terça-feira, 17 de maio de 2011

Educação




Outros grandes deboches da nossa indústria do material escolar:


Na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro foi distribuída cartilha de alfabetização com os “versinhos”: “Eu suo na chaninha / Aí, ela cheira mal / Ela cheira a chulé”. Segundo os “educadores” responsáveis pelo livrinho, “chaninha” é chinelo, embora todo mundo só conheça “xaninha”, apelido de gatinha, ou do órgão sexual feminino.


Na Bahia, a revista “Viva!”, uma coletânea de experiências pedagógicas de escolas baianas (que experiências!), foi distribuída pela Secretaria de Educação do Estado, com uma tira em quadrinhos do personagem Chico Bento com o diálogo adulterado, contendo um palavrão. O cartunista Maurício de Sousa, “pai” do Chico Bento, ficou indignado, com razão, e prometeu processar os responsáveis.


Peço desculpas ao Maurício de Sousa, mas reproduzo aqui os quadrinhos da polêmica, pois se trata de denunciar um abuso. Vejam o caso com os próprios olhos, portanto:





Se chegamos a este grau de abuso, é porque o negócio está podre até a medula. Volta-se ao tema da necessidade absoluta de se centralizar em um órgão federal a definição do conteúdo do ensino, e o desenvolvimento do material didático, e do treinamento dos professores, como maneira de se atingir uma uniformização do ensino básico para todos os brasileiros, além de evitar as corrupções e as deturpações que a falta de uma política transparente, submetida ao crivo de todos os brasileiros, proporciona.


Se o material que vai guiar o ensino de cada criança do Brasil, em cada escola, é aberto aos pais de todos os alunos, submetido à sua crítica, à sua avaliação, será que aceitaríamos uma cartilha que deseduca? Um livro escolar com palavrão?


Será que o pai engenheiro vai admitir que o livro básico onde seu filho estudará, que definirá o conteúdo da matéria que terá de lhe ser ensinada por seus professores, diga que dois mais dois é igual a cinco? Ele vai reclamar, e ao fazê-lo, beneficiará toda a sociedade.


Cada escola, em todo o país, deveria acatar uma diretiva do conteúdo básico da educação. 1o ano? Tem de ensinar soma, subtração. Tem de ensinar a capital do Brasil. A data do descobrimento. O mundo do Egito antigo, e da Mesopotâmia. Ler 8 livros de uma lista de 100. 2o ano? Tem de ensinar multiplicação, divisão. Tem de falar em Estados do Brasil, países do mundo. Tem de ensinar isso e aquilo.


Tem de bem definir o conteúdo. Tem de treinar os professores para a transmissão esperada do conteúdo. Nada de tópicos soltos, genéricos: aula 16: falar de Lenin, Marx e Freud. Aula 17: falar de Pedro Álvares Cabral, Alexandre, o Grande, Sócrates.


Nada disso. Se precisa falar de Alexandre, definir o que se deve falar: o período em que ele viveu, suas conquistas, mostradas no mapa (ver figura 13 do material didático), falar da divisão do Império após sua morte, da integração de Ocidente e Oriente, da difusão do helenismo. Isto, é claro, elaborado pelos professores, a partir das experiências nas salas de aula, com a previsão do tempo que se precisa dedicar ao ensino, com a definição de métodos expositivos, materiais complementares, etc. etc.


Que os tenham acesso pleno ao roteiro elaborado, que ele possa acompanhar a forma da exposição da matéria ao seu filho. Saber que este mês o seu filho deverá aprender sobre Alexandre, sobre Pedro Álvares Cabral e sobre Sócrates. E, se não estiver aprendendo, cobrar da escola. Este é o conteúdo mínimo, básico, que a escola se compromete a transmitir, ou então não poderá funcionar a escola.


Aos que criticam dizendo que este método “engessa” o professor, “poda-lhe a criatividade”, ou algo do gênero, que se diga que a diretriz diz respeito só ao conteúdo básico, que deve ser transmitido. Se ele ensinar o ano em que viveu Alexandre, ele, ou a escola, pode ensinar todos os nomes dos governantes Ptolomeus, se entender conveniente.


Além disso, os métodos para a transmissão dos conteúdos, os exemplos sugeridos, devem ser entendido como um roteiro, um mapa, um facilitador do trabalho. Para ensinar a regra de três, é interessante fazer esta exposição, apresentar os seguintes exemplos, etc. Este roteiro, estes exemplos, já se mostraram eficazes para que os estudantes aprendessem.


No entanto, se o professor / a escola, desenvolverem outros métodos expositivos, outros exemplos, que ótimo! Compartilhem-no, em listas de emails, em encontros de mestres, em artigos publicados. Mas deve ser demonstrado o resultado: que os alunos aprenderam melhor, e mais rápido, em testes elaborados para medir a qualidade do ensino.


E que os professores e as escolas, compartilhando suas experiências bem sucedidas, ganhem reconhecimento por isso, recebam estímulos, prêmios.


E tenham a oportunidade, como cidadãos, de influir também na política de ensino, fazendo suas sugestões, críticas, propostas, a serem processadas e respondidas pelos órgãos formuladores dessa política.


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