quarta-feira, 18 de maio de 2011

Príncipe deste Mundo





“Quando vês a uma serpente num boião de ouro, acaso a aprecias? Não sentes por ela o mesmo horror, por causa de sua natureza mortal e venenosa? Faz o mesmo com o malvado, quando o vires em meio às suas riquezas.” - Epicteto


O ex-ministro da Fazenda, atual ministro da Casa Civil, Antonio Palocci (aquele do caseiro Francenildo, lembram?), multiplicou seu patrimônio por 20, num espaço de quatro anos. Não, ele não furou um poço de petróleo, ele não ganhou na loteria.


Mas ele prestou “serviços de consultoria”, através de uma empresa, a Projeto, fundada em 2006, e da qual Palocci possui 99,9% do capital. 99,9%, nada menos. A empresa tem um sócio, o economista Lucas Martins Novaes, com cota de R$ 20. Não, não está errado, são vinte reais a cota do sócio.


Tudo normal, no país surreal. Palocci já soltou nota pra dizer, em suma, que todos, ou quase todos, fazem isso mesmo. E que está tudo dentro da legalidade das nossas leis brasileiras. Podíamos ter logo uma lei pra deixar tudo bem claro, e acabar com estes questionamentos, estes aborrecimentos:



Artigo 1o: Se você é uma pessoa incomum, amiga d´el Rey, ou de la Reina, pode se locupletar estupidamente, sem precisar fornecer qualquer explicação à patuléia.


Artigo 2o: Revogam-se todas as disposições em contrário.


Pronto. Estava resolvido o negócio. Do jeito que tá, fica esse teatrinho, esse bafafá, mas todo mundo já sabe o final, já sabe que não vai dar em nada. Bom, pelo menos assim se vende jornal, e se vende revista, e alguns cidadãos podem escrever uma carta aos jornais, ou escrever um artigo num blog, e se mostrar indignados, lavar um pouco a alma, até o próximo escândalo.


Nada de novo no reino da Brasilônia, no reino dos Bruzundangas: tá valendo tudo.


E a patota veio em defesa de Palocci: só gente boa, gente da alta. A própria Presidenta, vejam só o que nos diz nossa Dilma Rousseff:


  • A saúde do ministro Palocci vai bem. Ele está inteiro ali, vocês não estão vendo? Todos estamos saudáveis. Todos estamos bem neste país.


“Todos estamos bem neste país”... Ser Presidente do país, oh, perdão, PresidenTA, para falar isso... não era melhor ter nascido sem língua?


Também o Senador Lindbergh Farias (PT – RJ) proclamou, do alto de sua sapiência: “A base e o PT estão confiando (sic) e solidários com o ministro Palocci, que vai sair desse processo fortalecido.” Lindbergh, ex-líder dos estudantes de cara pintada em protesto contra o tráfico de influência na Corte do ex-presidente "neo-liberal", Fernando Collor de Mello... Toca Chico Buarque: “Quem te viu / Quem te vê...”


E também temos a Senadora Marta “sempre ela” Suplicy (PT - SP), que botou a boca no trombone para defender Palocci: “Não estamos falando de uma pessoa qualquer!”


Ecos da “pessoa incomum”, do ex-presidente Lula, ecos do desprezo ao “sujeito da esquina”, do juiz do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes... tudo dominado, Executivo, Legislativo, Judiciário, todos os Poderes da República (República?), endossando a cultura dos senhores e dos escravos.


Pobre país.



- Vil filósofo! diz-me um grão senhor que se preza de livre e independente; - ousas chamar-me escravo, a mim, cujos antepassados foram livres, a mim, que sou senador, que fui cônsul e que sou favorito do príncipe? - Grande senador, provai-me que os vossos antepassados não sofreram a mesma servidão que vós. Mas o concedo. Foram generosos, e sois concupiscente. Foram frugais, e sois glutão. - Que tem que ver isso com a liberdade? - Muito, porque não chamarei livre ao que faz o contrário do que quer. - Mas eu faço tudo quanto quero, e ninguém pode forçar -me a vontade, a não ser o Imperador, que é meu senhor, que é senhor de tudo. - Grande cônsul, acabamos de ouvir dos vossos lábios a confissão de que há um senhor que vos pode forçar a vontade. Se é senhor de todo o mundo, isso vos proporciona o triste consolo de ser escravo numa grande casa e no meio de milhões de escravos.

- Epicteto


Um comentário:

Anônimo disse...

Durante 25 anos eu sentei na mesa para almoçar com familiares mater. É que sou casado, mas minha esposa não mora comigo. Hoje passado este tempo, Deus me deu uma luz de um balanço. Agora, eu mesmo fazendo minha alimentação, ou melhor com aquele amigão "invisível" que desce do cosmos e vem me ajudar na santa culinária de uma alimentação frugal e saudável. Estou falando do Senhor do cosmos e da história Jesus Cristo. Mas qual é o balanço? Agora no silêncio das orações, eu vejo o quanto durante os 25 anos meus queridos familiares mater eram atacados pelo príncipe deste mundo. Saíam muitas conversas inconvenientes na mesa, visto que todos estavam como que reféns porquanto sentados para se alimentarem. Éramos ingênuos e inocentes. A ingenuidade e a inocência são produtos diretos da inconsciência. É aí que o astuto filho mor das trevas ataca...:)