resultado prático. Mas tem tanta lei no país, que é preciso todo este aparato pra discutir tanta lei. E Cícero que já dizia: “República com muitas leis, República muito corrupta”...


Ou então faz-se concurso para se cair de para-quedas no alto de uma estrutura. Vão ser delegados, vão ser juízes, vão ser promotores, vão ser tenentes, vão ser oficiais. Tudo do mesmo jeito, fazer uma provinha. Acabou a provinha, passou na provinha, entra-se no cargo como um rei no seu domínio. Com estabilidades e vitaliciedades. Mas ninguém te testou, na prática, pra ver se eras bom naquilo!


É isto que se aceita com naturalidade, para se ver o quanto temos uma prática pervertida de organização de serviços públicos.


Por Deus, um policial, um bombeiro, não podem ser aquilatados numa provinha. Eles têm de ser escolhidos entre os que aguentam uma rotina de muito treinamento físico, muito estudo também, de assuntos relacionados à sua profissão.


Vida de quartel, acordar cedo, fazer exercícios, fazer treinamentos, sair para as ruas. Esta é a carreira, este é o serviço prestado, que merece toda a consideração e merece ser bem remunerado. Mas é para quem pode, não é para quem quer.


Os mais estudiosos, e também os que melhores avaliações de seus trabalhos tiverem, ascenderiam naturalmente aos postos mais graduados.


A mesma coisa deveria se dar, por exemplo, com o juiz, que deveria ter alguns anos de atividades forenses, e, depois também de ter feito uma provinha, mas abrangente, e o máximo objetiva, para selecionar os que têm um bom nível de saber jurídico, passarem mais algum tempo como auxiliar, passando por uma pré-avaliação constante de seu trabalho, para ascenderem como juízes com maior maturidade, e após estes testes de sua qualidade.


Ora, o trabalho de juiz é uma coisa séria, assim também o trabalho do policial, do bombeiro, do soldado... é a responsabilidade, é a grande importância que ele tem para o público que necessita de seu trabalho, em alguns casos de maneira dramática, e merece um profissional honesto e competente.


A mesma coisa o médico. A mesma coisa o professor. O engenheiro que prestar serviços ao governo.



Planos de cargos e salários condizentes, realistas. Por que um promotor ganha 100x e um engenheiro ou um médico ganha x? Por que não cobrar dedicação integral, e pagar um valor adequado? Por que tantas falcatruas nas folhas de salário, horas extras mentidas, insalubridades inventadas. Reajustes com base em qualquer índice que se tira da cartola. Aposentadorias com oito anos de serviços, com salário integral, esta é uma prerrogativa de alguns dos nossos governadores e parlamentares, que se auto-concederam este mimo, com base nas leis que fizeram. Direito adquiri – DÔ!!!!!!


E as pensões para filhas de militares, mortos aos noventa anos de pijamas em casa, os jeitinhos de não se casar, pra não perder o direitinho.


Aposentadorias especiais para jornalistas, para craques do futebol, com tudo isso se convive por aqui... mas, criança, não verás país como este... Cante o hino com emoção...


Parece que foi Joaquim Nabuco, o grande escritor de O Abolicionismo (1883), que identificou que o nosso serviço público se organizou para dar um emprego aos jovens senhores da Casa-Grande, amigos, e outros agregados, quando não lhes sobrava muito da renda original que advinha das grandes propriedades.


Parece que ainda estamos muito amarrados neste velho padrão.


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