quinta-feira, 26 de maio de 2011

Eric Voegelin e as duas verdades







Voegelin relaciona o desenvolvimento político grego a uma ruptura com um antigo padrão, representado por uma carta escrita pelo mongol Kuyuk Khan a Inocêncio IV, na qual se justifica a guerra de conquista mongol, e o extermínio das populações resistentes.


O argumento desta carta é o seguinte:


“O Deus eterno matou e destruiu os homens daqueles reinos.

Salvo para cumprir a Ordem de Deus, como poderia alguém, por sua própria força, matar e conquistar?


(...)


Vós, em pessoa, à frente dos reis, todos juntos, sem exceção, vinde e oferecei-nos serviço e homenagem;

Então, nós reconheceremos vossa submissão.

E se vós não observais a Ordem de Deus,

E desobedeceis nossas ordens,

Saberemos que vós sois nossos inimigos.

Isso é o que nós damos a conhecer.

Se desobedecerdes,

Que saberemos então?

Deus o saberá”.


Bem direto, não? Contra esta ordem de idéias, a “lei do mais forte”, em que a força é que representa a “Ordem de Deus”, é que Voegelin vai opor um desenvolvimento, exemplificado pelos filósofos e trágicos gregos, em que o homem vai opor uma outra verdade, teórica, a esta verdade dos impérios.


Voegelin pergunta: “Será o choque dos impérios o único teste da verdade, com o resultado de que a potência vitoriosa é a que tem a razão?” Pragmáticos de todas as épocas e quadrantes se inclinam a dizer que sim. “O sucesso material é que importa, a História é escrita pelos vencedores, é o que os olhos vêem...” são algumas das sentenças típicas.


Mas Voegelin contrapõe esta verdade, que chama de “imperial”, a esta outra, que chama de “teórica”, considerando que esta foi capaz de desafiar e modificar esta idéia de império.


“A descoberta da verdade capaz de desafiar a verdade dos impérios cosmológicos é, em si, um evento histórico de grandes dimensões. É um processo que ocupa cerca de cinco séculos da história da humanidade, correspondendo aproximadamente ao período de 800 a 300 a.C.; esse processo ocorre simultaneamente nas várias civilizações sem influências mútuas aparentes. Na China, corresponde à idade de Confúcio e Lao Tzé e de outras escolas filosóficas; na Índia, à idade dos Upanishads e de Buda; na Pérsia, ao zoroastrismo; em Israel, aos Profetas; na Grécia, aos filósofos e à tragédia. Pode-se identificar como fase específica e característica desse longo processo o período em torno de 500 a.C., quando viveram Heráclito, Buda e Confúcio.”


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