terça-feira, 17 de maio de 2011

Educação


O Ministério da Educação e Cultura (MEC) distribuiu 485 mil exemplares de um livro para os alunos da rede pública, “Por uma vida melhor”, onde se lê “Pode falar “nós pega os peixe”? É claro que pode.”


Eu havia feito uma conta, estimando, por baixo, o preço de cada livro em R$ 10. multiplicado pelos 485 exemplares, dava um total de R$ 4 milhões e oitocentos e cinquenta mil reais de gasto do Ministério da Educação, com uma compra de livro.


Hoje, na coluna do Ancelmo Gois, no Globo, leio que só para a editora, rendeu R$ 5 milhões. Para a autora do livro, rendeu R$ 700 mil. Deve ter saído bem mais caro que R$ 10 o exemplar do produto. Não se pode esquecer o preço para o “apadrinhamento” do produto escolhido.


Afinal, por que escolher um determinado autor, uma determinada obra, para ser adotada pela escola pública e gerar edições de centenas de milhares de exemplares?


O exemplo de se escolher uma obra com aprovação de desvios da linguagem deixa este critério político para decidir a adoção de uma obra na escola pública bastante desnudo. Claro que a cara de pau vai alegar que toda e qualquer obra, para ser adotada na escola pública, passa por um rigoroso sistema de análise, “objetiva”, etc, etc, as maiores justificações, e claro que não existe essa coisa de corrupção, dinheiro por fora, nada disso. Está aí a realidade do Brasil que não me deixa mentir, você tem de acreditar que a realidade é aquilo que eu falo. Critérios objetivos, seleção isenta, rigorosa análise... e tchará, temos aí um livro que ensina a falar errado...


Coisa boa para o Brasil... não, a escola não precisa ser boa... Olhe como avançamos, vejam esse gráfico aqui, o governo está fazendo um ótimo trabalho, não existe desnível na educação do país, somos um povo muito educado, basta olhar pro seu lado, não, você não vê uma multidão de ignorantes, gente que devia ter ido pra escola, mas não foi, ou foi e aprendeu muito pouco, em troca dos seus anos que passou na sala de aula.


Não, não precisamos competir com os outros países, podemos dispensar uma população educada. Somos gigantes pela própria natureza, impávidos colossos, mas uma nação não se faz sem um povo bem educado e esclarecido.


Faz-se uma dominação de senhores e de escravos. Um país com poucos “bem sucedidos”, e muitos necessitados, muitos roubados.


Dinheiro há, até demais, para fazer uma boa escola. Já falei sobre os livros didáticos em outros artigos do blog, falo de novo agora: ao invés de gastar 5 milhões numa edição de livro aqui, 5 milhões na outra, tenha-se um livro unificado, para todas as escolas do país. Com o conteúdo básico do que se considerar mais importante na educação.


A matéria que a menina do Piauí estuda precisa ser igual à do garoto de São Paulo. O que é preciso ensinar? História do Brasil? Datas, personagens, acontecimentos? Pois que se pague o trabalho para profissionais, historiadores, professores, especialistas. Considerando-se publicações realizadas, inclusive em órgãos reconhecidos pelas comunidades científicas, e de estudos superiores, de abrangência internacional, especializações daquele profissional sobre aquele tema, prêmios recebidos, etc.


E pague-se por artigo, um preço justo, mas não vinculado à tiragem. Vai receber um preço justo, e ter a honra de ter seu nome incluído num livro para a educação dos brasileiros. E claro que não é nada forçado, a oportunidade estará aberta para qualquer inscrito.


Cada um escrevendo sobre um tema de sua especialidade, de acordo com regras prévias, também estabelecidas por comissões de especialistas, educadores, para formar o conteúdo de uma matéria. Tem de falar sobre o descobrimento? Sobre o Reinado? Sobre a República? Quantas páginas sobre cada assunto? Quais os dados que não podem faltar? Quais os personagens, os desdobramentos. De acordo com tal divisão os autores podem desenvolver o seu tema.


Cada trabalho seria publicado, anunciado, disponibilizado para qualquer interessado, pela internet, por arquivos de pdf, ebooks, por todos os recursos. Qualquer um poderia criticar qualquer aspecto do trabalho feito. Inclusive, comissões de professores, especialistas, que poderiam apontar algum erro. Cada crítica seria encaminhada a um órgão de especialistas na matéria, para que falassem sobre a eventual procedência da crítica, para revisões.


Assim se faria o conteúdo de cada livro de educação básica do país. Assim se faria a política de ensino. Fixando as diretrizes, igualando as chances, submetendo-se ao controle público, à transparência.


É para ensinar matemática? O que, soma, subtração, poligonal, raiz quadrada? Para tudo existe um método, uma ordem, uma classificação. A melhor forma de escolher o melhor método é verificando os resultados. Com o método x 50% dos alunos aprenderam num tempo y? Pois com o método a 80% dos alunos aprenderam num tempo y/2. Este último método é o melhor.


Então, o autor, o especialista, o educador, preparador dos currículos deveria selecionar os melhores métodos, construir seu trabalho sobre eles.


É melhor ensinar frações primeiro, e depois conjuntos? Ou vice-versa? Este é o trabalho de definir “o que ensinar”. Depois de definido isto, passa-se ao outro ponto crucial do problema: “como ensinar”, aquilo que se definiu como necessário ensinar.


Precisamos ensinar a soma? Ótimo. E em qual série se deve ensinar a somar, e de que maneira, transmitindo qual conceito, quais exemplos, eu vou obter o melhor resultado?


No livro didático deve constar este método. E os professores, responsáveis por transmitir tal conteúdo, deveriam ser ensinados também, sobre a melhor maneira de cumprir seu papel.


Este seria o trabalho básico de um Ministério da Educação que honrasse este nome. Definir os conteúdos, fazer com que em todo o país cada estudante tivesse a garantia de ter contato com estes conteúdos, considerados fundamentais para formar um aluno.


Do jeito que acontece hoje, a aluna de um colégio do Piauí tem 10 vezes menos chances de atingir um alto nível de vida do que um aluno de um outro colégio de São Paulo. Ou tem 100 vezes menos chances, ou 1000 vezes menos, dependendo da desigualdade de condições que acomete aqueles dois alunos.


Admitir, aceitar, uma tal desigualdade no país, me parece que é a pior coisa que pode fazer o brasileiro. Se somos uma nação, precisamos caminhar juntos, e reconhecer nossa igualdade.


Não estou falando que todos têm a mesma capacidade, ou, para dizer melhor, a mesma aptidão. Se um é grande matemático, outro pode ser um grande médico, um grande enfermeiro, um grande jogador de futebol.


Mas a desigualdade enorme de oportunidades, esta tem de ser combatida, como padrão básico de Justiça.


Para isto o Ministério da Educação, a política do Governo para o ensino, tem de definir os padrões básicos, submetê-los à aprovação de todos. Garantir como direito de todos, a ser cobrado no Judiciário, se preciso for.


O seu filho não pode receber menos que isso. Esta oportunidade. Aprender a ler e a escrever, de um modo adequado. Aprender a fazer as contas. Aprender a História.


Ter acesso a bons livros. Sem a leitura ninguém progride. Ter um mínimo de estrutura familiar à sua volta, e para isso o Governo também deve contribuir, com a assistência social, e seus demais mecanismos.


Mas, não, tudo isto deve ser bom demais para nós, precisamos nos submeter ao “esquema”.





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